quinta-feira, janeiro 10

Segundo dia

Acordei naquele hotel bacaninha, tinha no dia anterior buscado entre dois hotéis  mas era realmente no meio da cidade e se tratavam de hotéis praticamente de luxo, custo do pernoite saiu por volta de dizendo e oitenta reais, junto com estacionamento, cama, wifi e café da manhã. O café foi café mesmo e um único sanduíche, com quatro fatias de queijo e umas duas ou três de presunto, realmente imaginava que poderia ser péssimo precisar de banheiro no meio do nada, dessa forma pensava apenas em sair e me mandar naquela manhã.

 A moto precisava de uma troca de óleo urgente e claro que eu não estava interessado em me meter nisso, fazer aquele lambuzo por qualquer lado ou sem ter certeza, além da trabalheira que era. Primeira descoberta foi de que os postos de gasolina da argentina são iguais aos do chile nesse sentido, não trocam óleo de moto, é preciso buscar um mecânico.
Encontrei um bruxo de viajantes loucos que ficou feliz em ajudar, foi coisa rápida mesmo, a maior delonga foi o papo furado e o cara mostrando que o club de BMW do Brasil sempre volta e da uma passada por ali, comentando sempre que se ele for viajar pra outras bandas ele consegue hospedagem com qualquer um dos caras do clube praticamente. Resultado da manhã, etinerário atrasado, ao invés de cair na estrada as oito, acabei começando a andar por volta das dez e meia, me perdendo no centro de Mendoza.
Realmente estava muito atrasado e a ideia de chegar antes do natal poderia estar correndo risco maior do que já estava.
O trajeto foi: Uspallata, Mendoza, La Paz, San Luis, Villa Mercedes, Sampacho, Rio Cuarto, Geneal Cabrera, Villa Maria, Las Varillas, San Francisco, Santa Fé, Paraná, Federal, Paso de Los Libres, Uruguayana, Alegrete, Rosário do Sul, São Gabriel, Vila Nova do Sul, Pantano Grande, Minas do Leão, Eldorado do Sul, Porto Alegre, Esteio, Novo Hamburgo.
Acabei saindo tarde de Mendoza e a autonomia da moto era bem limitada, apenas 200km, resultado era que quase todo posto de gasolina eu parava pra encher o tanque e lubrificar a corrente. As paletas começaram a apodrecer, estava levando a mochila ainda na garupa, só apoiada na moto, o que era uma verdadeira merda, qualquer desnível na estrada deslocava a mochila um pouco e me incomodava. Depois de subir e descer as cordilheiras e andar por volta de mil quilômetros cabei parando numa ferragem pra comprar umas cordas e finalmente amarrar a mochila na moto.
Além disso comprei as ferramentas pra estirar a corrente da moto. Por volta do fim da tarde eu saía de algum tipo de vila entre Villa Mercedes e San Francisco. Queria chegar em Uruguayana ainda no mesmo dia, mas sabia que era impossível. Mantive a mão numa média de 100 a 120 km/h, o que é muito para a pequena guerreira.
Cheguei em San Francisco e descobri uma infestação de algum tipo de inseto que segundo eles só saía qunado tinha humidade, o negócio é que o posto de gasolina de San Francisco estava absolutamente cheio deles o que formava uma espécie de tapate sobre o chão do posto de gasolina e uma chuva que fazia o capacete praticamente pesar de tanto bicho morto caindo sobre ele. Abasteci e segui viagem já tendo certo que Uruguayana seria impossível. Faltava por volta de cem quilômetros pra chegar em Santa Fé, e desde Paraná uns 500km até chegar em Uruguayana, sem falar que não sabia como funcionava o horário de atendimento da aduana, de forma que poderia chegar e não ter como voltar  nem seguir viagem. Acabei andando loucamente durante a noite até Santa Fé, era um caminho ainda em alargamento, uma estrada que era simples estavam duplicando. Os caminhões eram praticamente meus únicos companheiros e na maioria das vezes não eram nenhum problema, além de sinalizar quando era possível fazer ultrapassagem também não se metiam em meu espaço de pista. O peso da moto deve ter dobrado, tamanha quantidade de insetos que se grudaram, ou na jaqueta, no capacete ou no para-brisa da moto.
Foi chegar em Santa Fé que abasteci e resolvi que chegava em Paraná. Segundo a rota que eu fazia olhando apenas pelo google maps, eu vi que o caminho se estendia próximo de um rio, e imaginava que tinha um túnel por ali, mas não era garantido e também não havia me informado sobre isso. Acabei tomando as ruas certas de primeira, apenas guiado pela precária sinalização de trânsito argentina, felizmente encontrei. Túnel para o Paraná. Alegria. Além dessa opção seria de balsa, que provavelmente nem funcionava as dez da noite. Cheguei em Paraná e andei um pouco, não gostei da cidade, parecia Sapucaia do Sul, só que maior, um estilo tão feio quanto aquele.
Me informei pelas ruas e encontrei um hotelzinho que deveria ser barato. Barato era, perto do preço no Chile, mas nossa, que lixo de hotel. O atendimento era tão bom quanto se a cidade fosse tomada de zumbis, o estacionamento do hotel ficava a quase uma quadra dali, um telhado quebrado em vários pontos, o chão era praticamente puro barro, salvo algumas partes que havia um princípio de concreto. Não havia nenhum veículo estacionado e me chegou a dar pena de deixar a guerreira por ali, prendi na corrente e com sorte nada de mal aconteceria. A noite chegou pesada quando me deitei na cama só pra olhar tv, quase não consegui manter os olhos abertos pra comer os pasteis, a única refeição do dia. O café da manhã foi literalmente só café, e assim que pude, já estava na estrada. Faltava só mais um dia, precisava chegar, precisava.


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