quinta-feira, setembro 20

Chegada

14/09/2012
Aos poucos me acostumo com essas coisas. O barulho das quatro rodas é contínuo e leve, parece uma geladeira nova recém ligada. Quietinha, faz o trabalho dela enquanto seguimos a uns 120 ou 150 km/h em direção ao norte. Velocidade normal por essas bandas. Os caras que abusam, andam de 160 para cima. Engraçado, o fuscão nem chegava nisso.
Ainda meio ressabiado, não entendi direito se eram um casal ou um casal de amigos sem nada além disso. Se chamavam Sebastian e Andrea. Mais tarde eu descobriria que ele era o Vizinho, ela a Sexóloga. Queridos, e eram exclusivamente bons amigos.
A estrada já era conhecida, havia percorrido alguns trechos e a cordilheira começa a parecer menos incrível, como se já fosse natural e não me deslumbra tão facilmente. Ao lado direito, as vezes em ambos os lados, as vezes no direito de novo, ela acompanha o trajeto de seis ou sete horas até a praia. O engarrafamento chama-se taco. Igual a delícia apimentada mexicana. Durou uma meia hora e fluxo de carros era grande, mas logramos fazer um bom tempo de viagem.
Infelizmente não posso abrir a janela o tempo inteiro para sentir o ar e seu cheiro, a velocidade atrapalha essa frescura. A noite apareceu com aquele ar fresco de sempre e na praia andamos mais despacio, de forma que pude aproveitar o ambiente e sentir aquele ar salgado entrando nas narinas. A areia grossa do chão e o frio da noite. Típica praia chilena.
Como ninguém sabia exatamente onde ficava a tal casa, nos aproximamos do local de espera onde havia uma pracinha. Quatro crianças crescidas desceram do carro para esticar as pernas e se meteram nos balanços bem cuidados e fortes. Num instante se rangia o ferro e os pêndulos de carne se divertiam.
Ainda sei fazer isso, legal. Me embalei forte o suficiente para chegar naquele limiar que se fica paralelo ao chão e ao invés de voltar suave, tu faz uma pequena queda até que as correntes do balanço tomem cargo da trajetória, voltei a ter medo de pular. Eu pulava realmente muito alto, morrendo de medo, pulava.
Em pé em cima do balanço era capaz de alcançar o ferro onde fixavam-se as correntes. Estou grande, rá! Fiz algumas barras para tirar a ferrugem dos músculos, de frente, de costas. Devem ter se somado umas quinze, não foi grande coisa.
Nos informamos se o dono da casa chegava e nada, iria demorar um pouco. Trocamos de brinquedo. Fomos naquele trepa-trepa, de um lado ao outro eu passei tranquilo sem dificuldade apoiando-se barra a barra. Subi pelo meio dos ferros e fiquei de ponta cabeça me firmando com apoio apenas nas pernas, com alegria o sangue para a cabeça e celular, chaves, carteira para o chão. Medo do celular. Primeira vez que caia, arrependimento e medo pela peça que me deixa tão em contato com quem amo. Fiz o retorno da posição e desci do brinquedo retomando o celular em mãos como um bebê. Tirei um pouco de areia dos cantos e a alegria de estar tudo bem. Ufa.
O tio chegou e a casa era justo a da esquina. Agora acho uma pena não ter fotografado a casa inteira. Uma casa com quatro quartos, uma sala de estar, uma de tv, uma cozinha americana, e ainda um quiosque pequeno com churrasqueira nos fundos. Gostei do lugar. Muito limpo e aconchegante. O teto da sala de estar era alto, naquele estilo de madeira a vista que acompanha o desenho do telhado. Um sofá extremamente aconchegante, uma mesa e umas poltronas com estilo deixavam o ambiente muito agradável. Havia uma janela de chão a teto na frente da casa que dava vista a distância para o mar, graças ao vão de um terreno vazio do outro lado da rua.
Mal chegamos e o fogo estava pronto, o primeiro churrasco de uns tantos que seguiram, regados a algumas palavras incompreensíveis, piscolas, poncho de pêssego e cervejas. Adorei o poncho.

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