Nenhuma manhã foi sequer vista até agora. Todos os dias iniciam depois do meio dia, no mínimo. Os horários loucos são sempre loucos. Ontem o bar fechou mais cedo, felizmente. Arrumamos tudo relativamente rápido e por volta das cinco já estava em casa. O resfriado não me deixou dormir bem, e uma incrível espinha dentro da orelha direita está me matando. Explodiu sozinha, faz uns quatro dias que estava amadurecendo, ontem foi o dia. Sangue pelo ouvido, pus e tudo que enche um belo prato.
Me dei conta agora mesmo que abri as cortinas em xadrez rosa e branco, o sol entrou e esquentou um pouco meus pés, e é, as manhãs não existem aqui. Eu gostava das manhãs de domingo, ou qualquer dia sem trabalho, eram manhãs mais alegres, mesmo que fosse necessário limpar a casa, era bom. Havia música, eventualmente alegre, movimentação e um cheiro de manhã no ar.
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O cara chegou, alegre e fazendo gracinhas enquanto entrava da porta do bar até o balcão. Saudou os compadres e dirigiu-se a mim. Um aperto de mão típico chileno. Aqui existe uma espécie de receita de aperto de mão. Talvez aprenda mais sobre eles conforme as classes sociais ou quem sabe as regiões do lugar, mas normalmente não varia muito.
Primeiro se cumprimenta com o rosto, antes de mais nada. Um sorriso, um arregalar de olhos e peito aberto. Em seguida as mãos se buscam, sempre as mãos direitas, um aperto clássico com os dedos apontados em ângulo para baixo, em seguida vem a primeira variação, alguns fazem o segundo aperto, aquele estilo queda de braço, que os dedos apontam então para cima e a parte gordinha do dedão é onde tem mais contato.
A saudação de mão ainda pode ser acompanhada pela mão esquerda tocando um braço, ou ombro ou nada. Ela serve como introdução para o seguinte movimento, que é o abraço. Depois de saudada as mãos, pode haver ou não um abraço. Alguns se beijam as bochechas, enquanto outros apenas tocam seus ombros num abraço tímido. Fechado o toque ou o abraço, se voltam novamente de frente e existe mais uma saudação de mão. Essa mais rápida e normalmente menos firme, é um gesto veloz acompanhado de um toque da mão esquerda no ombro, como uma assinatura para todo aquele bolero que foi a saudação.
Talvez os cumprimentos sejam no final, iguais aos que eu dava aos queridos bruxos, mas aqui o pessoal tem esse calor com praticamente todo mundo. Algumas pessoas mais ricas normalmente são mais frias, claro que existem exceções, mas em geral é assim.
Falando de classes, pude reparar que os caras do trabalho estão começando a me saudar de forma diferente, quer dizer, igual as saudações entre eles. Um cumprimento de mão estilo queda de braço soltado rápido e um soco entre cada mão. Realmente parece bem mais flaite, uma forma de dizer que é coisa de malandro ou de preto. Não me incomodo com nenhum, sempre fui de apertos de mãos serenos e firmes, mas o pessoal aqui as vezes exagera.
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