(de janeiro de 2009)
Novamente o copo estava cheio. Em cima do bidê, a carteira dele, e logo ao lado, os óculos dela. Os velhos óculos dela, de armação pouco rosa, simples. O canto da parede unido a dois travesseiros e uma coberta toda revirada fazia daquele L na parede o trono do rei para ele.
O dia estava mais ameno, a noite era plácida e fresca, algumas poucas gotas de chuva davam o embalo que ela precisava para adormecer no seu colo, entre suas pernas e escorada em seu corpo.
Ele fitava a hélice do ventilador girando devagar. A ordem dos seus pertences em cima do balcão. A televisão ligada no canto oposto a eles. Os detalhes daquele momento foram tatuados em sua mente. Sentir os cabelos lisos e macios em seus dedos, a posição de seu corpo se encaixando perfeitamente com o dele. Suas delicadas mãos, repousando sobre o corpo dele. Cada detalhe lhe fazia sorrir.
Sentiu uma lágrima vindo junto com um bocejo. Pensou consigo mesmo e concluiu sem dificuldades que era felicidade pura transbordando por seus olhos. O filme que passava não interessava-lhe para nada. O que interessava era apenas reparar nos detalhes magníficos que aquele momento lhe dava de bandeja, bem de baixo do seu nariz. Seu sol. Brilhante e belo, o astro que indica o caminho, a luz do fim do túnel, ou mesmo a luz de todas as manhãs.
Renascida, ela olhou para ele com os olhos cansados e sonolentos. Do seu ponto de vista, riu. O rosto dela tinha um ar jovial, como uma criança que era despertada do berço e perguntava com os olhos quem vinha lhe perturbar o sono.
Ele deu mais alguns goles do líquido dourado e beijou-lhe a testa. Ela acordou, ávida e ofereceu a boca.
Aquele beijo simples e sincero cravou em seu peito O gosto pela vida.
Um comentário:
Que bonito Rafa...
"O gosto pela vida!"
O gosto da vida é o sabor do esperma,
que eu não gosto muito... Quer dizer, eu não sei, NUNCA EXPERIMENTEI, NUNCA, ENTENDEU?
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