terça-feira, dezembro 16

fotos

Estava olhando fotos essa noite... Tive saudade daquela que ultimamente me da equilíbrio e mantem minha cabeça e peito no lugar e comecei a olhar fotos. Buscando uma leve distração da inevitável aperto que começava a coçar por dentro.
Funcionou na medida do possível. Até mesmo agora, que escrevo e deveria estar focado em idéias a serem vomitadas pelos meus dedos, continuo com aquele apertinho num canto do peito que me diz que saudade também é preocupação.
Uma das fotos eu estou com cabelo no seu maior volume já registrado por cameras fotográficas. Analógicas, daquela com filme de 36 poses onde sempre uma ou outra saía errado.
Está a praia no fundo, belíssima, de azul desde calcinha até o marinho. Próximo as pedras, meu corpo coberto com uma leve camiseta verde e preta, logo em cima, uma cabeleira de dar inveja em qualquer calvo ou careca. Acredito, dois quilos de pura massa capilar. O vento sopra contra ela e deixa mais despenteada e feia do que já era, o cabelo tem certa vida quando tocado pelo vento.
Lembro como se fosse agora, o vento, a pose, as pessoas pedindo pra parar de saltar sobre os rochedos e deixar que tirem uma foto. Finalmente concordando, parei, resvalei um pouco em minhas hawaianas que já estavam imundas e quase soltando as tiras do buraco central. Olhei mais acima da encosta, aonde a família caminhava e parei por um instante. Fixei o olhar para próximo deles, num ponto atrás, de modo que ficasse com a cabeça para aquele lado, mas ao mesmo tempo, voando em idéias minhas sobre os rochedos e os mares.
A outra foto eu tenho um bonito cabelo mediano. Não é curto, arrepiado, é um cabelo que me agradava. Na ocasião, estava explodindo de alegria e cerveja. Casa do Gian, a felicidade toda, a combinação das coisas que mais adorava naquele instante, a sempre loira, cerveja, que devo admitir, começo a me preocupar com tal emoção, e os velhos e sábios companheiros de guerra. Estava ótimo... na foto eu não consigo traduzir toda a alegria que lembro ter.
Uma outra, mais sombria, me lembrou muito o tempo negro que todos temos. Um vulto no meio da multidão, aquela solidão que vem te puxar os pés na hora de dormir. O tempo em que uma brasa de cigarro era a única companheira de viagem. Seja sob esse céu ou a dois mil quilômetros daqui. A solidão era idêntica. Em meio aos sorrisos, as bobagens, as brincadeiras de bom e mau gosto, ao meio dia, durante todo o dia, desde cedo até entardecer, sempre. A solidão era a mesma. Lembro que era como... como...pular de um trapiche para a água não tão rasa. Tu sabe que pode ser muito fundo, mas sabe que pode ser muito raso. Não vê o fundo, apesar de saber que existe e vai tateando com o pé até o fundo, assim consegue uma base para voltar a subir. A única coisa é que nunca se sabe se o chão estará ou não ali no momento em que tu precisar.
Eu não procurei mais fotos. Achei que a última, tamanha lembrança, aquele cheiro de lembrança, me fez um pouco bem. Assim, posso lembrar também, o quão bom é, não se sentir mais só. Ver a graça besta de uma criança e conseguir rir sozinho. Cuidar como o passarinho pula ao invés de caminhar e rir da cara do palhaço. Olhar desenho sem ficar sério.
Tinha esquecido que igualmente com o corpo, as memórias são importantes para os sentimentos. Assim como adoro lembrar todo o dia o quão bom é não estar com nenhuma parte do corpo machucado ou incapacitado, é bom pensar da mesma maneira com o peito, com o que alguns chamam de alma, eu chamaria de... claro. Chama.

Um comentário:

Giancarlo Marelli disse...

Porra, que tri isso!
Deixa a chama queimar, é pra isso que serve mesmo!

Às vezes ela apaga, mas só pra poder acender de novo. Por isso que aqueles caras cantavam: "C'mon baby, light my fire!"