terça-feira, março 27

Seis bilhões

Não poderia faltar bebida ou cigarro, era mais ou menos assim sempre, era coisa de idade, era época de se achar mais velho do que realmente é e provar para o mundo o quão responsável e grande se é. Todos compravam suas garrafas com daqueles-lados e variavam os sucos e refrigerantes.
Havia coisas de limão, uns de coca cola, guaraná e também uns puros para os mais fodas, afinal se beber essas coisas até o fim da noite e se mante de pé, e no mínimo foda. Eu peguei uns três litros de cerveja, na maioria das vezes ficava só pra mim e acabava faltando, afinal o pessoal bebia pouco daquelas coisas e eu bebia muito da minha cerveza. Como de praxe bebia tudo praticamente sozinho e normalmente a segunda garrafa (garrafa de um litro e meio, pet) já chegava meio quente.
Acho que umas duas carteiras de cigarro ia tranquilo por noite, fumando como uma locomotiva eu passava a noite ouvindo muito e falando cada vez menos. Era sempre os fortes, ou lucky strike original ou marlboro rojo, sempre box porque o maço não era muito comum de se encontrar nos lugares que íamos comprar, geralmente aquelas garrafarias já vendiam só o que tinha de mais caro.
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Por acaso voltaram aquelas risadas solitárias durante a noite, ela tinha me mostrado que haviam outros seis bilhões, eu ia bebendo em silêncio, agarrado a um troféu de idiota com diabos dentro da cabeça.
Senti falta do cigarro, pena que odeiam o cheiro, de fato não gosto muito, mas é uma química que rola de verdade, não to de honda. Quem sabe aquela juventude que eu nem imaginava que existiu querendo atenção, querendo provar mais coisas para os outros, já que ainda não sabe o que está fazendo por essas bandas.

quinta-feira, março 8

Peças novas

Desci da moto depois de posiciona-la entre arbustos próximo ao morro de pedra de areia.
Tava levemente claro ainda, tinha aqueles tons de amarelo e azul no horizonte vindo do sol que já não se via mais. Bastante quente e húmido, queria era voltar a subir na moto e andar por ai a uns 80km/h no mínimo pra dar aquela refrescada, mas segui em frente, fui para os carros.
Pulando sobre uns pedaços amaçados de chassi de alguma varaneio e indo mais para cima do morro vejo os velhos carrinhos por ali, uns fusquinhas que eram só ferrugem com poucos vidros ainda no lugar, um opala, algumas combis, um corcel dois entre outros que não conheço por nome.
De começo a ideia era entrar, dar uma olhada, procurar dono e eventualmente comprar aquelas peças novas, procurava por itens originais de VW Sedan 73, procurei, entrei nos carros, sentei numa pedra.

Foi olhar mais pra frente, olhar de longe a moto quietinha, eu sentei e olhei para os pés. Incrível como sempre acabo olhando para os pés, nem que meio rápida olhada, se me sento, olho para os pés.
Me toquei que fazia o mesmo a anos atrás quando andava por aquelas bandas de bicicleta, sentava, olhava a bicicleta, imaginava uma moto, olhava para os pés.
Pronto, tava ali olhando para agora a moto, e novamente inconformado querendo o carro. No fim o legal mesmo era ir até lá, passar esse tempinho sozinho, pensar um pouco em nada e deixar um pouco de tempo passar sem intervir.

No fim não achei nada, olhando para os lados já mais tarde, pense que poderia aparecer um dono armado ou cachorros ou qualquer ser que de alguma forma poderia ser um problema. Me esquivando de uns cantos agudos com placas de 'tetano isntantaneo' penduradas, passei por tudo novamente pulando o morrinho e voltando a posição que tinha deixado a moto. Montei na bichinha e ainda admirei o lixo de muitos anos de pesquisa, de consumo e consequencia no uso de cada coisa que parava diante de mim. Tudo lixo, tudo pó, tudo crente, digo, tudo é nada. Feito, ler Kerouac nas férias e voltar a pensar sobre os temas descritos nos sutras da nisso.
Amicci miei, que saudade da cerveja.