terça-feira, março 25

blam!

( Primeiro. Cansei. Não da pra ficar escrevendo tanto apenas para narrar os fatos de um amigo, depois de ser contado e re contado... perde-se a afobação por escrita que mesmo com um teclado novinho pedindo para ser usado, pedindo que se toque com velocidade suas teclas novas e macias, não sai... não da vontade... é... não... preciso de um tempo pra parar de escrever a história das cordilheiras, é muito chato escrever por obrigação de seguir o curso da história, pense num final para ela e pronto. Exploda a imaginação caso não gostou de ter terminado a série pela metade. Reclame com a tua vó, talvez ela lhe conte um final bonito, daqueles para dormir que só nos tempos das vós se fazia.)

Isto aqui, (sim, essa linha mesmo, mais precisamente essa parte toda em italico), foi escrita depois de terminar de escrever o que vem abaixo. Não é necessário ler, não se perde nada, as idéias não fazem sentido e agora sim, por fim eu vou e fecho a porta.

Passaram tantas idéias na cabeça com esse tempo sob pressão....
que seja, seja dito algo sobre isso! Sobre a auto pressão.

Interessante como notei a diferença entre pessoas e pessoas. Algumas conheci a fundo, e para não citar nomes, vi que estavam perdidas. Não. Nada de deus, ou perdida nos caminhos do bem e do mal, indo para o mundo das drogas, nada dessa bobagem, me refiro perdidas em suas vidas mesmo, pessoas que não sabem o que querem. Ta bom. Eu confeço, sou uma delas, mas não é bem assim, não posso tratar-me como um desconhecido sem planos futuros. Tenho planos, mas tenho planos demais! Quero fazer tudo de uma vez, e como sempre pensei, não tenho certeza se vai dar tempo... bom, voltando aos outros malucos que conheço, sobre a pressão, a auto pressão de cada um. Conheci pessoas por esse verão com vários tipos de planos pessoais, planos de carreira e planos de vida, um pessoal que se "abriu" e comentou suas idéias.
Uns querem formar-se, serem doutores, serem advogados, odontologos, ou seja lá o que for. Um par destes pensou em começar a sua carreira apenas por dinheiro. Um caso específico... um maluco faz odontologia pelo dinheiro que deve dar. Penso que ele não será um bom profissional. Acredito que faça seu trabalho, e apenas isso. Não transmitirá uma paixão pela profissão aos seus clientes nem fará marcas na memórias deles, será um doutor que fez tal cirurgia, nada mais.
Tenho um pouco de... não sei, algo me entristece de pensar nessas coisas. Eu tive uma dentista muito bacana quando era pequeno, não sei exatamente porque mas aquela mulher fazia aquelas broquinhas de barulho aterrorizante serem muito divertidas.
Um pessoal gasta tanto, mas tanto dinheiro com cerveja, com drogas ilucitas e outras coisas inúteis, até comidas... sim, comidas, sempre tem um gordo ou gorda por ai comendo muito mais do que o necessário e do que o que devia. Dai para alguns pergunto porque, qual a razão daquilo. Ja virou rotina, não que sejam viciados, mas parece que só sabem fazer aquilo ali em seu tempo livre, precisam se ocupar, precisam consumir essas coisas, precisam gastar o tempo, faze-lo desaparecer para poder dormir bem denoite sem pensar em nada. Entrei num tema que não tinha intenção... o ócio. Bom. isso fica pra um outro dia maluco.
Voltando. Esses dias sai com uma mulher, daqueles decente, daquelas firmes em opiniões com quem posso discutir, falar abertamente, sem medo sem restrições. Fiquei um pouco surpreso em saber que ela deixava alguns homens um tanto amedrontados segundo uma amiga dela. Essa amiga falou que eles tem medo dessa segurança, dessa atitude voraz que ela tem de perseguir as coisas que quer e saber exatamente o que quer, essa, essa... não sei, essa coisa. Parei um pouco... é verdade, temos medo sim, afinal é uma pessoa objetiva, talvez ela te mate quando o desejar. OK, não é pra tanto, mas alguém assim, sendo mulher (sim, somos machistas.) e sua companheira, tu fica meio broxa pensando que ela é decidida (isso! essa é a palavra!) quanto a sua vida e tu tá por ali, do lado, não querendo nada com nada. Bom, isso me amedrontaria se eu estivesse ali sem querer nada com nada, mas como era exatamente isso que eu queria, tava tudo perfeito, afinal, nada com nada é quase uma especialidade de alguém semi-inconsequente. Parei um pouco e pensei num pessoal amigo meu... os caras realmente tavam "de boa" por ai, com algumas gatinhas, uns já em faculdade, uns ainda na casa dos pais, outros morando na capital do país. É, eles realmente não sabiam exatamente o que queriam para si mesmos.
A falta de objetivo. Meta (sem piadinhas para os que viram a deixa). São vezes que tu fica sem norte, tu sai da escola, e agora não precisa necessáriamente continuar numa escola, agora tu vai se especializar... agora tu vai ser tu, vai sair do meio dos iguais e tomar um rumo que deseja. Realmente, é nessa faze que me encontro, é nessa fase que vi uns amigos e umas amigas passarem e alguns ainda passagem junto comigo. Incrivel como um punhado de opiniões fazem as vezes algumas diferenças drásticas. Uns deles vagabundeiam por uns meses, a mãe incomoda, o pai chinga de vagabundo e o tempo passa devagar. A decadência toma conta de alguns que se deixam levar pela preguiça de maneira incrontrolavel. Não sabem mais nem se mover direito. É certo que outros são um exemplo de inconformidade, buscam afazeres, mesmo que sejam os de casa, esses inventam suas oportunidades para fazer alguma coisa útil, não necessariamente algo que lhes agrade, senão que algo para fazer apenas.

Para tudo. Merda. A coisa desandou. Comecei num assunto... rodei rodei, não sai muito do lugar e me toquei pra outro justamente no começo tambem. Eu preciso de férias, férias da minha auto pressão em escrever sobre a viajem maluca. Agora que consegui me desligar, que tinha bilhoes de ideias fluindo durante todo esse tempo, como não anotei nada, nem em notas mentais... pronto. Ambaralhei-me. Eu vou embora.

quarta-feira, março 19

Subindo...

Levantou descruzado suas pernas sem usar as mãos, de cigarro na boca e mochilas em mãos. Viu o primo de longe começando a atravessar a rua e foi em direção a ele.
-E ai primo!

-Hola, que tal?
Saudaram-se como se fizessem anos que não se viam e logo teve um breve relatório do que acontecera. O primo maluco havia se metido em confusão na noite anterior numa boate. Dera uns murros num cara até o segurança tirar ele pra fora, e num instante que foi pego, o mal perdedor que apagou dele voltou para atacá-lo de costas. Covarde. Agora o resultado era uma breve dor de cabeça e alguma dor no pescoço. Não haviam marcas claras, senão apenas uma cara de cansado, ou de bêbado sem cachaça.
Caminharam até a sombra de uma árvore logo perto da esquina e esperaram a mãe do primo chegar, ela receberia uns papeis para finalizar os últimos negócios para a matrícula dele na universidade.
Assim que chegou deu o esperado. Ela incomodou-o suficiente que uma mãe normal faria até convencê-los a serem levados para casa para saudar os avós dele e se despedir do pessoal antes de irem para as montanhas. Lá foram.
Um oi pra todos e logo viu que o tempo passava. Já eram as seis da tarde e eles estavam ainda dentro da cidade, dentro de casa, dentro dos quartos e cômodos da casa conversando e tentando se agilizar. Não deu muito resultado, mas conseguiram uma lanterna que certamente seria útil.
Pois bem, depois de não comerem, de mentirem que ambos haviam comido algo, foram para o carro para serem levados até as montanhas. Andaram mais de meia hora de carro até adentrar bem as montanhas, numa parte já alta e mais fresca da região. Desceram do carro e uma espécie de furgão, um pouco mais moderno, estacionou próximo à brita ao lado do rio (Rio Claro). Eles precisavam comprar alguma coisinha pra comer agora e na tenda que tinha logo ali (no meio do nada) não havia ninguém morando, ao perguntar para o motorista do furgão uma surpresa.
"Calma, calma, no hablo mucho español."
Aproximou-se.
"Inglish?"
"Yes, and france."
"humm... usted, digo, you know if there is some kind of market?" Apontando para a estrada de onde veio o furgão.
"What?"
"To that way, there is any place where we can buy food or something?"
Sentia que seu inglês não era tão fluente como uma vez fora. Estava pensando em espanhol, falando em inglês. Seus miolos estavam fervendo por tão pouco diálogo. Estava destreinado.
"I dont know, Iam not from here."
Ele entendeu que ele não entendeu bem a pergunta, queria saber se tinha alguma barraquinha de vendas, um quiosque, algo do gênero, não um market, um mercado em si. Viu que a coisa não ia render muito e queria subir logo as montanhas. Sua curiosidade e ansiedade por elas eram muito maiores do que as de conhecer a família francesa que estava naquele monstro de carro. Despediu-se e foram de carro na direção de onde veio o furgão. Resolveram andar um pouco. Em instantes já estavam de volta com alguns salgadinhos, bebida e uns pães caseiros.
Deram tchau para todos que estavam no carro e foram subindo a montanha.
No instante que viu o carro indo embora seu corpo recebeu uma injeção de adrenalina, e sentia-se revigorado, pronto para kilometros de estrada e muito suor pela frente.
Justamente isso encontrou. Logo a diante tinham de subir pela costa um tanto íngreme de uma primeira montanha. Cada um levava uma mochila. A do primo era maior, por isso ele ficou encarregado de levar a barraca. Pronto, estavam subindo e já sentia uma satisfação gigantesca no peito, já inalava os ares das montanhas estufando o peito e como se os tragasse, ficava uns segundos sem respirar para aproveitar o efeito que aquele ar lhe provocava. Subiram a primeira montanha com certa facilidade até que chegaram numa parte mais plana.
Logo ao olhar pra frente se depararam com uma espécie de represa em miniatura, ou em miniatura comparado a idéia de represa que ele tinha na cabeça.
Bom, logo o primo explicou. Era uma antiga represa para represar as águas que vinham das cordilheiras quando chovia muito por aquelas bandas. Agora estava desativada e tinha um fluxo continuo de água.
Era um caminho de mais ou menos três metros de largura que se prolongava contornando a montanha ao seu lado esquerdo. Logo ao lado do caminho, a parte da barragem, com uns dois metros de altura e três de largura havia uma parte feita de cimento e pedras de rio que era uma vala. Eles estavam na altura da boca dessa grande vala e caminhavam em direção as montanhas mais ao fundo com as mochilas.
A poeira subia com seus paços firmes na terra árida e prosseguiam. Não demorou viram almas vivas por ali. Uns amigos com sarrafos para pescar andavam na direção contraria a deles, e logo lembraram.
"Esquecemos as coisas pra pescar."
"Que se foda."
Teve uma breve lembrança de uma vez que pescara... nunca foi de peixes, de mares, ou mesmo de água. Confessava que adorava nadar, mesmo não sabendo praticar essa atividade muito bem, se esforçava sempre que tinha a oportunidade para satisfazer seu corpo.
Como leu num livro sobre um lobo a pouco tempo...
"A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer."
Ele gostava das coisas que não podia fazer e adorava a idéia de fazer todas que ainda não aprendera a fazer. Pode-se chamar de burro, ou ousado. Ainda arrisco. Cego.
Bom, sem vara de pesca e com mochilas no lombo prosseguiam rumo a dentro das montanhas. Observava cada canto, cuidava dos mini lagardos que via passar pelos cantos. As arvores eram grandes por ali no seu lado direito, estavam numa parte relativamente plana das montanhas onde a vegetação não era tão escassa, via arvores grandes ao seu lado com poderosas sombras e algumas pedras em meio a um centro mais desmatado onde pelas latas de cerveja atiradas nos cantos se via os restos de algum resto de animal imbecil que passou por ali algum tempo atrás. Ficava brabo de ver esse tipo de restos. Latas que eram verdes já estavam rosadas e nem perto de decomporem-se... pensou na maneira de se estimar o tempo de decomposição dos materiais e pensou: "isso fica pra depois, por hora vamos nos focalizar com a redenção da paisagem..." e focalizando os morros altos ao longe que produziam um firmamento extremamente alto onde sua imaginação o colocava no topo das montanhas, como num filme, de braços abertos poderia gritar:}
"Iam the king of the world!"
Obviamente não falava sobre o rei que nascia em sua cabeça, mas pensava em todas as possibilidades das montanhas, na maneira que a fauna e a flora se encaixavam e permitiam que tudo vivesse ali... pensou em não voltar mais, em se perder do primo de propósito e com o que tinha de imaginação descobrir o que comer e quem sabe, excluir-se por completo do mundo que o fazia pensar dias a fio sem conseguir chegar perto de uma resolução, perto de uma resposta simples, perto de uma meta em defesa de algo que julgava maior... ele queria fugir. Sentiu isso, descobriu suas intenções. Não vai fugir. NUNCA! bradou internamente enquanto caminhavam, e por dentro chegou a rir... pensava simplesmente que os pés se colocariam um atrás do outro, e assim seguiria a corrente. Subiria a desejada montanha.
Caminharam por mais de horas contornando a montanha e adentrando cada vez mais nas montanhas que se erguiam soberanas sobre suas cabeças. A paisagem não mudou, exceto pela altura. Notava-se agora uma enorme queda para a direita e uma morte certa caso alguém caísse. No chão viram marcas claras de que algum carro havia passado por ali recentemente. A estrada cabia perfeitamente para um carro passar, entre a mini represa que havia ao lado esquerdo e a queda-quase-livre da direita.
Uma poeira se levantava mais longe na estrada onde a montanha fazia uma curva, não demorou e viram uma caminhonete vindo na direção deles em velocidade relativamente alta em relação as condições do terreno. Diminuiu um pouco e ambos se distanciaram, ele foi para a direita enfrentar o medo da queda e o primo para a esquerda, tranqüilo com a montanha ao seu lado. O carro passou e eles acenaram para o motorista e seu acompanhante. Se tratava de trabalhadores, provavelmente da empresa estatal do país de mineração ou algo do gênero. Ignoraram e foram em frente pela estrada.
A barraca fazia algum peso carregando na mão. Resolveu usar a cabeça. Colocou-a sobre a mochila nas contas e a apoiou com a cabeça, com as alças dela apoiou na testa e pronto, estava revigorado de novo, o peso era menor quando carregado próximo ao tronco. Sentiu outra injeção de adrenalina nas veias e seu coração pulsou mais forte assim que viu uma espécie de caverna logo a frente. Estava como uma criança, louco para ir por dentro do túnel. Desacelerou sua batida ao ver mais trabalhadores ao redor da caverna. Não teria problema, provavelmente passariam por ali dando um oi e deu... Chegaram na boca caverna. O sol estava ficando escasso e a caverna parecia amedrontadora. Teriam de passar ou por dentro dela para chegar ao outro lado ou passar pela costa íngreme para prosseguir.
"Vamos por dentro! ihul!" lançou-se em direção a caverna e logo o primo parou. Olhou para trás e se deparou com uma cena que não esperava. Um magrela auto abraçando-se com medo da caverna repetindo.
"NO! hay murcielagos! hay murcielagos!"
Pensou um pouco...
"murcielagos... murcielagos... morcegos!"
Internamente teve que dar uma pausa para rir do primo. Não esperava que o magrão que conhecia tão bem tivesse medo de morcegos, não que fosse medo, era pavor, ele viu nos olhos arregalados dele as suplicas para não entrarem. Por um instante tentou insistir mas deixou-se levar pelo primo que insistia que haviam morcegos ali dentro. Antes de sair da boca do túnel escuro algo saiu voando e ele via as asas perfeitas de um pássaro da região que já vira voar por ai durante a caminhada, mas o primo insistia.
"Ellos provacan rabia! No, vuelve! no entre ahí! Ya listo, vamos por fuera, anda, sale!"
Bom... ele não se importava com a raiva, e também tinha medo de descobrir algum bicho maldito logo ali no túnel, logo no começo das montanhas, mas tudo bem, se por infortúnio o primo estivesse certo, talvez um arranhão dos supostos morcegos fizessem a viajem acabar num hospital. Foi com ele, o projeto de advogado ganhou a causa. Fizeram a volta e começaram a ir pela costa do túnel. Era íngreme e com as mochilas a coisa ficava pior. Até pararam para tirar água do joelho naquelas alturas. Era linda, e não se pode comentar o fato sem descrever a maravilhosa sensação que lhe envolveu ao ver sua urina escorrer penhasco abaixo, com uma natureza incrivelmente maravilhosa ao seu redor e a brisa fazendo seu cabelos balançarem um pouco... era a sensação de estar livre de tudo, a sensação de se encaixar na natureza.
"Hola!"
Logo um trabalhador se aproximou e cumprimentou-os. Avisou que por fora era complicado de ir a pé e manter um nível mínimo de segurança, sugeriu que fossem pelo túnel. Era só alegria. Sentiu o coração faceiro com a notícia e por dentro dizia pra si mesmo.
"JAIRA!"
Estavam voltando pela costa para entrar no túnel. O primo teve de sacar a lanterna como ultima arma contra seu medo. Nela se agarrou feito uma criancinha que agarra a perna da mãe quando está com medo e seguiu em frente com passos receosos. Ele andou mais na frente sem nada, sorrindo e feliz com a mini aventura de entrar em um lugar tão absurdamente escuro mesmo com alguma luz do dia. Era úmido e ouvia-se alguma coisa no teto, teto que o tempo todo era iluminado pela lanterna do primo que com uma cara de pavor caminhava mais rápido agora que entrou na mini caverna. Ele bradava palavras de emoção enquanto caminhava pelo terreno quebradiço daquele estranho lugar. Estavam no meio e ainda faltava algo para caminhar, não se via a luz do outro lado como nos filmes, e ao olhar para trás, também não se via a luz da entrada, o primo estava ofegante e caminhava cada vez mais depressa até que viram um resquício de luz. Ele fez um "aahhhhh" de desanimo interno porque queria ver mais daquilo, mas prosseguiu fitando as paredes ao redor e reparando na arquitetura marcada por escovadeiras humanas, eram pedras caindo pelos lados e no fim, saia numa parte mais lodosa, afinal ali era onde a água ficava quando descia as colinas ao seu lado, não é de se estranhar que seja tão úmido e lamacento. Pois bem, nos passos finais o primo deu uma corridinha como que correndo do bicho-papão ou do monstro do armário. Saíram e viram que seguir significaria acabar com os tênis e calças na lama. Ao seu lado direito, acima de uma parede de dois metros ficava novamente a parte mais plana por onde caminhavam antes.
"Vamos subir!"
Atiraram as mochilas e ele subiu primeiro, tinha mais base, seria mais fácil puxar o primo. Subiu quase sem dificuldade ajudado pelo primo fazendo apoio em baixo e logo estavam os dois se armando com as mochilas logo acima. Seguiram caminhada e não demorou muito encontraram mais um mini penhasco e viram o rio ao seu lado direito. Imagens imaginadas inundaram sua cabeça pensando porque as comportas eram necessárias a anos atrás. O riu ia ficar imenso em uma chuva forte, as corredeiras devastariam não só as arvores e as tocas de tudo o que vive a ribeirinha, mas também as casinhas e a ponte que vira logo antes de começar a subir as montanhas, as coisas ficariam feias e as famílias correriam desesperadas contra a força da natureza. Pois bem, arrumaram um jeito de pará-la. As milagrosas comportas.
Seguiram viajem e chegaram a maior comporta, que infelizmente não satisfez sua imaginação. Era menor que o esperado e podia ser operada manualmente, significava que haviam varias roldanas por ela para subir e desses a chapa de metal que limitaria a correnteza. Era amarelada e alguns tons de azul e laranja em algumas partes, As correntes e a chapa já estava enferrujadas, mas as roldanas por segurança estava com enormes cadeados para que nenhum intruso alterasse o nível que havia sido estabelecido pelos últimos operadores. Viram as pedras do rio imensas atrás da comporta e notou que se podia caminhar por lá. A noite já estava caindo e eles ainda não começaram a subir a primeira montanha maior. Queria apressar-se, mas estava emocionado com as comportas. O primo sugeriu ficar ali mesmo, armar a barraca na parte de concreto plana da comporta e seguir viajem ao amanhecer. Ele não queria, de maneira nenhuma.
A parte mais alta da comporta estava com uma escada aberta para o lado, ele fitou-a e num estalar de dedos entendeu o que significava. Fez um pouco de força para levantá-la e encaixou no pino a direita para que ela ficasse trancando a passagem, mas servindo de escada para a parte de cima da comporta. Começou a subir e viu muitos, muitos mosquitos em cima. Desceu já com a resposta na cabeça. Muniu-se de axe e um isqueiro e ao retornar para cima da escada aniquilou-os todos, deixando vários tostados no chão e alguns agonizando sem suas asas. Subiu ele e o primo e admiraram a vista ali de cima. Que lindo ver o rio adiante, calmo, na serenidade do cair do sol refletindo a lua em sua película de água plácida. Mirou as montanhas e notava o vento que devagar fazia todas as arvores gingar num mesmo ritmo leve e sereno como se tudo estivesse dizendo: "acalmem-se, o mundo nunca acabará". Ele sempre pensou que não, mas vendo aquilo, tinha a certeza mais certa de todo o mundo, sentia que aquilo era viver, aquilo, sentir na pele, ver com seus olhos, sentir o som do vento, sentir o cheiro das colinas, do rio, aquilo sim era viver de verdade.
Desceram dali e logo decidiram. Se encontrassem uma trilha do outro lado da comporta, seguiriam. Ele estava certo de ter notado uma trilha lá de cima, não tinha como errar. Se latas de cerveja foram vistas logo na entrada da comporta, não havia porque pararem ali. Estavam no outro lado e com alguns saltos ele disse a má notícia ao primo.
"Achei! Achei uma trilha! Hahá! te fudeu, vamos subir!"
Em galopes ficou mais alguns metros mais acima e viu seu primo de cima com uma cara não muito feliz de ver aquela trilha. Ele sabia, havia uma trilha ali, mas esperava que com a noite, ele não fosse capaz de encontrar.
Um mini riacho corria logo ao lado da entrada da trilha, era feito de concreto moldado como se fosse uma calha, provavelmente para fazer alguma parte da água que escoria descer atrás da comporta. Ignoraram a água e foram subindo...

sábado, março 15

Uma missão, uma barraca.

Não havia dormido muito bem apos todo aquele turbilhão de emoções e ações. Dormira pensando, dormira arrependido de suas ações.
Foi engraçado acordar duplamente arrependido. Havia se arrependido de arrepender-se, reconstituiu-se solo e se colocou de pé. O dia prometia, era um dia para as cordilheiras tão sonhadas. Pensou que fez o melhor, e mesmo se não fosse o melhor, não valia a pena ficar pensando e pensando se torturando com os piores pensamentos que sua mente maligna faziam. Cansou de pensar, afinal, os cigarros já estavam ficando escassos e teria de gastar mais neles.
O dia passou e depois de montarem as mochilas, ele e seu primo se deram conta de que estavam sem uma barraca. Como diabos queriam passar umas noites nas cordilheiras sem uma misera barraca ou lona?¿
Pois bem, adiou-se as cordilheiras por motivos de forca maior. Ligaram para deus e mundo e ninguém tinha uma barraca para emprestar-lhes. Saíram de Santiago, em direção a Rancagua foram a normais 120. Em uma hora e uns minutos já estavam cumprimentando os familiares e se instalando no quarto de duas camas com algum cheiro de mofo.
O dia passou, mais alguns telefonemas e nada de encontrar uma maldita barraca.
Claro, eles poderiam comprar MAIS UMA, mas já tinham uma, porque não usar? Estava a uns 900kms ao sul, junto com o pai da namorada do seu primo. É uma pena.
Pois bem, que envie a maldita barraca e deu. Levaria uns três dias para chegar, mas igualmente foi enviada para ser levada a novas aventuras futuras no Uruguai.
Voltaram a Santiago. Era segunda feira e seu primo precisava matricular-se na universidade. Mais um dia perdido que poderiam estar perdendo-se pela cordilheira louca e busca de aventuras para contar a seus netos.
Era de noite e estavam se arrumando para ir beber na casa de um amigo, estava penteando os cabelos quase negros olhando para cada fio contra o espelho quando seu primo bateu a porta e abriu de leve.
"É pra ti.
Agarrou o telefone e escorou-o contra a orelha direita.
"Alo?"
"hola rafa..."
Não acreditou no que ouvira. Uma voz suave e amável lhe dirigia a palavra, a morena ligara para dizer mais algumas coisas. Por um instante colocou a mão no bolso e teve certeza de suas lembranças quando tocou o pedaço de níquel de um real. Seguiu falando.
Ligara para desculpar-se, para pedir perdão por seus atos impensados e queria voltar a vê-lo antes de ir, queria ter um tempo para conversar direito do jeito que naquela noite ele propusera ("Podemos conversar, mas não assim."). Aproveitou para adiantar as desculpas a respeito de seu comportamento cru e serio. Notara que ela estava um pouco bêbada naquela noite, talvez depois de telo cumprimentado resolvera resolver as coisas da maneira mais covarde, bebendo. Combinaram um encontro simples sem nenhum pretexto, o combinado seria ir terça feira buscá-la em sua escola e dai em diante seria decidido la mesmo. Afinal a barraca não havia chegado... e falando em barraca...
"no sabe de nadie que tenga una carpa?"
"si, claro, la Rebe tiene, es la que usamos"
"uh! verdad!"
pronto, rebeca, uma amiga em comum tinha uma barraca e provavelmente emprestaria.
Fez a mochila e pela terça ao meio dia se foi a rancagua. Chegou lá meio tonto, mochila nas costas e um colégio para ir... Uma vez havia ido de carona, resolveu ir da maneira mais "correta" dessa vez apenas para variar. Pediu umas informações para um pessoal perto da parada e pronto, estava a caminha do dito colégio Coya. Chegou cedo, ela sairia as 17:30 e já eram por volta das 15 quando sentou-se no gramado a frente do colégio e pôs-se a ler seu livro maluco novamente. Leu e leu, o tempo passou e ele mal notou os carros que se enchiam de gente para ir para casa depois de um dia de escola. Seguia lendo quando de repente dois pares de pernas bem torneadas se mostraram a sua frente. A Rebe, e a morena.

"Hola."

"Holaaaa!!!"

"oi!"

levantou-se e logo averiguou a respeito da barraca, sua missão, no fundo era conseguir a barraca, não era? Se perguntava mas sabia que não era apenas uma missão simples a fim de materiais, Rebe se foi mas garantiu o empréstimo, tinha certeza que a barraca do seu pai estava em casa, seria ir e buscar. O ultimo detalhe era o local onde ela morava... Outra cidade, Graneros, um mini povo, mais ou menos um quarto ou menos do tamanho de Rancagua, algo realmente pequeno. Contudo, longe.

Foi convidado a conhecer melhor o colégio Coya e se foi conversando com a morena, viu as salas onde ela estudara, viu os parquinhos de crianças que havia visto uma vez por fotos e deu algumas voltas pelos gramados que numa certa noite desejara poder pisar. Caminharam um pouco e ele carregou a bolsa dela, uma bolsa mais pesada que sua mochila, quadrada de tantos cadernos. Chegaram a uma espécie de parquinho de crianças... algo semelhante a isso conhecera com ela num tal de Club Ansco, ou algo assim, cerca da casas dela. Aquela fora uma linda tarde no club... voltou para si e se via cru conversando com ela, em cima de uma espécie de casinha de crianças conversaram a respeito do que passara no Estudio 3, e a respeito das conseqüências. Ele ficou surpreso ao saber que o real que havia recebido era um real que ela adquirira quando viajou para seu país mais não o viu. Ela criou seu amuleto e o entregara raivosa para ele naquela noite, contudo, agora com calma e mais suavidade e maturidade em suas palavras, conseguiam conversar naturalmente e se entender como nos velhos tempos. Entregara sua moeda de volta, e notou nos olhos dela o quão feliz ela ficava por isso, uma olhada no pequeno pedaço de níquel fez uma certa diferença para o dia dela.

Caminharam para fora da escola e ela pediu-lhe a mão. A principio relutou, sabia no que daria, mas acabou cedendo com carinho e acariciou novamente aquelas pequenas mãos morenas que uma vez lhe afagaram os cabelos nas noites de Viña.

Pegaram uma carona inesperada com uma professora dela que saia de carro para Rancagua. Antes de entrar, ela combinou sozinha uma coisa.
"Cualquiera cosa, eres un amigo."

Ele entendeu o que isso significava. Significava que ela não havia mudado, que não ia mudar tão cedo, ela não ia dizer quem exatamente ele era para as pessoas senão ia apenas fingir outros tipos de relações. Ninguém nunca podia saber, era uma vergonha. Ele passou por muitas e boas em seu pais com a cegueira de que a coisa talvez fosse mais pra frente, depois de tanto tempo entendera que não era a mesma coisa para os dois, não era recíproco. Via problemas que ela inventava ou gostava de ter e nunca mudava nada de sua vida. A mentira estava presente sempre que ele também estivesse presente. Como confiar em alguém assim? É tão difícil falar a verdade sem vergonha ou conseqüências que ela traga? Que se foda, ia pensar a respeito disso uma outra hora, não queria mais nem saber de discussões naquele momento.

Desceram do carro e discutiram a respeito de onde ir. Ela queria um local privado e seguro. Ele não queria ir a casa da família emprestada, encontrava o cumulo do abuso levar uma garota la sem mais nem menos sendo que ele nem havia os visto naquele dia. Final das contas, a mãe dela estava pela cidade e ela morria de medo de encontrá-la por ai de mãos dadas com ele. Sua raiva subia por isso. Não podia ir a uma praça, não podia ir a casa dela, não podia ficar por ai tranqüilamente porque ela começaria suas manhas rotineiras que ele já conhecia. Era uma mimada, e provavelmente não mudaria tão fácil. Pensou um pouquinho mais e abriu as opções, pensou que ela simplesmente quisesse, ou desejasse um hotel ou motel ou hostal ou seja lá o que for para ter uma oportunidade de fazer amor com ele novamente. Via em seus olhos algum desejo químico. Os olhos verdes ainda a hipnotizavam como da primeira vez. Trocaram carinhos no ônibus e beijos românticos lembrando dos velhos tempos.

Levantou-se da cadeira e foi pedir informação ao chofer sobre onde poderia encontrar um hotel ou motel para uma noite no Maximo. Começou a conversar, o cara gostou dele e simpatizou muito, contando suas aventuras e desventuras na profissão de motorista de ônibus. Viajava por todo o pais e ficava exaltado contando, começando a suar por suas lembranças e reviver algumas emoções enquanto conversava com ele. Ele, esquecera dela e já descobrira todos os hotéis possíveis em Rancagua, de repente ela grita.

"Hey!!! vamos bajar ahy, vi un hostel ahy atras!"

"Watt?! mucho gusto señor, voy bajar aca, gracias! que te vaya bien!"

"igualmiente compadre! buena suerte!"

O chofer mirou pelo espelho e entendeu do que realmente se tratava. Soltou um sorriso safado para ele com uma piscadela de olho como que dizendo.

"vai firme!"

Não no sentido literal mas sim no... bom, é compreensível. Desceram e voltaram menos de uma quadra caminhando. Uma senhora de uns cinqüenta anos mais ou menos os atendeu simpaticamente e ofereceu-lhes um quarto sem pedir identidades nem nada do gênero, apenas que se acomodassem e qualquer coisa estava por ali para servir-lhes.

Sentaram na cama. Conversaram assim mesmo durante um bom tempo, e não tardou para deitarem-se e fitando uma televisão de lcd desligada acima da cama conversaram mais a respeito de tudo um pouco, trocaram carinhos e beijos na face, dos tempos que dormiam numa cama de solteiro. Ele a repousou de costas na cama e ficou frente a frente aquele rosto novamente. Era apaixonado por aqueles olhos café, aquela pele suave e linda. Fitou seu rosto durante o tempo que seu braços treinados agüentaram segurar seu peso sem tocá-la. Quando cansou, deixou seu peso guiá-lo e beijou-a como nunca.

Era uma pena.

Fora uma linda tarde juntos, com pequenas discussões e conclusões. Antes de saírem do quarto, conversaram por um tempo mais e vira aqueles olhos café não agüentarem novamente, lagrimas escorriam por seu rosto moreno, sabia o que ia acontecer, já sentia a perda dele, já sentia falta de seus abraços abraçando-lhe forte e acariciado seu corpo por toda sua extensão. Sabiam que aquilo era uma tortura para ambos, que eram masoquistas declarados. Não havia explicação, senão essa.
Abriram a porta do quarto depois de se arrumarem e ele pegar umas dicas de como chegar na casa da amiga. Instantaneamente uma senhora que estava por ali veio correndo na direção da porta deles.
"El reitor de tu cole esta aca tomando un té!"
Sim, ele entendeu bem. O mais absurdo das coincidências passara. Eles fugiam da mãe dela no começo (ou essa era a desculpa do hostal), não ficaram nas ruas e não se enfiaram em qualquer lugar pagou caro pelo local (8 mil pesos chilenos, um detalhe aqui: ao reclamar do preço mesmo pagando ela soube que ele estava duro de plata e não lhe restavam muito para toda a semana.) e andou bastante até encontrar um local não muito comum ou que pudesse ser conhecido. Pois é, justo o diretor da escola dela (lembrando que ela ainda estava de saia e camisa do colégio) estava logo ao lado e algo comunicaria a sua mãe, além de um longo interrogatório antes de partir em paz (com sorte) com um rapaz estrangeiro depois de algumas horas num quarto. Ele viu aquele eterno medo na cara dela. Isso lhe irritava. Sempre irritou, o mesmo problema de sempre. Ela tinha 17 anos e não podia contar a verdade nunca. Que seja.
Saíram correndo pelos fundos onde havia uma porta de ferro que dava para uma praça escura e desconhecida. A velha mostrou o caminho e abriu com dificuldade a porta raramente utilizada.
Saíram rindo e por instantes esqueceram do futuro que lhes esperava.
Levou-a para sua aula de condução (Já com 17 se pode ter carteira, basta saber dirigir e ter noção de leis de trânsito).
Despediu-se dela e ficou parado esperando para vê-la saindo de carro. Sorriu com alegria quando a viu sair perfeitamente sem problemas com o carro. Fumava um lucky clássico e sentia a distância aumentando com o tempo.
...
Caminhou em direção as linhas de trem. Sabia que pelas linhas, bastaria caminhar e caminhar até chegar na estação da cidade, uns 15 kms de distância caminhado a partir da estação de Rancagua segundo as informações que umas pessoas lhe deram pelo caminho. Conheceu uma morena linda no caminho e se não fosse pelo dinheiro teria convidado a comer ou tomar algo apenas para conversar mais com ela. Tinha na cabeça que esquecer com outra pessoa era mais fácil... lembrou do cara de mãos dadas a morena naquela noite. Realmente. Com outra pessoa, é mais fácil.
Continuou a caminhar. Encontrou as linhas do trem e seguiu por elas de longe, pois uma grande não permitia entrada nelas. Sabia que sempre haviam passagens para pedestres ao longo da linha, seria questão de tempo até encontrar uma. Seguia pela noite, com uma mochila caminhando devagar muito tranqüilo, aproveitava a brisa da noite que o embebedava com cheiro de montanhas, com cheiro daquele país maluco.
Certa hora desconfiou de sua localização, já que o Chile era um país de trens, talvez houvessem linhas diferentes. Perguntou a duas senhoras como chegar em Graneros.
(já numa tradução mais direta)
-Com licença senhoras, uma informação por favor...
Elas o olharam meio desconfiadas e mas logo notaram sua boa índole.
-Se eu seguir por esta linha de trem eu chego em Graneros?
-Sim, mas a estação fica para o outro lado.
-Não tem problema, a idéia e ir a pé mesmo, obrigado. E ao se virar foi interrompido de maneira inesperada.
-Tu ta maluco?! tu não vai sair caminhando assim a essa hora!
-Já pesou se acontece alguma coisa?! Tem gente má por aqui!!!
-Não, tu não vai ir caminhando, pega um coletivo dobrando aquela esquina e pronto, não tem porque se arriscar.
-Bom, não tem problema eu costumo andar por ai de noite e...
-Não mesmo! Não vou deixar tu sair assim de noite! Quantos anos tu tem?
-Mas não tem problema, nunca acontece nada!
-Ta, mas quantos anos tu tem?
-19.
-Agora sim que tu não vai! A idade do meu filho, imagina a tua mãe se te acontece algo! Não mesmo!
-Acontece que eu não tenho dinheiro, e não tem importância, não vai acontecer nada.
-Não! Pode acontecer, tu não conhece por aqui, as pessoas matam gente por aqui, assaltam, aqui não é um bairro tranqüilo. Pega, toma esse dinheiro.
Ela havia revisado sua carteira e lhe mostrava uma nota de mil pesos para ser recebida.
-Não! Capaz! Não é necessário, eu vou caminhando senhora, não precisa se preocupar.
Quase lhe dava as costas, não queria aceitar o dinheiro dela. Sabia que precisava, porque talvez até faltasse pra comer aquela semana, então queria poupar o Maximo indo a pé.
A morena sabia disso e lhe deu todo o dinheiro que tinha, pouco mais de mil pesos, os quais ele recusou sem ela saber, a cada dinheiro recebido escondia dentro da mochila dela. No final pensou bem e achou melhor aceitar a ultima proposta, que pegaria emprestado da amiga o dinheiro para pagar a metade do valor no hostal que ficaram aquela tarde, mas agora as senhoras que nada tinham a ver, não deviam estar dando-lhe dinheiro.
-Não, pega! toma isso aqui e não se preocupe que não me fará falta, deve ser suficiente para o coletivo e para que chegue em segurança até teu destino. Forçou que aceitasse o dinheiro segurando a sua mão e o colocando sobre os dedos. Ele pensou por um instante...
Um dia ajudará um maluco qualquer com uma quantia semelhante.
-Ta bom moça. Mas aonde pego o coletivo, e qual deles?
Ela explicou o caminho e se foi. Se foi de coletivo naquela noite, e chegou até a casa da amiga muito tarde, próximo das onze da noite quando entrou pela porta da padaria deles e conheceu seu avô.
Conversou até as duas da madrugada com o pai dela, e finalmente foram dormir.
Leu um pouco antes de deitar a orelha no travesseiro e finalmente dormiu como uma pedra. Sabia que as sete deveria despertar para recolher suas coisas e a barraca e ir embora o quanto antes (ele odiava abusar de pessoas não exatamente próximas), esse era o plano.
Acordou com o rosto lindo de Rebeca despertando-lhe numa manhã fria. Pensou rápido. Fez tudo rápido, tomou banho rapidamente, arrumou tudo que havia usado, ordenou suas coisas e estava pronto para partir quando sua amiga corre até o quarto.
-Más noticias.
-O que? Se não for com relação a dinheiro, não tem problema.
-Não consegui a barraca ainda, está a casa de um amigo ao lado e ele ainda está trabalhando. Assim que chegar em casa ele te trás a barraca.
-Certo, não tem problema.
-Ta, mas como fazemos?
O combinado era ir junto com ela para a escola.
-Bom, vá para a escola, não quero incomodar, não tem porque faltar aula nem nada, eu espero aqui e assim que chegar eu vou embora.
-Certo.
Despediram-se amigavelmente e pronto, ela se foi e ele voltava a seu livro em cima da cama.
Leu e leu até que seu olhos cansaram. Havia dormido pouco e resolveu voltar a dormir. Mesmo de roupa sentia frio, tapou-se e ferrou no sono. Foi despertado pela tia, mãe de sua amiga sorridente na porta, avisando que havia chegado a barraca.
Alguma despedida, se arrumou de novo despediu-se do pai da Rebeca cordialmente e agradeceu por tudo de verdade (a barraca era dele), prometeu trazê-la de volta assim que terminasse de usar. O tio queria que ele ficasse para almoçar, havia simpatizado com ele e gostara das conversas, não teria problema em ficar mas ele sabia que teria que fazer inúmeras desfeitas para não vomitar alguma fruta ou comida estranha para seu corpo, logo, recusou e inventou que seu primo chegaria logo e deveria partir de imediato.
Um par de tchaus e se foi de volta a rancagua.
Não sabia quanto demoraria pelos trilhos, e de dia, suaria pelos cotovelos, achou melhor aproveitar o resto do dinheiro que a gentil senhora lhe dera na noite anterior para usar de uma maneira útil, investiu mais 100 pesos e voltou de coletivo até Rancagua, onde caminhou até uma praça e lá lia seu livro na companhia dos últimos luckys que lhe restavam.
Estava muito bem lendo fascinado com a história toda quando de repente escuta uma freiada brusca de um carro, os pneus rangindo alto no asfalto.
"rrrrrrrrrrr!!!"
Como ele sempre fazia quandou ouvia isso, fez denovo. Disse em voz alta como se o carro fosse bater.
"Craassshhh."
E o carrou repetiu o som de sua boca com ironica.
"rrrrr Craasshhh!!!"
Ele nao acreditou, saiu do livro e olhou em volta. De longe avistou um carro que batera na traseira de outro. Instantaneamente riu imensamente até não aguentar mais. Seu estomago doia, ele tinha convulsões de riso sozinho na braça brangindo uma risada imensa com um livro louco na mão. Cansou de rir, e aos poucos conseguiu se acalmar... voltou ao livro.
O livro distraíra sua atenção e pensamento até que acabou a história. Leu a capa, contra capa, tudo que tinha, até direitos de impressão. Não havia como escapar...
Baforava e pensava na tarde anterior com a morena. Queria poder ignorar o que sabia... mas não era possível, ele sabia do futuro.
Ele terminou seus cigarros e comprou mais luckys.
Martelava sua cabeça com longos pensamentos encadeados enquanto esperava seu primo que chegaria umas cinco da tarde. Pesou, fumou um... dois... oito.
Estava fumando quando um par de garotas passaram por ele flertando com os olhos e sorrindo. Ele sorriu de volta e uma delas riu enquanto a outra parou e atirou-lhe um beijo de longe e seguiu o caminho com sua amiga. Pensou logo depois: Lindas garotas.
Tragou uma ultima vez antes de ver seu primo chegar ali perto e logo se levantava, eles iam em direção a cordilheira.

segunda-feira, março 10

E3 - um real

A pedidos e a necessidade de expressao...

Aniversario de um amigo. Nada de mais, apenas umas bebidas chilenas e uns salgadinhos pela mesa do meio centralizando uma conversa na sala da casa do seba.
Um oi pra cada pessoa da casa e entramos. Muitas risadas, umas discussoes politicas e um brasileiro soh bebendo cerveja pra completar a cena. Piscola, a bebida mais comum daqui, trata-se de pisco (uma especie de cachaca melhorada) com coca ou alguma outra coisa com gas; essa era a bebida da casa, todos bebendo, todos muito loucos, bebendo e conversando. Um bom comeco de noite rancaguina. Comemos amburguesas, nada mais que uns paes com amburguer num breve buffet de coisas a se servir. Estava otimo. Mais ao final das conversas sugeriu-se (pra variar, unica e exclusivamente para variar...) ir numa disco (Aqui, a fraqueza do nosso heroi, reguetón, o estilo e musica mais badalado do momento nao faz o seu genero musical, mesmo depois de muito tempo, ainda nao gosta tanto dessas coisas, nao eh a musica em si mas o ambiente, as coisas todas, igual que no pais e origem o faz um pouco infeliz em algumas boates, simplesmente nao lhe desse, assim como as frutas; verduras; legumes).
La se foram, Estudio 3 o nome do lugar, estremamente lotado na entrada, tanto na free pass quanto para comprar ingressos. De um jeito ou de outro, depois de algumas muitas ligacoes, se entrou, todos entraram sem pagar, uma maravilha jah que ia sair uns vinte e tantos reais para cada um.
Entrou, olhou para todos os lados e deu uma sacada no lugar para tentar entender todo o contexto. Local amplo, praticamente um salao enorme com efeitos luminosos bonitos. Ja encheu o saco, nao era um dia para festas, estava pensando na sua vida incerta, nas coisas que havia de fazer, nas coisas que fez quando falou com a morena e pensou um pouco nela ate. Talvez as coisas fossem bem diferentes se vivesse por ali, talvez todos fossem magros e se olhasse muito mais simpsons. Escorou-se na parede sozinho logo depois de sair de perto do primo e sua namorada. Acendeu um cigarro. Acendeu outro. Ja fumava o terceiro e parou para contar quantos luckys ainda lhe restavam. Seis. Nao. Cinco. E logo foram 4, logo acabaram e ele continuava ali, no mesmo canto parado, pensando na vida e vendo umas lindas morenas, e umas feias morenas passarem por sua frente as vezes notando-o, as vezes sem nem ver seu vulto na parede. As sombras passavam por seu rosto tapando o efeito de luzes tao bem planejado. Brincava com o isqueiro sem acende-lo e sem chamar atencao pensava nas vidas dos que passavam e imaginava como seria um uruguay com os bruxos (bohemios loucos pelas ruas desconhecidas?), pensava nas pessoas por conhecer, e porque diabos estava ali parado sozinho. Desescorou-se, por fim resolveu se comunicar com alguem.
"Hola, aca vienden cigarros?"
"Si, pero en la caja al lado."
"donde?"
"ahí"
O seguranca apontou um lado e se moveu para aquela direcao sem nem mesmo pensar ou dizer gracias.
Haviam luckys, apenas luckys e somente light (de bichinha): "que seja, melhor que chá." pigarreou para si mesmo. Pagou caro por aquele lixo (LIXO!) de cigarro, foram dois mil pesos chilenos. Acendeu um com orgulhosa habilidade e foi no banheiro tirar agua do joelho. Logo na volta, ja vendo por que canto iria parar para fumar, o impensavel (minto, o quase esperado e por pouco combinado) acontece. Ao dar apenas dois passos e se desenrolar de um par de pessoas, se da de cara com A morena.
Sangue na cabeca, um pouco de nicotina o fez cambalear mareado para os lados. Abriu bem os olhos, viu aquele rosto parado diante do seu com igual surpresa. Engoliu seco seus sentimentos e pixou um rosto de sorrizo semi aberto ao ver um acompanhante logo atras dela. Nao. Nao tinha planos para com a mesma, mas o acompanhante ali o fez lembrar algumas coisas que pensara esquecidas. Comprimentou, pendiu que apresentasse o cavalheiro e com uma dose de controle cru comprimentou-o normalmente como se nao fosse quem ele realmente representava. Sua garganta cocava, clamava por gritos. Decidiu seguir e voltar a posicao anterior, agora teria mais coisas a pensar. Passou por eles e voltou a velha parede proxima a entrada principal. La ficou por alguns instantes de sossego apenas para respirar o que faltou de ar no momento anterior.
Nao deram discanso, logo pararam proximos a ele, e a morena o fitando, como que dizendo alguma coisa. Uma conversa de olhares voava de um lado a outro sempre que as pessoas que caminhavam entre eles permitiam. O tempo passou por ali e levou a visao da morena para o meio do povo onde mesmo com seu olhar e percepcao de aguia nao conseguia mais distinguir as cabecas alvos.
Moreno de pele clara, barba, mesma altura que a sua, talvez um pouco mais magro com moleton de la, calcas jeans azuis padrao, sapatos meio rotos e maos dadas com a morena. Essa foi a foto que lhe cravou na cabeca.
Fumava e fumava, e pensava e pensava como se o fumo fosse lenha para sua locomotiva de pensamentos que disparava mais e mais rapido a cada nova tragada. Pensava consigo:
por que diabos me coloquei tao ciumento? Tenho direito disso? Nao, perai, eu lembro bem, a coisa ja havia passado, ja nao significava nada de mais, apenas boas lembrancas, certo? Nao sei, foi tu que comecou tudo isso, com uma historia de que era impossivel mas nem tanto... Que nada, a culpa tambem foi tua, tu poderia ter me freiado, porque nao o fez? Porque eu senti a mesma coisa. Droga. Maldito. A tua voh! tua tambem, imbecil. Ahhh que seja, mas e agora, vamo lah, conversar com ela? NAO! porque? porque vai piorar, lembra do que aconteceu? Eh verdade. Melhor nao vamos, fiquemos por aqui e se ela quizer, ela sabe como me procurar, afinal ja conseguimos nos controlar para nao ir no show maluco naquele sabado, fizemos o possivel para nao perder o controle e quando chega na hora H vamos perder? Negativo, nao permita que as coisas mudem como ocorreram na primeira vez. Nao permitirei.

Assim foi. Pensava sozinho a respeito do passado, de como as coisas haviam se desenrolado e se enrolado e pensou no melhor possivel para o futuro dela. Melhor nao meter-se mais nos assuntos chilenos a mais de dois mil kilometros de distancia, havia feito mal de uma maneira que nem nos filmes havia visto tamanho estrago. Comparado a um furacao, para variar, de olhos verdes vindo do oeste, e outro de olhos cafe meio puxadinhos vindo do leste. Tratou de disviar seus pensamentos.
Nao funcionou.
Que seja, ficou por ali fumando em paz e se cravando pensamentos malditos a respeito dela, daquela moreninha.
Passou-se menos de meia hora e a presenca daquela pele voltou a perseguilo. Passou uma vez, passou duas, passou varias vezes, ou foi o tonteio de cada passada que o fez contar errado, ou seus olhos ja lhe mentiam.
Numa dessas, o agarrou pela mao, sozinha na sua frente lhe gritou ao meio da musica alta:
"necessito hablar contigo!"
meio tonto respondeu.
"ya. ven."
E apontando para um local proximo a entrada, onde o som nao era tao alto foram conversar.
Quase instantaneamente perguntou lhe porque nao queria ir ao concerto de sin bandera com ela. Tomou folego interno e tentando nao demonstrar nada respondeu que nao gostava, que nao queria ir, como uma crianca dizendo nao, porque nao. Viu que faltavam argumentos cabiveis, mas nao se aprofunou a explicarlos, ela replicou e argumentou dizendo que antes gostava, que antes ate cantava para ela, porque agora se tornora assim? porque sim, porque agora tudo mudara. Estava disposto e determinado a nao demonstrar nada interno para que ela o esquecera de vez e assim fosse mais facil para todo mundo. Ela teve um espasmo instantaneo, comecou a abracar lhe, a pedir um beijo com os labios proximos aos dele, perguntava porque nao, perguntava e balancava a cabeca, louca, queria uma explicacao decente mas ele nao podia dar, nao ainda, nao enquanto tudo pegava fogo com o resto da lenha. A maior dor foi ao escutar claramente em meio a muitos olhares de estranhos ao redor que ela o queria, que queria a ele e somente a ele, que era ele que precisava para conversar, que sentia sua falta. Essas palavras voaram de sua boca aos gritos e lagrimas quando lhe cravavam no peito laminas do alfabeto grego usadas de uma maneira castellana. Esitou por um instante e foi cruel como pode.
"Podemos conversar, mas nao assim."
Ela o mirou de baixo para cima ainda com os olhos brilhando e nao o reconheceu, olhou para ele com quase medo, tamanha mudanca havia ocorrido. Mal sabia ela que o seu interior lhe mentia e ainda havia um gritando internamente que era possivel, mas os outros o calavam com espadas e lanca chamas. Olhou o longe, para nao precisar mentir seu olhar na frente dela.
Nao deu muito tempo, mais algumas perguntas, umas respostas frias e mais olhares tristes viram os olhos verdes crus como nunca, firmes como pedras de uma cordilheira sem exitar dizer "que nao" inumeras vezes ate a ultima gota brotar dos olhos cafe.
Com irritacao, buscou sua carteira, e ele pensou que atiraria uma argola de prata sobre seu peito ou mesmo longe, quando ao encontrar um objeto pequeno ofereceu lhe na mao e saiu correndo para o outro lado, ele sentiu um pedaco de niquel em sua mao e fitou-o. Um real, uma moeda de um real, nem sabia de sua existencia, nao conhecia o amuleto que ela inventara e levava em sua carteira mesmo estando com outra pessoa. Foi lhe o fim, o que faltava para nao ter mais cantos sem um ferimento interno. Pensou consigo.
"Preciso de um cigarro."
Mais do que nunca, pos-se a pensar e mutatuva como deveria ter agido, o quao mal fizera ao esconder o que por dentro lhe comia as entranhas. Tinha algo que lhe dizer, mas agora era tarde, viu um ultimo olhar de odio escapar pelo canto mais afinado daqueles olhos cor de cafe. Afundou sozinho dentro da fumaca que soltava pelas narinas ardendo lhe as temporas, girava uma moeda nos dedos e nao podia parar de pensar, nao conseguia parar de pensar.
Deu mais um tempo, viu novamente a morena, aos beijos com o cara de antes, ja esperava, mas parece que aquilo era ainda pior, agora a via sorrindo para ele, dancando e cantando as musicas no ouvido dele. Nao queria estar no lugar dele, queria estar no seu lugar, no lugar que uma vez fora seu, no lugar que julgava correto. Permaneceu mais algum tempo na parede de antes, agora conversava com uma morena magrinha e bonita ao seu lado, nao buscava nada, senao apenas alguem para conversar. Jovem interessante e amavel, a certa altura, ja nao havia mais o que lhe dizer, ela se despediu naturalmente beijou lhe a face e saiu em busca de suas amigas, jah que havia ficado para tras para conversar com ele. A viu partir, e pensou por um instante que as morenas gostavam de ser impossiveis para ele, mas logo lembrou que numa vez foram kilometros e agora, eram as lembrancas daqueles kilometros que impediam qualquer boaventura em suas tentativas. Cansou do ambiente, saiu soh da boate e resolveu esperar a fora, haviam muitos cigarros em seu lindo porta cigarros, assim que nao haveria problema sair aquela hora. Escorou-se num carro e fitou a porta de saida esperando muitas pessoas ao mesmo tempo, verificando se nao era um daqueles malucos da festa de aniversario, ou seu primo e sua namorada ou A morena.
Acendeu muitos cigarros, olhos as estrelas e ficava girando a moeda na mao pensando e pensando. A certo ponto, uma caminhonete atravessou a sua frente nao permitindo que o vissem, ao mesmo tempo, a morena saia com sua compania pela porta da frente e ele riu sozinho da desgraca coincidencia de justamente nesse momento um carro tao estupendamente grande passar pela frente dele nao permitino que trocasse um ultimo olhar com a morena que tanto tempo esperava no frio da noite chilena. Pois bem, riu mais uma vez e acendeu outro cigarro. Reparou em cada detalhe quando se afastava, como pareciam felizes e se trocavam beijos, lembrou que com ela, ao menos em sua compania, era mais carinhosa e parecia mais alegre. Apos perde los de vista fitava a saida da boate ate que todos sairam. Para variar, apenas para variar, uma velha amiga de dois anos atras saiu tambem, lembrou me de outra morena, que lhe mordera os labios certa vez e deu lhe um trauma quase de crianca. Bom, vamos? Fomos.
Seu primo havia bebido muito, e ainda dentro a boate queria bater em alguem, qualquer um, esbarrava em todos, atirava um pouco de bebida, mas ninguem estava afim e briga naquele dia, agora voltava junto com ele pelo lado de fora do carro, gritando estremamente alto com volume alto daquela musica dancavel e sentido o vento de 140 por hora na cara, por alguns instantes se esqueceu do real real que carregava no bolso.
A noite nao conseguiu dormir, e depois de muito pensar e re pensar, chegava a conclusoes drasticas. Manteria sua moeda, como lembranca de suas escolhas, como uma cicatriz, para lembrarlhe que o passado nao foi um sonho, mas uma realidade tao crua quanto o quao REAL era sua moeda.

sexta-feira, março 7

chuva

tah... as do rei ficarao para depois.

denovo, por algum completo acaso, eis que chove hoje, perguntei para umas pessoas locais se isso é normal, ou ao menos perto de normal e nao. Nao é nem perto de normal.
Segundo ano louco, e novamente chuva aqui, e coisa toda fica linda, combina com as cervejas de litro e um livro maluco. Umas saidas insanas e mais algumas historias pra contar.

--

por acaso, aquele dia ele resolvei que ia ver uma amiga.
"vou! vou sim!" repetiu pra ele mesmo na noite anterior. Faziam tres dias ou mais que dormia no chao e precisava de uma cama. Um resumo do dia anterior:
Foi ate um shopping comum e sem muitos atrativos, ligou dali. Sinais de ausente do outro lado da linha. Mesmo com a mochila fazendo um belo peso naquele dia de sol rancaguino, encaminhou-se a pé até uma cabine telefonica. Algumas pessoas indicaram novos locais, inclusive uma morena, linda, mae, com algum problema ocular (seus oculos a deixavam com um ar de culta); estava encantado com seu estilo, com a maneira que o tratou, com as dicas boas e perguntas simples; Nao fosse a pressa, teria convidado para um café sem muito pretexto, apenas para disfrutar de sua encantadora compania; Essa havia conseguido ajuda-lo e por fim falou com a garota.
Pediu um tempo para pedir permissao (incredulo, já que ela ja estava no 4 medio), depois, ali no shopping de antes (tinha ar condicionado, logo, voltou) ligava novamente com moedas de 100, foram 3, uma a uma... ja subia o nervosismo.

Na descida da ultima escada rolante numa mesa proxima.

Por ali ficou, com um livro maluco e um nervosismo por ver o que havia acontecido, para ver como seria a chegada.
Chegou.
A conversa foi desenrolando, mas nao, nao mais.
Acabou com um tchau em outro lugar da cidade, proximo a um mercado onde comprara um relogio, o primeiro relogio comprado com seu dinheiro em toda a sua vida, e era dos Simpsons.
Dormiu numa praça ali perto quando o sol ja batia no seu olho por baixo das arvores e em umas horas depois acordava desesperado procurando por seu livro doido (seu confre altamente seguro e a prova de ladroes burros). Estava do lado. A mochila. O suco de laranja de litro.
Leu mais, e se divertiu sozinho numa praça daquele pais a beira do pacifico.
Em direçao a uma casa conhecida comprou as provisoes para o dia, e conforme caminhava pela cidade agora escura, se deu por conta que era melhor buscar a cama que dar uma de mochileiro vagabundo e correr o risco do assulto, do estupro, ou de conhecer novos amigos loucos.
Depois de um longo banho se deitou na cama de molas velhas, a melhor cama do mundo. As costas, os braços, a cabeça, o ombro esquerdo e alguma parte do peito ainda doia.
Deveria dormir até as 8 e meia da manha. Acordou as 15:46.

Almoço com a familia emprestada, um franco delicioso e um tanto de arroz. Fez desfeita (mas ja conhecida desfeita) e nao aceitou os legumes e verduras. Juntou a mochila e os dois novos tenis, ambos esquecidos no pais estrangeiro. Algum peso nas costas, igualmente caminhou ate um local para chamar a amiga.
Combinado seria na frente da escola dela.
Feito, lá, ja esperava ver mais gente, a garota do dia anterior, e uns velhos amigos do ano anterior. Que seja. Agora, maos a obra, onde diabos ficava aquela escola¿?¿? Nao fazia ideia, pois bem, pos-se em direçao ao local mais proximo que sua mente lhe dizia que deveria chegar e encontrou duas moças gentis, umas gordinha morena e uma loira magra de oculos de sol encantadora. Ambas prestativas e ativas em relaçao a descobrir que onibus tomar ou que coletivo indicar para seguir para o lugar, quase o levaram para outro canto da cidade, ja que descobriram que o onibus passava de hora em hora (a hora da saida do colegio ja se aproximava, e sentia que ia deixar alguem esperando), mas assim que se encaminharam para a sombra de uma parada proxima, saiu do nada o onibus esperado, perfeito. Uma despedida rapida, infelizmente nao conseguiu telefones nem nada para contato postumo.
De pe no onibus quente a apertado pediu para que o parassem no colegio coya. Perguntou a um passageiro o quanto ficava e parece que faltava muito. Mais depois, perguntou a um outro e deu-se a merda. O anterior havia entendido apenas coya, A CIDADE coya, portanto estava a kilometros de distancia do colegio que ja havia passado a muito tempo. Parou ali mesmo com desespero, no meio da estrada com sol na cara e mochila nas costas.
falou sozinho: "as coisas complicaram hein guri... num estante com umas queridas garotas desconhecidas e logo depois sozinho na estrada deserta... bom, nao virao onibus... o que pretende fazer? Pedir carona."
e assim foi, esticou o braço e começou a caminhar pra tras, olhando os carros que passavam... caminhou um pouco, nao foram mais de tres gotas de suor ate que um caminhao parou mais a frente. Uma corridinha ate a porta e pronto, e caminho do colegio! Eram alguns poucos kilometros para o caminhao, mas para suas pernas fazia toda diferença, o senhor voltava do trabalho de transporte de minerios e algo lhe fez dar uma carona a um estrangeiro que falava mal sua lingua. Logo parou em frente a umas arvores, e para ter certeza que deixava o caroneiro no local correto avançou lentamente ate poder ver a frente da escola.
"ai está rapaz. boa viajem!"
"valeu moço!"
Perguntou a hora para uma senhora de uma caminhonete proxima. Se viu adiantado! absurdamente adiantado, sinal que alguem nao havia lhe dito corretamente as horas numa outra vez que perguntava por elas. Sentou-se na grama e leu ate proxima a hora da saida. Alguns alunos mais jovens saiam para os carros de seus pais ricos; alguns entrvam nas vans amareladas com "colegio" escrito em cima e se mandavam para suas casas. Nao demorou muito e viu a garota do dia anterior saindo. Foi lah dar um oi. E foi bem isso, um oi, alguns olhares estranhos e soh isso. Logo chegava a amiga maluca correndo de braços abertos (lembrou de uma cena que vira no aeroporto no ano passado) uns abraços, uns beijos e uns queijos e ja estavamos indo devolta a cidade maluca no camburao dela. Sem pagar, claro.
Um sorvete com a amiga e umas conversas esperadas... Bom foi assim aquele dia, com a conclusao clara de que tinha de voltar a santiago. Pegou o primeiro onibus que tinha e ainda conseguiu desconto e se mandou pra capital.
No trem da maior cidade do pais achou uma linda morena conversando com uma amiga nao tao morena assim. Parou ao lado e trocaram papo, mas apenas papo mesmo, gostava de conversar com gente nova e ver no que da, nao com pretextos futuros apenas para conversar mesmo, inclusive nem pegou numeros de telefone nem nada, mesmo sendo possivel. Acabou dizendo que seus olhos eram lindos e saiu sem dizer mais palavra, ela ficara boquiaberta olhando-o partir com a mochila nas costas pela porta aberta do trem; seguiu-se de um tchau sorridente pelos vidros do trem, algo apenas para levantar o humor e sair sorrindo no meio de uma multidao de desconhecidos. Acabou andando pela cidade sem muito destino, ate que ligou para o primo para verificar se nao haviam "ocupantes" no apartamento.
Perfeito, em pouco tempo, teve mais um dia dormindo numa cama macia.

Os dias passam e as paginas do livro correm. As coisas vem vindo e como uma esponja absorve cada vez mais coisas, como se a esponja tomasse conhecimento no seu interior e o liquido conhecimento fosse tragado mais ferozmente que as doses de cerveja e vinhos. Raramente, uma pequena dose de juizo, lhe desse pela garganta.