domingo, setembro 2

Sábado Três e o comunismo

Pães iguais aos de ontem, sanduíches duplos de queijo e presunto barato. Novamente, o chima me acompanha, acabo levando ele para quase todo o dia, é melhor que a maioria das porcarias que poderia beber. Por alguma razão, aos poucos vou me sentindo mais velho com isso. Como se a cada copo que visse alguém bebendo, eu bebesse junto, e de alguma forma isso aos poucos me repuna. Começo a achar mais interessante uma quantidade menor de copos, uma quantidade menor de drogas. Bom, é quase oito, tenho que me aprontar com uma roupa para sujar e ja preparar uma manga curta, porque sábado provavelmente será de arto trabajo.
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E ela tem razão quando vem dizer
que eu preciso sim, de todo cuidado
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Como toda coisa, funciona através de um processo, e naturalmente, um processo que pertence ao local e que somente as pessoas sabem. Isso me lembra a TI, aquelas coisas de se anotar direitinho como tudo funciona pra não depender do pessoal. Pois é, aqui é uma empresa pequena, depende-se das pessoas.
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Infelizmente não tenho todo o conforto que queria nessa cadeira de balanço de jardim de ferro. Ela está posta aqui na minha sacada e é bastante forte e antiga. Tem estilo. Só lhe falta umas almofadas ou ao menos uma tábua por cima das tiras de ferro na parte do acento e do encosto.
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Primeiro dia de trabalho real, quer dizer, primeiro dia como garçom formal. Livro ponto de entrada e começam os processos de abertura de bar. Montar o local na rual, arrumar mesas, limpar tudo. Achei interessante que praticamente perfeita a sincronia com os clientes. Não deu dois minutos depois de tudo pronto, chegou o primeiro casal de clientes.
Várias pessoas no ambiente central, o segundo andar e os fundos estavam alugados para aniversário, ótimo, menos trabalho. Nesses casos quando alugam para aniversário todos os pedidos devem ser feitos diretamente na barra, com o homembar e se paga no ato. Mesmo com somente o ambiente central e a parte de fora para cuidar, tivemos algum movimento. Nada muito grande, mas algum movimento.
Dessa vez os copos foram deixados meio de lado, quer dizer, se pode ir lavando pouco a pouco sem muito stress.
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Começam as lições de bar. Os detalhes a se reparar, a forma de anotar a comanda, os códigos internos. Os preços e como funcionam as coisas, realmente, do lado de trás do avental. Sim, usando um avental, aqueles que ficam somente na cintura por cima das calças.
Aos poucos vai se pagando o esquema todo, é questão de repetir e repetir. Já de cara fiz alguns glichês mais clássicos. Uma, um copo quebrado, felizmente só na pia e apenas em duas partes. Simples, escorrecou, daqueles copos de vidro fino para cerveja, bateu e quebrou em dois pedaços praticamente perfeitos. O outro garçom conseguiu fazer o mesmo, mas com um copo grosso de piscola.
Na primeira, justo na primeira servida, consegui derramar a merda da batata. Sim, derramar batata? Como diabos? Eu pensei no mesmo, acontece que eram as Papas fritas Suprema. Elas recebem uns temperos adicionais conforme o cliente e uma calda de galinha por baixo. Bueno, eu ví as batatas no prato e não me dei conta que poderia haver líquido em baixo do prato, num movimento mais rápido acabou caindo um pouco na mesa. Bueno, ótimo, já tem menos coisa pra acontecer.
Não demorou e a próxima foi a de errar a comanda. Essa acho que vou errar mais vezes. O pessoal fala sempre de forma diferente, e tu precisa se virar para cachar lo que se pide. Felizmente ainda não errei a pedida, mas errei a quantidade. Eram três, anotei um. Tequila Sunrise, belo drink, belo mesmo, bonito. Três níveis de bebidas diferentes. Não comecei a fazer os copetes todavia, logo, sem mais detalhes.
O resumo foi um trabalho meio disperso. Ficar procurando o que fazer e ir fazendo. Com o detalhe de sempre fazer algo mais útil. Quer dizer, quando os copos estão vazios, ou não há pessoas, ou não há dinheiro. então de alguma foma, sempre tem cosia pra ser feita. Nem que seja trocar os cinzeiros por novos e limpos.
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Concluindo o dia, de novas experiências, foi meio sacoso. Não gosto de ficar sem fazer nada, acho péssimo. Acabei sempre zanzando por aí, procurando alguma coisa pra arrumar ou um copo pra lavar.
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Resumo

  • Um copo quebrado
  • Um casal sem seu drink
  • Um lambuso na mesa
  • Um corte no dedo
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No final de um dos aniversarios, já estava sozinho no segundo andar limpando quando chegou uma gordinha simpática e me alcansou três mil pesos na mão dizendo gracias. Lhe responsi Gracias Usted e botei faceiro o dinheiro no bolso. Isso é uma gorjeta gordaça, não tanto a guria ali, mas bem gorda, quinze reais.
No fechamento do bar contei rapidamente o que houve e se deveria deixar a gorjeta para ser repartida depois, ou se ficava pra mim. Afinal, eu realmente não parei hoje, seria justo aqueles pilas ficarem comigo, mas não. Política da casa, dividir a gorjeta. Maldito comunismo.

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