segunda-feira, março 10

E3 - um real

A pedidos e a necessidade de expressao...

Aniversario de um amigo. Nada de mais, apenas umas bebidas chilenas e uns salgadinhos pela mesa do meio centralizando uma conversa na sala da casa do seba.
Um oi pra cada pessoa da casa e entramos. Muitas risadas, umas discussoes politicas e um brasileiro soh bebendo cerveja pra completar a cena. Piscola, a bebida mais comum daqui, trata-se de pisco (uma especie de cachaca melhorada) com coca ou alguma outra coisa com gas; essa era a bebida da casa, todos bebendo, todos muito loucos, bebendo e conversando. Um bom comeco de noite rancaguina. Comemos amburguesas, nada mais que uns paes com amburguer num breve buffet de coisas a se servir. Estava otimo. Mais ao final das conversas sugeriu-se (pra variar, unica e exclusivamente para variar...) ir numa disco (Aqui, a fraqueza do nosso heroi, reguetón, o estilo e musica mais badalado do momento nao faz o seu genero musical, mesmo depois de muito tempo, ainda nao gosta tanto dessas coisas, nao eh a musica em si mas o ambiente, as coisas todas, igual que no pais e origem o faz um pouco infeliz em algumas boates, simplesmente nao lhe desse, assim como as frutas; verduras; legumes).
La se foram, Estudio 3 o nome do lugar, estremamente lotado na entrada, tanto na free pass quanto para comprar ingressos. De um jeito ou de outro, depois de algumas muitas ligacoes, se entrou, todos entraram sem pagar, uma maravilha jah que ia sair uns vinte e tantos reais para cada um.
Entrou, olhou para todos os lados e deu uma sacada no lugar para tentar entender todo o contexto. Local amplo, praticamente um salao enorme com efeitos luminosos bonitos. Ja encheu o saco, nao era um dia para festas, estava pensando na sua vida incerta, nas coisas que havia de fazer, nas coisas que fez quando falou com a morena e pensou um pouco nela ate. Talvez as coisas fossem bem diferentes se vivesse por ali, talvez todos fossem magros e se olhasse muito mais simpsons. Escorou-se na parede sozinho logo depois de sair de perto do primo e sua namorada. Acendeu um cigarro. Acendeu outro. Ja fumava o terceiro e parou para contar quantos luckys ainda lhe restavam. Seis. Nao. Cinco. E logo foram 4, logo acabaram e ele continuava ali, no mesmo canto parado, pensando na vida e vendo umas lindas morenas, e umas feias morenas passarem por sua frente as vezes notando-o, as vezes sem nem ver seu vulto na parede. As sombras passavam por seu rosto tapando o efeito de luzes tao bem planejado. Brincava com o isqueiro sem acende-lo e sem chamar atencao pensava nas vidas dos que passavam e imaginava como seria um uruguay com os bruxos (bohemios loucos pelas ruas desconhecidas?), pensava nas pessoas por conhecer, e porque diabos estava ali parado sozinho. Desescorou-se, por fim resolveu se comunicar com alguem.
"Hola, aca vienden cigarros?"
"Si, pero en la caja al lado."
"donde?"
"ahí"
O seguranca apontou um lado e se moveu para aquela direcao sem nem mesmo pensar ou dizer gracias.
Haviam luckys, apenas luckys e somente light (de bichinha): "que seja, melhor que chá." pigarreou para si mesmo. Pagou caro por aquele lixo (LIXO!) de cigarro, foram dois mil pesos chilenos. Acendeu um com orgulhosa habilidade e foi no banheiro tirar agua do joelho. Logo na volta, ja vendo por que canto iria parar para fumar, o impensavel (minto, o quase esperado e por pouco combinado) acontece. Ao dar apenas dois passos e se desenrolar de um par de pessoas, se da de cara com A morena.
Sangue na cabeca, um pouco de nicotina o fez cambalear mareado para os lados. Abriu bem os olhos, viu aquele rosto parado diante do seu com igual surpresa. Engoliu seco seus sentimentos e pixou um rosto de sorrizo semi aberto ao ver um acompanhante logo atras dela. Nao. Nao tinha planos para com a mesma, mas o acompanhante ali o fez lembrar algumas coisas que pensara esquecidas. Comprimentou, pendiu que apresentasse o cavalheiro e com uma dose de controle cru comprimentou-o normalmente como se nao fosse quem ele realmente representava. Sua garganta cocava, clamava por gritos. Decidiu seguir e voltar a posicao anterior, agora teria mais coisas a pensar. Passou por eles e voltou a velha parede proxima a entrada principal. La ficou por alguns instantes de sossego apenas para respirar o que faltou de ar no momento anterior.
Nao deram discanso, logo pararam proximos a ele, e a morena o fitando, como que dizendo alguma coisa. Uma conversa de olhares voava de um lado a outro sempre que as pessoas que caminhavam entre eles permitiam. O tempo passou por ali e levou a visao da morena para o meio do povo onde mesmo com seu olhar e percepcao de aguia nao conseguia mais distinguir as cabecas alvos.
Moreno de pele clara, barba, mesma altura que a sua, talvez um pouco mais magro com moleton de la, calcas jeans azuis padrao, sapatos meio rotos e maos dadas com a morena. Essa foi a foto que lhe cravou na cabeca.
Fumava e fumava, e pensava e pensava como se o fumo fosse lenha para sua locomotiva de pensamentos que disparava mais e mais rapido a cada nova tragada. Pensava consigo:
por que diabos me coloquei tao ciumento? Tenho direito disso? Nao, perai, eu lembro bem, a coisa ja havia passado, ja nao significava nada de mais, apenas boas lembrancas, certo? Nao sei, foi tu que comecou tudo isso, com uma historia de que era impossivel mas nem tanto... Que nada, a culpa tambem foi tua, tu poderia ter me freiado, porque nao o fez? Porque eu senti a mesma coisa. Droga. Maldito. A tua voh! tua tambem, imbecil. Ahhh que seja, mas e agora, vamo lah, conversar com ela? NAO! porque? porque vai piorar, lembra do que aconteceu? Eh verdade. Melhor nao vamos, fiquemos por aqui e se ela quizer, ela sabe como me procurar, afinal ja conseguimos nos controlar para nao ir no show maluco naquele sabado, fizemos o possivel para nao perder o controle e quando chega na hora H vamos perder? Negativo, nao permita que as coisas mudem como ocorreram na primeira vez. Nao permitirei.

Assim foi. Pensava sozinho a respeito do passado, de como as coisas haviam se desenrolado e se enrolado e pensou no melhor possivel para o futuro dela. Melhor nao meter-se mais nos assuntos chilenos a mais de dois mil kilometros de distancia, havia feito mal de uma maneira que nem nos filmes havia visto tamanho estrago. Comparado a um furacao, para variar, de olhos verdes vindo do oeste, e outro de olhos cafe meio puxadinhos vindo do leste. Tratou de disviar seus pensamentos.
Nao funcionou.
Que seja, ficou por ali fumando em paz e se cravando pensamentos malditos a respeito dela, daquela moreninha.
Passou-se menos de meia hora e a presenca daquela pele voltou a perseguilo. Passou uma vez, passou duas, passou varias vezes, ou foi o tonteio de cada passada que o fez contar errado, ou seus olhos ja lhe mentiam.
Numa dessas, o agarrou pela mao, sozinha na sua frente lhe gritou ao meio da musica alta:
"necessito hablar contigo!"
meio tonto respondeu.
"ya. ven."
E apontando para um local proximo a entrada, onde o som nao era tao alto foram conversar.
Quase instantaneamente perguntou lhe porque nao queria ir ao concerto de sin bandera com ela. Tomou folego interno e tentando nao demonstrar nada respondeu que nao gostava, que nao queria ir, como uma crianca dizendo nao, porque nao. Viu que faltavam argumentos cabiveis, mas nao se aprofunou a explicarlos, ela replicou e argumentou dizendo que antes gostava, que antes ate cantava para ela, porque agora se tornora assim? porque sim, porque agora tudo mudara. Estava disposto e determinado a nao demonstrar nada interno para que ela o esquecera de vez e assim fosse mais facil para todo mundo. Ela teve um espasmo instantaneo, comecou a abracar lhe, a pedir um beijo com os labios proximos aos dele, perguntava porque nao, perguntava e balancava a cabeca, louca, queria uma explicacao decente mas ele nao podia dar, nao ainda, nao enquanto tudo pegava fogo com o resto da lenha. A maior dor foi ao escutar claramente em meio a muitos olhares de estranhos ao redor que ela o queria, que queria a ele e somente a ele, que era ele que precisava para conversar, que sentia sua falta. Essas palavras voaram de sua boca aos gritos e lagrimas quando lhe cravavam no peito laminas do alfabeto grego usadas de uma maneira castellana. Esitou por um instante e foi cruel como pode.
"Podemos conversar, mas nao assim."
Ela o mirou de baixo para cima ainda com os olhos brilhando e nao o reconheceu, olhou para ele com quase medo, tamanha mudanca havia ocorrido. Mal sabia ela que o seu interior lhe mentia e ainda havia um gritando internamente que era possivel, mas os outros o calavam com espadas e lanca chamas. Olhou o longe, para nao precisar mentir seu olhar na frente dela.
Nao deu muito tempo, mais algumas perguntas, umas respostas frias e mais olhares tristes viram os olhos verdes crus como nunca, firmes como pedras de uma cordilheira sem exitar dizer "que nao" inumeras vezes ate a ultima gota brotar dos olhos cafe.
Com irritacao, buscou sua carteira, e ele pensou que atiraria uma argola de prata sobre seu peito ou mesmo longe, quando ao encontrar um objeto pequeno ofereceu lhe na mao e saiu correndo para o outro lado, ele sentiu um pedaco de niquel em sua mao e fitou-o. Um real, uma moeda de um real, nem sabia de sua existencia, nao conhecia o amuleto que ela inventara e levava em sua carteira mesmo estando com outra pessoa. Foi lhe o fim, o que faltava para nao ter mais cantos sem um ferimento interno. Pensou consigo.
"Preciso de um cigarro."
Mais do que nunca, pos-se a pensar e mutatuva como deveria ter agido, o quao mal fizera ao esconder o que por dentro lhe comia as entranhas. Tinha algo que lhe dizer, mas agora era tarde, viu um ultimo olhar de odio escapar pelo canto mais afinado daqueles olhos cor de cafe. Afundou sozinho dentro da fumaca que soltava pelas narinas ardendo lhe as temporas, girava uma moeda nos dedos e nao podia parar de pensar, nao conseguia parar de pensar.
Deu mais um tempo, viu novamente a morena, aos beijos com o cara de antes, ja esperava, mas parece que aquilo era ainda pior, agora a via sorrindo para ele, dancando e cantando as musicas no ouvido dele. Nao queria estar no lugar dele, queria estar no seu lugar, no lugar que uma vez fora seu, no lugar que julgava correto. Permaneceu mais algum tempo na parede de antes, agora conversava com uma morena magrinha e bonita ao seu lado, nao buscava nada, senao apenas alguem para conversar. Jovem interessante e amavel, a certa altura, ja nao havia mais o que lhe dizer, ela se despediu naturalmente beijou lhe a face e saiu em busca de suas amigas, jah que havia ficado para tras para conversar com ele. A viu partir, e pensou por um instante que as morenas gostavam de ser impossiveis para ele, mas logo lembrou que numa vez foram kilometros e agora, eram as lembrancas daqueles kilometros que impediam qualquer boaventura em suas tentativas. Cansou do ambiente, saiu soh da boate e resolveu esperar a fora, haviam muitos cigarros em seu lindo porta cigarros, assim que nao haveria problema sair aquela hora. Escorou-se num carro e fitou a porta de saida esperando muitas pessoas ao mesmo tempo, verificando se nao era um daqueles malucos da festa de aniversario, ou seu primo e sua namorada ou A morena.
Acendeu muitos cigarros, olhos as estrelas e ficava girando a moeda na mao pensando e pensando. A certo ponto, uma caminhonete atravessou a sua frente nao permitindo que o vissem, ao mesmo tempo, a morena saia com sua compania pela porta da frente e ele riu sozinho da desgraca coincidencia de justamente nesse momento um carro tao estupendamente grande passar pela frente dele nao permitino que trocasse um ultimo olhar com a morena que tanto tempo esperava no frio da noite chilena. Pois bem, riu mais uma vez e acendeu outro cigarro. Reparou em cada detalhe quando se afastava, como pareciam felizes e se trocavam beijos, lembrou que com ela, ao menos em sua compania, era mais carinhosa e parecia mais alegre. Apos perde los de vista fitava a saida da boate ate que todos sairam. Para variar, apenas para variar, uma velha amiga de dois anos atras saiu tambem, lembrou me de outra morena, que lhe mordera os labios certa vez e deu lhe um trauma quase de crianca. Bom, vamos? Fomos.
Seu primo havia bebido muito, e ainda dentro a boate queria bater em alguem, qualquer um, esbarrava em todos, atirava um pouco de bebida, mas ninguem estava afim e briga naquele dia, agora voltava junto com ele pelo lado de fora do carro, gritando estremamente alto com volume alto daquela musica dancavel e sentido o vento de 140 por hora na cara, por alguns instantes se esqueceu do real real que carregava no bolso.
A noite nao conseguiu dormir, e depois de muito pensar e re pensar, chegava a conclusoes drasticas. Manteria sua moeda, como lembranca de suas escolhas, como uma cicatriz, para lembrarlhe que o passado nao foi um sonho, mas uma realidade tao crua quanto o quao REAL era sua moeda.

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, primeira vz q comento aqui hein.. heuehuehe

Puxa, imagino sua agonia, momentos como esse que vc contou são completamente ruins, não digo trágicos, mas mesmo assim é foda...

Mas vc sabe que a vida é assim mesmo, idas e vindas, uma hra ou outra vc novamente terá uma morena para viver e reviver ehehehhe...
Quem sabe a próxima visão e agonia não seja ao contrário?

Agente nunk sabe..

bjos vizinho

G. Marelli disse...

Nossa, que perfeito tudo isso!

Anônimo disse...

Eu ainda tô esperando as do rei...