Ele agradeceu as moedas, e cantou uma música, que era, mais ou menos, assim...
A música tocou forte naquele jukebox enquanto ele e o pessoal do trabalho jogava sinuca. Não era bom de bola, nem tinha nenhuma preocupação a respeito disso, o mínimo ele fazia, não errava em bola, ao menos não sempre.
Mônica havia lhe telefonado naquela manhã, que por ocasião havia acordado justamente a tempo de atender o telefone, o que era bastante raro já que naqueles dias ele não sabia mais que parte do dia se encontrava, senão que apenas perambulava pelo tempo diário.
-Alô?
-Oi Ruffles! Tudo?
-Oi Mônica, tudo muito doido por aqui, e tu, como é que tá?
-Bem, mas pode melhorar se tu vier me ajudar numas coisas sábado. Digo, hoje, logo logo.
-Coisas?
-É... coisas mesmo, quero re-mobilhar meu quarto e queria uma opinião tua, eu sei que é coisa de mulher, mas vamos lá em porto catar uns lugares de móveis antigos! Vai ser legal, depois tomamos umchopp, o que tu acha?
-Nossa, eu não tava, amm, er... tá!!! é!!! vamos! vamos mesmo! Que horas na rodoviária?
-Depois do meio dia. Ta bom pra ti?
-Pode ser... mas... que horas, precisamente, sai o ônibus?
-Acho que a uma, ou uma e quinze. Tanto faz.
-Então, tá, umas quinze pra uma eu estarei na rodoviária.
-Beleza então, beijo! Até logo!
-Beijo, tchau!
Desligou o telefone e foi pro banheiro "dar um trato". Logo cantou aquela música, quando se depara no espelho, e vê aqueles pelos todos identificando o tempo, ou até arrisca supor, a experiência passada.
-Tu tá um caco. Tu também.
Olhando para seus olhos verdes no espelho começou a fazer toda a "aparação" de barba, enxaguar o rosto, se aprumar mesmo. Em meia hora estava tudo pronto e já organizado no lugar onde as coisas estavam. Vestiu-se e ficou pronto. Aquela altura do campeonato a casa já estava com mais habitantes vivos por ali, a mãe fazia um bom almoço de arroz com massa e carne, seu favorito pela simplicidade. A irmã olhava televisão junto com o cachorro no colo. O velho não estava, sabe se lá onde foi, ou se não está dormindo ainda. Com paciência foi ao quarto e olhou a bagunça toda. Aproveitou o ânimo que só aqueles dias com uma linda manhã proporcionam para arrumar o quarto, dobrar as roupas não sujas e guardar, ajeitar tudinho, só se recusa a tirar o pó. Não tem paciência pra tirar pó dos móveis.
Ao som de músicas antigas, e finalizando com "Sultans of swing" finalizou o quarto e estava apenas lendo o livro antes do almoço ficar pronto.
Terminou de escovar os dentes e logo se foi, de calça com a mão no bolso até a rodoviária. Já era meio dia e cinqüenta e sete e ela não havia aparecido. Ele começou a pensar porque não estava ali ainda. Mais dez minutos de sufoco até que a desgraçada apareceu.
Primeiro ele olhou feio pra ela numa clara desaprovação ao horário. Ela sabia com quem estava lidando, e com maestria retrucou com palavras.
-Tu faz pior.
-Bléééhhh!! que pior o que! Vem aqui!
Logo se entenderam, com beijo de desculpa e oi, nada longo nem romântico, só um selo momentâneo simples e cru.
-Bom, perdemos o ônibus.
-Ótimo, vamos tomar um café!
-ãhn?
-Vem!
Puxou ele pela mão, e antes que pudesse questionar qualquer preço daquele café de rodoviária, já havia sido servido e adoçado. Ele acabou acatando com a idéia por espontânea pressão, já que não tinha como dizer não aquela morena linda. O papo estava bom, ela contou que ia se mudar para um apartamento próximo a um bar que ambos gostavam de freqüentar (ele gostava mais, bem mais), agora ia ter menos coisas para se preocupar e parece que a vizinhança nova não seria um problema, senão que várias pessoas mais novas e não carrancudas cercavam sua nova habitação.
Comentou como queria fazer o quarto, com cama antiga, daquelas com a parte que vai em baixo do colchão feita de molas, uma gradezinha de molas, com uma armação pesada de madeira claramente velha.
Ele teve que rir, afinal, ele também gostava e velhas, só que bem ao contrário das portas, velhas pensantes. Não explicou porque ria, senão que apenas deu lhe um beijo na mão que estava posta sobre a mesa e com carícia fez ela esquecer o tema da risada.
Pegaram o outro ônibus que saiu uma hora depois do ultimo que perderam, no ônibus, acabou dormindo, dormindo de verdade, ele despencou no sono em menos de 10 minutos de estrada, dormiu e acordou, como se o tempo tivesse passado em menos de um segundo, ela não estava numa pose romântica nem nada, senão que apenas lhe cutucou o braço e se levantou pedindo pra ele andar logo.
Mal abriu os olhos e ja foi quase empurrado por ela, desceu do ônibus agradecendo o condutor por ainda estar vivo e bocejou com vontade assim que pos os dois pés no chão.
-Bocaberta.
Ele sorriu e abraçou ela, gostava dessas coisinhas que ela fazia. Ignorou e foram encontrar a tal rua de coisas velhas. Aquela tarde estava boa com um clima típico de um verdadeiro inverno, no sol era quente e gostoso de ficar, enquanto na sombra, tudo parecia frio. Foram caminhando trocando idéias a respeito da posição da mobília nova e sobre o que ela procurava.
-Queria pra começar, um candelabro, não, um lustre, isso, um lustre antigo.
-Meu tio reformou o apartamento dele a recém e colocou uns moveis legais lá, ficou jóia. E falando no lustre, ele comprou um antigaço por uma pechincha de uma parente dele que não sabia o que fazer com o maldito lustre.
-Que coisa... e era bonito?
-Sim lindíssimo, parece aqueles de salão de teatro ou algo assim, cheio de frescuradas para os lados e nos cantos dele as luzes. - Fazia gestos para demonstrar como era, gestos que ela nem olhava enquanto caminhavam.
Perambularam por aquela velha rua de coisas velhas e acharam mais livros que qualquer outra coisa, depois ele ficou fascinado com os relógios antigos daqueles de se por em cima de lareira, ela adorou as cadeiras de balanço, e ele não teve muitos modos na hora de experimentar o balanço dessas cadeiras. O dia passou enquanto eles comentavam e olhavam moveis, mas não compraram exatamente alguma coisa, senão que marcaram endereços, preços etc a respeito de quase tudo que lhes interessou em cada loja.
De súbito ele olhou pro lado e sorriu. Sentiu-se como um namorado, um parceiro, o cara. O cara, para ela. Sim, ele adorou pensar nessa possibilidade, adorou, se encantou com a idéia e ficou realmente feliz num instante. Logo atrapalhou a consulta que ela fazia em uma das ultimas lojas e beijou ela com vontade na frente dum senhor que lhe ditava as informações sobre um bidê.
-nham, ahhh, foi bom isso... desculpe senhor, só um momento. Mas pra que isso?
-Nada nada, continua, não queria atrapalhar, só deu vontade.
Ela sorriu pra ele e voltou a falar com o senhor que logo retrucou.
-Vocês são casados? Digo, namorados?
Ele ouviu e sorriu para si de novo enquanto fuçava num aquário velho mais no canto da loja, escutou a resposta dela com certa surpresa.
-Não, ao menos não ainda. E tu aceita cartão? cheque?
Logo viu que não tinha como pagar no cartão ali, não era um lugar grande, só um senhor de idade que reciclava os antigos objetos de seu tempo. Cansaram de olhar móveis, até que ele reclamou que tinha sede. Sede de chopp. Foram em mais uma loja, aquela clássica "ahhhh só mais uma!", e finalmente se encaminharam para um barzinho na Borges, onde ele conhecia, ao menos, o chopp. Ficaram por lá e ela organizava suas anotações. Muitos cartõezinhos e bilhetes, uns papeis de enrolar bife entre outros. Aquelas lojinhas não mantinham um padrão, o que deixava cada uma com um ar diferente, um ar de outros tempos.
-É... vai sair mais caro que eu esperava.
-Deixa ver... hmmmm... o que tu mais gostou?
-A cama daquela ultima loja, não penúltima! Era perfeita! Tenho certeza que tem até as medidas certas, adorei aquela decoração rústica na cabeceira, madeira talhadinha e tudo, muito bonita, nossa.
-Hmmmm... tu tem como pagar?
-Não, não se quiser montar o resto do quarto também.
-Então eu te ajudo!
-Hahahhaha, tu nem tá mais trabalhando guri!
-Detalhes, detalhes eu ainda tenho meus trocadinhos, tenho certeza que posso cooperar com uma parte razoável. Afinal, a cama também é de meu interesse... ehhehehe
-Hahhahahah, engraçadinho. Mas não, não quero que tu pague.
-Certo, agora, não estranhe se a cama aparecer no teu apartamento segunda-feira.
-Ah não! tu não faria isso!
(pausa)
-Faria sim! Droga, tu faria! Desgraçado!
-Não incomoda, vamos mobiliar teu quarto, vai ficar legal, agora só não me pede pra fazer o trabalho de peão e subir escadas levando os moveis que se for isso eu fico em casa.
-Tá bom... tá bom então. Vamos lá depois e já vemos isso, pode ser?
-Claro, só espera eu terminar meu chopp.
-Pinguço.
Ele não falou nada a respeito desse ultimo comentário, só se aproximou da cara dela deu lhe um beijo, que soou bonito, como nos quadrinhos.
"Smack!"
quinta-feira, maio 22
Smack
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