quarta-feira, maio 9

Duas cervejas e nenhuma companhia

Dizia que gostava das quartas, mas talvez o dia pouco importasse. Era terça e ele sentia seu corpo cansado, como sempre. Dores nas costas seguidos de estralos que momentaneamente lhe parecia melhorar para no instante seguinte voltar uma dorzinha que tão depressa piorava. Sempre pensou-se velho, queria ser velho, maduro, correto. Talvez essas dores, talvez os cabelos brancos que lhe apareciam tão cedo fosse apenas seu desejo se tornando realidade, um carinha qualquer envelhecendo, só isso.
É besteira, ela disse. Sim, foi mais ou menos isso, em suma, que ela comentou de forma tão natural, era só um cara com vinte e poucos e mais nada. Bobagem pensar que se pode ser velho tão cedo, se é velho depois, quando se é de fato, inevitável e impostergável, velho. Certo, alguns pouco distintos com idades diferentes, quer dizer, os anos de um nunca serão os mesmos de outro, mas no final das contas, talvez a infantilidade que se tem depois compensa. Não isso ela não disse, talvez fosse de por uma nova linha ali atrás e deixar claro que a conclusão sobre infantilidade não é dela. Tanto faz, já estamos ficando meio unidos mesmo, que seja nessas linhas também. Estou supondo coisas dentro de uma conversa apenas com a lembrança e com a ideia de uma personalidade que pouco conheço. Loucura.
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Talvez o problema seja isso mesmo, essa coisa de ficar pensando e pensando. Ele, tentando fazer qualquer coisa para se opor ou para se guiar para um determinado futuro, tentando controlar as massas. Isso sim é problema. Pensou. Quem sabe é apenas uma insegurança, aquela coisa de não poder dar certo e tu não sabe se isso ou quem sabe... besteira. Nem ele se aguenta pensando sobre esse tema já tão discutido, tão gasto.
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Ficou dessa última (teima em permanecer), é uma tristeza que o assola de tempo em tempo, vindo e indo com o vento sem aviso. Uma especie de saudade, mas não é um querer denovo, não se trata disso, talvez seja ego, ego-ísmo. Pensa que ela merece um homem de verdade, daqueles maduros que ele achava que poderia ser, hoje vê que é apenas um guri de barba. Pouco importa se é ou não, ele pensa que queria cuidar dela, queria ser esse cara de novo? Não, é egoismo mesmo. É não querer deixar ir. Não pode ter, mas não quer que ninguém tenha. Que não a façam feliz, a prefere triste, morrendo. Assim ele tem segurança, ele fica tranquilo de que nunca se arrependerá, dessa forma ninguém poderá supera-lo, talvez se for se arrepender anos mais tarde, ela esteja lá o esperando. Machista infantil. Mas ele sabe, será um homem de verdade, com lá seus defeitos mas antes de tudo maduro, capaz de lidar com os desafios sociais com maestria, um cara que ela certamente admirará e poderá construir seu futuro ao lado dele. Aquela família que uma vez foi imaginada por ele, será naturalmente de outro, merecedor de fato. Nessas horas não se pensa nos problemas que eles enfrentarão, nem que isso pode demorar ou então que simplesmente não irá acontecer, na cabeça dele esse novo homem será ele mesmo, com alguns anos a mais, uma capacidade muito mais para os sentimentos que ela necessita. Agora ele sabe que ainda não é velho, ainda tem mais chão pela frente. Admitir que não sabe a metade, dura realidade.

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Não teve solidão, não conseguiu deixar. Talvez ela simplesmente tenha de fato mexido com ele, o pegou pelos bagos, por baixo, deu um tiro no peito. Não houve solidão, certo que sim, quer dizer, um pouco, mas pouco mesmo. Tão logo passou, antes mesmo de chegar, ja estava químico, alheio e um tanto aéreo. Besta.

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