segunda-feira, junho 11

Fumaça Parte 3

Era um apartamento bastante simples, na realidade, um JK. Era o segundo andar e não pegava muito sol, rendia no final do ano umas duas paredes mofadas e um cheiro que insistia em voltar. No primeiro ano ele até se importou com tudo aquilo, fez questão de limpar as paredes sempre que via um resquicio de mofo. Sentia aquele cheiro de humidade e mudava as coisas de lugar, tentando de alguma forma amenizar a situação do lugar. Depois da teimosia de um ano lutando com o ambiente do apartamento, resolvou que ficaria assim até ter razão para mudar alguma coisa, parou de se opor a humidade e passou a acostumar-se com ela, eventualmente uma tia que limpava o lugar lhe pedia para comprar uns produtos para limpar as paredes, mas raramente lembrava de comprar.
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Um sofá cama que normalmente estava sempre no estado de cama aberto meio de lado para a televisão. O sofá meio velho, comprado no brick foi a melhor opção, quer dizer, caso ele quisesse trazer pessoas, ele poderia monta-lo como sofá e o ambiente seria até social. Uma mesa redonda pequena para quatro pessoas ficava mais a frente, próximo ao murinho que fazia a cosinha e dava de frente para a sacada. Eram quatro cadeiras e uma já fazia aquele ruido, certa vez levou uma garota de programa para o quarto e o resultado foi uma marca de cigarro no sofá cama, uma cadeira rangindo e uma frustração impagavel. Não, pagável.
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Num desses domingos de sol brilhante ele via de longe que o dia seria bacana, um bom dia para quase qualquer coisa, quem sabe até para trabalhar. Levantou-se e buscou a carteira de cigarro em baixo do sofá, próximo ao cinzeiro. Acendeu um e conforme foi levantando e se coçando ia empurrando as roupas do dia anterior para um canto e se direcionando ao banheiro.
Cara amassada, cabelo escuro bastante bagunçado, era moreno estatura média, tudo bem, não tão médio assim, mais para medio baixo que médio médio ou médio alto. Tragou e soltou a fumaça no espelho, sentiu sua língua áspera, sentindo aquele amargo do cigarro.

- Buenas babaca. Tem que cortar esse cabelo hein?

Enquanto mijava tragava e soltava aquela fumaça pra cima e via aquelas rachaduras num teto mal pintado. O cigarro ficava aceso escorado na pia enquanto se arrumava, terminou aquele ainda no banheiro depois de escovar os dentes, se arrependeu de novo. Aquela mistura de gostos na boca, menta com tabaco não era muito interessante, não aquela da pasta de dente.
Deixou o apartamento bagunçado e arrumou-se para o serviço, já era perto das dez e meia e tinha que sair para chegar ao restaurante a tempo, os clientes começavam a chegar as onze e meia. Estava atrasado.

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