sexta-feira, novembro 30

Paceña e cookies

Aqui em casa segue as mesmas. Os velhos gritam, já que seus ouvidos já não são tão capazes quando suas guelas, eu mantenho a porta fechada, mas as paredes não cooperam e o som escapa. Os mesmos problemas de qualquer lugar social, o peido de um vai acabar incomodando o outro, seja cheiro ou seja barulho.
Porque se tu deixar assim vai encher de formiga, e pipipi pipipi. O som é o mesmo, trocando a língua, o idioma e uns anos mais ou a menos. Tanto faz, ainda somos crianças, e o tempo sempre vem, só que demora.
Depois do banho é sempre aquela alegria do vento fresco, mesmo em dias quentes, penetra pela porta-janela aberta e desliza entre as bola. Homi tem bola, caso não se saiba. Agora com havaianas os pés não ardem no piso quente e é possível escutar umas músicas com fone de ouvido mesmo, já pra não incomodar. Vida de rei, penso eu, tem praticamente tudo e esses detalhes são realmente muito absurdos pra ser verdade, as vezes me parece que não deviam existir assim. Sinto cheiro de conversa tediosa começando, e sabe de uma coisa, vou aproveitar essa vida e pegar uma cerveja no frigobar.

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Paceña e uns cookies. Delícia, cada um a parte, a cerveja gelada eu confesso, não combina com esses cookies deliciosos e doces na medida. Parece que vou morrer amanhã tamanho prazer essas coisas dão depois dessa corridinha pelo bairro.
Abri essa só pra lembrar do meu pé machucado, com um pequeno pedaço de madeira cravado entre o indicador e o dedão depois do treino de muay thai. Usei a mesma roupa, e nas voltas vinha eventualmente com uma pequena Stella nas mãos. Loira e gelada beijando a boca acariciando a barriga por dentro. Tempo que uns malucos participavam da vida. Puta que foi afude. Saudade desses desgraçados.

Definitivamente, essas bolachas não combinam com cerveja. Mas eu posso me acostumar.

domingo, novembro 25

Parcelado


Estranhamente já haviam pessoas no bar quando ele entrou. Deveria começar mais tarde, mas aparentemente chegaram mais cedo para assistir a um jogo de futebol. Posteriormente os caras meio vileros que gritavam no balcão acabariam incomodando um pouco a festa de despedida de solteira que acontecia nos fundos do local.

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Queria que as besteiras da internet me prendessem a atenção como faziam antes. Me seguravam pelos dedos e amarravam os olhos. O scroll corria incansavelmente e a mente vagava deixando o tempo correr sem perceber o movimento no espaço. Mas não. Só ela me entra na cabeça, meus músculos sofreram para sorrir, para buscar simpatia e saco na lida de todos os clientes e colegas de trabalho. Percebi assim que ela se afastou de mim que estava estressado, brabo, com raiva e louco para matar.
A noite se arrastou, entre copos, canudos em formato de penis e sorrisos falsos. O caminho para casa pareceu mais longo, e o frio da noite era quase uma companhia mórbida que se arrastava ao meu lado. Sentiu que estava sozinho novamente. Que piada, que escolha estúpida, não? "Nós escolhemos", pensou.
O desejo era chegar em casa e encontrala dormindo, acordala parcialmente no momento que se colocaria na cama ao seu lado. Sorriu na lembrança.

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Os pés parecem mais doloridos, e ele não fez nada. As costas carregam algum peso novo, que parece aumentar no tempo. A cabeça explode em pulsasões anormais. O corpo inteiro pede por ela.

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Desde que eu te encontrei, as coisas andam tão bem.
Parece mentira por ser assim, meio dolorido de início, mas é a redenção no futuro que acalma.

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Preço alto... dada situação, parece que vai ser parcelado. Meu medo é os juros.

sábado, novembro 24

Meus vinte quilos

Parece improvável, mas não. Faz um certo tempo que não chegava nem próximo das letras negras, dos pensamentos desritos, os neurônios vomitando pela janela do carro. Na realidade é isso, busco esvaziar a cabeça, seja com ou sem sobremesa.
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Mal li umas linhas do último e de novo ví que o velho toma conta dos dedos, mas busquei esse aqui agora, justamente pra tentar lembrar, tentar acalmar o guri e deixar o velho viajar na muleta sozinho.
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Aquelas putarias clássicas sempre voltam, e como sempre repito, despois que passou, passou rápido.
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O agora é o mais demorado, e o ontem simplesmente se foi.
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Ficarão as lembranças, aqueles detalhes sutís de como cada um fez suas escolhas.
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Ta legal, eu esqueço fácil e chega a dar medo. Espero que não, por que como as histórias que conto, essas coisas também ficarão.
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As promessas são próprias, mais que qualquer presente para outra pessoa, são promessas de honrar a palavra para sí mesmo, então talvez seja por puro egoísmo que atuamos? Tanto faz, não importa que não consigamos cumprir a metade, o ponto é tentar e a intenção de fazer as coisas. O resto é besteira. Quem sabe nem tudo, cada um igual leva suas prioridades consigo.
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Mataria por uma cerveja gelada. Quem sabe aquelas cadeiras de plástico no rock?
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Tenho que aprender a ser o melhor transformador de energia do mundo.
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A força deve vir de dentro, quando sair virá o alívio e o tibum.
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Tirei a camiseta e me senti um extraterrestre, num lugar conhecido.
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Eu repetia pra ela: pra que comprar essas coisas sem data de validade? Vai tudo pro lixo!
Pronto, está ali a pera na geladeira. Besta. Linda.
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Não está quente, mas qualquer coisinha tu já está suando. Ainda quente do contato dela.
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Esse vício tem que ser no mínimo moderado. As listas, os calendários, os cálculos são todos buscando amenizar o problema.
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Aconteceu de ficar meio incômodo escrever dessa forma, parece que a posição não ficou boa para os dedos. Não mudei de posição, arrastei a mesa. Sempre temos mais opções.
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Espero que o tempo corra. Quero ver as vidas tomando forma, estou ansioso pelas mudanças e os novos horizontes.

sexta-feira, outubro 26

Minhas várias

A natureza nostálgica impregnada em minha pele insiste, persiste, luta para ficar. Normalmente ela vence. A falta que uns poucos quilos de carne me trazem. Todos os dias essa guerra interna. Tentando de uma forma ou outra ser menos velho, buscar a idade atual, mas é complicado, pensando sempre que o pensamento não para, voa para um lado tropical e me arrasta junto.

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Sinto um sol mais seco por estes lados, essas manhãs começam quase sempre sem horário, muito preguiçosas e com falta de vergonha na cara. Mais se parece um ninho, um pic-nic. Umas coisas pelo chão, umas comidas por terminar, e atualmente tem até aparelhos eletrônicos abertos esperando por atenção.

A cama normalmente é o nosso habitat, tem esse vento soprando na cara, particularmente hoje está mais forte, é seco e fresco e consigo ouvir as árvore balançando. Ignorando que estamos numa cidade assim, e que nossas vidas não param, parar e sentir tudo isso é sinal de velhice. Estarei pedindo pra morrer?

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De repente me sinto como um adolescendo de novo, travado numa rede de pensamentos forçosamente velhos buscando pensar ao invés de agir. Desculpas para que não precise provar as capacidades, talvez seja falta de colhão, medo de errar inconsciente. Ainda não sei.

Recém me descobri um materialista camuflado. Não quero comprar tudo, ter tudo, mas o pouco que tenho é tão meu que não consigo me desfazer com facilidade, seja a forma que for. Nesse caso, uma perda, um acidente, por assim dizer. Todos sabem, cuido mais das coisas que de mim e que certamente faria diferente para que isso não acontecesse.

Talvez seja o fato de ficar meio sozinho por qualquer lado que me leve a tanto, a tanto pensar e ficar cada vez mais quieto.

Minha velocidade não está como um dia já foi, me sinto lerdo para vários temas, e a comunicação piora a situação. Tento me forçar aos limites possíveis, mas não encontrei resultados satisfatórios. Acabo deixando de procurar a necessidade da velocidade, e como desculpa digo que é mais fácil, conveniente e melhor, fazer de outra forma. Acontece igual quando depositam confiança, sinto peso de responsabilidade de não decepcionar, e como uma criança criada a base de resultados, busco formas de não precisar provar minhas capacidades para seguir apenas com o histórico, que um dia foi bom.

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Tento acreditar que o acaso é amigo do meu coração, sempre que fala comigo. Sinceramente, tem sido difícil ouvir. Talvez seja o barulho dos carros na rua, quem sabe o idioma me confunda, ou minha audição está piorando. Quem sabe faltam alguns apoios para certas coisas, pois ainda não me vejo continuando uma vida por conta própria, é mais uma vida de apoio. Acredito.

Segundas feiras

Nos primeiros dias a coisa foi russa, no segundo dia já era viajem, já estava atrás de um balcão servindo chopes e tentando falar a respeito de um líquido que por mais que adorasse não entendia muito. Essas feiras são praticamente todas iguais, muda algumas coisas internas, mas o ponto chave é sempre igual. Chamar pessoas e vender chope, esse é o trabalho básico.

Neste caso, não tinha experiência com o pré-trabalho, que consistia em garantir que tivéssemos todo o equipamento necessário, verificar a logística, os detalhes necessários para que o trabalho básico pudesse ser executado sem problemas durante toda a feira.

A correria começou uns quatro dias antes da feira. São copos de degustação, copos descartáveis, copos de vidro, máquinas, colunas, mangueira, pinchadores, conectores, manômetros, CO2, balcões, pregos, parafusos, ferramentas, cartazes, etc. Era buscar e levar, apenas ouvia algumas rápidas negociações por telefone e de repente surgiam mais coisas pra se fazer.
Dentro desses dias iniciais repetimos a lista de coisas que nos faltava e no final era isso, a lista seguia a mesma, mesmo depois de fazer ligações e ver outras coisas, algumas das mais básicas sempre faltavam. Murphy.

Era o dia da primeira feira, La Florida, ficamos de nos separar para que eu pudesse montar os estandes e ele correr para buscar coisas que nos faltavam. Resultou que até praticamente abrir a feira chegava ele com o que faltava, e havia dado problema com os cartazes. A falta de luz na feira foi um bom problema pra poder montar os três móveis. Bastante sol, o suor pingando, parecia realmente um trabalhador. Terminou o dia e eu estava tenso, havia mais uma feira para amanhã, e essa seria só eu.

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Descobri um pouco antes da uma da manhã que a feira do dia seguinte começava as dez. Já tinha certo que chegaria umas duas da tarde, atrasado, perdendo dinheiro, público. Deu o acaso de eu me perder no caminho para lá, afinal não tinha absolutamente nenhuma informação de onde era exatamente e estava perdido dentro da maior cidade do país. O GPS ajudou, mas não mudava o fato de estar completamente errado em meus caminhos.
Se entender alguém ao vivo as vezes era um problema, entender alguém por telefone poderia ser muito pior. No final entendi tudo, e o entendimento estava certo, no sentido literal, mas nada correto no que diz respeito a localização real. Depois de duas horas andando de carro, cheguei ao destino, numa espécie de vilarejo meio rural longe de Santiago.
Terminei de armar as coisas as quatro da tarde.

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As feiras deram lucro, foi uma correria maluca, eu quase mijei nas calças umas oito vezes. Sozinho bebendo devagar, mas vinha gente e gente e gente e eu ali, servindo líquido amarelo com espuminha no final. Era tenso. Deu tudo certo, conseguimos pagar uma máquina com o lucro da feira, fiquei contente com o trabalho.

Terra das oportunidades

As coisas até que iam bem, quer dizer. Tinha sua casa, sua família, seu trabalho. De uma forma ou outra, se conseguia construir suas coisas e mesmo que não tivesse exatamente tudo o que desejava, as coisas vinham e a vida continuava. Num daqueles dias, a coisa mudou e a oportunidade para um mundo novo bateu.

Acordou pensando que era necessário sair, fugir da rotina, mudar completamente, de endereço, de casa, de cultura, de língua. Não foi exatamente planejado, era uma vontade que surgiu, seja lá por criação, por pressão externa ou insatisfação, de repente até poderia ser uma esperança de que fora, ou melhor, longe dali, as coisas seriam melhores, como uma terra prometida, como o lugar sagrado que poucos podem chegar. Claro, teria de buscar sua terra também.

O dia seguinte, louco por devaneios, e pensando no que deveria renunciar para buscar o novo, pensando nas dores que conhecia, na parte boa, de tudo o que a terra das oportunidades poderia deixa-lo realizar. O medo, adaptação, o custo de procurar novos amigos. Estaria apto a fazer isso? Era uma questão de juntar seus trapos em ir em direção ao sol enquanto ele se colocava no horizonte até tocar o mar.

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Que a verdade seja dita. O sol é o mesmo, talvez a umidade não seja e o calor seja completamente diferente, entretanto, isso não muda a oportunidade. Não demorou a dar-se conta do que estava vendo era na realidade a terra prometida que cada um poderia criar, onde bem entendesse. De pouco a pouco foi ficando mais claro que a busca por esse local não precisa ser longe do ninho, ficou cada vez mais claro que os que se mexem chegam lá, e basta ficar sentado reclamando sobre qualquer coisa para provar que não é possível.

Parece besteira pensar que isso todo mundo sabe, mas talvez seja um pouco diferente sentir isso, vivenciar a mudança. O que é necessário é coragem de botar a cara a tapa, não interessa aonde, no final é só isso. Os altos e baixos de cada lugar do mundo existem, em alguns uma coisa pode ser mais fácil que outra, mas de qualquer forma, está tudo aí, basta fazer.

sexta-feira, outubro 5

Coceira

teu sopro, como carícias pelos pêlos, suave
seguido de beijos e mordidas indevidas
um sorriso como vírgula e o ar como afago
o olhar faz o clima, e o beijo me tira do lugar antes,
dos dentes voltarem a minha pele. risada escapando
unhas iriam roçar a pele, num ritmo clássico
redenção nos teus dedos, alívio imediato
mais pra cima, isso, ali do lado
dentes até a nuca naquela evidente satisfação
de um urso incapaz de alcançar suas costas

quinta-feira, outubro 4

Chop Suey com Mosca

Entre umas fungadas e outras conforme esse resfriado deixava, eu fui conversando sobre as comidas da cozinha. A verdade eu não poderia dizer, mas tão pouco queria mentir sobre o que perguntava. A tia da cozinha estava surpreendida e intimada pelo fato de termos cozinhado, enquanto eu retirava os podes dos restos de ontem da geladeira, ela observava atentamente buscando saber o que era cada um deles. Perguntou como fizemos e se havíamos posto determinados ingredientes, a forma de preparo e tudo, toda a alquimia envolta daquele prato de arroz com ervilhas, massa e aquele molho chop suey com frango.

- Mas afinal, por que vocês começaram a cozinhar sua própria comida? Não gostaram da minha?
- Mira, lo que pasa és que nosotros normalmente não conseguimos comer em casa, é complicado pra nós. Não temos horário e acabamos sempre comendo fora de casa. Terminamos comendo na rua, gastando mais dinheiro, assim podemos fazer nossa comida quando temos tempo, isso se tivermos tempo.
- Ah si, entiendo, claro. Ustedes chiquillos comumiente no alcansavan comer aca y ademas que comen arto... bueno, mejor asi.
- Si, de verdad, mejor. Quedamos mas tranquillos. Por ejemplo ahora, yo tengo tiempo, pero Juan se fue hace hora.

O jardineiro estava junto à mesa, comendo a massa com alguma espécie de molho branco que a nana havia feito. Meu prato perto do dele era extraordinariamente grande. Seu prato era basicamente aquela pouca massa com molho. Eu ri pensando que poderia ser eu comendo aquela massa caso nós não tivéssemos negociado com a tia da casa. Não lembro do nome dele, mas era um cara simples, as mãos que tocavam o talher mostravam claramente o que era trabalhar com as mãos, coisa que aos poucos tenho aprendido. Aquela coisa bem poética e dolorida. Calos, mãos duras e pele ressecada, marcada com arranhões e cicatrizes.
De uma maneira fácil, o tema de culinário veio a mesa junto com meu prato e minha fome. Contei a eles que a tradição que dizíamos italiana era ter sempre mais de um prato principal a mesa. Prato principal, para eles, seria algo como arroz à primavera, por exemplo. Aqui o costume é comer massa com molho, só. Ou uma carne com molho no arroz, ou só a massa, ou só uma salada com uma salsicha, enfim. Os pratos aqui são bastante pequenos. A variedade de comidas é quase inexistente quando se faz uma refeição normal. Sempre se é servido e entregue o prato. As panelas sempre ficam no fogão e jamais se verá uma panela na mesa, questão de cultura. Contei-lhes a diferença de cada um se servir e colocar na mesa todas as panelas possíveis, assim como diversas saladas e comidas. A ideia lhes pareceu boa mas logo se partiu para o preço das coisas.

-Sim, aqui é muito caro comer fora. Principalmente nessa altura - referia-se ao setor/bairro/província
-É, tenho visto nos últimos dias...
-Em Santiago em geral, é muito caro, é difícil encontrar um restaurante que não seja, a maioria não tem moscas.
-Como assim?
-Que não é que não seja limpo os outros, mas quando um restaurante não tem moscas, é porque o restaurante é tão caro que nem as moscas entram.

Eu ainda estava comendo, e já tendo um olhar bastante crítico sobre a limpeza dos lugares, fiquei na dúvida se era uma piada ou se talvez fosse real. Afinal de contas, um restaurante mesmo caro, provavelmente é sujo de qualquer forma, assim como qualquer outro restaurante. Minha dúvida o fez praticamente repetir a piada com outras palavras, e mesmo assim eu não consegui rir, imaginei aquelas moscas chegando na frente do restaurante e vendo o preço no cardápio exposto a frente da porta. Conversariam entre si e tomaram o rumo de qualquer lugar mais barato para incomodar os clientes mas a risada não saía.
A verdade é que fui em restaurantes baratos e não havia moscas, talvez as moscas sejam muito exigentes ou esses lugares de que ele fala sejam realmente muito sujos.

sábado, setembro 29

Projetos

30/01/08
Projetos

detalhes
cores
prazos
anúncios finais
gênero da fala
as coisas como são no final
as coisas como são...

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Algum dia entre Agosto e Setembro de 2012
Estava justo procurando minhas memórias, e lembro de momentos a mais de quatro anos atrás. Indecisões de como fazer cada coisa, e essa mania de poetizar as coisas e torná-las loucamente enroladas. É a descrição detalhada, o eterno apego aos detalhes e talvez muitas formas de adornar e dizer a mesma porcaria. Me vejo escrevendo dessa forma, e preciso admitir que me agrada detalhar os pontos, escrever errado mas buscando o conteúdo.
Pois bem, a alguns anos isso se repete, a todo instante. São detalhes, de cor, de prazos, são formas de dizer cada coisa. As novas decisões que temos que tomar e cada vez mais eu me pergunto, e daí?
Eu realmente não tenho ambições enormes, sou tranquilo como uma árvore no outono. Eu sei que a primavera chega, não preciso me preocupar com as flores antes do tempo. Pouco me importam os frutos. Não precisaria sequer procriar. Fico pensando nisso de, pra que? E por que? As perguntas eternas que me retornam a assombrar os dias.
Volta o velho, e o chima que me acompanha me deixa tranquilo e não queria nem saber do resto. Vejo que estamos sempre presos a tudo isso, o sistema, as pessoas, os laços e tudo que tu pode gostar ou que possa gostar de ti. Saudade da Isabela, aquela fuça sempre alegre e despreocupada. Penso logo num cachorro porque talvez eu seja perfeitamente um desses, não no sentido sexual da coisa (rá), mas a facilidade de diversão e entretenimento é incrível. É fácil, não preciso de muito, quase sempre as pessoas certas bastam. O que aconteceu? Fui mal criado pela televisão, ou talvez a TVE fosse realmente uma péssima educadora.

O velho e o moço

04/04/2012
A noite fora realmente ótima, estava satisfeito e com gripe. O saco era ter que voltar pensando naqueles assuntos de sempre que se lê em toda música e que se vê em toda novela, melhor até parar por aqui, porque é mais uma enrolação qualquer sem nenhuma conclusão.
Negócio é que estava frio e tinha um cheiro bom de mato no ar. Estava de carro, um bem velho, andando devagar e ouvindo uma música no mono-rádio. As músicas vinham e ficava pensando naquele futuro mais distante, na possibilidade de errar agora, testar outras opções e talvez um dia se arrepender. Ficou claro que o medo de errar é imenso e que não é tão facilmente ignorado quanto pensava.
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02/09/2012
Haviam dúvidas que jamais serão respondidas, mesmo depois de anos e anos de estudo e planejamento, jamais se saberá tudo que poderia ser. Resta aceitar as escolhas que se faz.
Talvez até a ciência seja assim de duvidosa. Será que outras formas de se fazer as mesmas coisas podem levar a novos resultados? Ou quem sabe fazer as coisas envolto em algum sentimento muito forte possa deixar marcas evidentes?
Cansado pelo trabalho do dia anterior, fez uma rápida viajem ao aeroporto. Ainda não organizou uma coletânea de músicas, assim que acaba viajando sempre sem. Talvez isso lhe faça mal, se concentra tanto e tão seriamente que é possível sentir um velho aos poucos acordando, pensamentos ranzinzas lhe sobem a cabeça e aos poucos se estressa por detalhes cada vez mais ínfimos.
Acalmou seus demônios antigos com uma coletânea que fizera com a pequena. Músicas mais alegres e joviais. Fracassos, amores, pensamentos e poderia até abstrair alguma política daquelas músicas. O sol secou sua pele depois de uma demorando banho, de toalha na varanda do quarto vê uns pássaros brincando por cima do telhado. Parecem alheios a ele, até o momento que um deles para o fita, como se fosse um gato, olhando um rato, no instante seguinte alçam voo para árvores mais distantes.
Planejamento do trabalho deve continuar, de uma forma ou outra. Pensa em como ajustar sua área de trabalho, visto que o minimalismo não te da muitas opções, acaba na cama vestindo um estilo verão, perfeito para o fim do inverno.

Saudações

Nenhuma manhã foi sequer vista até agora. Todos os dias iniciam depois do meio dia, no mínimo. Os horários loucos são sempre loucos. Ontem o bar fechou mais cedo, felizmente. Arrumamos tudo relativamente rápido e por volta das cinco já estava em casa. O resfriado não me deixou dormir bem, e uma incrível espinha dentro da orelha direita está me matando. Explodiu sozinha, faz uns quatro dias que estava amadurecendo, ontem foi o dia. Sangue pelo ouvido, pus e tudo que enche um belo prato.
Me dei conta agora mesmo que abri as cortinas em xadrez rosa e branco, o sol entrou e esquentou um pouco meus pés, e é, as manhãs não existem aqui. Eu gostava das manhãs de domingo, ou qualquer dia sem trabalho, eram manhãs mais alegres, mesmo que fosse necessário limpar a casa, era bom. Havia música, eventualmente alegre, movimentação e um cheiro de manhã no ar.

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O cara chegou, alegre e fazendo gracinhas enquanto entrava da porta do bar até o balcão. Saudou os compadres e dirigiu-se a mim. Um aperto de mão típico chileno. Aqui existe uma espécie de receita de aperto de mão. Talvez aprenda mais sobre eles conforme as classes sociais ou quem sabe as regiões do lugar, mas normalmente não varia muito.
Primeiro se cumprimenta com o rosto, antes de mais nada. Um sorriso, um arregalar de olhos e peito aberto. Em seguida as mãos se buscam, sempre as mãos direitas, um aperto clássico com os dedos apontados em ângulo para baixo, em seguida vem a primeira variação, alguns fazem o segundo aperto, aquele estilo queda de braço, que os dedos apontam então para cima e a parte gordinha do dedão é onde tem mais contato.
A saudação de mão ainda pode ser acompanhada pela mão esquerda tocando um braço, ou ombro ou nada. Ela serve como introdução para o seguinte movimento, que é o abraço. Depois de saudada as mãos, pode haver ou não um abraço. Alguns se beijam as bochechas, enquanto outros apenas tocam seus ombros num abraço tímido. Fechado o toque ou o abraço, se voltam novamente de frente e existe mais uma saudação de mão. Essa mais rápida e normalmente menos firme, é um gesto veloz acompanhado de um toque da mão esquerda no ombro, como uma assinatura para todo aquele bolero que foi a saudação.
Talvez os cumprimentos sejam no final, iguais aos que eu dava aos queridos bruxos, mas aqui o pessoal tem esse calor com praticamente todo mundo. Algumas pessoas mais ricas normalmente são mais frias, claro que existem exceções, mas em geral é assim.
Falando de classes, pude reparar que os caras do trabalho estão começando a me saudar de forma diferente, quer dizer, igual as saudações entre eles. Um cumprimento de mão estilo queda de braço soltado rápido e um soco entre cada mão. Realmente parece bem mais flaite, uma forma de dizer que é coisa de malandro ou de preto. Não me incomodo com nenhum, sempre fui de apertos de mãos serenos e firmes, mas o pessoal aqui as vezes exagera.

quinta-feira, setembro 20

Chegada

14/09/2012
Aos poucos me acostumo com essas coisas. O barulho das quatro rodas é contínuo e leve, parece uma geladeira nova recém ligada. Quietinha, faz o trabalho dela enquanto seguimos a uns 120 ou 150 km/h em direção ao norte. Velocidade normal por essas bandas. Os caras que abusam, andam de 160 para cima. Engraçado, o fuscão nem chegava nisso.
Ainda meio ressabiado, não entendi direito se eram um casal ou um casal de amigos sem nada além disso. Se chamavam Sebastian e Andrea. Mais tarde eu descobriria que ele era o Vizinho, ela a Sexóloga. Queridos, e eram exclusivamente bons amigos.
A estrada já era conhecida, havia percorrido alguns trechos e a cordilheira começa a parecer menos incrível, como se já fosse natural e não me deslumbra tão facilmente. Ao lado direito, as vezes em ambos os lados, as vezes no direito de novo, ela acompanha o trajeto de seis ou sete horas até a praia. O engarrafamento chama-se taco. Igual a delícia apimentada mexicana. Durou uma meia hora e fluxo de carros era grande, mas logramos fazer um bom tempo de viagem.
Infelizmente não posso abrir a janela o tempo inteiro para sentir o ar e seu cheiro, a velocidade atrapalha essa frescura. A noite apareceu com aquele ar fresco de sempre e na praia andamos mais despacio, de forma que pude aproveitar o ambiente e sentir aquele ar salgado entrando nas narinas. A areia grossa do chão e o frio da noite. Típica praia chilena.
Como ninguém sabia exatamente onde ficava a tal casa, nos aproximamos do local de espera onde havia uma pracinha. Quatro crianças crescidas desceram do carro para esticar as pernas e se meteram nos balanços bem cuidados e fortes. Num instante se rangia o ferro e os pêndulos de carne se divertiam.
Ainda sei fazer isso, legal. Me embalei forte o suficiente para chegar naquele limiar que se fica paralelo ao chão e ao invés de voltar suave, tu faz uma pequena queda até que as correntes do balanço tomem cargo da trajetória, voltei a ter medo de pular. Eu pulava realmente muito alto, morrendo de medo, pulava.
Em pé em cima do balanço era capaz de alcançar o ferro onde fixavam-se as correntes. Estou grande, rá! Fiz algumas barras para tirar a ferrugem dos músculos, de frente, de costas. Devem ter se somado umas quinze, não foi grande coisa.
Nos informamos se o dono da casa chegava e nada, iria demorar um pouco. Trocamos de brinquedo. Fomos naquele trepa-trepa, de um lado ao outro eu passei tranquilo sem dificuldade apoiando-se barra a barra. Subi pelo meio dos ferros e fiquei de ponta cabeça me firmando com apoio apenas nas pernas, com alegria o sangue para a cabeça e celular, chaves, carteira para o chão. Medo do celular. Primeira vez que caia, arrependimento e medo pela peça que me deixa tão em contato com quem amo. Fiz o retorno da posição e desci do brinquedo retomando o celular em mãos como um bebê. Tirei um pouco de areia dos cantos e a alegria de estar tudo bem. Ufa.
O tio chegou e a casa era justo a da esquina. Agora acho uma pena não ter fotografado a casa inteira. Uma casa com quatro quartos, uma sala de estar, uma de tv, uma cozinha americana, e ainda um quiosque pequeno com churrasqueira nos fundos. Gostei do lugar. Muito limpo e aconchegante. O teto da sala de estar era alto, naquele estilo de madeira a vista que acompanha o desenho do telhado. Um sofá extremamente aconchegante, uma mesa e umas poltronas com estilo deixavam o ambiente muito agradável. Havia uma janela de chão a teto na frente da casa que dava vista a distância para o mar, graças ao vão de um terreno vazio do outro lado da rua.
Mal chegamos e o fogo estava pronto, o primeiro churrasco de uns tantos que seguiram, regados a algumas palavras incompreensíveis, piscolas, poncho de pêssego e cervejas. Adorei o poncho.

Resgate

Nessa época o pessoal anda preocupado com a bebida e com a comida. Preocupados de verdade se realmente vão ter o suficiente, por que o momento é de festa, é alegria da beberragem. Quem menos se preocupa são as crianças, canso de observa-las pelas ruas com suas pipas chilenas. É uma brincadeira de adulto, até nós compramos as nossas, prontas, de plástico, dois mil pesos. Ainda não consegui subir a pipa, talvez por que não tentei.
O vento é sempre forte nos litorais, foi o que me pareceu. A uns anos atrás o vento era tão eficiente quanto agora, entretanto não recordo que seja tão frio. Nos dispomos na calçada, a querida Sexóloga correu um pouco mais para frente e soltou a pipa no ar enquanto o Vizinho manobrou a linha em movimentos ritmados, cuidando o quanto largava de linha e acompanhando o trajeto que ia fazendo. Plástico colorido no ar ia pouco a pouco subindo. No meu ângulo de visão os fios de luz já eram um problema e inevitavelmente imaginei o fio tocando o cabo de tensão e o Vizinho brilhando aparecendo ossos para logo em seguida retornar a carne de forma chamuscada, como um bom desenho animado.
Acabou subindo e subindo, alegria. John se apoderou do carretel e começou a puxar um pouco o brinquedo. Talvez seja questão de mão, um jeitinho para puxar o suficiente ou ter um pouco mais de carinho com o bicho. Em instantes estava como um touro brabo voando, brigando para sair da linha, era círculos fechados em torno da linha, louco ele ia descendo como um helicóptero com falha mecânica. Escutei o zunido da aeronave caindo por trás de uma casa enquanto os pés corriam para fazer o resgate.
O fio que indicava o caminho era branco e se perdia olhando contra as nuvens floquinhos do céu, dei a volta na casa, não havia portão nem cerca nem ninguém. Estava vazia e havia uma curiosa piscina para crianças que certamente a água não alcançaria nem no meio da coxa. Piscina de fibra desse tamanho, que coisa engraçada. Estava vazia e a pipa não estava dentro, nem ao redor.
Era um pequeno chalé de duas cabanas pequenas que se posicionavam diagonalmente uma a outra. Talvez esteja entre elas. Não. Também não. O fio desaparecera. A Sexóloga apareceu preocupada e curiosa, tampouco avistou a aeronave. Voltando observamos o fio contra o céu num azul perfeito, agradável aos olhos protegidos pelas lentes de aviador. Aqui!
Muro de uns dois metros, pré-moldado em concreto. Perigo de se pular pelo meio com chapas tão finas, pois bem, usei um dos pilares e com facilidade saltei para o outro lado num terreno baldio com vegetação tropical seca. Algumas moitas, algumas coisas com espinhos, mas foi fácil chegar até ela. O arbusto era baixo e foi fácil agarrar a pipa. Cortada a linha e desmontado levei a ave abatida em meus dentes para facilitar o pulo de retorno. A Sexóloga aliviada pelo seu brinquedo estava faceira, aprontou uma pequena escada com paus para descer para o outro lado, não era necessário, mas ela queria ajudar de alguma forma.
As mãos meio rachadas, um pequeno esfolão próximo ao cotovelo e o pó de concreto nas mãos e braços. Dever cumprido, satisfação.

Antes de vomitar

Primeiro a parte chata de arrumar o local, antes de buscar o ordenador para repousa-lo sobre meu colo. Aquele cheiro de meia usada o dia todo contaminou o lugar, me revoltei e lavei com exclusividade os pés. Gostei disso, se houvesse um banco minimamente adequado, lavar os pés seria algo bastante prazeroso e confortável. A água inicialmente é um gelo e arrepia, machuca a pele, de pouco, os dedos passam a adorá-la. Por entre eles escorre água com um pouco de espuma feita com sabonete com um quarto de creme hidratante. Que viadagem. Igual, os pés na água escorrendo, é algo no mínimo perfeito. Vou lavar-la os pés a próxima vez. O feio e o bonito, não por nada, mas para que ela sinta isso, relaxe, que possa sentir prazer pelos pés.
O mate me espera no criado-mudo vestido de whisky.

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Os dias seguem os mesmo, começando com sol no oriente e seguinto al poniente. Muita gente me aparece, me saluda, são vários e vários como estás que respondo educadamente com um bien, y tu? É mentira. É pura educação. A parte boa é que muitas vezes me ocupo com essas coisas e acabo ficando legal, quer dizer, consigo distrair a cabeça um pouco, distrair o peito. Saudade do risco.

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A internet para, de repente vejo que talvez tenha tempo de acompanhar algumas poucas novidades. É como se o mundo deixasse de girar por um instante. Em seguida volta com atrasado e gira veloz para compensar o tempo parado.

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Os insights que todo mundo têm, ou quem sabe, o medo que todos nós temos de realmente compreender alguma coisa, vem e vai, volta. Era na praia, acompanhado pelo mar gélido e um vento que parecia minuano soprando nos cabelos um gelo que me faz sentir o solitary man do Cash.
Gosto disso, quieto e sozinho é perfeito as vezes, é bom. O calor de quem se aproxima em seguida é maior, o gosto de ter uma conversa sem efeito nenhum, apenas entretenimento, é o efeito de um período diferente, no final é isso, oscilação. Osciloscarlos.

quarta-feira, setembro 5

violetas são negras

Tem aqueles dias que tudo que tu quer é uma voz suave nos ouvidos, umas cordas de violão vibrando em harmonia e seja quente ou frio, um tempo ali, lagarteando.
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Os lagartos passam um tempo humaneando?
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O pessoal que curte aquela ideia de exterminar as sacolas plasticas, compra tudo a granel?
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hahaha
Se eu rio, então tu lagoa e nós oceano? Talvez se eu for dos sinos e tu for dos patos.
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namorada - amor = nada
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botando a calça e calçando a bota
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um suicida que falha deveria receber pena de morte como compaixão
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Considerando que tu não tem braços. Pediria carona e chamaria atenção do ônibus com a língua?
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as batatas entopem minhas veias na mesma proporção que o pacote entope os rios, logo, vamos comprar mais

domingo, setembro 2

Sábado Três e o comunismo

Pães iguais aos de ontem, sanduíches duplos de queijo e presunto barato. Novamente, o chima me acompanha, acabo levando ele para quase todo o dia, é melhor que a maioria das porcarias que poderia beber. Por alguma razão, aos poucos vou me sentindo mais velho com isso. Como se a cada copo que visse alguém bebendo, eu bebesse junto, e de alguma forma isso aos poucos me repuna. Começo a achar mais interessante uma quantidade menor de copos, uma quantidade menor de drogas. Bom, é quase oito, tenho que me aprontar com uma roupa para sujar e ja preparar uma manga curta, porque sábado provavelmente será de arto trabajo.
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E ela tem razão quando vem dizer
que eu preciso sim, de todo cuidado
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Como toda coisa, funciona através de um processo, e naturalmente, um processo que pertence ao local e que somente as pessoas sabem. Isso me lembra a TI, aquelas coisas de se anotar direitinho como tudo funciona pra não depender do pessoal. Pois é, aqui é uma empresa pequena, depende-se das pessoas.
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Infelizmente não tenho todo o conforto que queria nessa cadeira de balanço de jardim de ferro. Ela está posta aqui na minha sacada e é bastante forte e antiga. Tem estilo. Só lhe falta umas almofadas ou ao menos uma tábua por cima das tiras de ferro na parte do acento e do encosto.
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Primeiro dia de trabalho real, quer dizer, primeiro dia como garçom formal. Livro ponto de entrada e começam os processos de abertura de bar. Montar o local na rual, arrumar mesas, limpar tudo. Achei interessante que praticamente perfeita a sincronia com os clientes. Não deu dois minutos depois de tudo pronto, chegou o primeiro casal de clientes.
Várias pessoas no ambiente central, o segundo andar e os fundos estavam alugados para aniversário, ótimo, menos trabalho. Nesses casos quando alugam para aniversário todos os pedidos devem ser feitos diretamente na barra, com o homembar e se paga no ato. Mesmo com somente o ambiente central e a parte de fora para cuidar, tivemos algum movimento. Nada muito grande, mas algum movimento.
Dessa vez os copos foram deixados meio de lado, quer dizer, se pode ir lavando pouco a pouco sem muito stress.
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Começam as lições de bar. Os detalhes a se reparar, a forma de anotar a comanda, os códigos internos. Os preços e como funcionam as coisas, realmente, do lado de trás do avental. Sim, usando um avental, aqueles que ficam somente na cintura por cima das calças.
Aos poucos vai se pagando o esquema todo, é questão de repetir e repetir. Já de cara fiz alguns glichês mais clássicos. Uma, um copo quebrado, felizmente só na pia e apenas em duas partes. Simples, escorrecou, daqueles copos de vidro fino para cerveja, bateu e quebrou em dois pedaços praticamente perfeitos. O outro garçom conseguiu fazer o mesmo, mas com um copo grosso de piscola.
Na primeira, justo na primeira servida, consegui derramar a merda da batata. Sim, derramar batata? Como diabos? Eu pensei no mesmo, acontece que eram as Papas fritas Suprema. Elas recebem uns temperos adicionais conforme o cliente e uma calda de galinha por baixo. Bueno, eu ví as batatas no prato e não me dei conta que poderia haver líquido em baixo do prato, num movimento mais rápido acabou caindo um pouco na mesa. Bueno, ótimo, já tem menos coisa pra acontecer.
Não demorou e a próxima foi a de errar a comanda. Essa acho que vou errar mais vezes. O pessoal fala sempre de forma diferente, e tu precisa se virar para cachar lo que se pide. Felizmente ainda não errei a pedida, mas errei a quantidade. Eram três, anotei um. Tequila Sunrise, belo drink, belo mesmo, bonito. Três níveis de bebidas diferentes. Não comecei a fazer os copetes todavia, logo, sem mais detalhes.
O resumo foi um trabalho meio disperso. Ficar procurando o que fazer e ir fazendo. Com o detalhe de sempre fazer algo mais útil. Quer dizer, quando os copos estão vazios, ou não há pessoas, ou não há dinheiro. então de alguma foma, sempre tem cosia pra ser feita. Nem que seja trocar os cinzeiros por novos e limpos.
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Concluindo o dia, de novas experiências, foi meio sacoso. Não gosto de ficar sem fazer nada, acho péssimo. Acabei sempre zanzando por aí, procurando alguma coisa pra arrumar ou um copo pra lavar.
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Resumo

  • Um copo quebrado
  • Um casal sem seu drink
  • Um lambuso na mesa
  • Um corte no dedo
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No final de um dos aniversarios, já estava sozinho no segundo andar limpando quando chegou uma gordinha simpática e me alcansou três mil pesos na mão dizendo gracias. Lhe responsi Gracias Usted e botei faceiro o dinheiro no bolso. Isso é uma gorjeta gordaça, não tanto a guria ali, mas bem gorda, quinze reais.
No fechamento do bar contei rapidamente o que houve e se deveria deixar a gorjeta para ser repartida depois, ou se ficava pra mim. Afinal, eu realmente não parei hoje, seria justo aqueles pilas ficarem comigo, mas não. Política da casa, dividir a gorjeta. Maldito comunismo.

sábado, setembro 1

primeiros dias e a feira

A chegada foi bem rápida, nem deu tempo de pensar, já estava no bar bebendo cerveja importada e fumando coletivamente. Conheci superrapidamente as pessoas que hoje me parecem bonecos com caras nubladas em minhas lembranças. Lembro de parecer uma eternidade até poder chegar em casa pra dormir. Foi assim, casa velha, bacana. Caixas dum lado e do outro do quarto. O closet cheio de lembranças da família e alguns lixos inorgânicos. Tirei o colchão da parede e repousei-o entre minhas bagagens. Saquei o saco de dormir e pulei pra dentro, num estante estava passando o frio, e aos poucos me aquecia.
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Ainda não tinha caído a fixa quando acordei nesse outro país. Já era umas onze horas, horário de brasília, fiquei no saco até não aguentar mais o calor. Sim, o frio havia passado, o sol na janela esquentou o quarto pouco a pouco e acabou por despertar-me. Não demorou, levantou. Pra tomar o primeiro banho foi complicado, essas casas chilenas possuem todas água quente a gás, dessa forma que exige alguma habilidade para regular a temperatura da água, sem falar que qualquer toque em alguma saída de água na casa, muda a temperatura drasticamente. Demorou, mas atingiu o climax da água. Tomou-se um belo banho, demorado e quente. Poderia dormir denovo ali. Sensação boa.
Não demorou e acabou por conhecer a dona da casa e sua empregada. Alguma conversinha, ainda o ouvido doendo para se acostumar com as palavras, quer dizer, para encontrar as palavras. Era quinta feira, jueves. Não demorou e foram para o bar, o sócio, Matiaz estava lá, a primeira impressão é de um cara muito bacana. Nas semanas seguintes confirmei a impressão.
Pintamos o chão da parte dos fundos do bar, e mais perto da noite colamos uma parte do carpete-gramado-instético que eles botaram por lá. Trabalho bom, pro nível do bar, ótimo. Nova cara para aqueles lados.
A noite era praticamente ficar por ali e dormir um pouco em casa, por volta das quatro da manhã. Muita cerveja e bebidas para todos. Me regulei e tomei pouco mais de três cervejas. A dormida foi ótima, no mesmo saco, cobertor e uns dois travesseiros velhos. Tranquilo, eu gosto de dormir no chão.
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Acordei tranquilo, tentei manter alguma ordem em minhas malas e fui ver o cara do quarto do lado. Aparentemente uma viajem surgia, uma viajem para uma feira de cerveja artesanal. Foi um convite e já senti como um teste. Na real, sinto que tudo é bastante um teste. Meio que pra tudo, idioma, segurança pessoal, comunicação, negócios, relacionamento, etc. Bom, não demorou e saímos de casa com as malas prontas. Mochila para três dias, disse o Juan. Bueno, ajeitei o que podia. Logo me arrependi de não ter trazido shampo, sabonete e todas essas coisas de cuidado pessoal dentro da mala. Tanto na mala pro país, quanto na mala de três dias. Mala pronta, tudo no carro, fomos buscar mais três caras. Muita animação e conversas altíssimas. Eles adoram gritar, é isso o que parece. Adoram.
A noite veio chegando enquanto nos encaminhamos para o norte do chile numa RAV4 2012, uma caminhonete Toyota bem boa, tipo carro de mãe. Não demorou e fizeram troca de motorista. Estava louco pra dirigir, mas ainda muito cansado, mesmo com a baderna no carro, logrei dormir um pouco, deveria ser uma meia noite quando acordo com um novo cd de músicas caribenhas.
Paramos em Los Vilos, uma cidade produtora de coisa nenhuma, servindo apenas como abastecimento para tragos de viajem. Compraram suas coisas e eu me compre quatro cervejas. Mal sabia eu que nem ia tomar nada. O pessoal animado e ficando borracho, a cabeça doendo um pouco e o cansaço batendo forte. Tentei dormir o resto do caminho, mas no final só consegui descansar os olhos e ficar como um pêndulo em cada curva. Não vi muito das ruas, fazia frio e muita neblina em certos trechos.
Quando nos aproximamos, o pessoal meio que se despertou, já havia passado a euforia do carrete e já estavam por comer alguma coisa, devia ser umas quatro da madrugada quando finalmente chegamos na casa de um amigo de alguém. Alojamento para todos, alegria. mal entramos e beleza, não tem cama para todo mundo. Felizmente dois levaram sacos de dormir e por consequencia ficaram na sala cada um num sofá relativamente pequeno, considerando suas guatonas.
A maioria das casas aqui tem um ar de velho, sujo e pó. Acho que o clima faz isso acontecer, ou talvez todo mundo aqui simplesmente não liga muito pra isso. Bom, eu sou chato para essas coisas e cada canto de cada lugar normalmente é bem sujo, aqui, só se limpam os meios, os cantos permanecem imundos.
Cama velha, roupa de cama com cheirinho de mofo recém nascido. Delícia de sono, é bom dormir numa cama.
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O primeiro dia foi resumidamente péssimo. A feira deveria começar as quatro da tarde, entretando nesse horário não tinha nem luz nos estandes. Foi bastante trabalhoso tirar tudo do caminhão, ajudei o máximo que pude, prefiro fazer alguma coisa que ficar parado.
Como não suporto ficar parado e já que os organizadores da feira fizeram merda cancelando as coisas sem avisar os cervejeiros, tudo foi montado tardiamente enquanto o público tentava entrar e os pequenos seguranças com coletes amarelo/verde fosforescente os continham.
A abertura dos portões praticamente não mudou nada, no primeiro dia não vendemos muita coisa e era um puro tédio ficar por ali. O pessoal atrás dos balcões normalmente ia de pouco a pouco tragando mais cerveja e pouco a pouco más curados.
Meu espanhol mal saía da boca e quando saía, saía mal e gaguejando palavras utilizando vogais como tempo para pensar. Ahhhh... Ãmmmm.... é..... és....
Dia bastante trabalhoso, montar tudo, limpar as coisas, um pouco antes de colocar. Um pouco, visto que limpeza não é nem de longe uma preocupação. Eu sei feira tem que ser bem prático, bem rápido, mas bah, é demais. É bastante cansativo conversar, requer muito exforço, escutar tudo e interpretar na mesma língua e ainda responder.
Nossos compadres terminaram o dia reclamando horrores e igualmente bêbados. Me mantive sereno, bebi bastante mas de pouco a pouco, asi que me quede bien no más. Só pra variar, eles queriam sair de noite antes de ir pra casa, eu entendo, amigos bebidas, amigos. Por alguma razão acho esses caras meio infantis, será aquele velho antiquado falando? Bom, eu fiquei faceiro em minha cama, que dessa vez estava com roupas de cama novas e cheirando a algum sabão barato. Queria só descansar e ainda não estou muito a vontade para dar essas saídas e realmente me divertir entre eles. Esses primeiros dias estava bastante tonto, informação demasiada e correria.
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O sábado foi ótimo para as vendas. Bastante gente, conheci alguns estrangeiros da colombia bem bacanas, uma sueca/alemã, uns caras dos states, inclusive uma guria de porto que estuda enredaderas, haha.
No primeiro dia de feira havia almoçado no porto, onde fica vários mercadinhos, um ao lado do outro. Num deles havia uma escadinha estreita a qual levava a um ambiente melhor, sem fedor de peixe. Vista do lugar era bem feia se pensasse nas proximidades, tudo bem sujo e velho, telhados baixos e cheio de coco de gaivota. Belos tons de branco e cinza. Imagino que um bom marinheiro deva ser assim, sem aseio mesmo. Nesse segundo dia, acabamos comento pastel, estavam ótimos foram trocados por cerveja com os guriz do outro lado da feira que os vendiam loucamente.
Servindo altos chopes, sempre chamando gente e tentando vender e vender e vender, mas mesmo com um dia bom, não foi nada lá muito incrível, segundo o John.
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O terceiro e último dia era um domingo belíssimo, um sol que brigava com o vento tentando esquentar as coisas enquanto o vento seguia soprando uma boa brisa vinda do mar. A casa era uma desordem completa, somente homens e baderneiros, era de se esperar. Inclusive, antes de sairmos, a velha dona da casa chegou braba e largou a voz em cima de John e eu.
- Porque pra mim, eram pessoas que não bebiam e nem fumavam, que não iam deixar minha casa nesse estado. Fiquei apavorada quando cheguei aqui e ví essa baderna toda. Então é o seguinte, fui obrigada a chamar uma tia para limpar as coisas e vou ter que adicionar cinco mil pesos a mais no valor para poderem ficar, pois dessa forma não é possível!
Nem discutimos nada, a velha certamente compraria briga e acabaríamos tendo que sair e procurar outro lugar, e tão barato, talvez fosse complicado. Nem relutamos e decidimos por todos sem pestanejar muito. Cinco mil pesos mais e pronto.
Último dia estava aquela coisa já chata. Enjoado do cenário, de repetir as mesmas coisas. Sem falar que no começo a tal da máquina simplesmente parou de funcionar e nos deixou na mão. Por alguma razão divina ela voltou a movimentar a água por conta própria. O movimento era fraco e trabalho mesmo foi só no final da feira. Desmontar tudo e carregar o caminhão.
Havia dois caras que chegaram de intrometidos quando estávamos descarregando o caminhão no primeiro dia, eles simplesmente entraram de penetras e começaram a nos ajudar a descarregar e carregaram as coisas para todos os lados. Consequencia disso, ganharam muita cerveja de todos e muitos amigos por conta da ação. Para subir as coisas para o caminhão, os cervejeiros se uniram numa vaquinha para paga-los para subirem os barris. Los barchenetas foram de grande ajuda, e assim como eu e os mais ativos, trabalharam bastante carregando tudo que é coisa de volta para o caminhão. Subir os barris cheios é um inferno. Acho que são 64 quilos, cada barril e não é muto fácil de manuseá-los.
Final do trabalho renderam alguns calos nas mãos e um orgulho de peão, além de uns trocos que nem esperava receber.
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A segunda tinha cara de domingo, tirando o movimento da cidade que declarava a atividade econômica bastante ativa. Andamos um pouco de carro pela cidade apenas para conhecer um pouco antes de ir. Fiquei no banco do carona e tirei as fotos que pude, bons lugares para se visitar.
Começamos a viajem relativamente tarde, era umas três ou quatro horas quando saímos de Coquimbo em direção a santiago. Todo mundo bastante cansado do trabalho, de dormir tarde e bêbado, de acordar cedo e dores de cabeça, talvez só eu dentro do carro não tivesse esse problema de dores de cabeça, os outros se  drogavam logo pela manhã. O Oscar (haha) estava dirigindo, era um tiozão que foi piloto das forças aéreas do chile, e fez um pouco de cada coisa e visitou muita coisa em sua vida. Devia ter uns cinquenta ou sessenta anos de idade e era bastante ativo. Além de ser fumante adicto.
A volta foi assim de lúcida, tirando fotos e observando os lugares. Logo no começo da viajem, John reclamava do carro que estava puxando para um lado. Haviam placas indicando que havia vento pelas proximidades e várias bandeiras brancas postas nos dois lados da pista esticadas como corda de violina, mostravam a intensidade do vento.
Paramos três vezes, uma para o Oscar fumar. Era um mirador, aproveitei para tirar umas fotos, inclusive uma panorâmica que acho que ficou péssima, perto do que tenho na cabeça. Outra vez paramos para comprar uns sucos e coisas artesanais que se vendiam por ali. Detalhe, artesanais mas quando cheguei e pensei que tudo seria escrito a mão, me dei conta que não eram artesanais coisa nenhuma, eram apenas produtos típicos da região mas igual de industrializados. Comprei uma espécie de refrigerante de maçã. Gostei, mas enjoa rápido. Última parada antes das casas do pessoal foi num negócio onde se vendiam dulces de la ligua, ou algo assim. Eram doces de uns seis tipos que eram tradicionais no chile. Comprei um saco cheio de todos os tipos deles por dois mil pesos, equivalente a dez reais. Interessante que todos os caras e tias por ali com cestos grandes vendiam os mesmo doces... Cartel?
Chegamos em casa bastante tarde, depois de deixar todos eles por seus lados. Ainda nem chegamos em casa, já estávamos no bar, e pra variar, bebendo mais umas que outras. Sim, a cerveja é boa. Não demorou e cansaço nos alcansou, acabamos em casa. Dormi como uma pedra, entre caixas e malas e uma cama sem lastro.
Parece que ainda não cheguei, ainda ando viajando.

muitos copos

Minha boca parece que está menor. Fui morder um pão com toda a fome possível, depois de uma noitada de trabalho lavando copos e descobri limites nos lábios, esticando-se ao máximo para abocanhar um belo pedaço de pão, maionese, presunto e queijo.
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O bar estava em chamas e por ironia, havia ocorrido um problema no programa de finanças do bar. Pensei primeiro em arruma-lo, imagina que um estouro de integer no banco de dados de não sei quantos anos provavelmente seria a resposta.
Mal botei o pé dentro do bar e cumprimentei os caras. Correria, tumulto de gente pedindo tragos, gente servindo tragos e etc. Ficou claro que os copos estavam acabando, olhei em baixo do armário e haviam cinco. Isso dos copos pequenos, dos grandes haviam dois. Logo saíram os dois em sincronia enquanto eu terminava de lavar mais um ou outro.
Olhando agora, minhas mãos estão mais secas, muita água fria e detergente. Trabalho feminino hein. Mas por mais que minhas costas estejam latejando, eu ainda prefiro sentar-me um pouco tranquilo antes de finalmente descansar. É como segurar o xixi um pouco mais antes de ir ao banheiro apenas para ter uma sensação de alívio maior.
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Botei duas fatias de queijo e duas de presento no pão. Está ótimo. Adoro esses pães simples e rápido. Eu o torraria se soubesse se existe uma torradeira na casa. É daqueles tipo halulla, ou algo assim. O pão é um disco massudo quase sólido, é bom.
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Já deu pra sentir o início das coisas. Nada como por a mão na massa/copos para ter noção do que é o trabalho. De cara já sei, é bastante trabalho para o corpo. Visto que a cabeça quase não está ali enquanto trabalho, tamanho a facilidade que tenho para entrar em meus devaneios enquanto faço o que preciso.
É corrido, precisa ser. Existem momento piores que outros e outros ainda piores. Tomara que começando desde cedo, não deixe isso ficar tão grave.
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De longe já se nota que existe uma máfia da piscola dentro do bar. Os atuais trabalhadores são naturalmente diferentes, e claro, para eles, independente do correr eu sempre serei visto como um dedo duro ou algo assim. Bom, pouco me importa com aqueles fakastrçoies. Me empurram mais cerveja e mais cigarro. É um saco ficar recusando o tempo todo, mas continuo nessa. O pessoal acha que eu sou viado por causa disso, o que é bem ao contrario neh, fico super galanteador com um cigarro na mão e um pé na parede, estilo James Dean. Dean Moriarty. Só que lavo copos. Muitos copos, aliás, devo ter lavados todos os copos do bar umas oito vezes hoje.

segunda-feira, agosto 27

Ironia natural, as mortes e as vidas

Estava guardado. Ema série, um conjuntinho de preto básico bem macabro e duro. Aos que não querem se ferir com as lembranças dos que se foram, parem aqui.
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É no mínimo irônico que o tipo de sangue que seja doador universal seja um receptor único. É como se a natureza quisesse exterminar os bonzinhos, nessas horas faz sentido um deus qualquer, daqueles sempre temidos e com lógicas bizarras.
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Não é de se imaginar o que passa pelo peito de quem realmente sofre com essas situações
Ter dentro de casa um momento de vida ou morte, a definição clara do jogo, o continue pro game over.
São turbilhões de possibilidades, do chimarrão que se tomaria, a opinião que se ganha durante uma janta.
Quem sabe seja justamente aquelas horas de arrependimento por não ter dado o devido respeito, não ter dado a atenção necessária e aproveitado o momento que se viveu ali, no tempo que se compartilhou junto da pessoal querida.
É, uma coisa que vem pesando no lombo, é a forma com que gastamos nosso tempo. Jogar tudo que é coisa é legal, mas não pode ser tudo, não pode ser o centro. o centro parece que deve ser o ponto em que todos se envolvem, em que as vidas são unidas em relações que como lações de um grande presente, se entregam uns aos outros em cada vivência.
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Destempo, disse a pequena
Talvez esse seja o melhor termo, aquela coisa de não ter dito, não ter feito, o pior arrependimento, aquele de não ter feito algo por alguma falta de coragem, por alguma outra razão que no fundo se sabe, é uma desculpa.
Mexam-se! Arrisquem!
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Agora, temos um a menos na família, um cara grande e gordo que deixou um buraco proporcional em nossos corações. Sim, senti falta dele, por mais que o encontrasse tão burro para tantas coisas, acho que sentia de qualquer forma uma natureza boa no fundo daquele poço de banha. Ok, ele era bem gordinho,  talvez deva falar menos disso.
O pouco que soube dele, foi o bastante para sentir o quanto uma pessoa tem de histórias a contar de suas vidas. É aquela coisa de valorizar cada um dos caminhos que cada um traça.
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Veio sorrateira, aos poucos se aproximava
Ela ficou ao nosso lado, durante alguns anos
Sabíamos, sentíamos de alguma forma, um certo receio
Não se pode ignorar que algo ocorria
Algo passava por aquelas vidas e deixava mal cheiro
Não eram seus flatos ediondos
Espreitando por entre os negócios, por entre dinheiro e mulheres?
Chegou em balaços, nas costas
Na cabeça foram dois
Lá estava o nosso querido saquinho de banha
Nunca é bonito, nunca pode ser, isso sempre é horrível
São revoltas que aparecem dentro do estômago
Visível destruição causada nos peitos dos queridos
Assim veio, numa tarde quase quente a encerrar uma história
Foi um ponto e vírgulo aos que o conheciam, uma falta de ar
Na realidade precisamos de esperanças, pouco importa o resto
Uns ficam com seus deuses, com suas crenças,
Hoje, acho melhor pensar que o pequeno gordinho que ele recém tinha criado,
Seja a esperança dos amados
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Morrer é um negócio muito fácil. Parando pra analisar a quantidade de coisas que se poderia acontecer todos os dias, diria que é incrível ter tanta gente viva. Na realidade é meio louco pensar dessa forma retrancada, buscando aqueles clássicos argumentos de que somos frágeis. Quem sabe só pensamos assim porque não precisamos mais ser tão fortes, de uma forma, de outra forma. Tudo tão mais fácil, tudo tão mais simples.
Um velho chamado Don Juan, hoje mesmo falou comigo. Contou brevemente uns anos de sua história. Como estava na argentina trabalhando como garçom. Como se transformou em carpinteiro, como depois se tornou mestre de verdade em carpintaria. O quanto fez com seu tempo, o tanto que conheceu, viajou. Cada curto capítulo, notei uma coisa em comum. Ele simplesmente parava numa vírgula e contava:
", nesse tempo, pensava em fazer isso, estava interessado ..."
Era só isso, ele estava afim de fazer certas coisas e tudo acabava acontecendo como ele queria, a vida dele foi montada no que ele queria fazer em cada momento da vida, e aos poucos foi de fato fazendo, pouco a pouco, ano a ano. O velho deve ter hoje uns 89 anos, mais são que eu, mais seguro de sí que qualquer cara que conheço. Sábio, tranquilo. Confesso, gosto dessa tranquilidade, dessa história, mas bueno, melhor seguir na minha antes que apodreça um jovem ansioso. Mas isso seria outra história.
Bueno, no final dos curtos capítulos, me dei conta do quão se pode resumir sua história, e como os anos passam rápido nos lábios de um velho que fala devagar. Quase podia ver as suas lembranças passando diante de mim quando se apegava a certos detalhes, as conversas que mudaram sua vida, provavelmente são reproduzidas fielmente ao que passou.
O velho mijava sangue a poucos dias, disse que estava menstruado e riu bastante. Agora, são e com saúde pra vender.
A morte ainda o espera, inevitavelmente, mas o cara é tão agarrado a vida que quase posso pensar que antes dele, vou eu.
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Dentre vivos e mortos, todos morreram.

quinta-feira, agosto 23

uma semana de atraso

Infelizmente com muito atraso que venho escrever por estas bandas, tanto digitais quanto principalmente locais mesmo. Agora deve fazer uns 0º ali fora, vejo o quarto bagunçado com minhas malas ainda no chão, a cuia ainda com a erva do mate que tomai durante a noite no bar, as cortinas bem abertas como gosto de ver a paisagem que me agranda durante a manhã. É o primeiro dia que durmo como gente, comprei hoje um conjunto de lençois e finalmente não preciso usar meu saco de dormir. Não que fosse um problema, gosto dele também. Mas parece que agora está mais com cara de meu quarto. Vamos as minhas visões, a partida, aos dias que seguiram.

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Aquela noite havia sido boa, era de alguma forma uma prévia da saudade, uma vontade de fazer melhor e direito cada detalhe. Bom, foi uma noite de bom sono, de qualquer forma. Um despertar delicioso, ao lado de alguém que se ama, é um negócio incrível, a gente se sente alegre e tranquilo, mistura-se outros sentimentos mais, e no final das contas é tudo muito bom.
Deixei ela no trabalho meio que correndo, queria dar uma última voltinha no fuscão, mas era tarde. A corrida pela manhã ainda para cuidar de minhas coisas, e ainda antes de sair aquela velha raiva por tratar-se de uma espécie de problema com minha irmã. Nesse ponto, fico brabo por meus velhos, que não mudam e seguem iguais como velhas pedras. Bom que posso fazer, é melhor ir embora nesses casos, para evitar colisões. Bom, assim foi, buscando ela no trabalho, claramente a família agitada, ansiosa, louca.
Estivemos por ali, avião, comemos fora, ajustando as coisas, aquela velha preocupação da família, aquela dificuldade que se tem de sair do ninho. São boas aves, mas não nos deixam voar, nem de avião, de maneira independente, de alguma forma, a simples presença já indica o estilo de criação e comportamento deles. Gosto disso, mas não mais. Hora de partir, pular do ninho e tentar voar antes de morrer numa poça de sangue no chão.
Aqui, antes do voô, antes de ficar realmente sozinho, vi aquela situação aos poucos acontecendo. A cena do filme, a mocinha chorando. Tão linda, não queria que borrasse sua maquiagem. Não chorou, não houve cena. Fiquei feliz com isso, sabia que ela estava mentindo, mas queria pensar que ela estava tranquilíssima e segura com tudo. Não que não estivesse também, mas é diferente pensar nisso sem a parte dura que se sente.
Senti o nó no peito e passei pelo arco detector de metais. Fiquei mareado. Buscando enxergar os rostos de quem estava ali, dando instruções de como proceder para a próxima sala, quase como uma quest. De alguma forma, um teste? Não sei. Fiquei tonto, senti o mundo girando por instantes. Essa é bem a verdade, a criança perdida. Os últimos contatos por telefone... me senti chorando por dentro, que mocinha. Acabei me apaixonando por ela. Fazer o que? Não sei se é possível escolher essas coisas.
A primeira parte foi aquela sala de espera inicial, ainda em porto. Muita gente conversando alto, umas pessoas em pé, muitas sentadas. Ali uma primeira espera, até que finalmente se chamaram para o tão portão 1. Não sei porque dão nome de portão a uma coisa dessas. Bom, ali havia a organização de ficar tais números de cadeira do lado esquerdo e tais número do lado direito. A moça que avisou pelo interfone não soube pronunciar muito claramente e os velhos acabaram se confundindo. Fiquei ali, e no final entrei, tudo certo, avião não demorou a decolar. Conheci uma velha bacana, engenheira de não sei o que que estava indo a bariloche. Era velha mesmo, feia e tal, era daquele tipo que tinha todo o medo do mundo com turbulências, enquanto eu ria, ela chorava. Muito engraçado.
Na argentina chegamos a tempo, tudo certo. O capitão dessa tal aerolíneas não falava muito, era bem objetivo e nada claro, pouco que ele falava, menos ainda se entendia, independente do idioma. Quando descemos do avião na argentina um onibus nos esperava abaixo. Descemos numas escadas ao lado do avião e entramos nesse meio velho meio sujo onibus. Não demorou e a antipatia de uns se aflorou quando ficamos em mais uma fila esperando pelo representante da policia internacional para seguir para a sala de espera. Achei engraçado que depois de antes a mais de tres mil pés de altitude, com uma velocidade espantosa, ainda tivemos que subir quatro lances de escadas para chegar a sala de espera internacional, ai aonde fica o duty free e um café extremamente caro. Bom, cadeira, jogo, comida na mochila, jogo, cadeira. E finalmente ao chile.
O segundo avião era minúsculo. Parecia um onibus, de verdade, um airbus. Mesma situação anterior, o voo tranquilo, não conheci ninguém, só tomei uns quatro cafés no avião. Não demorou e me vi saindo por quase as mesmas portas e chegando ao mesmo lugar no chile. Se desce umas escadas da parte internacional e se vai para a policia de imigração. Boas memórias, a alegria infla o peito, é uma aventura nova, um conto novo. Mais um capítulo da vida aparecendo na minha frente.
O poema acabou no momento que fui buscar as malas, de longe encontrei as minhas, completamente diferentes das outras malas pretas, exatamente como eu havia afirmado, mas fazer o que? Velhos são velhos.
Um abraço no primo e um beijo na bochecha de sua amada. Uma saudação, uma corridinha até o carro. Mal falei qualquer coisa sobre a viajem e quando me dei conta chegamos no bar. Sim, simples, fácil, de cara eu já gostei. Comprimentei um par de pessoas que visivelmente não gostaram de mim, pensei imediatamente, claro, o dedo duro, o cara que serve apenas para contar aos patrões o que eles fazem. Que se foda, não sou nada disso, mesmo que seja, nunca faria dessa forma crua.
Ao fundo do bar uma porta, dentro uma especie de comodo, ali do lado uma churrasqueira pequena onde alguem fazia uma carne na grelha. Carne viva, visivelmente mal passada. Comi um pouco e conversei um pouco, já estava vendo o quanto se enferruja uma orelha.
Me doia a cabeça quando cheguei no quarto. O cheio de velho do closet, o colchao escorado na parede. Larguei minhas malas, já era quatro ou cinco da manhã, e sentia que isso acabaria sendo mais seguido do que o imaginado. Num saco de dormir, e uma coberta grossa por cima disso, junto de tres travesseiros velhos marcados de baba na fronha, durmi, como uma pedra e felizmente não pensei em mais nada. O outro dia chegava.

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Só aquela saudade da pequena, dentro do saco de dormir aquela coisa, de que poderíamos, de alguma forma ficar ali, juntos no saco. Acho que lembrei ou inventei alguma história com saco de dormir e fiquei com ciúmes por absolutamente nada. Fiquei ali, esperando dormir... fiquei. Dormi. No colchão, no chão no saco. Fazia muito frio, mas estava bom, sentir-se só. Também é bom, de vez em quando.

quarta-feira, agosto 1

Bom te ver

Bom te ver assim sem aquele batom forte
Naturalmente bela, sem os adornos da atualidade
Bueno, penso yo
Aquela ótima companhia, desde a saída do trabalho
Coloca a música no carro, aí nós vamos, aí, você vai...
Adoro te ver assim, ao vivo
Tem uma tristeza natural na boca,
Ela a puxa pelas laterais e desce os lábios
Tão depressa me aponta um beijo, e os dentes a mostra
Um sorriso, aquele gostoso de ver, traz alegria, o joy do dia
Vira esse pescoço aqui, me dê outro beijo
Para com essa mão chata, futricando nos pontos da juventude que lhe mancham a cara
Me faz bem pras vista, minha querida
OK, eu adoro aquele batom forte também, vermelho rosa roxo marrom estranho
Nem ligo na cor, na real é bem simples, é bom te ver

terça-feira, julho 31

Lareira

Até tarde no café, a droga, a solução, a companhia
Companhia faltava por ali, nas almohadas ao lado
A pouco estava deitada, conchinha, juntinha
Eram dois, dois travesseiros, dois corpos esticados
Foi dormir assim mesmo, não tinha como conversar com a química
O corpo ordenou que dormisse, foi a mente que descansou
O sonho não veio, ele acontece quando ela está junto
O celular despertando, louco vibrante, um galo digital
Ele vira pro lado e sobra espaço, mesmo gordo, sobra
Vem a falta, o lado do colchão vazio e frio
O inverno que ele adora, e a falta que ela faz
Pequena magrinha guriazinha mulherzinha
Desde os pés, o feio e o bonito, as curvas todas quentes
Ombros leves, respiração serena num ar aconchegante
Volta e pensa nas coxas, gravetinhos que lhe ardem
Sorri e pensa
Lareirinha

As vírgulas

Essas viagens que acabam surgindo na mente, são uma vírgula de sentimentos que distraem um pouco a cabeça para aliviar o peito. Essa última da luz, o detalhe de algumas coisas, o sentimento e forma que o vento dá as coisas, pausas, um tempinho...
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De verdade sabemos, o tic-tac batendo
O relógio é marcado nos goles da cerveja que escorrem pela garganta
É saliva do beijo molhado, aqueles lábios coloridos tão amados
O cheiro que fica na lembrança do sábado, do sol, do chima
Tudo sendo sempre uma saudade antecipada,
buscando sempre uma forma de esquecer por agora,
esquecer agora tudo o que lembrarei o tempo inteiro depois.

Violência

A violência é essencial.
Antes de mais nada a competição natural
Em seguida, os povos, suas nascentes.
Por consequência, suas culturas.
Em resultado natural da cultura, suas crianças, que perecerão naturalmente.
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É resumidamente a conclusão que chego. A violência é essencial para a perpetuação da espécie, dos mais fortes. A dominação só pode ser viabilizada através de violência, seja ela social, cultural ou realmente física.
Povo que não tem virtude acaba por ser escravo
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Pensa só, no começo é essa coisa de competição natural, aquela história de natureza, essas coisas, são seres que competem pela sobrevivência, cada uma de sua forma. Quando se entra em conflito, se busca uma alternativa para ou se vencer o conflito ou para deixar de ser necessário participar dele. Aí entra naquela história de adaptação. Mas o fato é que nós não temos capacidade suficiente a evitar os conflitos. Não, isso não acontece conosco, com os humanos. Temos por padrão o comportamento individualista cada vez mais forte, cada um com bens mais fodas que os outros e por consequência a violência rola solta, há de rolar mesmo. Dentro do sistema precisamos lutar pela vida, quer dizer, como diz a amiga da Mafalda, precisamos dar a vida trabalhando para ganhar a vida no final das contas.
Olha que interessante isso, temos como padrão a competição e nada melhor que violência para resolver nossos conflitos. Todos eles.

Um país de bundinhas. Todos os velhos países tiveram muitos anos de história, tiveram conflitos internos, guerras e lutas. Momentos realmente problemáticos, famílias com histórias longas, brasões forjados em muita dor e sofrimento, perdas, competições absurdas por terras ou conflitos de crenças, de cores, de tangas. Seja o que for, foram conflitos normalmente resolvidos com violência. Eu acho que é fácil de entender, não é que alguém seja burro, mas é necessário muito altruísmo para resolver isso de outra forma, esse altruísmo deve habitar a mente de todos os envolvidos nesses conflitos, coisa que naturalmente não acontece. O que realmente povoa os corações é a raiva, a velocidade que sobe a cabeça e toma conta das ações. Isso coordena os músculos, as balas.
Um país como o nosso tem um bando de bundinhas, incapazes de se revoltarem de forma impactante. Todos tem medo de tudo, mais medo de se machucar do que de qualquer outra coisa. Não queremos heróis, mas era bom que tivesse gente com mais culhões por aí. Capazes de aguentar torturas para o bem de outras tantas pessoas, isso sim é incrível.
Existem torturas como por exemplo o trabalho escravo de um professor, a responsabilidade de mostrar o caminho para novos espíritos sem ganhar reconhecimento adequado nem mesmo equipamento adequado. Ou um pedreiro honesto que ganha miséria para destruir sua saúde e construir o sonho material dos outros.
Não entendo como todos se sentem tão incapazes e não fazem nada, não movem uma palha quando se trata de ser violento com o que não presta. No primeiro instante em que se encontram problemas, é o primeiro instante em que se deveriam cerrar os punhos e partir para o embate da solução. Sem remédios, imediatamente a solução.
Por favor, sejam mais violentos, sejam mais reativos e energéticos.

Cada um com sua vida


normalmente ficava mais atucanado quando ela dormia
quase toda noite, ela dormia antes que eu
consequência é que eu ficava a olhar tv ou brincar no computador
isso quando não simplesmente virava para o lado
ainda desperto ficava olhando o espelho do armário na minha frente
dai vinha isso em mente, de continuar na mentira
quando ela deitava no sofá era pior.
a enxergava inteira, me sentia coberto de nojo
um cobertor de mentira, grudento.
verde e com espinhos que só surgem quando se precisa de calor.
pensando que não merecia, que não estava certo
era mais uma dessas decisões de vida
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de uma forma ou de outra acabei encontrando uma saída
literalmente uma saída, uma forma de que tudo pudesse continuar
cada um com sua vida

terça-feira, junho 26

Incandescente

Tem alguma coisa na luz amarela, essa meio âmbar, que me trás conforto e alívio. Tipo cor de uma manhã de outono bem ensolarada que aos poucos se mostra um dia ameno e aconchegante. Penso numa poltrona com braços altos e bem fofa, um chima, a televisão ligada, uma boa companhia, livro aberto, jornal de ontem pela metade. Um dia assim, daqueles amarelos quentes, ares de conversas na rua, caminhando ou na cadeira de praia.
Penso até em dizer, nesses momentos loucos: "ah, foda-se os leds"

terça-feira, junho 19

Montanha Chilena

As vezes se deseja que as oportunidades não apareçam. O comodismo. Não. Não se trata de comodismo, mas de certas áreas das coisas que parecem cada vez mais se encaixar e dar certo, como se fosse um caminho perfeito já traçado aguardando que o tempo passe.
No meio do caminho tinha uma pedra. Não exatamente uma pedra, tinha uma escada? Um atalho? Tinha uma bifurcação, parece, talvez aqueles caminhos que se seguem quase juntos um do outros, separados por um pequeno trecho de terra que faz a distinção de cada estrada.
São coisas que acabam por acontecer, e forçosamente moldarão nossas vidas de forma irreversível. Assim é todo o dia, todo o dia que se faz a mesma coisa, mas nem se nota isso durante o cotidiano, não existe uma diferença de direção, então a partir da física, se é estável, não é sentida. As curvas, as ondas e a mudança que da a sensação de que direção. Certa vez um velho disse que quando andava com seu fusca pelas ruas da cidade se forçava a andar em zigue-e-zague, de tão vazias, e ficava bem claro que eram as curvas que faziam a diversão da corrida.
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É uma coisa estranha quando acontece. Um sentimento que não se tinha memória, uma dor da saudade que ainda não chegou, mas já se está preparando para ela. Será forte, intensa e contínua. Será certo? São as mesmas perguntas quase sempre, são dúvidas que aparecem e não se faz ideia do que se está fazendo, sentimentos que aparecem e nos levam a atitudes, que nos levam a novos e velhos sentimentos.
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Aquele vazio no centro do estômago, aquele buraco no centro, a culpa, irremediável.
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A história que já ensinou algumas coisas não pode ser ignorada. Seria estúpido e ignorante se deixasse tudo de lado e seguisse repetindo seus erros com arrependimentos cada vez maiores. As decisões sem resposta certa, só com aquela coisa de quem sabe, quem sabe, talvez isso, mas e se. Não se tem previsão de nada.
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Se pensa sempre no que se poderia acontecer, eu sei que não da pra pensar demais nisso. Enquanto estamos sem sentir tudo isso é quase óbvio dizer o que devemos fazer, mas quando esse turbilhão de coisas acaba por passar no centro de nosso ser, acabamos assim, cada vez com mais dúvidas.
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Penetram vontades de se enraizar, de se fixar e fazer com que aquele sonho seja real o mais rápido possível. Aquela coisa de construir junto, aquela história que mal começamos. A história que estamos começando não pode ficar por isso. Não vai ser fácil, eu realmente sei, mas também tenho o conforto de saber que é possível. Quando li 'contigo e não abro', veio o conforto. E como uma onda que vai e volta, voltou uma 'sensação de descarte' que me deixa arrependido, me deixa muito pior, confuso e culpado de novo. Faz sentido, fez toda a merda. É merecido.
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Todos os dias andamos nessas ruas, de mãos dadas nos corredores do prédio. Com chuva, como hoje. Com sol, outro dia. E de novo.

segunda-feira, junho 11

Fumaça Parte 3

Era um apartamento bastante simples, na realidade, um JK. Era o segundo andar e não pegava muito sol, rendia no final do ano umas duas paredes mofadas e um cheiro que insistia em voltar. No primeiro ano ele até se importou com tudo aquilo, fez questão de limpar as paredes sempre que via um resquicio de mofo. Sentia aquele cheiro de humidade e mudava as coisas de lugar, tentando de alguma forma amenizar a situação do lugar. Depois da teimosia de um ano lutando com o ambiente do apartamento, resolvou que ficaria assim até ter razão para mudar alguma coisa, parou de se opor a humidade e passou a acostumar-se com ela, eventualmente uma tia que limpava o lugar lhe pedia para comprar uns produtos para limpar as paredes, mas raramente lembrava de comprar.
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Um sofá cama que normalmente estava sempre no estado de cama aberto meio de lado para a televisão. O sofá meio velho, comprado no brick foi a melhor opção, quer dizer, caso ele quisesse trazer pessoas, ele poderia monta-lo como sofá e o ambiente seria até social. Uma mesa redonda pequena para quatro pessoas ficava mais a frente, próximo ao murinho que fazia a cosinha e dava de frente para a sacada. Eram quatro cadeiras e uma já fazia aquele ruido, certa vez levou uma garota de programa para o quarto e o resultado foi uma marca de cigarro no sofá cama, uma cadeira rangindo e uma frustração impagavel. Não, pagável.
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Num desses domingos de sol brilhante ele via de longe que o dia seria bacana, um bom dia para quase qualquer coisa, quem sabe até para trabalhar. Levantou-se e buscou a carteira de cigarro em baixo do sofá, próximo ao cinzeiro. Acendeu um e conforme foi levantando e se coçando ia empurrando as roupas do dia anterior para um canto e se direcionando ao banheiro.
Cara amassada, cabelo escuro bastante bagunçado, era moreno estatura média, tudo bem, não tão médio assim, mais para medio baixo que médio médio ou médio alto. Tragou e soltou a fumaça no espelho, sentiu sua língua áspera, sentindo aquele amargo do cigarro.

- Buenas babaca. Tem que cortar esse cabelo hein?

Enquanto mijava tragava e soltava aquela fumaça pra cima e via aquelas rachaduras num teto mal pintado. O cigarro ficava aceso escorado na pia enquanto se arrumava, terminou aquele ainda no banheiro depois de escovar os dentes, se arrependeu de novo. Aquela mistura de gostos na boca, menta com tabaco não era muito interessante, não aquela da pasta de dente.
Deixou o apartamento bagunçado e arrumou-se para o serviço, já era perto das dez e meia e tinha que sair para chegar ao restaurante a tempo, os clientes começavam a chegar as onze e meia. Estava atrasado.

quarta-feira, junho 6

Sorella 2

Tentando colocar os pontos, talvez nos is, ou os tópicos, de forma não invasiva, de forma expositiva, aos que tiverem saco para ler a desgraça que se desenrola.
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Conhecimento interno

Nunca tive muito, e de fato aos poucos tenho adquirido mais. Mas ela não sabe nem o que é o conceito disso, ou a mera, a vaga ideia de conhecer-se a si, saber como se responde aos estímulos e tentar controlar-se. Durante um período da vida não compartilhava de alegria com os familiares, no máximo alguma tolerância com a presença dos pais. Abertura zero. Por alguma razão, por algumas palavras que me vinham a cabeça através de espanhol, fui mudando, trazendo as palavras a mente em momentos cruciais e formando coragem do nada de forma a moldar-se em atitudes, resultados.
Conheço-me um pouco, e sei que palavras normalmente me são suficientes, apesar de que certas coisas só aprendi apanhando, física e psicologicamente.
As tristes conversas com ela são monólogos.
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Consciência e culpa

Pensando a respeito das culpas dos resultados atuais, penso diretamente nos responsáveis legais e biológicos, entretanto também penso que uma parte seja dela também, ela já poderia tentar fazer alguma coisa por ela mesma, mas não tem coragem de fazer nada diferente do que sempre fez.
Numa construção de uma ideia sobre isso, com uma morena, me ficou claro que na realidade ela não foi nem preparada para ter essa consciência, quer dizer, na época que se deveria aprender essas coisas, ela não esteja pronta, então lhe vendaram e a levaram no colo por cima de todo o medo e caminho pedregoso. Sempre sem limites.
Por favor, admitam culpa total. Sim, total.
Falando com uma quase psicóloga nuns tempos atrás, a mesma concordou veementemente que era apenas falta de colhão dos responsáveis. Não sabiam como lidar, não lidaram. Resulta existe hoje, numa falta de consciência por parte dela, e numa imensa culpa por parte deles. Ambas as partes estáticas, sem saber como mudar. Pedras.
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Amigos

Lembro-me como se fosse hoje, quando entrei pela porta da sala e vi um desconhecido sentado no sofá de casa. Lado oposto estava o velho, calado e alheio. Não era o primeiro namorado, era engraçado, pois eu mal sabia o que era namorar, e ela já estava no terceiro. Incrível como uns amigos podem fazer, ou a falta deles.
Tive sorte, penso, em ter encontrado uns caras muito fodas desde o inicio dos tempos. Talvez uma pré-disposição nos tenha unido e é isso o que nos faz re-velos com certa frequência, tanto faz. Meus amigos eram/são muito parecidos comigo em vários pontos, cada um lá com seus traços mais fortes em determinados pontos do caráter, mas muitas coisas semelhantes.
Nunca a vi com uma amizade sólida. Talvez não saiba lidar com as pessoas, não sei como ela pode se portar fora de casa, nunca virei mosca pra segui-la. Sei que raramente senti que alguém que entrasse aqui em casa realmente fosse amiga(o) dela de verdade, naquele mesmo estilo que levava com meus amigos. Teve sim seus amigos, ela os escolheu, eis aqui um ponto. Elas os escolheu, seja como for, mesmo que muito por uma determinada criação, mas também por afinidade, talvez seja só burrice, quer dizer, não desenvolveu sua capacidade de perceber as pessoas, continua ingênua, será isso? Não sabe desconfiar das pessoas? É uma criança pura então? Que dó.
Os amigos que prestam, pessoas cada vez mais raras, são evidentemente uma necessidade urgente na vida de todas as pessoas que conheço. Principalmente as mais velhas que não possuem uma família quente, ok, nem todas precisam tanto disso, eu sou um que precisa, não tão frequentemente, mas preciso.
Triste ver alguém tão jovem sem entender que é capaz de criar esses vínculos, ou pior, tentando cria-los com as pessoas erradas.
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Namorados

Mais do que tudo, estes sim ela mesma escolheu, e todos eles, foram até hoje, na minha reservada opinião, uns merdas. Sim, garotos sempre muito fracos, muto alienados com tudo, com sua própria idade e realidade. Nunca senti firmeza em nenhum deles, mesmo o mais velho, um gurizote fumante, mas ainda um gurizote. Quem sou eu pra essas opiniões né? Pode ser pré-conceito com seus estilos, pode, mas prefiro acreditar que não e que realmente estou certo de que eles não são capazes de serem homens de verdade. Certo, sou quase nada perto de muito homem foda, mas não é esse o ponto, não se pode ter opiniões sempre proporcionais ao que se é.
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Respeito

Uma coisa que sempre procurei ter, ou ao menos, achava que tinha, era respeito. De todas as formas, com todas as pessoas. Não sei exatamente de qual parte da minha criação que isso aconteceu, mas eu tenho isso sempre marcado na cabeça, até mesmo para xingar alguém em penso com qual respeito vou faltar.
Chego em casa e meu cofre de moedas foi visivelmente mexido e colocado onde não estava. Seja quem for, foi uma puta falta de respeito com o que não é seu, ninguém mais ensina isso em casa hein?
Se não é teu, não toque. Não mexa, sequer pense em fazer qualquer coisa.
O ambiente é público, ou seja, não é meu e por tanto considero que devo respeito a todas as pessoas que usufruem dele. Vou no banheiro e depois de lavar as mãos faço questão de fechar a torneira, completamente, sem deixar gotas caindo. O mesmo acontece quando vou tomar leite e o re-coloco na geladeira, afim de garantir que o seguinte o encontre no mesmo estado em que eu o encontrei.
Por alguma razão, ela não tem esse conceito em sua cabeça, ela pode até falar alguma asneira a respeito, mas não passa de um papagaio repetindo o que foi dito em alguma novela/jonarl/série, em fim, tv.
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Responsabilidade e consequências

O que acontece quando você sai de casa e esquece a janela do quarto aberta e por acaso chove horrores? Por mágica a janela se fecha sozinha, óbvio. É o que vem acontecendo na vida dela desde sempre. Mágica. Vejo que se faz de tudo, com todos os esforços, para que ela se isente de qualquer consequência de seus atos. Sempre se encontra alguém para culpar, uma forma de contornar o problema e de fato não deixar que a consequência realmente aconteça, ou aconteça por completo. Falávamos sobre aniversário e pensei, ela está se formando no ensino médio com dezoito... mas lembro que ela ia repetir outro ano no colégio se não tivessem trocado ela de escola para uma de nível muito inferior. Enraçado, tivemos a mesma educação né, tanto é que na minha mente eu era obrigado, literalmente obrigado, a ser no mínimo bom a ponto de ir para uma escola técnica, e a ela não existiu obrigação sequer de passar de ano numa escola tosca e particular. Ui, to fazendo mimimi por causa da escolhinha dela, estou mesmo, dizem uma coisa e analisando esse simples detalhe vemos mais um exemplo de como as consequências nunca chegam a vida dela.
Você é menor de idade e sai na quarta feira. Não da explicação alguma e fica incomunicável, volta no sábado querendo comida, o que você ganha? Roupa lavada, quarto limpo, comida especial e roupa nova no aniversário. Óbvio. Quer exemplo melhor que esse? Quando que vai haver uma negação em casa? Quando que sua vida enfrentará as consequências de seus atos? Quando meus pais morrerem?
Promoção: Quebre um celular e ganhe um melhor em seguida sem custo algum e sem trocar de número!
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Colhões/Culhões

Não sei qual o termo correto, só sei que falta muito disso, isso pra mim se traduz em inteligência, somando coragem e atitude. Dizem que se deve ter atitude, mas acho que é necessário pensar nela antes, e ter coragem para pensar coisas novas, apontar problemas e tentar mudar, e de novo ter coragem para depois de chegar a essa conclusão, realmente fazer algo novo, completamente inesperado.
Ele sempre da tudo que ela pede, e quando recebe críticas, não sabe mais como reagir se não se fechar na carapuça de dom casmurro que carrega e ir olhar um filme. Ele normalmente acaba caindo naquele sorriso jovial e belo, com pouco choro ela o convence a tudo, e ele da tudo, quando percebe a merda que fez, não sabe tomar outra atitude senão a de falar mal por trás, não dialogar, não buscar soluções, apenas resmungos, apontando os erros dela e o passado, sempre fixo no passado, pensando que agora é tarde e morreremos assim. Com toda essa coragem, talvez morreremos mesmo.
A ela não lhe falta coragem, falta técnica, a mesma técnica que ela sempre empregou em suas salas de aula, ela não faz ideia do que faz dentro de casa. É como um pai que chega na sala dela, mas é ela o pai, e a sala está vazia. A filha aprontou horrores e não existe uma supervisora firme capaz de unir a família, os pais e resolver os problemas. Acaba então por aos poucos cansar da vida triste de ver a filha cada vez mais longe de seus ideias e vai deixando que se remedia buraco a buraco. Ela tem tudo que precisa, sempre foi expressiva, sempre teve coragem eminente, falta-lhe a inteligência e a análise que usa no profissional. Fazer o que? Casa de ferreiro espeto de pau.
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Papéis

Depois de uma verdadeira briga com o velho, percebi que deveria deixar de tentar ser ele. Começar a pensar como irmão e postar-me no meu lugar. Foi um conhecimento e tanto, realmente, devemos estar presentes nos papéis que nos esperam. Mas e se isso for pouco? Eu vejo o papel do irmão de reclamar e reclamar e brigar com a mais nova, e quando preciso, as vezes, ajudar. Não é o bastante, é necessário mais papeis, agregar papeis, precisamos ser amigos, precisamos nos conhecer como pessoas que somos e não como apenas parentes. Sim, eu sei que não fiz a minha parte, talvez seja um traço que puxei do velho, o de apontar os problemas com facilidade mas não perceber os seus tão habilmente assim.
Além desses, vejo que eles também, estão no seu papel, pais amáveis, daqueles com fotinhos de quando se é pequeno, e nas fotos ela e eu somos lindos, sempre, família sorridente, muitas fotos lindas. Parece que hoje as novelas e notícias dizem que problema dos pais é grande, então é psicólogo. Eles abrem mão do papel pleno de pais e o dividem com estranhos que são, pior ainda, pagos. Os terceiros que precisam apontar as coisas mais óbvias e mostrar o mais fácil, como se todos não fossemos loucos e fosse um caso extremo.
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Loucos

A gravidade da coisa é tamanhã assim é? Sou eu que sou cego demais para ver isso? Falo sério, posso ser mesmo, vai ver só estou com ciúmes da atenção que ela tem ganhado nos últimos tempos.
Não sei exatamente por que, mas acho que não se admite extrapolar aqui em casa em termos psicóticos. Nunca a considerei pirada nem nada assim, e ainda não considero. A vejo como uma criança tendo suas crises existenciais. Lembro de ter uma na fase de sair do ensino fundamental para o médio, chorei como uma gazela desmamada. A vida iria mudar e eu não sabia o que fazer, pensei até em suicídio, que besteira, só por que não teria mais os mesmos amigos e seria forçado a fazer algo da vida, aliás, eu não sabia que iria virar programador, e ainda não sei se gosto mesmo disso, apenas funcionou, e essa coisa de vocação era uma que sempre me deu medo, por errar, que não se podia errar.
Talvez se eles soubessem que fiquei do lado de fora da grade do sétimo andar durante algumas tardes em que estavam fora, talvez eu tivesse conhecido um psicólogo também. Adoro psicólogos, são como amigos pagos.
Acho que ela os assusta de verdade, ou eles não querem aceitar a realidade, ou é a falta de culhão que já mencionei e eles não sabem como lidar com isso. Não sabem como reagir e acabam por dizer que como ela é diferente, ela é louca, enquanto acredito que seja apenas uma nova forma de pensar, quer dizer, num novo tempo, visto que ela ainda não aprendeu o básico para uma vida emocional estável é de se assustar com tamanha burrice emocional. A infantilidade é grande, mas toda criança um dia cresce, inevitavelmente. Ela sendo sempre tratada como criança a mantém assim, sempre aos cuidados, por que ela precisa de cuidados, por que ela não pode jamais se machucar, por que a merda pode ser maior, por ques que se acumulam numa pilha de desculpas para não tomar uma atitude diferente da loucura padrão.
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Inteligências

Umas coisa que aprendi nas últimas semana, foi que temos mais de um tipo de inteligência. Não falo especificamente daquelas coisas que são sitadas por experts da área de educação ou de psicologia, quero apenas dizer que se pode ter pessoas que serão péssimas em várias coisas e muito boas em outras. Isso abre um leque de possibilidades, inclusive me faz pensar que não sou bom em expressar-me, enquanto tem pessoas que facilmente conseguem dizer com clareza o que querem, eu não, eu faço um texto monstruoso e ainda não disse a metade.
Bom, coisas que ela ainda não sabe, e talvez não entenda até agora, é que ela nem tentou descobrir suas inteligencias e nem tentou desenvolvê-las. Talvez também aconteça com os velhos, que já esquecem do que se trata esse texto, tamanha minha falta de objetividade.
Somos diferentes e pensamos e aprendemos diferentes. Mas a base de tudo isso nunca é permanecer no mesmo lugar, no mesmo ponto com a mesma inteligência já gasta. Ser sábio seria identificar o que se falta consigo mesmo e tentar buscar. Como meu problema para comunicação ou falar em público. Minha dificuldade com português me levou a escrever tentando melhorar, e dizem alguns leitores que os erros de português diminuíram. Não sou inteligente, talvez rapidamente sábio, para poucas coisas, mas quero melhorar, hoje melhor que ontem.
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Sem sub estimas

Sempre é horrível quando se tem dedos apontados na cara de cada um. Odeio ver meus erros, é triste ter que enfrenta-los de frente, é necessário todo um esforço, e por mais que se saiba deles, muitas vezes os evito, fujo da obrigação, desde ir ao colégio até ser alguém especial para outra pessoa. Subestimo-me, de forma a muitas pensar que não serei capaz de fazer nada, as provas do ensino técnico sempre foram bons exemplos, e quantas vezes foram necessários terceiros que apontassem para mim e cutucassem minha ferida para que eu finalmente resolvesse tomar uma atitude?
Vejo uma subestima em muita coisa aqui. A capacidade de cada um sendo cada vez menos estimada, sempre desafiando menos o potencial de cada um, como se não fossemos capazes de lidar com situações extremas, como se só pudéssemos viver na zona de conforto.
Ela tem todo o potencial que ainda não descobriu, só não teve aquele empurrão para sair do ponto confortável. Pode certamente muito mesmo, acontece que o medo a domina e limita. Todos repetem isso constantemente mas ainda nos falta entender que ela não vai entender falando, só apanhando e tendo que se desestabilizar.
Vejo essa subestima também no potencial dos responsáveis que aos poucos foram acreditando não serem capazes de lidar com as coisas e deixaram de seguir seus instintos. Hoje parece que tudo o que se fala é que não sabem o que fazer, como baratas tontas correndo em círculos.
Acreditem, antes dos deuses, em nós mesmos, com toda a intensidade da vida.

terça-feira, junho 5

Sorella

Sobre aquela questão de ajuda, manter-se no lugar, parado? Não, pronto, a postos.
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Novamente a garota perdida da cabeça voltou para casa sem saber aonde está. Ela se perde sozinha com sua própria sombra, não entende que não entende e parece que cada vez mais acredita nela mesma, na estupidez de não repensar o que já fez e seguir igualmente errada. Tecnologia do burro, era como um velho mestre nomeava essa técnica tão frequentemente utilizada. Justamente isso que lhe parece faltar, a lembrança do que já aconteceu como base para novas atitudes, um circuito completo, um loop eterno de aprendizado. Não, estagnou num ponto, e a partir dele um ciclo sempre se repete, mas sem uma nova fase de novas ações, são sempre as mesmas, sem as mesmas dores, sempre os mesmos gozos.
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Pensando nessas músicas velhas, de gente velha que pensa sempre no seu passado, tem essa saudade eterna dessas coisas que se sabe que jamais voltarão. Essas músicas com críticas a forma de pensar, essa escravização mental que até Bob fala. Pensando, pensando em como utilizar de alguma forma esse tempo de agora, afinal até a Mafalda já apontou.
- Temos de trabalhar para ganhar a vida.
- Mas por que perdemos a vida trabalhando para galha-la?
Justamente, o tempo passando, o time do pink floyd, o badalar de um sino que traz a redenção a um bando de ovelhas que houve atentamente ao chamado. Justamente quando lembro que não aprendi a tocar bateria e que hoje tive formalmente recusada uma proposta de trabalho, vejo o quão lerdo estou ficando. Tanto que se aprendia por minuto, agora não passa de pouco de cada professor de faculdade. Alias, poucos são o que lembro o nome, que dirá lembrar de alguma coisa útil que eventualmente tinha lhes escapado pela boca sem cobrar um centavo a mais?
Tudo passa tão tão devagar enquanto passa que depois que foi, não da pra acreditar que já foi e se diz que passou rápido.
Dessas conclusões todas me ponho a pensar, pondero e tento extrair novas formas de interpretar o que já imagino, e é bem ali que aquela louca entra, quase sem te olhar na cara, visivelmente confusa, perturbada sem saber bem o que fazer. Ela passa, quase correndo e entra no seu quarto. Fica lá, quieta. Não faço ideia do que faça, ou do que pense, mas como fazer alguém assim ler esse texto e lembrar dele sempre que necessário?