Suas costas doiam um pouco, já havia algum tempo que não descansava como queria, como um beberrão vagabundo que não era, mas gostava de acordar pelas tardes, torto, nú artístico.
Pegou o último cigarro de cima do criado mudo, não achou fósforos, não achou o isqueiro preferido. Contorcionou-se na cama para apenas inclinar a cabeça pra olhar por de baixo da cama sem tirar o cigarro da boca. Achou a caixa de fósforos e acendeu o cigarro de cabeça para baixo mesmo tornando a por o fósforo na caixa e deixa-la de baixo da cama. Era sua "reserva".
Já era a metade da tarde e ninguém havia deixado mensagem em lugar algum dos meios de comunicação que utilizava. Coçou o saco e foi fazer uma comida para si mesmo.
Enquanto a água fervia ele escutava o som gostoso de uma lata de cerveja abrindo, mais uma bohemia, ou menos uma, era tempo de sua vida de trabalho se convertendo em tempo de gozo na vida.
Estava saindo de casa quando lembrou dos dentes ao encontrar uma massinha num canto da boca. Escovou o melhor que podia depois de quase não escovar e, finalmente saiu de casa pra ir para aquela baladinha que o amigo porteiro maluco havia conseguido entradas grátis a muito tempo atrás.
- Oi, tudo bom?
- Tudo tudo.
Beijou a loira que o esperava na frente do local combinado para aquele dia e logo foi a procura de Bob, o preto maluco. Magali (se pronuncia Magáli) estava relativamente animada com o convite de ir no Bazooka, era terça e mesmo tendo de voltar mais cedo pra casa queria tomar umas e jogar um papo fora junto com aquele rapaz.
- E ai maluco! Beleza?
- Podcrê! Veio sozinho mano?
- Não não, trouxe a Magali comigo. Será que eh boa a coisa aí?
- Levei a Valéria na estreia comigo, eu não precisava trampar muito, ela curtiu pacas, o troço é confirmado.
- Báááá magrão!
- Hehe.
Arranjou as coisas com o amigo e logo estavam lá dentro, de pé, fitando um grande "arraiau" com espelhos no teto que dava uma sensação louca ao se olhar pra cima e se deparar com o universo virado com raios laser verdes e vermelhos passando por todos os lados. A chuva de luzes acabou fazendo ela pedir umas danças antes de mais nada. Ele topou. Sabia que as coisas eram um pouco diferentes quando não estava só.
Agarrou-a e ao som do tunts tunts foi re-conquistando aos amassos safados, com indiretas diretas que a "dança" quase o obrigava a fazer. Os movimentos foram esquentando junto com seu corpo que aquecia o dela naquele inverno caliente, sem nenhuma alusão a momentos calientes posteriores, ele gostava de falar-lhe ao ouvido com uma voz mais baixa, mas sensual e com o detalhe de aproveitar que ela também entendia español. Aquilo dava uma pitada castellana muito gostosa às conversas que, em determinados casos, poderia ficar até mesmo constrangedora.
...
Pegou o último cigarro de cima do criado mudo, não achou fósforos, não achou o isqueiro preferido. Contorcionou-se na cama para apenas inclinar a cabeça pra olhar por de baixo da cama sem tirar o cigarro da boca. Achou a caixa de fósforos e acendeu o cigarro de cabeça para baixo mesmo tornando a por o fósforo na caixa e deixa-la de baixo da cama. Era sua "reserva".
Já era a metade da tarde e ninguém havia deixado mensagem em lugar algum dos meios de comunicação que utilizava. Coçou o saco e foi fazer uma comida para si mesmo.
Enquanto a água fervia ele escutava o som gostoso de uma lata de cerveja abrindo, mais uma bohemia, ou menos uma, era tempo de sua vida de trabalho se convertendo em tempo de gozo na vida.
Estava saindo de casa quando lembrou dos dentes ao encontrar uma massinha num canto da boca. Escovou o melhor que podia depois de quase não escovar e, finalmente saiu de casa pra ir para aquela baladinha que o amigo porteiro maluco havia conseguido entradas grátis a muito tempo atrás.
- Oi, tudo bom?
- Tudo tudo.
Beijou a loira que o esperava na frente do local combinado para aquele dia e logo foi a procura de Bob, o preto maluco. Magali (se pronuncia Magáli) estava relativamente animada com o convite de ir no Bazooka, era terça e mesmo tendo de voltar mais cedo pra casa queria tomar umas e jogar um papo fora junto com aquele rapaz.
- E ai maluco! Beleza?
- Podcrê! Veio sozinho mano?
- Não não, trouxe a Magali comigo. Será que eh boa a coisa aí?
- Levei a Valéria na estreia comigo, eu não precisava trampar muito, ela curtiu pacas, o troço é confirmado.
- Báááá magrão!
- Hehe.
Arranjou as coisas com o amigo e logo estavam lá dentro, de pé, fitando um grande "arraiau" com espelhos no teto que dava uma sensação louca ao se olhar pra cima e se deparar com o universo virado com raios laser verdes e vermelhos passando por todos os lados. A chuva de luzes acabou fazendo ela pedir umas danças antes de mais nada. Ele topou. Sabia que as coisas eram um pouco diferentes quando não estava só.
Agarrou-a e ao som do tunts tunts foi re-conquistando aos amassos safados, com indiretas diretas que a "dança" quase o obrigava a fazer. Os movimentos foram esquentando junto com seu corpo que aquecia o dela naquele inverno caliente, sem nenhuma alusão a momentos calientes posteriores, ele gostava de falar-lhe ao ouvido com uma voz mais baixa, mas sensual e com o detalhe de aproveitar que ela também entendia español. Aquilo dava uma pitada castellana muito gostosa às conversas que, em determinados casos, poderia ficar até mesmo constrangedora.
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Era alemoa aquela belíssima raridade natural. Advogada, poderia mandá-lo para a cadeia sob diversas acusações contra o pudor, contudo, iria junto. A dança os levou ao calor, o calor, ao suor, o suor a mais suor e uma vontade imensa de puro sexo no meio da pista. Ambos se contiveram, mesmo que se provocando por cima das roupas, se contiveram. Ele saiu para o banheiro, estava louco; "Água fria! Muita água fria!". Lavou o rosto, fitou seus próprios olhos no espelho e se perguntou o que estava fazendo naquele lugar com aquela garota. Sem respostas, achou melhor ir perguntar pra ela. Fechou o zipper e no primeiro beijo ela sugeriu ir ao bar, tinha sede.
Com cervejas baratas, graças ao bruxo do lugar, o bar virou um local agradável pra se conversar, tocar pernas pro ar e beber até cansar. Ficaram rindo de algumas pessoas estranhas, bolando apelidos alheios. Criticaram o governo atual e ela ameaçou-o processa-lo por imoralidade e algo relacionando a chantagismo, ele só devolveria as chaves do carro com algumas condições, que envolviam o próprio carro dela, piruetas e algumas cervejas mais.
Acabaram os cigarros dele, e ela finalmente confessou o alívio de não ter mais fumaça por ali. Os papos de cigarro vieram e eles brigaram.
Foi simples, ela não gostava do cigarro, ele não dava a mínima importância de fumar ou não, mas gostava de fazê-lo quando sentia vontade. Tinha controle, "tudo" sob controle. A briga veio quando ele pediu pra ela falar a verdade quando os assuntos fossem triviais, ela riu argumentando que o vício dele não era trivial, era quase uma doença, uma loucura sã. Dentre as risadas e pequenos sarcasmos ambos se encheram, estava claro que não deveriam nem se ver mais.
A briga mandou cada um para uma ponta do bar, depois mandou ela para a pista, onde foi cobiçada instantaneamente por alguns rapazes. Ele ficou no bar, obviamente, fumando. Terminado outro cigarro, foi ao banheiro. Enxaguou a boca e foi busca-la na pista.
Aos beijos ela estava com um magrão mais alto e mais forte que ele. Tinha uma camiseta vermelha da lost. Ele gostava de usar vermelho quando saia com ela, não sabe porque, mas gostava. "Irônico." Pensou. Quando ela viu ele novamente, deixou de beijar o rapaz, e mais uma música deu um jeito de se livrar do magrão. Voltou para ele entre sinceras desculpas e perdões.
A risada de ironia ecoou pelo peito dela sentindo o fogo da crueldade, finalmente depois de mais algumas conversas, ficou estabelecido. Eles não tinham expectativa um com o outro, isso já estava claro, agora só ficou claro que não precisando manter nenhuma fidelidade de ambos os lados, ao menos falassem a verdade sempre para não se depararem com surpresas desgostosas.
...
Mais um dia com dores nas costas. Acordou meio torto e não conseguiu descansar de noite. Mechou no criado mudo que não existia do lado da cama, olhou em baixo dela e no chão e ao invés de cigarro e caixa de fósforos, achou sapatos e uma pantufa de ursinho. A casa dela era aconchegante, e sua relação não podia ser melhor nem pior.
Dois amigos, nús, sem nada de artista no meio e com a fidelidade da verdade, crua e nua, como gostavam de dizer. Podia doer dizer que ele estava ficando gordo, ou que o cabelo dela ficou pior com aquele corte bagaceiro, mas estava tudo perfeito, cada um no seu lado da cama, de costas mas sempre falando de frente, a coisa funcionava como deveria ser, mesmo que não devesse durar nada, eles se viam sempre que possível, eram seus próprios confissionários, sua religião, sua religião nua.
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