domingo, outubro 5

Recall

Estava pensando num certo número de telefone que uma certa vez recebeu de um amigo, o número era de uma pequena morena, a princípio, simpática apenas, ele não conversou muito com ela, alguns ois e acredito que sequer um tchau.
Ele anotou num pedaço de papel e começou a revira-lo entre seus dedos como se fosse uma moeda ou ficha de ônibus enquanto matutava com seus botões, e zippers, e cadarços e mais botões.

-Mas o que eu digo? Nem lembro o nome da guria, como diabos vou chegar assim do nada?
-Mas afinal, o que tu quer? o que pretende, ou o que espera dessa ligação?
-Ah, eu pensei em... em uns amassos sem compromisso, ou quem sabe, um compromisso... vai que ela... neh?
-Não. Não mesmo, tu sequer lembra o nome dela e espera algo como um compromisso?
-Por que não?
-Deixa de ser estúpido, se considerasse ela o mínimo possível ia no mínimo lembrar o nome, sem falar que talvez decorasse o número dela em apenas uma avistada.
-Não quer dizer... vai que foi apenas um acaso de não ter dado muita atenção e no final as coisas ficam um pouco mais importantes e/ou profundas?
-Pode até ser, mas essas coisas são meio raras, principalmente contigo, te conheço bem.
-Certo... mas afinal, ligo ou não?
-Olha, eu não ligaria, não ligaria por varias razões, a começar pela conversa que tiveste com ela.
-Qual o problema da nossa conversa?
-Foi balela.
-Tá mas sempre se começa com essas coisinhas assim pra se conhecer, não?
-Eu sei que tu quer algo maior que um casinho, uns pegas; tu quer um compromisso e não te faz de louco que já vi tudo que tu "aprovou" nela.
-Ahhh, não seje assim... Igual, o que eu tenho a perder?
-Nada, digo, no máximo, tempo. Mas de qualquer maneira, qual o sentido disso? Quero dizer, ela é uma espécie diferente da que tu espera pra ti, muito diferente da imagem que tu tinha.
-Vou te bater.
-Ãh?
-Vou sim, tu vaix queimar.
-Liga então, quero ver. Liga, se tu for capaz.
-Vou! Vou ligar! Só tenho que ver o nome dela antes... só pra né... não chamar ela de "ô", ou pior, "cara". Não sei qual é pior... Bom, então tá. Vou ligar sim, seu maluco.
-Ótimo, talvez as coisas mudem... boa sorte desgraçado!

Ele amassou o papel dentro do bolso da calça jeans e foi pegar um chimarrão, sabia que era muito mais provável que não desse em nada, que sequer lembrasse dele talvez, ou coisas do gênero, de qualquer maneira, não custava tentar, mesmo que esse fosse o primeiro passo para o fracasso, também era o do sucesso.

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- Alô Cíntia?
- Sim? Quem é?
- Ruffles, tudo bem?
- Ahhh oi ruffles, tudo bom sim.
- Vai fazer alguma coisa essa noite?
- Bahh.. olha, tenho que estudar. Terça tem prova e acho que vou ir mal se não fizer nada...
- Hummm... ah bom...
- Pois é...
- Então tá, bom estudo hoje...
- Mas por que tu quer saber?
- Não nada de mais, queria te convidar pra beber umas hoje, mas deixa, melhor tu estudar mesmo...
- Tá me chamando de burra?
- O que!? Não! Não! Claro que não, eu só fiz uma escolha infeliz das palavras...
- Sei...
- Bom, vou deixar tu estudar
- Certo, beijo, tchau
- Tchau, beijo


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Eu sabia que tu não devia ter ligado. Mas não! tu não me ouve! Tu nunnnca me ouve, nunca! Ah não seje assim, tu sabe que era melhor tentar... é sim, agora tu fica com uma cara de taxo e ainda por cima chamou ela de burra, ótima tentativa garanhão. Ah mas que bosta, tu também fica olhando tudo pelo lado negativo... E tem lado positivo aqui!? imbecil, estragou tudo, e olha que ela era bem bacana além de bonitinha... sim um certo beicinho, mas é toleravel... além do que deve ser bom de beijar. É... Se tu não tivesse estragado tudo... Mas eu não estraguei! Porra! Ui ele se irritou... Tom** no c* filho da pu** miserável. Ooolha os nomes! Daqui a pouco o único nome que tu vai ver vai ser meu punho nos teus olhos! Uhahahhahaha! Hahhahahahahha!
Depois de toda aquela balbúrdia de discussão a respeito do maldito telefonema, foi só mais uma segunda normal até chegar em casa. Claro, não pude deixar de quase passar a parada na volta, dormir no ônibus é uma maravilha da segunda-feira, igual a chegar em casa e tomar litros de suco depois de um dia estressante e seco.

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Já era tarde, mas ela ligou.
- Alô?
- Oi Ruffles, aqui é a Cíntia...
- Oi... mas tu não devia estar estudando?
- Já terminei e... ainda tá de pé aquela proposta de hoje detarde?
- É quase meia noite Cíntia...
- Mas eu tava com uma sede...
- Hummm...
- Ahhhh vem aqui, vamos lá tomar umas e conversar, não é o fim do mundo só porque é segunda...
- Não sei...
- Poxa Ruffles...
- Tu me deve explicações pra essa mudança repentina, mas tudo bem. Vinte minutos.
- Obaaa! Já to pronta, quando chegar da um toque.
- Mas perai, eu nem sei onde tu mora!

Um comentário:

Giancarlo Marelli disse...

Hahahaheha!
Que final perfeito!
A respeito do texto todo, eu não esperava menos!!