terça-feira, julho 31

Lareira

Até tarde no café, a droga, a solução, a companhia
Companhia faltava por ali, nas almohadas ao lado
A pouco estava deitada, conchinha, juntinha
Eram dois, dois travesseiros, dois corpos esticados
Foi dormir assim mesmo, não tinha como conversar com a química
O corpo ordenou que dormisse, foi a mente que descansou
O sonho não veio, ele acontece quando ela está junto
O celular despertando, louco vibrante, um galo digital
Ele vira pro lado e sobra espaço, mesmo gordo, sobra
Vem a falta, o lado do colchão vazio e frio
O inverno que ele adora, e a falta que ela faz
Pequena magrinha guriazinha mulherzinha
Desde os pés, o feio e o bonito, as curvas todas quentes
Ombros leves, respiração serena num ar aconchegante
Volta e pensa nas coxas, gravetinhos que lhe ardem
Sorri e pensa
Lareirinha

As vírgulas

Essas viagens que acabam surgindo na mente, são uma vírgula de sentimentos que distraem um pouco a cabeça para aliviar o peito. Essa última da luz, o detalhe de algumas coisas, o sentimento e forma que o vento dá as coisas, pausas, um tempinho...
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De verdade sabemos, o tic-tac batendo
O relógio é marcado nos goles da cerveja que escorrem pela garganta
É saliva do beijo molhado, aqueles lábios coloridos tão amados
O cheiro que fica na lembrança do sábado, do sol, do chima
Tudo sendo sempre uma saudade antecipada,
buscando sempre uma forma de esquecer por agora,
esquecer agora tudo o que lembrarei o tempo inteiro depois.

Violência

A violência é essencial.
Antes de mais nada a competição natural
Em seguida, os povos, suas nascentes.
Por consequência, suas culturas.
Em resultado natural da cultura, suas crianças, que perecerão naturalmente.
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É resumidamente a conclusão que chego. A violência é essencial para a perpetuação da espécie, dos mais fortes. A dominação só pode ser viabilizada através de violência, seja ela social, cultural ou realmente física.
Povo que não tem virtude acaba por ser escravo
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Pensa só, no começo é essa coisa de competição natural, aquela história de natureza, essas coisas, são seres que competem pela sobrevivência, cada uma de sua forma. Quando se entra em conflito, se busca uma alternativa para ou se vencer o conflito ou para deixar de ser necessário participar dele. Aí entra naquela história de adaptação. Mas o fato é que nós não temos capacidade suficiente a evitar os conflitos. Não, isso não acontece conosco, com os humanos. Temos por padrão o comportamento individualista cada vez mais forte, cada um com bens mais fodas que os outros e por consequência a violência rola solta, há de rolar mesmo. Dentro do sistema precisamos lutar pela vida, quer dizer, como diz a amiga da Mafalda, precisamos dar a vida trabalhando para ganhar a vida no final das contas.
Olha que interessante isso, temos como padrão a competição e nada melhor que violência para resolver nossos conflitos. Todos eles.

Um país de bundinhas. Todos os velhos países tiveram muitos anos de história, tiveram conflitos internos, guerras e lutas. Momentos realmente problemáticos, famílias com histórias longas, brasões forjados em muita dor e sofrimento, perdas, competições absurdas por terras ou conflitos de crenças, de cores, de tangas. Seja o que for, foram conflitos normalmente resolvidos com violência. Eu acho que é fácil de entender, não é que alguém seja burro, mas é necessário muito altruísmo para resolver isso de outra forma, esse altruísmo deve habitar a mente de todos os envolvidos nesses conflitos, coisa que naturalmente não acontece. O que realmente povoa os corações é a raiva, a velocidade que sobe a cabeça e toma conta das ações. Isso coordena os músculos, as balas.
Um país como o nosso tem um bando de bundinhas, incapazes de se revoltarem de forma impactante. Todos tem medo de tudo, mais medo de se machucar do que de qualquer outra coisa. Não queremos heróis, mas era bom que tivesse gente com mais culhões por aí. Capazes de aguentar torturas para o bem de outras tantas pessoas, isso sim é incrível.
Existem torturas como por exemplo o trabalho escravo de um professor, a responsabilidade de mostrar o caminho para novos espíritos sem ganhar reconhecimento adequado nem mesmo equipamento adequado. Ou um pedreiro honesto que ganha miséria para destruir sua saúde e construir o sonho material dos outros.
Não entendo como todos se sentem tão incapazes e não fazem nada, não movem uma palha quando se trata de ser violento com o que não presta. No primeiro instante em que se encontram problemas, é o primeiro instante em que se deveriam cerrar os punhos e partir para o embate da solução. Sem remédios, imediatamente a solução.
Por favor, sejam mais violentos, sejam mais reativos e energéticos.

Cada um com sua vida


normalmente ficava mais atucanado quando ela dormia
quase toda noite, ela dormia antes que eu
consequência é que eu ficava a olhar tv ou brincar no computador
isso quando não simplesmente virava para o lado
ainda desperto ficava olhando o espelho do armário na minha frente
dai vinha isso em mente, de continuar na mentira
quando ela deitava no sofá era pior.
a enxergava inteira, me sentia coberto de nojo
um cobertor de mentira, grudento.
verde e com espinhos que só surgem quando se precisa de calor.
pensando que não merecia, que não estava certo
era mais uma dessas decisões de vida
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de uma forma ou de outra acabei encontrando uma saída
literalmente uma saída, uma forma de que tudo pudesse continuar
cada um com sua vida