terça-feira, dezembro 16

fotos

Estava olhando fotos essa noite... Tive saudade daquela que ultimamente me da equilíbrio e mantem minha cabeça e peito no lugar e comecei a olhar fotos. Buscando uma leve distração da inevitável aperto que começava a coçar por dentro.
Funcionou na medida do possível. Até mesmo agora, que escrevo e deveria estar focado em idéias a serem vomitadas pelos meus dedos, continuo com aquele apertinho num canto do peito que me diz que saudade também é preocupação.
Uma das fotos eu estou com cabelo no seu maior volume já registrado por cameras fotográficas. Analógicas, daquela com filme de 36 poses onde sempre uma ou outra saía errado.
Está a praia no fundo, belíssima, de azul desde calcinha até o marinho. Próximo as pedras, meu corpo coberto com uma leve camiseta verde e preta, logo em cima, uma cabeleira de dar inveja em qualquer calvo ou careca. Acredito, dois quilos de pura massa capilar. O vento sopra contra ela e deixa mais despenteada e feia do que já era, o cabelo tem certa vida quando tocado pelo vento.
Lembro como se fosse agora, o vento, a pose, as pessoas pedindo pra parar de saltar sobre os rochedos e deixar que tirem uma foto. Finalmente concordando, parei, resvalei um pouco em minhas hawaianas que já estavam imundas e quase soltando as tiras do buraco central. Olhei mais acima da encosta, aonde a família caminhava e parei por um instante. Fixei o olhar para próximo deles, num ponto atrás, de modo que ficasse com a cabeça para aquele lado, mas ao mesmo tempo, voando em idéias minhas sobre os rochedos e os mares.
A outra foto eu tenho um bonito cabelo mediano. Não é curto, arrepiado, é um cabelo que me agradava. Na ocasião, estava explodindo de alegria e cerveja. Casa do Gian, a felicidade toda, a combinação das coisas que mais adorava naquele instante, a sempre loira, cerveja, que devo admitir, começo a me preocupar com tal emoção, e os velhos e sábios companheiros de guerra. Estava ótimo... na foto eu não consigo traduzir toda a alegria que lembro ter.
Uma outra, mais sombria, me lembrou muito o tempo negro que todos temos. Um vulto no meio da multidão, aquela solidão que vem te puxar os pés na hora de dormir. O tempo em que uma brasa de cigarro era a única companheira de viagem. Seja sob esse céu ou a dois mil quilômetros daqui. A solidão era idêntica. Em meio aos sorrisos, as bobagens, as brincadeiras de bom e mau gosto, ao meio dia, durante todo o dia, desde cedo até entardecer, sempre. A solidão era a mesma. Lembro que era como... como...pular de um trapiche para a água não tão rasa. Tu sabe que pode ser muito fundo, mas sabe que pode ser muito raso. Não vê o fundo, apesar de saber que existe e vai tateando com o pé até o fundo, assim consegue uma base para voltar a subir. A única coisa é que nunca se sabe se o chão estará ou não ali no momento em que tu precisar.
Eu não procurei mais fotos. Achei que a última, tamanha lembrança, aquele cheiro de lembrança, me fez um pouco bem. Assim, posso lembrar também, o quão bom é, não se sentir mais só. Ver a graça besta de uma criança e conseguir rir sozinho. Cuidar como o passarinho pula ao invés de caminhar e rir da cara do palhaço. Olhar desenho sem ficar sério.
Tinha esquecido que igualmente com o corpo, as memórias são importantes para os sentimentos. Assim como adoro lembrar todo o dia o quão bom é não estar com nenhuma parte do corpo machucado ou incapacitado, é bom pensar da mesma maneira com o peito, com o que alguns chamam de alma, eu chamaria de... claro. Chama.

quinta-feira, novembro 20

Olá

-Óhhh!
-Ôuhhh!
Foi só mais uma entrada no apartamento, mas eu me diverti muito com aquilo ali. Eram praticamente vogais atiradas no ar e esticadas com usando o h apenas pra não ficarem muito simples. Uma saudação acompanhada, ou não, com um movimento sublime de cabeça e tronco que levemente se inclinam como os orientais devem fazer.
Bonito ver um par de velhos se saudando na rua, um passa rapidamente pelo outro, as vezes, para um, é uma surpresa.
-Opa!
-Êêhh!
Nada de especial, apenas aquele leve sorriso, uma saudação rápida e cada um segue sua vida. Cada um só avisa que ainda está vivo, como os animais, um pequeno rosnado, rugido ou seja lá o que for, qualquer tipo de som. É como se a praticidade de ser homem (e eu não me refiro somente ao pinto) fosse sempre exaltada, nada além do necessário. Se uma vogal basta. Seja uma vogal.
Legal é ver as mulheres se comprimentando. Sempre tem uma pergunta ou afirmação, nunca passe só com um som qualquer como os homens... tem uma tia aqui no primeiro andar, o primeiro andar é como a primeira fila de um estádio de futebol, se vê todo mundo de perto e inclusive se pode opinar muito mais contra ou a favor as ações do técnico.
-Oi vizinha! Tudo bom?
-Oi re! Tudo bem?
Olha que tri, elas nem se respondem, é meio que uma pergunta por cima da outra e passa reto pela resposta. Afinal de contas, a resposta nem é tão interessante, negócio é que essas saudações são como uma pergunta subliminar...
-Oi! Como vai?
traduzindo: "Vem cá, tem alguma novidade?", ou em termos mais chulos e crus: "se tu souber de uma fofoca nova, me conta!"
Divertido mesmo é quando param ali na Rejane e contam tudo. O primeiro andar ecoa por todos os apartamentos como a redação de um noticiário trabalhando ao vivo em primeira mão pra todo mundo.
Estava caminhando em direção a parada de ônibus numa dessas últimas vezes que fui ao trabalho e vi uma senhora saindo do mercado com sacolas de compras bastante cheias. Chegando perto da parada um mulher do segundo andar de uma casa do outro lado da rua gritou:
-Como vai cúmadre!!!?
-Oii!!! Vou indo pra casa!!!
-Mas pra que essa pressa, entra que já te sirvo um chima!!!
-Eu não sei! Acho que era melhor ir andando!!
-Da um pulo aqui e já te deixo ir embora!!
-Então tá!! To indo!!
Ela cuidou a rua e foi indo pra casa da outra que gritava que ia descendo. Aliás, tudo que elas disseram foi aos berros de um lado da rua ao outro. Elas tinham em torno de cinquenta anos, acredito. Mas daquele jeito, gritando indo tomar chima. Que saudação hein! Fosse um homem teria chingado alguma coisa da mãe ou de futebol, ou se mais velho, comentado alguma coisa em comum com o amigo/conhecido. Em último caso, o velho: "Como vai essa força?"

quarta-feira, novembro 19

Vento

Eu sou o velho nada
isso não muda com tempo
Eu corro até a saída
zunindo sem um corpo

Eu já vi todas as calcinhas
as azuis, as verdes até as dentais
Invadi todos os salões
As vezes passo reto, débil mentais

Eu sou tudo por onde veja
o estrondo do raio
o barulho do que quer que seja
das montanhas eu caio

Eu não vejo nada, não aprecio a luz
Sou o motor dos veleiros
Que os mestres piratas seduz
As sereias nuas nos rochedos
Com seus cachos pendurados na cruz

Eu sou o da mudança, cheiro de esperança
Eu sou o rio invisível, indistinguível
Já vim do norte, vou para o leste
Não me interesse mais aqui
Vou para um lugar que preste

O companheiro dos desertos
Aquele que levanta todos os grãos
Escrevendo de novo, nunca ficando certo
Igual de forte, seja alto ou anão

Preste atenção meu amigo
Eu posso mostrar o caminho
Eu não sou seu inimigo
Siga por ali, acompanhado, sozinho

Eu indico seu caminho
Sinta o nada batendo na cara
Perceba tudo direitinho
Não importa por onde, tudo nunca para

domingo, novembro 16

putaria

-Ei, vocês gostariam de ganhar um presente?
Ele olhou pro cara atrás do balcão e já tachou um carimbaço de marketeiro na testa do gordinho bem vestido que olhava na direção do casal.
-Que foi?
-Ele perguntou se nós queremos ganhar um presente...
-O que?
Ele puxou ela pra junto dele enquanto se dirigiam ao gordinho...
Depois tudo ficou bem claro. Clientes de Visa e Mastercard bastavam apresentar seus cartões ali que ganhavam direto uma revista velha da Época com um furo de fora a fora meio que em cima, acho que pra marcar que era velha e não devia ser posta a venda.
Bom, o negócio era bacana, os bancos estavam fazendo um programa de incentivo a leitura no país. Feita uma lei parece que em 2002 mandando os bancos retornarem 4% do dinheiro que ganham das taxas cobradas sempre em alguma forma de cultura. Logo, em parceria com a prestigiada editora Globo, criaram lá um programa de incentivo a leitura. Você ganha umas quatro revistas por 15 meses de graça. Isso mesmo, assinatura de revista grátis! É uma revista semanal e três mensais! Uma barbada!
Pois bem... ele foi falando, mostrando as revistas que se podia escolher, que ainda concorria a prêmios (aqueles que nunca ouvi dizer que um primo de um amigo de um vizinho de um conhecido meu ganhou, ou seja, nunca ninguém ganhou. nunca... é sempre a mesma coisa...)! Uau! prêmios!
Tem como melhorar? Incrível, ele estava desconfiado, via que estava tudo muito fácil, achou melhor não comentar nada e deixar ela se empolgar com a idéia, já havia escolhido revista pra todos os gostos até que o gordinho soltou os últimos detalhes.
Depois de pegar a caneta, fazer aquelas anotações de vendedor, listar as coisas boas de maneira bem grande, sublinhar várias vezes os números a respeito da escolaridade nacional, circular as opções de revista num encarte... em fim, fez todos os gestos que um bom vendedor faria. Até que finalmente largou a verdade.
-Isso tudo apenas com o custo de entrega de cada uma das revistas. Da um total de 24,90 mensal para entrega de todas as revistas.
Pronto! "O sonho acabou!" Pluft! Já era! Danou-se! Zéfini! Depois de todo aquele sexo oral, tenta preliminar, todo o cuidado com carinhos e palavras bonitas ele me faz isso. Faz uma putaria dessas... que falta de vergonha...
É engraçado que isso seja igual sempre que tem esse tipo de promoções. Curioso não? Devia ser um programa de insentivo a leitura, ao invés de dar tudo de graça, que seja só uma revista mensal, mas de graça, não, tem que pagar uma fortuna pra ter umas revistinhas cheias de propagandas de mais coisas que raramente alguém que está nesse tipo de programa de insentivo a leitura vai conseguir pagar...
Quer ler vai ler bula de remédio pro reumatismo da tua mãe!

sexta-feira, novembro 7

torre de pisa

Pedrinho havia aprontado mais uma... fizera de uma simples meia de seda uma belíssima cobra, assustadora para qualquer mocinha do bairro. No escuro, no frio, entre as moitas do canto do portão quebrado ele espreitava. A linha esticada até o meio da rua enquanto Dona Arlinda vinha toda pomposa do desfile de sete de setembro.
Desfilava pela rua pobre com um vestidinho cafona, mas de qualquer maneira lindo, verde com detalhes feito de rendinhas pré-fabricadas... observava o chão quando notou uma cobra indo sorrateiramente em sua direção. O grito foi alto o suficiente para chegar aos ouvidos do padre que dormia no centro da cidade embaixo de sua árvore favorita. O povo logo chegou pra socorrer a mulher que gritava incessantemente.
-Socorro! Acudam-me! Socorro! Uma cobra enorme!
O barulho seria quase sexual não fosse pelo tom de verdadeiro horror que saia daquela boca feminina num agudo estridente.
Pedrinho correu pra dentro, viu as coisas sujarem pro seu lado, entre a emoção de ter feito a brincadeira direito e o medo de ser pego, saiu em disparada para os fundos. Trepou no mais alto galho do flamboyant e ficou esperando a poeira baixar.
Erra como uma caça as bruxas, sem as bruxas. Pedrinho, o moleque arteiro fora encontrado, sovado com vassoura pela mãe e xingado pelos visinhos indignados e preocupadíssimos com o estado de saúde de Dona Arlinda. Depois da emoção do momento... o castigo. Foi pro canto pensar. Uma cadeira sem escoro nos fundos da casa perto do tanque de lavar e um pequeno varal enjambrado.
"Ai minha bunda... saco isso... eu tinha que ter lembrado de levar a cobra junto comigo... nunca teriam me pego se não fosse a prova do crime....
Nossa foi ótimo ver aquela velha pular de susto! hahahahah...
Será que vou ter que ficar aqui por muito tempo? To começando a ficar com fome...
Saco, eu devia ter feito algo melhor, me escondido melhor, talvez...
Legal, castigo, cantinho pra pensar... pensar o que? Eles nunca falam o que era pra pensar...
Que tédio...
Ahhhhhh saco! Eu vou embora."
-Te senta aí piá! Vou te dar umas chineladas na bunda pra tu aprender a não ser besta e mal educado com os outros... agora te vira pra parede e pensa no que tu fez!
Entre os resmungos pedrinho ficou lá durante mais umas horas...
"Que diabos eu tinha que aprontar também... mas é que deu uma vontade... uma vontade...
será que o pessoal tá jogando bafo na casa do zé de novo?
até que entendeu... se fizer mau alguma brincadeira e for pego, ele vai apanhar e passar algum tempo pensando em como fazer suas coisas melhores. As vezes ele achava que era o diabo que colocava aquelas idéias malucas na cabeça dele, mas ele só queria provar as reações dos outros, testar as coisas. Não que fosse mau, ele apenas não sabia raciocinar e se controlar como os adultos sabiam fazer. Pense bem, quem nunca quis colocar flores nas tomadas de casa?

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Ahhhh o paraíso da cadeia. Estupre todas as criancinhas que vocês quiserem seus padres imbecis... agora vão para o canto pensar. Que tal? Tá, apelei contra a religião, mas que seja. Algo pior que um estupro. Um estupro comunitário. Eleja-se prefeito, roube tudo com obras super faturadas, pronto, um estupro em todos os pagantes de impostos que tiveram sua bundinha arrombada por um prefeito safado.
Roube todo o dinheiro da população, a cada bala comprada, roube um bocadinho, acumule milhões nas ilhas caimã. Agora vá para o canto pensar. Ah, tu não quer? Não tem problema, sempre tem um amigo/juiz que te entende e pode te tirar do cantinho, mas tu ainda vai ter que vestir o chapéu de burro, pode brincar e sorrir a vontade, mas vestindo o chapéu. Viu?
Não seria melhor mandar todo mundo que tenta fazer as coisas na linha pra cadeia? Na cadeia se faz de tudo, quase tantas coisas como aqui fora da cadeia, a diferença é que lá eles são pagos pra pensar. Muita gente nas cadeias, muito dinheiro pra tanta gente ficar pensando, no que fizeram.
Certo que é pra servir como uma forma de tortura, mas nunca é uma tortura quando se está no meio de outras pessoas, sempre existe a possibilidade de novos contatos/amizades... Inclusive, acho que no filme de... de... Ogliver twist! Isso! Um dos seus amigos delinqüentes finalmente é pego e levado para a cadeia. Ele não fica esperneando ele vai feliz dizendo que estava indo para a faculdade. Ainda que seja um clássico da disney, é de se pensar... querendo ou não, se aprende.
Eu queria ir pra cadeia... "Não diga besteira!", me diriam... mas pense um pouco... refeições diárias no horário, algumas tem até academia, serviço telefônico, fora que o teto é de graça. Mesmo dividindo a cela com mais um monte de macacos e baratas, quem se importa? Quando não se tem nada a perder, é o paraíso.
Já pensaram na utilidade, das cadeias?
Certo, com a criatividade das leis atuais só sobraria penas de morte por todos os lados.
Antigamente no olho por olho dente por dente as coisas funcionavam. Tu rouba, te cortam a mão, te roubam uma parte útil do corpo. E agora magrão?
Acontecem injustiças? É claro, mas não vejo justiça nenhuma em deixar todos os de fora pagando pra todos os de dentro. Eles não contribuem pra nada em sua maioria, mesmo nas cadeias com cursos de reabilitação, a quantidade de presos que volta a ter uma vida normal é ridícula. Fora da desconfiança eterna. Afinal, quem pode garantir que alguém, depois de velho, pode mudar? Depois de velho somos pedras, só sabemos fazer o que fizemos até ali.
Todo mundo merece reabilitação?
Não! Porque se todo mundo tivesse, seria muito mais dinheiro dos de fora pra tratar dos de dentro. Que inclusive, roubaram dos de fora. Não está na hora de se ser mais objetivo? As pessoas de dentro das cadeias são necessárias para o sistema global?
Estamos numa era de preocupações sistemáticas e em massa, isso engole todos nós para dentro de problemas nunca antes pensados. Começa no já clássico aquecimento global, depois temos o fato de que a economia pode destruir países. Temos o interesse dos mais fortes que brigam por mais dinheiro para conseguir mais coisas. Isso implica diretamente na corrida da tecnologia. Tudo agora é global. Porque não pensar que os presos podem ser ignorados? Eles perderiam o seu direito de gente quando fossem para a cadeia. Poderiam passar uma semana pra pensar a respeito do que fizeram e tentar fugir. Depois, alguma espécie de morte, ou se poderia aproveitá-los pra fazer lingüiça e vender como alimento para animais. Porque não? Algo forte talvez colocasse uma dúvida antes de muita gente chegar na cadeia. Ah sim, o sistema está errado, não funciona, os caras não tem culpa, tiveram uma vida difícil. Pode até ser, mas... azar do goleiro. Os meios não justificam os fins, nem o inverso. Se as regras se aplicam pra todos dentro do conceito que todos temos os mesmos direitos, eles também não mereceriam pena.
Acho que primeiro temos que afundar com as ações que afundam todos juntos no barco. Cadeias são inúteis atualmente porque todo o resto está uma verdadeira bosta, uma merda, nem isso, algo completamente confuso e sem noção, seria engraçado se não fosse trágico.
Certo, certo, certo... Teríamos de mudar todo o sistema começar do zero já com meio prédio construído igual o estado atual da torre de pisa. Endireitar é complicado, mas continuar construindo torto é pior. Temos a certeza que vai cair quando se constrói torto, tentar deixar reto deixa uma chance de arrumar tudo pra seguir construindo.
Ah, que bosta eu to falando, isso aqui não vai mudar nada, sou somente mais um dos que ainda estão de fora da cadeia e sustenta os de dentro com cada produto que compra. Pena, porque eu preferiria juntar esse dinheiro pra coisas que julgo realmente necessárias.

sexta-feira, outubro 24

Sobre a crise...

Comentário de Marc Faber, Analista de Investimentos e empresário, que
encerrou seu boletim Mensal (junho de 2008) com o seguinte comentário
sobre o projeto americano de ajuda à economia, naquela ocasião ainda em
estudos:

"O Governo Federal está concedendo a cada um de nós uma bolsa de
US$600,00. Se gastarmos esse dinheiro no supermercado Wal-Mart, esse
dinheiro vai para a China. Se gastarmos com gasolina, vai para os
árabes. Se comprarmos um computador, vai para a Índia. Se comprarmos
frutas e vegetais, irá para o México, Honduras e Guatemala. Se
comprarmos um bom carro, irá para a Alemanha. Se comprarmos bugigangas,
irá para Taiwan e nenhum centavo desse dinheiro ajudará a economia
americana. O único meio de manter esse dinheiro na América é gastá-lo
com prostitutas e cerveja, considerando que são os únicos bens ainda
produzidos por aqui. Estou fazendo a minha parte."

segunda-feira, outubro 20

inverno/off/verão

Faz alguns dias que a primavera chegou oficialmente... Contudo, foi só hoje (29/09/08) que a chave do chuveiro trocou de inverno pra verão.
É legal isso. Nos chuveiros só temos duas estações, claro, podemos desligá-lo, mas isso não conta quando podemos pagar pra ter uma estação definida no banheiro. Pense bem, eu queria ter uma dessas no meu quarto, ou pelo menos na minha janela e na minha cama. Na cama seria definido por padrões de quente ou frio igual ao chuveiro, mas a janela seria perfeito para aqueles dias que se está por baixo ou aqueles que por mais que tenha um vendaval lá fora, se pudesse ver um lindo sol brilhando intensamente... Que viagem ridícula...
Devia ter outono e primavera também. Mais agora que o outono está cada vez mais frio e a primavera cada vez mais quente... é como se todas as estações estivessem se adiantando em algumas semanas. Um horário de verão só que de estações... logo tudo vai ser verão...
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Desde o aquece de ontem o calor me persegue. A manhã de hoje foi uma maravilha, queria poder ter uma manhã como essa todos os dias. Sem problemas com preguiça, ninguém atasanando a vida, tudo de bom no sanduíche entre lençois e a cama redonda. Com ou sem malícias, igualmente luxuoso qualquer selinho poderia parecer um convite bastando uma pequena olhada...
Acho que só hoje que ficou quente mesmo. Entrei no box do chuveiro e abri bastante a água. Fervia na minha pele, dava pra sentir nas juntas ardendo intensamente, o calor, era suor psicológico misturado a água quente do chuveiro que fazia barulho. Olhei pra cima e brabo, vi que tinham mudado de novo a chave do chuveiro... Rapidamente troquei denovo.
Verão.
Aquela água fresca descia como os córregos d'água que vi durante a viagem com ela hoje. O dia quente, lindo. Paisagem, música de verdade, companhia perfeita e o vento das montanhas para bagunçar o cabelo dela e eu adorar ver aquela carinha de "que saco, meu cabelo denovo". Simples, mas... quente.
A última vez que fui para as montanhas do templo fazia um frio do inferno que se não fosse o chima e o calor humano, não teria porque estar lá naquele fim de mundo esquecido entre paisagens. Tá bom... teria sim, no meu caso, teria.
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Antes parece tudo tão lógico, então só quando acontece (aguéin) com a gente as coisas ficam longe dos pés. Tu não sente mais o chão do mesmo jeito, ou tu usa a cabeça pra sentir o chão (batendo mesmo) ou tu inventa um chão novo abaixo dos pés para dar sentido a todas as novas aspirações que vem surgindo. Agora o tempo das desculpas para atitudes sem sentido e desnecessárias... mas fazer o que? Devo ignorar minhas vontades mais claras e lutar com minha cabeça crua e lógica para não fazer o que de verdade o peito ferve por fazer? Me desculpem mas eu preciso do curry. Mesmo.

terça-feira, outubro 14

kilometros inúteis

Acho que já tinha trocado duas vezes o cd do rádio, eu estava só andando por andar... as rodas do carro giravam lentamento, se arrastando por curvas que poderiam ser feitas a 100km/h enquanto eu abusava da raiva alheia dos carros que passavam zunindo enquanto enlouquecido pelas ondas do rádio cantava alto e faceiro naquela liberdade da tarde. Incrível como um pouco de vento e música não faz com os sentidos.
Meu rumo era qualquer um, estava só gastando meu dinheiro sem propósito concreto se não apenas minha vontade de fingir um livre arbítrio gastando minhas economias para o bem de minha saúde mental. Antes que digam que eu não estava prestando atenção na estrada e sou louco por dirigir como uma velha enquanto canto no carro, em minha defesa eu tive até mesmo um ouvinte, felizmente feminina, que bozinou de dentro do seu "grande" fox e após chegar ao lado, baixou o vidro e cantou dois trechos da música do Ira onde nós envelheciamos na cidade. A guria era interessante só de olhar, loira, olhos aparentemente claros e um sorrizão enquanto cantava. Acho que era gorda também... mas em fim...
Depois de cansar de ouvir aquele cd, parei num posto perto de Campo Bom. Eu já estava pensando em trocar de rumo e acabar numa cidadezinha do interior para fazer uma surpresa para Aquela morenaça quando passava perto de um postinho de beira de estrada. Não tive dúvidas, parei e fui beber. Sozinho. Sim, fui beber sozinho, e de carro. Tomei três latinhas de bohemia e fiquei mais uma meia hora olhando a paisagem enquanto escurecia. Comprei um café só pra disfarçar o hálito caso fosse parado e fui pra estrada denovo. Creedence animou minha solitária volta pra casa enquanto eu pensava no que ia fazer da minha vida assim que as rodas parassem.
As coisas são fundamentalmente simples mas praticamente complexas.

terça-feira, outubro 7

A.A.

Minha primeira reunião no AA foi meio inusitada... era aquela coisa de não ter certeza se devia estar fazendo aquilo, uma dúvida de se está certo se achar um "A". Dizem que o primeiro passo é admitir e tentar se ajudar, é como começar denovo, do zero, vivendo cada dia como se fosse o último.
Entrei na sala depois de ter falado com um amigo de um hospital que me indicou o lugar. Era no centro da cidade, nada de mais, parecia mais é uma sala qualquer de aula (tinha um quadro branco no fundo) com as cadeiras desorganizadas, ou organizadas de maneira criativa...
Um tal de Hélio foi o primeiro a falar. Se apresentou, fez todas aquelas lorotas de patati patata, e falou quanto tempo estava "limpo". Em torno de duas horas segundo o que ele lembraava. Seus olhos ainda brilhando do "plim", contudo, corado de vergonha pois a instrutora do grupo o fitava com sobrancelhas cerradas e claro ar de reprovação.
Sua vida fora sempre ao redor dessa droga, vivia sempre pensando em como fazer pra ter mais disso e quanto mais conseguia, mais piorava a situação em casa. Conta que certa vez chegou em casa pela noite e tirou todos os quadros da parede, depois, utilizando urina reformulou suas paisagens. No dia seguinte sua mulher o internou e agora ele precisava frequentar o grupo ou além de dormir sempre no sofá, talvez tivesse que voltar ao internato. A parte mais engraçada da história dele era o fato de que mesmo no internato sua esposa mandava trocar sua cama por um sofá. Consequencia desse "chá de sofá" foi que ele desenvolveu trauma por sofá e via em todos os lugares possíveis de se sentar, um sofá.
Apontaram pra mim depois desse cara. Eu estava um pouco louco ainda e achei melhor ignorar a ordem inicial e levantar, mudar minha cadeira de lugar para outro ponto da roda para que pudesse ser um dos últimos. Isso supondo o ritmo anti-horário que havia sido proposto.
Seu nome era Débie. Sim, Débie. Imaginei com grandes gargalhadas internas (que me fizeram perder quase toda a sua história) todas as piadas possíveis de alguém que se chama Débie. Pense nas crianças brincando e apontando pra Débieloide (mais clássica), Débiodesnaturada (algum nerd), Débomba (piromaniaco), Débochada (a professora xingando os alunos para não Débocharem dela), Déborracha (só alguém errando o nome dela quando pedisse a borracha emprestada), Débombeta (sempre tem um lunático), Déboina (o da modinha), Débimbada (só os que já rodaram duas vezes e futuros mecânicos/pedreiros/caminhoneiros fariam essa [sem ofensas a nenhuma classe, é claro]), Déborô (utilizado como gíria alternativa de "demorô"), Dúbia (na minha opinião o melhor nesse caso, o aspirante a poeta)! Em fim... eu ri de verdade só que sem mostrar nenhum som. Obviamente o fato de correr em círculos fez o pessoal prestar um pouco mais de atenção em mim do que nela. Mas ninguém me culpou porque quase todo mundo fazia isso quando escutava ela falando...
Dérbinando, eu não prestei atenção em nada, apenas que ela sim conseguia se manter livre do vício e raramente perdia o controle. Mesmo quando exposta a condições de risco para tais viciados, ela se acalmava e pensava nas reuniões do AA com todas as pessoas falando e contando suas "horriveis" histórias.
Tiago. Ele falou seu nome assim, sem mais nem menos antes de dizer um "eu sou", "me chamo", ou qualquer tipo de introdução (ui) adequada (ai ui). A história do rapaz era comoventemente de filme. Seus pais tinham muito dinheiro, portanto, ele tinha muitas coisas, menos atenção. Era filho único (era porque faz pouco que ganhou um irmão bastardo por parte das bebedeiras do seu pai), o que piora muito sua condição desde os tempos de criação. Ele cresceu dentro das melhores escolas, teve tudo que quis e pra isso tudo não fez o menor esforço. Em meados de seu segundo grau, hoje chamado Ensino Médio, ganhou um violão autografado pelo rei Carlos (não o dos tempos feudais), Roberto Carlos. Nada de mais, um presentinho que seu pai pensou que lhe agradaria mesmo ele não sabendo tocar nada.
A propósito, pode parecer estranho o monte de histórias loucas que se lê aqui, mas pense bem... por mais difícil que seja, pessoas numa reunião dessas realmente são capazes dessas coisas... O pai do Tiago era promotor de eventos, bebia como um maluco sempre que possível e é claro, conhecia os artistas pessoalmente. A história não é sobre o pai dele, mas ele fez questão de detalhar tanto tudo que deu nojo. Finalmente entendemos o problema dele. Detalhes ao quadrado. Havia dias que saia pra ir no bar com os amigos e não conseguia parar de falar nunca, ele entrava nos detalhes de cada coisa que conhecia, desde como se explica a cor das coisas e porque normalmente olhamos mais de uma vez para os dois lados da rua antes de atravessá-la. Ele tinha esse problema em específico. E isso ele sabia ser muito bem.
Havia mais uns cinco doidos antes de mim, mas eu estou tentando parar de resumir e começar a resumir de verdade. Então vamos ao que começou me incomodando. Todos ali tinham obrigatoriamente se identificar, falar idade, de onde era, como e quando começou com o vício, explicar porque havia começado a frequentar o grupo e que se fosse mesmo por obrigação tribunal deviam ser sempre sinceros. Eu não fui diferente, falei o nome, a idade e onde morava. A parte para explicar como comecei... foi meio... difícil. Eu não sabia bem como contar isso. Agora que já montei a idéia de como comecei vou tentar resumir pra vocês:
Eu não era nenhum bebado, nem vivia drogado. Não tive muita atenção dos pais, era mais criado pelos amigos, professores, eletrodomésticos e livros que encontrava pelo caminho. Passar as tardes sozinho fez com que o vício despertasse. Tenho certeza de que já tinha uma pré disposição genética para isso, senão não seria desde pequeno tão mais sozinho que os outros. Minha mãe havia dito que eu conseguia me divertir sozinho. Não sei o que ela colocava na mamadeira, mas ela não me parece desnaturada... só trabalha muito mesmo e desde sempre não teve muito tempo pra me cuidar como uma mãe "normal". Certo, talvez um bom erro, talvez o gatilho para o vício, foi ter sido criado por alemães. Vocês sabem muito bem o que isso pode significar num vício desse gênero. Alemães fizeram história por todo o mundo, não é necessário muita explicação.
Bom, o pior aconteceu no final do primeiro grau. Cheguei em casa, morto de sede, louco do sol. Me vi sozinho em casa e visitei a geladeira. Foi inevitável. Em instantes eu estava cortando uma de minhas camisetas velhas para usar de velas no meu barco no grande e fresco mar que me esperava. Pois é, foi assim, de uma hora pra outra, eu me vi dentro do delírio.
Argumentei com o pessoal que eu não queria mais isso, que dentro da sociedade atual, essas coisas nos prejudicam, geram descrédito... É muito difícil conviver com um mundo que pensa diferente de ti, tudo se torna mais difícil do que deveria ser e a vida começa a se tornar um caos. Não se vive mais o que se é, mais um conto inventado onde nunca se pode dizer a verdade, o que se passa pela cabeça nessas horas pode parecer uma loucura tão grande que me internariam. A realidade se distorce facilmente.
Acredito que tenha sido em uma quarta-feira de noite que depois de sair do bar, eu cheguei em casa e botei tudo pra fora. Olhei o resultado flutuando... triste. Na quinta pela manhã me obriguei a faltar o trabalho por uma causa maior. Fui ver um enfermeiro que conhecia pra saber se ele não me poderia indicar algum grupo de apoio ou algo do gênero. Pronto, consegui chegar até aqui (no caso a sala de reuniões) mas de qualquer maneira menti no trabalho alegando sonolência e cansaço.
Depois de tudo explicado, me perguntaram qual, afinal, ou melhor, pra começar, qual das opções era o meu vício, especificamente em que eu era viciado. Admiti de cara. Eu preciso escrever. O tempo todo, eu quero escrever e contar a todos as minhas idéias e pensamentos mais diversos. Nem sempre isso acontece com a escrita, as vezes é vontade de montar coisas com as própias mãos. Nem que seja de lego ou algo facilmente moldável, eu prefiro fazer eu mesmo que comprar pronto. Mas o pior é a escrita. Antigamente eu escrevia mais de uma vez no mesmo papel utilizando lapis e principalmente borracha. Não importava que ninguém, nem mesmo eu, lesse. O que eu preciso é despejar a criatividade, expulsar esse mal de mim. Atualmente qualquer idéia que me parece tão simples, crua, nua, normal e razoável, é de completa repugnância para qualquer pessoa... me perdoem mas... eu não resisti e tive que escrever em letras miúdas na porta de entrada. Alcóolatras Anônimos, afinal quem no mundo pensaria que isso pode ser um grupo de Artistas Anônimos?

domingo, outubro 5

Recall

Estava pensando num certo número de telefone que uma certa vez recebeu de um amigo, o número era de uma pequena morena, a princípio, simpática apenas, ele não conversou muito com ela, alguns ois e acredito que sequer um tchau.
Ele anotou num pedaço de papel e começou a revira-lo entre seus dedos como se fosse uma moeda ou ficha de ônibus enquanto matutava com seus botões, e zippers, e cadarços e mais botões.

-Mas o que eu digo? Nem lembro o nome da guria, como diabos vou chegar assim do nada?
-Mas afinal, o que tu quer? o que pretende, ou o que espera dessa ligação?
-Ah, eu pensei em... em uns amassos sem compromisso, ou quem sabe, um compromisso... vai que ela... neh?
-Não. Não mesmo, tu sequer lembra o nome dela e espera algo como um compromisso?
-Por que não?
-Deixa de ser estúpido, se considerasse ela o mínimo possível ia no mínimo lembrar o nome, sem falar que talvez decorasse o número dela em apenas uma avistada.
-Não quer dizer... vai que foi apenas um acaso de não ter dado muita atenção e no final as coisas ficam um pouco mais importantes e/ou profundas?
-Pode até ser, mas essas coisas são meio raras, principalmente contigo, te conheço bem.
-Certo... mas afinal, ligo ou não?
-Olha, eu não ligaria, não ligaria por varias razões, a começar pela conversa que tiveste com ela.
-Qual o problema da nossa conversa?
-Foi balela.
-Tá mas sempre se começa com essas coisinhas assim pra se conhecer, não?
-Eu sei que tu quer algo maior que um casinho, uns pegas; tu quer um compromisso e não te faz de louco que já vi tudo que tu "aprovou" nela.
-Ahhh, não seje assim... Igual, o que eu tenho a perder?
-Nada, digo, no máximo, tempo. Mas de qualquer maneira, qual o sentido disso? Quero dizer, ela é uma espécie diferente da que tu espera pra ti, muito diferente da imagem que tu tinha.
-Vou te bater.
-Ãh?
-Vou sim, tu vaix queimar.
-Liga então, quero ver. Liga, se tu for capaz.
-Vou! Vou ligar! Só tenho que ver o nome dela antes... só pra né... não chamar ela de "ô", ou pior, "cara". Não sei qual é pior... Bom, então tá. Vou ligar sim, seu maluco.
-Ótimo, talvez as coisas mudem... boa sorte desgraçado!

Ele amassou o papel dentro do bolso da calça jeans e foi pegar um chimarrão, sabia que era muito mais provável que não desse em nada, que sequer lembrasse dele talvez, ou coisas do gênero, de qualquer maneira, não custava tentar, mesmo que esse fosse o primeiro passo para o fracasso, também era o do sucesso.

--

- Alô Cíntia?
- Sim? Quem é?
- Ruffles, tudo bem?
- Ahhh oi ruffles, tudo bom sim.
- Vai fazer alguma coisa essa noite?
- Bahh.. olha, tenho que estudar. Terça tem prova e acho que vou ir mal se não fizer nada...
- Hummm... ah bom...
- Pois é...
- Então tá, bom estudo hoje...
- Mas por que tu quer saber?
- Não nada de mais, queria te convidar pra beber umas hoje, mas deixa, melhor tu estudar mesmo...
- Tá me chamando de burra?
- O que!? Não! Não! Claro que não, eu só fiz uma escolha infeliz das palavras...
- Sei...
- Bom, vou deixar tu estudar
- Certo, beijo, tchau
- Tchau, beijo


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Eu sabia que tu não devia ter ligado. Mas não! tu não me ouve! Tu nunnnca me ouve, nunca! Ah não seje assim, tu sabe que era melhor tentar... é sim, agora tu fica com uma cara de taxo e ainda por cima chamou ela de burra, ótima tentativa garanhão. Ah mas que bosta, tu também fica olhando tudo pelo lado negativo... E tem lado positivo aqui!? imbecil, estragou tudo, e olha que ela era bem bacana além de bonitinha... sim um certo beicinho, mas é toleravel... além do que deve ser bom de beijar. É... Se tu não tivesse estragado tudo... Mas eu não estraguei! Porra! Ui ele se irritou... Tom** no c* filho da pu** miserável. Ooolha os nomes! Daqui a pouco o único nome que tu vai ver vai ser meu punho nos teus olhos! Uhahahhahaha! Hahhahahahahha!
Depois de toda aquela balbúrdia de discussão a respeito do maldito telefonema, foi só mais uma segunda normal até chegar em casa. Claro, não pude deixar de quase passar a parada na volta, dormir no ônibus é uma maravilha da segunda-feira, igual a chegar em casa e tomar litros de suco depois de um dia estressante e seco.

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Já era tarde, mas ela ligou.
- Alô?
- Oi Ruffles, aqui é a Cíntia...
- Oi... mas tu não devia estar estudando?
- Já terminei e... ainda tá de pé aquela proposta de hoje detarde?
- É quase meia noite Cíntia...
- Mas eu tava com uma sede...
- Hummm...
- Ahhhh vem aqui, vamos lá tomar umas e conversar, não é o fim do mundo só porque é segunda...
- Não sei...
- Poxa Ruffles...
- Tu me deve explicações pra essa mudança repentina, mas tudo bem. Vinte minutos.
- Obaaa! Já to pronta, quando chegar da um toque.
- Mas perai, eu nem sei onde tu mora!

domingo, setembro 21

o que foi isso?

Fábio acordou no meio dos seus jornais logo que começou a movimentação na praça. Olhou pra baixo, leu as últimas notícias do dia de ontem e riu um pouco porque o dólar não mudava mais a sua condição miserável. Sabe, Fábio era um cara legal, meio rude e gostava de amarrar os tênis antes de calçá-los, mas era gente boa. Sua mulher estava deixando-o louco com a história de fazerem coisas juntos que ele nunca quis fazer. Certa vez inventou de fazer teatro de fantoches junto com o marido. Ahhh ela comprou quase uma loja inteira de meias e botões para fazer em casa seus próprios fantoches. Fábio, clínico geral bem sucedido, com poucas mortes na consciência foi obrigado a fazer parte do teatro de fantoches, primeiro contribuindo financeiramente com tudo, depois, fazendo os fantoches em si, mais ainda... Interpretando um fantoche durante dois aniversários infantis. Ele perguntava pra ela porque ele tinha de fazer aquele tipo de coisa, ela não sabia dizer a resposta que ele queria ouvir. "ah... porque é legal!" animada fazia os fantoches enquanto Fábio fazia o papel de um motoboy num acidente de moto "fantochiado". A moto era de plástico. Depois do segundo ato, ele xingou Sonia com toda a verdade que escondia no pescoço. "Eu odeio motoboys. Nunca mais vou fazer isso de novo." Sonia como que se assustou, pensou que perderia seu parceiro, seu amante, amado marido. Ligou pra sua mãe, pra sua melhor amiga, sua psicanalista e pro porteiro (esse último apenas porque ele sempre sabia de todas as fofocas do prédio). Chegou numa conclusão. Precisava apimentar seu casamento. Fábio teve alguma surpresa quando viu que era sua mulher nua chegando ao hospital já vestida de doente enquanto entrava de maca com muita gente fazendo trabalho ali ao redor. Ela havia sido atropelada e perdera parte do pé. Nua na maca, toda a paixão e desejo de Fábio foi despertada como um tapa na cara. Depois de resolver as complicações, de escolher a prótese para o pé direito de sua mulher, fez o melhor sexo de sua vida durante seu turno do meio dia, com todos gritando por atendimento e sua mulher por prazer dentro do quartinho do hospital. Pronto, dados nove meses era uma linda e saudável criança que nascia. Seus pais haviam se tornado gente, pararam de fazer loucuras, Fábio admitiu que motoboys talvez tivessem direito de viver afinal de contas enquanto Sonia colocava fogo em todas as meias de fantoches. Decidiram mudar, se tornarem normais e fazer coisas de gente normal. Tédio. Era o resumo de suas vidas quando não estavam se preocupando com Michele estavam cuidando dela. O começo foi lindo e romântico, chás disso, daquilo, tudo. Amigos vinham visitar o mais novo membro da família Frennes com presentinhos, mimos e sorrisos largos. Nada melhor que uma criança para fazer o entendimento entre um casal. Sim, Fábio realmente acordou hoje no meio de seus jornais. Não que antes não tivesse jornais, mas agora tinha jornais e apenas jornais. Eles eram tudo. Seu banheiro, sua roupa, seu quarto, suas coisas. Aos três anos de idade Michele já corria como uma louca dentro de casa. A casa era toda Michele, adorada Michele. Fazia da vida de seus pais a maior alegria do mundo, já havia começado a tentar ler, sua mãe mostrava os desenhos dos números, das palavras e dizia o que era. Ela já sabia "ler" seu nome e de seus pais. Fábio era apegado a ela como uma árvore é "apegada" a terra. Depois que ganhou sua motoca saia correndo pelo gramado de casa enquanto seus pais, de olhos brilhantes a admiravam enquanto faziam suas tarefas caseiras, ele lia o jornal, tomava uma limonada, Sonia fazia as limonadas e costurava ou ficava simplesmente ao lado do marido cuidando de sua filha. O pior dia de suas vidas começou com um belíssimo sol, sem suspeitas de tragédia. Mais um dia que iam ao parque brincar no gramado, seus pais agora se entendiam, a filha acalmava suas vidas, tinham um objetivo quando voltavam pra casa, isso os mantivera unidos até o momento que Michele correu atrás de uma bola que correu diante dela até a beira da rua. Ao se aproximar da bola um garoto que vinha voando em sua bicicleta esbarrou em cheio com a roda da frente em sua cabeça no momento em que ela se agachava para alcançar a bola. Seus pais não disseram nada, apenas acompanharam lentamente a cena de sua querida filha sendo atropelada por uma bicicleta enquanto se levantavam apuradamente para resgatá-la. Era tarde, os médicos fizeram todo o possível, mas quando o cirurgião voltou da sala olhando fixamente para o chão... Sonia desabou, Fábio sentia um buraco no meio do corpo que lhe corroia as entranhas. Se arrependimento matasse, teria sido uma família inteira naquele belo domingo. Suas culpas acabaram com suas vidas. Sonia via sempre um defeito nos atos de Fábio, que por mais que se esforçasse não chegava nem perto das novas exigências de Sonia. Ele morria todo dia enquanto dormia, sonhos/pesadelos vinham atormentá-lo sempre que fechava os olhos enquanto Sonia apenas ficava sentada no quarto de sua filha, segurando uma linda foto da menina se balançando no balanço com um sorriso lindo enquanto se embalava. Não durou tanto assim. O casal agora se autodestruía era como combater seus anticorpos viver sob o mesmo teto. Uma das únicas pessoas capazes de ajudarem era justamente a que exigia explicações. Sonia apontava a culpa para Fábio, porque se ele não tivesse dado aquela bola, ela não teria corrido atrás dela. Sonia era culpada por estar distraída enquanto sua filha corria para a morte. Fábio largou o emprego assim que pensou consigo mesmo: "Nada mais importa." Ele estava formalmente desistindo de viver. Sonia fez diferente. Sabia que a culpa era sua, fez questão de se internar num sanatório, o melhor lugar do mundo para qualquer pessoa que quer se manter louca. Funcionou. Fábio agora tinha amigos, eles tornavam tudo muito mais fácil. Obviamente um cachorro não iria culpá-lo, ao menos não com mais que olharem, além do que dividir um pouco de sua miséria o fazia sentir melhor, era uma penitência que ele se obrigava a passar. Até o dia em que passou a tentar se atirar na frente de bicicletas. Passou o resto de sua vida atormentado em seus sonhos, onde sua linda Michele desaparecia ao correr por uma colina verde. Os fatos nunca foram alterados, com todas as dores, com toda a culpa, não teve deus que escutou seus gritos de horror ao entenderem a realidade. A culpa não mudou os fatos, mesmo quando ele se atirou na frente de uma Scania, nada mudou no mundo.

sexta-feira, setembro 19

soprando denovo

A 120 km/h aquelas quatro rodas giravam em direção a uma possibilidade. Passou por uns policiais, pensou escutar um assovio quando avistou aquele pássaro observando todos passarem. Com uns locomotores chegou ao destino, nada de novo nas redondezas, fora a expectativa.
A chuva caia com força enquanto aquele corria até um clássico telefone público. Tirou-o do gancho e um som estranho emanou, algo como um gemido eletrônico. A luz do display piscou, deu um tempo querendo ligar até que finalmente apagou. Tornou a fazer isso nas outras tentativas. Depois de tentar em mais dois telefones, depois de mais chuva... Concluiu. "Preciso de um celular."
Enquanto se xingava por não ter um, tomou mais um pouco de chuva na cara correndo pra outro telefone público. Finalmente funcionou. As saudações e instruções foram breves mas precisas.
Depois de dobrar um par de esquinas, encontrou ela caminhando pela esquerda na rua com uma sombrinha. Tão belíssima imagem ver aquela garota flutuando sozinha na calçada em meio a chuva torrencial, olhasse sem conhecer diria sem destino, mas estava procurando-o, linda morena que o buscava com seus olhos castanhos. Fitou levemente o carro que acabara de passar sem nem mesmo notar a admiração que provocava no rapaz do carro preto. Numa olhada e manobra igualmente rápidas fez a volta e parou do lado dela. Da surpresa ao lindo sorriso até os calcanhares e ela entrou no carro.
Primeiro as saudações calorosas dentro do carro, logo estavam rodando sem muita direção. Apenas rodando, conversando pouco, carinhos de mão e pequenos toques. Foram a um pequeno lugar, uma espécie de petiscaria que também incluia xises no cardápio. A noite se prolongou dentro daquele lugar enquanto eles conversavam e riam. Deu tempo de conhecer o banheiro duas vezes devido as garrafas da velha Bohemia amiga. Conheceu a amiga dona do bar/lancheria/petiscaria/coisa e foram-se para lugar nenhum.
A noite foi ardente entre os labios dela e até mesmo os dentes dele.
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A volta pra casa foi feita com um frio gelado, sozinho. As rodas giravam como deviam, sem pressa, apenas o levavam para casa enquanto ele sabia que novamente o vento aprontava mais uma. Aquela janela aberta e o cheiro subindo do asfalto lhe dizia o que fazer.
The wind of changes blowing again...

eu não sei o que dizer

Fazia mais de uma semana que ele não se encontrava com ela, isso significa, sem toques, nada de beijos, nada de abraços, só palavras que voam pelos fios da cidade até a telinha de cada um, nem mesmo um dia durante toda uma longa semana foi escutado a voz daquela outra pessoa, longe, com quem ambos se importam.

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Pare de sacudir a cabeça
Você parece uma galinha no picadeiro
Um palhaço no galinheiro ou um cego
Depois de tanto dizer não, se esquece dos argumentos
Me ajude, minha vida tem mudado de tantas maneiras
Não importa quando se bata a cabeça, eu me sinto inseguro
Eu sei que só preciso me acostumar com tudo que nunca fiz antes
Me ajude a manter o equilíbrio, a não cair de costas
Há tempos atrás eu era tão jovem e tão confiante, dono do mundo
Sabia exatamente o que fazer o tempo todo,
Dizer não para os legumes, trepar em árvores, jogar bola, bater bafo
Sabia que a escola era onde eu podia perguntar a vontade,
Aonde eu devia parecer melhor que um limite pré-definido
Agora tudo se foi, a escola acabou, os pais não mandaram mais
Tudo que eu tanto queria, inútil, estou perdido, sem ser mandado
Sou agora um homem sem lugar, sem casa, um menino sem a asa dos pais
Tudo foi tão fácil até aqui, e agora eu me pergunto: "e daí?!"
Não tem Raul que responda a porrada de coisas que eu tenho que fazer
Agora cada passo é meu, every step, every error, every love. Tudo agora é meu
Oh sim! Aquela garota... Agora podemos voar atrás dela,
Nada de urubus, apenas mais um garoto que perto de uma mulher é só um garoto
Eu sei que tudo vai estar bem, é como dizem os romantico/bestas “Se tudo não está bem no final, é porque não é o final"
Os problemas são tão idiotas agora, a viadagem faz de qualquer vinte anos
Vinte inseguranças, vinte falta de escolhas e um bilhão e seiscentos sonhos pra se realizar
Assim como abrir uma firma. Porque não?
Não bastassem aqueles românticos macacos evoluídos, cada um com sua paixão
Obsessão e loucura, caminhando lado a lado, querendo fazer do plano, quadrado
Do quadrado círculo para finalmente com mais dois pontos o sol e a lua iriam brilhar
O sol até amanhã, a lua hoje de noite. Com ou sem música, agora mamãe não vem mais dizer
"deixe ser...". Os guerreiros estão muito rápidos lá fora, agoniando na sala do hospital
A cabra que ninguém lembra qual governador deixou, está cagando de novo no corredor
Pobre moleque sem pai nem a puta mãe que o deixou no lixo, agora vai limpar a bosta toda
O tempo vai passar, e a bosta não vai mudar, senão de adubo para a mente daquele pretinho
Tudo é preto, 50% dos pretos são verde. 50% são preto. E os outros 45%... Acabaram de pegar aids
Tomara que morram, tomara que exploda a periferia toda.
Ninguém vai lembrar-se de quem limpava a merda quando cada um tiver de limpar a sua
Vidinha malemolente vai dando baques todo dia com os pés enquanto se afunda até o tornozelo
Mesmo com a querida Lúcinha no céu, ninguém vai ver os diamantes, vão ver os pretos roubando
Os brancos roubando os pretos e os pardos rezando.
Falta amor, falta deus falta a tua vó. A balbúrdia começou cedo demais, eu devia escrever amanhã, não hoje enquanto todos morrem, só amanhã, sentado nos cadáveres. Vou rir até a morte, até da morte. Provavelmente ela se veste mal, e espero morrer num verão, assim ela virá suada e vou poder dizer com um sorriso largo.
"Suei até a morte"

terça-feira, setembro 16

quartas são as melhores

Embora hoje seja domingo, as quartas são as melhores. É o ponto entre o início e o fim da semana de trabalho, dos dias que ninguém faz nada além de falar mal, da maldita semana, corriqueira, cheinha de problemas... temos lá alguns adoradores da semana, aqueles que aparecem no trabalho com ressaca e acabam beijando a mesa no escritório, ou ainda vomitam em bolsas no caminho da ida e/ou no caminho da volta do trabalho.Porque não hoje, um dia qualquer em que as dores nas costas me fazem lembrar um velho mais velho que o mais sábio deles, mais dolorida que buda depois de todo aquele tempo paradinho em suas meditações, resolvi escrever.As quartas são aqueles dias que eu chego em casa cedo, no meio da semana, promoções no mercado e uma vontade de sair pra jogar boliche e tomar caipira. No meio da semana, como é proibido beber, o gostinho é cada vez melhor. Conversando com o pessoal já se imagina planos para o fim de semana, agora já está quase do lado, só mais dois dias, sendo que se escrevo pela noite, são dois dias mesmo, quarta já se foi.Ahhh as noites de quarta. Foi numa noite de quarta que as coisas começaram, a vontade de conhecer a experiência de alguém e cair na gandaia entre amassos e mais amassos num dia de semana, simples, sem expectativas. Numa dessas foi até o McDonald's e ela demorou pra comer, parecia que tinha algum problema, e tinha mesmo, entre embaraço e muita falta de habilidade em cada mordida, pingava maionese, que coisa linda numa hora dessas. Eu não conhecia ela, mas aquela quarta foi muito agradável, por mais estúpida que fosse quando se olhasse de longe, as bobagens davam mais gostinho pra quarta, que agora tinha alegria de feira.As quartas são ótimas, é uma entre a velocidade máxima e um pouco mais de força no motor, faz as ultrapassagens ficarem mais emocionantes, a rotação aumenta o coração permanece tranquilo enquanto os sentidos em fúria fazem a adrenalina fluir devagar pelas veias.Quarta é só mais um dia sem graça no meio da semana, desprezado na maioria dos programas entre casais e amigos, onde a raridade de se "fazer algo" chega a soar estranho quando se faz numa quarta. Quarta devia ser dia de chopp. Assim se deixaria a ceva e a caipira e o vinho para outros dias tão azedos e tão melhores que quarta.

terça-feira, setembro 2

briguem

Suas costas doiam um pouco, já havia algum tempo que não descansava como queria, como um beberrão vagabundo que não era, mas gostava de acordar pelas tardes, torto, nú artístico.
Pegou o último cigarro de cima do criado mudo, não achou fósforos, não achou o isqueiro preferido. Contorcionou-se na cama para apenas inclinar a cabeça pra olhar por de baixo da cama sem tirar o cigarro da boca. Achou a caixa de fósforos e acendeu o cigarro de cabeça para baixo mesmo tornando a por o fósforo na caixa e deixa-la de baixo da cama. Era sua "reserva".
Já era a metade da tarde e ninguém havia deixado mensagem em lugar algum dos meios de comunicação que utilizava. Coçou o saco e foi fazer uma comida para si mesmo.
Enquanto a água fervia ele escutava o som gostoso de uma lata de cerveja abrindo, mais uma bohemia, ou menos uma, era tempo de sua vida de trabalho se convertendo em tempo de gozo na vida.
Estava saindo de casa quando lembrou dos dentes ao encontrar uma massinha num canto da boca. Escovou o melhor que podia depois de quase não escovar e, finalmente saiu de casa pra ir para aquela baladinha que o amigo porteiro maluco havia conseguido entradas grátis a muito tempo atrás.
- Oi, tudo bom?
- Tudo tudo.
Beijou a loira que o esperava na frente do local combinado para aquele dia e logo foi a procura de Bob, o preto maluco. Magali (se pronuncia Magáli) estava relativamente animada com o convite de ir no Bazooka, era terça e mesmo tendo de voltar mais cedo pra casa queria tomar umas e jogar um papo fora junto com aquele rapaz.
- E ai maluco! Beleza?
- Podcrê! Veio sozinho mano?
- Não não, trouxe a Magali comigo. Será que eh boa a coisa aí?
- Levei a Valéria na estreia comigo, eu não precisava trampar muito, ela curtiu pacas, o troço é confirmado.
- Báááá magrão!
- Hehe.
Arranjou as coisas com o amigo e logo estavam lá dentro, de pé, fitando um grande "arraiau" com espelhos no teto que dava uma sensação louca ao se olhar pra cima e se deparar com o universo virado com raios laser verdes e vermelhos passando por todos os lados. A chuva de luzes acabou fazendo ela pedir umas danças antes de mais nada. Ele topou. Sabia que as coisas eram um pouco diferentes quando não estava só.
Agarrou-a e ao som do tunts tunts foi re-conquistando aos amassos safados, com indiretas diretas que a "dança" quase o obrigava a fazer. Os movimentos foram esquentando junto com seu corpo que aquecia o dela naquele inverno caliente, sem nenhuma alusão a momentos calientes posteriores, ele gostava de falar-lhe ao ouvido com uma voz mais baixa, mas sensual e com o detalhe de aproveitar que ela também entendia español. Aquilo dava uma pitada castellana muito gostosa às conversas que, em determinados casos, poderia ficar até mesmo constrangedora.

...

Era alemoa aquela belíssima raridade natural. Advogada, poderia mandá-lo para a cadeia sob diversas acusações contra o pudor, contudo, iria junto. A dança os levou ao calor, o calor, ao suor, o suor a mais suor e uma vontade imensa de puro sexo no meio da pista. Ambos se contiveram, mesmo que se provocando por cima das roupas, se contiveram. Ele saiu para o banheiro, estava louco; "Água fria! Muita água fria!". Lavou o rosto, fitou seus próprios olhos no espelho e se perguntou o que estava fazendo naquele lugar com aquela garota. Sem respostas, achou melhor ir perguntar pra ela. Fechou o zipper e no primeiro beijo ela sugeriu ir ao bar, tinha sede.
Com cervejas baratas, graças ao bruxo do lugar, o bar virou um local agradável pra se conversar, tocar pernas pro ar e beber até cansar. Ficaram rindo de algumas pessoas estranhas, bolando apelidos alheios. Criticaram o governo atual e ela ameaçou-o processa-lo por imoralidade e algo relacionando a chantagismo, ele só devolveria as chaves do carro com algumas condições, que envolviam o próprio carro dela, piruetas e algumas cervejas mais.
Acabaram os cigarros dele, e ela finalmente confessou o alívio de não ter mais fumaça por ali. Os papos de cigarro vieram e eles brigaram.
Foi simples, ela não gostava do cigarro, ele não dava a mínima importância de fumar ou não, mas gostava de fazê-lo quando sentia vontade. Tinha controle, "tudo" sob controle. A briga veio quando ele pediu pra ela falar a verdade quando os assuntos fossem triviais, ela riu argumentando que o vício dele não era trivial, era quase uma doença, uma loucura sã. Dentre as risadas e pequenos sarcasmos ambos se encheram, estava claro que não deveriam nem se ver mais.
A briga mandou cada um para uma ponta do bar, depois mandou ela para a pista, onde foi cobiçada instantaneamente por alguns rapazes. Ele ficou no bar, obviamente, fumando. Terminado outro cigarro, foi ao banheiro. Enxaguou a boca e foi busca-la na pista.
Aos beijos ela estava com um magrão mais alto e mais forte que ele. Tinha uma camiseta vermelha da lost. Ele gostava de usar vermelho quando saia com ela, não sabe porque, mas gostava. "Irônico." Pensou. Quando ela viu ele novamente, deixou de beijar o rapaz, e mais uma música deu um jeito de se livrar do magrão. Voltou para ele entre sinceras desculpas e perdões.
A risada de ironia ecoou pelo peito dela sentindo o fogo da crueldade, finalmente depois de mais algumas conversas, ficou estabelecido. Eles não tinham expectativa um com o outro, isso já estava claro, agora só ficou claro que não precisando manter nenhuma fidelidade de ambos os lados, ao menos falassem a verdade sempre para não se depararem com surpresas desgostosas.
...
Mais um dia com dores nas costas. Acordou meio torto e não conseguiu descansar de noite. Mechou no criado mudo que não existia do lado da cama, olhou em baixo dela e no chão e ao invés de cigarro e caixa de fósforos, achou sapatos e uma pantufa de ursinho. A casa dela era aconchegante, e sua relação não podia ser melhor nem pior.
Dois amigos, nús, sem nada de artista no meio e com a fidelidade da verdade, crua e nua, como gostavam de dizer. Podia doer dizer que ele estava ficando gordo, ou que o cabelo dela ficou pior com aquele corte bagaceiro, mas estava tudo perfeito, cada um no seu lado da cama, de costas mas sempre falando de frente, a coisa funcionava como deveria ser, mesmo que não devesse durar nada, eles se viam sempre que possível, eram seus próprios confissionários, sua religião, sua religião nua.

sábado, julho 26

pingüins

Criole...
A mulher estava ali sacudindo, sacudindo com tudo que podia
era um folego monstro que sacudia o predio junto com a toalha que sacudia
eu só escrevia, feliz pela segurança de um cinto,
burro por um corte feito por uma caipira (ou oito)
o cara se aproxima do microfone e diz que é hora de ir
boa noite ele diz que hora de ir pra casa e faz isso rapido com mais um detalhe
nós somos os bruxos! meu amigo, seu louco.
dois de nós estavam olhando pra cima
businavam como malucos, enquanto alguém apenas ria
enquanto alguém dos dois apenas corria para lá e para cá em suas maldições
tudo ficará bem. Não podia ser pior.
batman foi loucamente caliente enquanto projetos de gente
dos três aos mais de trinta, claramente mandavam indiretas diretas
o melhor do filme caiu de fora, enquanto a apreenção movia aqueles dois de nós
uma armônica não tão armonioza suspirava notas que ele não sabia pelo ar
tons de lás e rés vinham da viola enquanto a gaita, nua, crua e burra
soava como elefantes no meio dos pingüins,
e dos pingüins provavelmente não sairia,
gostava dali era ali que ele era o maior.

quarta-feira, julho 23

Nem um copo d'água

De novo a janela estava aberta em uma noite de inverno. Agora era outro ano, e a cabeça estava girando para outros lados, para outros rumos. Finalmente descobrira que seu pé era igual ao do pai. Doente de nascença. Problemas dermatológicos começaram a aparecer e agora ele coçava os pés sem parar enquanto olhava a janela de ponta cabeça.
O vento estava uivando quando ele pensou sobre os detalhes do "pinóquio às avessas" de Rubem Alves. A questão era sobre o tipo de educação, sobre a progressão escolar de um indivíduo chamado Felipe, que desde de pequeno, gosta de pássaros e quando pequeno sonhava ser especialista em pássaros. Não, nada de veterinário, não de cuidar, mas de SABER de pássaros.
Felipe desde pequeno não entende direito o que é a escola, e como toda criança sadia, tem coceira na cabeça, coçando curiosidade ele pergunta tudo o que pode para seus pais, que como todo bom pai, nos tempos de hoje, responde como pode, inventa algumas coisinhas engraçadinhas para crianças e também contam que as coisas são assim porque assim são. Aquela resposta de sim, porque sim.
A promessa de sua vida começa na escola, quando ele deve começar a frequentê-la e estudar como todos. Segundo seus pais, suas professoras e professores saberão responder as perguntas que eles não conseguem. Ao se deparar com perguntas simples sobre filosofia, tais como: "Por que eu sou eu e a borboleta é a borboleta?", os professores se vêem no mesmo problema que os pais dele, de modo que ou fojem do assunto (afinal é apenas uma criança bobinha fazendo perguntas de crianças) ou dão uma resposta inventada na hora normalmente absurda.
Aqui vou cortar o resto do livro e meter meus próprios comentários a respeito das coisas que ocorrem hoje em dia...
Se pararmos para pensar adequadamente, a escola é como uma prisão, mas muito pior que uma prisão comum, ela aprisiona idéias, aprisiona desejos. Pense bem. Temos de aprender, logo depois de ler e escrever, do básico de matemática, a respeito de história, geografia, ciências, matemática um pouco mais aprofundada, regras de linguagem, etc... Tudo conforme alguém um dia ordenou, ou julgou, que eram necessárias para o crescimento de toda pessoa dentro deste país. Muito bom, temos um mínimo a aprender definido, onde tudo que consta no programa de estudos deverá ser o conhecimento básico de toda a população.
Agora pense de verdade. Você lembra das regras de português? dos nomes de todo mundo de história? dos detalhes do solo de cada região? de como é o formato de Butão?
Lembra como se trata uma fração com raiz no dividendo? E quando houver mais de uma? Diferentes radicandos, o que tu fazes?
Certamente não lembramos de tudo, lembramos do que gostávamos e também do que mais usamos nos dias atuais. Agora, se simplesmente não utilizamos aquele conhecimento de anos de estudo, para que aprendê-lo? Curiosidade? Mas não foi essa a razão que nos levou a aprender aquilo tudo, foi a obrigação.
Dentro da escola, nós devemos aprender aquilo que nos ensinam, e normalmente não se deve desperdiçar tempo em outros temas. Certo que um professor sempre gosta de um assunto diferente para comentar, uma notícia que comoveu o pessoal ou algo do gênero, mas quando que se utiliza um semestre inteiro para aprender sobre um tema que é de curiosidade de um aluno?
A sociedade exige isso. Como passar em provas classificatórias de ensino médio sem saber essas coisas? Como avaliar as pessoas se não temos um planejamento completamente estruturado, com ponto de início e fim precisamente decididos, com carga horária de cada tema abordado e notas distribuidas uniformemente para cada professor avaliar seus alunos? Como avaliar? Como dizer que determinado guri sabe (ou não) o mínimo de tudo e está apto a realizar determinado tipo de tarefa?
Eis o problema: A avaliação. Tudo fica fácil sem ela, afinal, sem ela, tudo é como é, cada um sabe o que sabe e acabou, mas as notas, elas definem o quão bom alguém é. Não interessa nada além delas. Quem sabe é porque essa nota representa tanto que é por isso que sabemos das coisas enquanto estudamos. Quando saímos da escola, tudo o que passou, passou. Não efetivamente sabemos tudo que estudamos, nem mesmo aquilo que representa a nota. Sabemos o que nos interessa, ou o que por ventura nos marcou.
Certo, certo... agora... porque diabos é necessário apontar os aptos a determinadas tarefas? Porque dentro da cidade, dentro da sociedade que existe por volta de nós. Nascemos no meio dela, não temos como mudá-la, acabamos acatando as exigências dela para fins de sobrevivência. Uma das necessidades da sociedade atual, é antes de mais nada, dinheiro. Precisamos trabalhar (isso exige no mínimo conhecimento). Além disso. As pessoas que ganham mais dinheiro (nossos chefes) precisam de pessoas que saibam fazer as coisas (mais conhecimento) que outras pessoas (chefes deles, ou clientes deles) vão comprar. Assim circula o dinheiro... Assim o mundo tem girado e feito alguns milionários... outros apenas sobrevivem. Mas é, assim que tem que ser, né? A sociedade evolui e as coisas precisam ser dessa maneira. Não quero nem pensar em como mudar isso, só vou torcer pra me tornar um dos milionários.
Antes de prosseguir, preciso salientar que essas coisas só se tornaram necessárias em massa, ou seja, conhecimento em massa, ou padrão mínimo de não burrice, porque as coisas começaram a ser necessárias em massa, vindo da insdustrialização dos protudos, depois a massividade de comunicação, os tempos começaram a andar mais rápido...
Bom, tirando essa parte fora, agora já sabemos porque precisamos dar nota.
Pois bem. Voltemos. Antes de precisar disso, antes das escolas, antes, bem antes... eu quero o período que mais me agrada em relação a educação. O período feudal. Nada de dragões, nada de reis, nada de espadas. Apenas folhas mais grossas normalmente fora de padrão de cortes e algo como tinta e um graveto ou pena para desenhar sobre elas. O período feudal (ou talvez, antes do período feudal, pode ser que eu esteja falando bobagem, mas é apenas porque não lembro de tudo que aprendi na escola a respeito desse período histórico) não possuia escolas. Os mais bem afortunados eram os que tinham a habilidade de ler e escrever, de somar, dividir. Era um período que as pessoas não tinham obrigação de saber para poder viver, elas apenas precisavam carregar coisas e saber se alimentar todos os dias. Saber no sentido de dar um jeito de arrumar comida. Suas preocupações provavelmente não iam muito além do mínimo para sobreviver, literalmente, o mínimo.
Alguém poderia começar a fazer botas, bastaria conhecer algum fazedor de botas, ou tentar inventar seus próprios métodos de fazer uma bota. Outros alfaiates, outros pintores, outros pastores, outros poetas, outros outros outros... Tudo que era necessário para a existência das pessoas estava numa pequena comunidade, onde normalmente as tarefas eram passadas de geração em geração. O que provavelmente não impede de se aprender coisas diferentes, buscar sábios de montanhas, buscar mestres consagrados pelos sete mares, em fim, as pessoas que sabiam fazer bem o que faziam eram conhecidas, eram requisitadas por suas habilidades, e normalmente, delas, se sustentavam. Como cada um poderia começar a trabalhar? Certamente podemos pensar em lindas histórias para isso.
Um jovem garoto abandonado que encontra um velho que sabe fazer cerveja vai aos poucos descobrindo com a ajuda dele, os mínimos detalhes de uma boa cerveja. Um bom carpinteiro sabe como começar a serrar a madeira, com o tempo tem a noção de tamanho das coisas, a noção de força suportada por cada tipo de madeira, em fim, cada um vai aos poucos aprendendo na pratica, na vida dura onde a condição física é mais importante, pois sem corpo para trabalhar, o mundo não girava.
Este tempo que tentei citar acima, é o tempo perfeito para crianças. É o tempo das crianças, eu diria. Morriam de fome, morriam por partos mal feitos, por doenças de todos os tipos, por animais selvagens ou mesmo ordens de algum superior local. Mas todas as suas curiosidades poderiam ser respondidas bastando a criança se aventurar em busca de suas respostas. É insano, é sim, mas olhe pela janela, e pense um pouco além... também não é insano? Vamos todos morrer, melhor morrer descobrindo o que se quer descobrir que decorando o que nos dizem para decorar.
Não, não se trata de que hoje não se possa aventurar em busca das nossas respostas, mas o fato é que hoje, não temos de aprender coisas, obrigatoriamente, temos de aprender dentro de um limite de tempo, não importa se para alguns seja desperdício de tempo, ou se para outros seja quase impossível, o fato é que não temos a liberdade vinda de casa a respeito do conhecimento, não temos mais o livre arbítrio do pensamento no começo da composição cerebral, nós temos que ir a escola e passar na escola. Nós temos que aprender isso isso e aquilo, ponto final. O resto é curiosidade, é algo que não valhe nada, nem um copo d'água.

terça-feira, julho 15

bolinha

Sobre o que escrever se não sobre as escritas?
As vezes é necessário um empurrão do destino diário para que algo seja cuspido pra fora e acabar nessas letrinhas miúdas. No começo apenas se escreve, não se planeja nada, vai dedilhando o teclado fazendo uma música sem tons, só de letras. Com o tempo o ritmo. O gosto. Com o tempo, as criticas, e a partir das criticas, as criticas e as criticas é o que mais começa a interessar.
Comecei a ler um livro a respeito de uma ladra ontem. O livro começa de maneira genial, mas me pergunto o quão expressivo é o livro. Dotado de palavras um pouco mais pomposas, poemado, com brincadeirinhas semelhante as que leio e as que gosto de fazer.
Noto, é claro, que são escritores, vendendores de arte, que querem a fama por fazer algo com maestria, com o dom de contar histórias de maneira apropriada. As coisas são assim afinal, as histórias boas, não necessariamente sejam apenas as que são por si só fatos dentro de um cronograma que montam uma boa história, mas a maneira de contar pode fazer de uma simples história, uma boa história. Mais ou menos como o que tento fazer aqui dentro de uma tese junta de uma experiência própria.
A critica de arte não existe. Sendo arte, a idéia de expressar suas idéias, emoções, loucuras, aflições, ou etc e tal, não tem como ela ser criticada. Pois ela apenas é e acabou. É como fazer perguntas de "na sua opinião" dentro de uma prova. Na minha opinião, uma pergunta de "na sua opinião" não vale nada, pois a opinião não tem como ser criticada, mensurada, comparada, adequadamente. Sendo a arte, a pura expressão, a idéia da necessidade que alguém pode ter por fazer obras, por fazer quadros, esculturas, musicas, versos, textos, danças ou seja lá a espécie de loucura utilizada, a coisa em si não foi feita para ser vista, ser elogiada ou render dinheiro. Foi feita pela necessidade do criador de cria-la. Toda obra feita assim, não existe, não tem preço, e jamais poderá ser repetida.
Talvez seja como um bocejo. A necessidade absurda, incontrolável, sem consciência, sem razão lógica, nos faz bocejar, e pode vir a fazer outros, mais próximos também bocejarem. Como lobos enclausurados pedindo por ver a lua e finalmente uivar como sempre quiseram.
Difere um pouco da idéia de bocejarmos para fazer graça, para fazermos os outros bocejarem também.
Talvez a única coisa que seja considerada arte e precise de crítica, seja a arte da cozinha. Não das brincadeiras de criança, mas toda a gula, todo o mundo de poções mágicas, de ingredientes secretos e toques de amor e carinho que se da a uma boa comida. Essa arte, necessariamente é gerada para se gerar boas criticas. Pessoas morrendo de tesão pela comida, comendo quietas apreciando cada pedaço de seja lá o que se tenha feito. Doces, salgados, amargos, azedinhos, texturas ásperas, lisas, misturas nojentas, belas, malucas, e por que não, geniais, tudo que se deseja é agradar a todos com sua arte. A única arte que deve ser feita com segundas intenções.
Os sons, as músicas que foram feitas para serem músicas derivam de uma vontade própria dos músicos de comporem, provavelmente de se expressarem. E mesmo que precisem de ajustes na maioria das vezes, são músicas de verdade quando são inicialmente escritas por necessidade.

Um papel amassado pode ser arte hoje em dia. Basta olhar para ele com seu criador do lado, e o mesmo pode explicar que ele tentou expressar a opressão da sociedade perante uma cabeça sem riscos de uma criança. Pode dizer que mostra o mundo e portanto, suas possibilidades entranhadas nas rugas formadas pela deformação do papel amassado. Tudo não passa de lixo. As idéias não são arte, são só idéias.
Essa foto, foi retirada do primeiro resultado que veio da pesquisa de imagens do google. Veio precisamente, deste blog. Gostei do primeiro post, mas não é arte. Não se chama arte pois arte de verdade não procura por público, não fala com os outros com a real intenção de falar com eles, fala dizendo vocês, outros, como algo que nunca lerá, algo que nunca será visto por outras pessoas. As coisas que são feitas e ficam quietas, morrem quietas. São as que realmente tiveram a necessidade de serem criadas apenas para existir por aquele instante e deu. O resto todo é loucura.
Pense no futuro do mundo, chamo mundo, tudo que hoje existe. Abra a janela, e pense o quão significante é para tudo fazer a diferença com a loucura de perder meu tempo me divertindo ao escrever, e vocês, lendo isto, não exatamente se divertindo, talvez apenas passando o tempo, olhando porque não tinha mais nada pra fazer, ou apenas pelo costume de entrar em determinados locais. Que dirá os que estão apenas clicando em resultados do google e encontrando este início/fim de mundo. Nada é realmente necessário, mas a diversão de fazer "arte", é que realmente é uma arte.
Eu ia terminar com a frase de cima, o que me daria um ótimo chavão chave de ouro. Mas... mas, me arrependo de não ter deixado como estava. E agora que já cometi o erro de seguir escrevendo, dou por encerrado meus erros aqui.

terça-feira, julho 8

sim sim sim sim

Triiii
Alô?
Alô! Ahhh alô! O Doutor Zurita está?
Aqui não.
Mas como não?! Por favor! Não diga mentiras, é urgente!
Espere um momento... Escuta...
Hã?
Tem outro cara procurando o Doutor Zurita.
Ah é?... Pois mande-o para o inferno! Porque eu to na frente a muito tempo tá bom? Alô.
Alô!
Pronto.
Olha, desculpe mas tem uma pessoa querendo falar com o Doutor Zurita antes do senhor.
Ah meu deus... Já tem outro, agora são três!...Escuta eu não quero nem saber se já tem outra pessoa aí! Você pode dizer que eu quero falar com o Doutor Zurita, e se ele não atender eu quebro a sua cara tá bom?
O quê?! Um momentinho... Olha. O cara tá me ameaçando.
Mande-o para o inferno, Ora.
Ah sim... Alô?
Pronto.
Porque não vai pro inferno hein?
Ahhh éééé assim? Um momentinho. Chapolin, ele também tá me insultando.
Ah é? Então insulte-o também.
Ah tá. Alô?
Sim?
Permita-me dizer que você tem cara de idiota.
Mrhh hhnnhm espere um minutinho.
Espere o quanto quizer!
Você sabe um insulto mais forte que idiota?
Sim sim sim sim, diga que ele é um tranquera!
Escute, fique sabendo que você é um tranquera!
Ah!
Acho que o surpreendeu, porque ele ficou calado... E além de ser um tranquera, você é um topera e um cabeça de bagre, tá bom?
Topera...
Cê também.

segunda-feira, julho 7

Sem imaginação

Hoje o dia começou mal. Dores no pé, o corpo pedindo mais um tempinho de sono e a parte cotidiana da vida mandando andar logo, se arrumar porque terminar o estégio é o que vem primeiro.
Dei ouvidos a desgraçada que me fez me arrumar prontamente. Logo estava saindo e pagando a passagem para a cobradora. Pensamentos chatos e sem continuação dominaram a viagem, e o onibus, sem poltronas reclináveis me irritou desde o ponto de embarque até o desembarque. Não pude dormir, fiquei fechando os olhos, abrindo-os em momento inapropriado e me irritando quando batia sol direto no olho. Eu queria descer e dormir ali do lado da estrada.
O dia de trabalho foi bom, a comida estava boa, simples, bem temperada e até um pouco apimentada. Pesei que depois daquele arroz e carne o dia melhoraria, pois até então não havia conseguido progresso na parte do trabalho. Pois bem, eis que consegui mesmo. A tarde foi simples e sem graça, quase dormir, tive um ou dois momentos que perdi o controle das pálpebras e do pescoço caindo completamente pra frente e logo voltando, como um soco inesperado e a reação automática.
Me deparo com uma mensagem de extrema ofensa ao chegar em casa. E como se já não soubesse, de tudo, tive de ouvir os bla bla blas denovo. Quase explodindo, quase batendo nas paredes, espumando de nojo e raiva por escutar milhões de vezes o que já sei, exatamente como previ. O nojo subiu a cabeça mas consegui me controlar. Não contei nem nada, fiquei estático pensando até que consegui consumir toda a raiva para algum lugar do corpo que um dia acabará explodindo de verdade.
A maravilhosa notícia de que minha irmã voltou a namorar me deixou mais brabo. Não é machismo, não é niilismo de querer as coisas no seu devido tempo, é simplesmente não dar chance a ela, porque já conheço suas atitudes, sua cabeça e tenho completa noção de onde isso vai parar, ou vai bater. Deixo um tempo para pensar e o vento está fresco, sem muita humidade, não muito frio, nem quente. Está bom.
Queria pegar uma bicicleta e ir até um cantinho isolado nessas horas. Sair do mundo, dar um tempo para consumir minhas idéias e emoções. É engraçado saber que tipo de pessoa se é e não conseguir mudar. Faz parte da natureza própria, que mesmo quando é omitida, nunca é negada.

sábado, julho 5

pássaros

Sabe... Devem ter razão.
As coisas normalmente não passam de coisas. Comprei roupas hoje, boas roupas, gostei de me ver nelas, e fiz questão de utilizar de olhares para incomodar uma garçonete morena bem bonitinha. Não era lá essas coisas de novela, mas era bonita. Levemente torneada, com cabelo preso, pele clara e cabelo castanho. Bonita.
Pensei em inúmeras coisas que ela fazia da vida enquanto conversava com o velho. O velho contou um pouco das suas, o que foi bom, mas igual eu conseguiu pensar e dar atenção a ele normalmente. O tempo passou, o dinheiro se transformava em urina depois de longos chopps naquela cidade satélite.
Formulei teorias, nada mais que isso. Mesmo que muitas tenham a coincidência de estarem certas (eventualmente), não significa que as próximas estarão, não significa nem mesmo que as anteriores estavam, apenas significa que dentro daqueles parâmetros de experiência, de escalas, a teoria funcionava.
Um dos dez ratos de laboratório talvez não reaja da mesma maneira que os outros 999 mil, logo, mesmo tendo uma maioria, a teoria da coisa não passa de uma generalização imaginária em que muitas, ou a maioria das vezes, funciona. O que demonstra que ela não funciona por não funcionar sempre.
Talvez as pessoas não tenham o direito de pensar. De tentar mudar as coisas, de achar que raciocinam. As coisas são só coisas, e o máximo que podem fazer é te machucar ou te divertir. Normalmente você quem escolhe o que elas farão. Contudo, as coisas que ocorrem vistos de uma maneira diferente, podem se tornar uma teoria, não necessariamente 99% correta, talvez nem 1% correta, mas uma nova teoria, uma nova maneira insana que alguém tirou do nada para explicar o nada.
Nada passou como era esperado, nem como era desejado por mim. As coisas apenas passaram, como os pássaros que passam voando em seus passos largos rasantes no meio do parque.

segunda-feira, junho 30

arroz e feijão

Por muito acaso me sentei hoje, ao sol com um potinho de marmita recheado de feijão e arroz feitos com carinho pela mãe e me pus a pensar na razoavidade das pessoas assim que vi uma borboleta voando, próxima de uma árvore, amarela, simples, idiota.
Li num dos livros proibidos que existem dois tipos de humanos, quando se trata de sua relação com o mundo.

"Existem dois tipos de homens. Os homens razoáveis tentam se adaptar ao mundo ao seu redor, enquanto os não razoáveis tentam adaptar o mundo a eles mesmos."

O dia estava bastante claro naquele momento. A cada garfada eu ficava procurando um cantinho de mundo que parecia esquecido por todo o resto dele. A sombra de um limoeiro, os buracos de insetos na grama muito bem camuflados, a planta ao estilo trepadeira que de leve ia subindo pelo muro... Eram tantas coisinhas sem muita graça apenas vivendo que deu um pouco de nojo de mim mesmo, ali parado, sentindo o gosto da comida, fitando as coisas em suas pseudo-formas... Os pensamentos dos vagabundos tendiam a me iluminar, ou a me amedrontar. Tudo aquilo ali, não passaria de nada, se eu fosse um claro vegetal, ou seja, se eu não sentisse gostos, se não sentisse o toque do vento, se não vice as cores, as formas, se não escutasse o barulho da grama crescendo ou o cheiro do sol batendo na terra.
Tudo aquilo ali de onde eu vinha, não passava de nada, não era nada razoável, tudo, principalmente as coisas com que eu trabalhava, me dei por conta, eram completamente fora deste mundo, era sempre uma tentativa de mudar o mundo, torná-lo simples para nossa vida humana, facilitá-lo para nós, e unicamente para nós. Eu parei de dar garfadas e percebi que o mundo havia perdido a noção das coisas e lembrei diretamente dos índios.
Criaturas que não sabemos o nome que elas davam a elas mesmas, afinal índios foi apenas por uma confusão com os caras que viviam na Índia. Nós temos uma cultura formada, uma maneira de viver (hoje, insustentável a longo prazo), temos maneira de educar as próximas gerações, criamos meios de comunicação, temores, gozos sociais, pré-conceitos e novas ciências, temos tudo, assim como aqueles caras tinham. Pensei logo que por alguma maldição, os índios, ou povos, ou seja lá o que for, dos caras que viviam na parte da europa, ásia, em fim, oriente, oriente médio, por alguma razão, eles "evoluíram" mais rápido, foram "adiante" e inventaram coisas, ferramentas, mudaram pouco a pouco o mundo ao seu redor para que pudessem usá-lo, literalmente, usá-lo. Dai me veio direto a pergunta de que se os povos que aqui viviam fossem deixados em paz, será que eles não chegariam a esse ponto uma hora? Não iriam começar a descobrir coisas novas para inventar, teorias a formular? As vezes acho que o deus que todos queriam eram os deuses dos povos indígenas, afinal, como explicar o fato de que as tribos não se espalharam e dominaram o continente? Haviam muitos índios aqui, sim, mas não tantos quanto brancos na região da europa. Quero dizer, porque os habitantes dessa imensa ilha não dentou adentrar a todas as matas e povoá-las com suas gerações, com seus descendentes?
A sombra das árvores se mexiam, enquanto eu me incomodava com o fato de ser humano, e pensava que ser um indígena era a melhor coisa do mundo, a melhor mesmo. Era como viver de verdade, a preocupação é com a comida de cada dia, com a saúde e nada mais, no máximo, com as regras da tribo, mas não tem importância, todo o tempo fora do necessário para cuidar da família ou de alimentos ou coisas do gênero seria um tempo próprio, em que cada um poderia fazer o que bem entendesse, e melhor ainda! NU!
Eu realmente delirei naquele início de tarde. Parei de comer a marmita e viajei peladão. Queria pensar que todo mundo poderia a partir daquela hora, deixar tudo, e fazer como Raul dizia, parar a terra, num dia, e ir de tanga (no máximo) pra casa. Fazer um sexo com a mulher, caçar com os amigos, ou para os não adeptos a carnes, plantar ou colher com os amigos. Depois treinar algum esporte ou atividade física normalmente necessária para a sobrevivência, como pesca, caça, pular em árvores, brincar com crianças que ainda não sabiam fazer os movimentos de guerra de um integrante da tribo. Realmente achei genial a idéia. Não é aquela coisa de índios são o máximo como no tempo dos romances clássicos, mas coisa de ser um animal de novo, voltar a viver como se deve viver no mundo, no sistema completo. O sistema tão como foi alterado, não funciona.
Queria ter ido lavar um pote de barro no rio. Coçar o saco e molhar as pernas até o joelho esperando o pote de barro secar em cima de uma pedra enquanto pegava sol. O que aconteceu foi que guardei ele na mochila, e fui ver a cotação da bolsa no computador. Mas ao menos, fui nu.

domingo, junho 29

Meios termos

Um limão meio limão,
junto com os dois patinhos
eles flutuavam na lagoa
no céu que sou
Como uma pedra no caminho
como aquela pedra que tinha no meio do caminho
uma cascata de idéias pentelhas,
flores na tomada
Vamos fugir, correndo daqui
como loucos do sertão fugindo de um leão
igual ao maluco russo que atirou o Daniel
no meio da cova do magrão
I want, muito mal, a gaita zunia toda doida
mas não queria nada, nem ninguém, só o som das gotas
um céu azul roxo verde com amarelo púrpura,
tudo em tons de preto iluminados pelo vinho
Sabe pessoal, adoro colchão de mola.
Não saberia como dizer que os dentes dela são feios
ou como fica nojento ver uma testa com manchas suando
Era uma moreninha linda.
De longe.
Mais longe. Talvez de noite. De olhos fechados. Sendo cego.
Os pares de tenis vermelhos podiam correr
mas sozinhos ele não correriam nus, como um artista
Tudo em nome do amor, em nome de deuses de alás de acás
Nenhum deles é homem, ou que seje ao menos meio homem
Bando de viadinho, pintam o céu de rosa, e com thompsons
pintam, bordam e alguns tricotam, as dores marrons e pretas de outros
Meias laranjas, meios limões

quinta-feira, junho 19

ruim

Cheguei em casa cansado do treino. Não foi por ter apanhado que nem cachorro, nem por exercicios abdominais, eu realmente estava cansado, pra baixo, down, um lixo interno se revirando e remoendo sem sentir algum propósito em casa passo que dava. Primeiro comi uma boa pizza, que não me animou, só desceu bem, como uma gota caindo na água, cai se mistura e tu nunca mais sabe daquela gota, em específico.
Depois do banho, tive de me olhar no espelho pra ver se a vergonha interna do fracasso esportivo estava aparendo em alguma parte do meu rosto. Nada, nada doía, mesmo depois de estar frio, voltar ao estado normal, nenhuma dor, nenhum vermelho, nada. Lembrei que o único soco que senti foi um na boca do estômago que me pegou desprevinido mesmo e não tive tempo de enrigecer aquela região.
Estava me aprontando pra ir para a aula de direção e fiquei um momento olhando televisão. Propaganda política, as mais engraçadas possíveis. PMDB, um partido de pessoas simples e claras. Tudo ia a mesma ladainha de sempre, até que depois do Fernando Henrique Cardoso falar muitas coisas do seu querido partido, uma propaganda começou a rolar, re-afirmando com tenacidade todas as glórias que as pessoas do partido já haviam feito. Eu estava tranquilo, até que um carinha qualquer falou:
-No começo, telefone era coisa de quem podia, ninguém tinha dinheiro para ter linha telefônica. Era coisa de luxo!
Logo depois, o narrador fala, e junto segue a legenda.
-Mas o PMDB mudou isso. Com as privatizações, inovou tecnologicamente o país e distribui tecnologia para todos.
Foi nesse momento que eu perdi a noção da raiva, e definitivamente me doeu por dentro ler aquilo. Sim, quero sair dessa merda, ir para uma bosta menos pior, um lugar que eu julgue melhor que aqui, e sim, quero que se foda o país, que se arrebente, seja dominado por quem tem grana e acabou. Contudo... sempre existe uma infeliz esperança de que algo grande aconteça, de que uma revolução democrática ou não, provoque algum rebuliço nas estruturas e faça algo melhor. Quando li aquilo ali na tela, eu não sabia mais se chorava ou se morria rindo. Naturalmente eu riria até a morte, mas eu já não estava bem, lembrei de cara de uma grande discussão que tive a respeito de privatizações com um cara mais velho e supostamente, melhor informado em questão política. Sou um zero a esquerda bem moldado em relação a política, mas de qualquer maneira, existem coisas que não se baseiam em direita e esquerda, mas em pura lógica.

Privatizações. Vou ficar devendo o material a respeito da CEEE, que o Britto privatizou, e também as companias ciderurgicas entre outras estatais do Brasil mais antigo. Quero ir para os telefones, de uma vez, e tentar resumir minha visão a respeito do tema de privatizar serviços públicos.

As visões:
-Privatizar, significa deixar de se preocupar com um setor de serviço o qual o estado não tem porque manter atenção, ou seja, um peso a menos para o governo.
-Ao se privatizar, se põe a leilão uma compania estatal, tendo como intenção um maior lucro para o estado na hora da venda.
-Privatizar significa inovar a tecnologia do país e trazer novos produtos para dentro do mesmo.
-Privatizar gera empregos diretos e indiretos, pois a compania já se encontra em território nacional.
-Privatizar é uma conversão de uma compania que não gera lucro, para uma que pagará impostos.


Essa de cima, foi uma. Agora, a minha, ou apenas, outra visão:
-Privatizar é garantir que o serviço que deve ser prestado com cuidado (em todos os sentidos, principalmente os direitos do consumidor) seja comandado por quem tem uma visão clara de que o público é dinheiro correndo.
-Ao se privatizar, se põe a leilão uma compania estatal, tendo como intenção um maior lucro para quem for o político vendedor da vez, fazendo escandalos de vender companias a preço de banana, como um mercado livre ou deal extreme. Caso não seja a preço de banana, sempre existe um apoio do governo para a nova administração se instalar na região.
-Privatizar significa ignorar a capacidade de geração de tecnologia do país e garantir que o que vier de fora é o que dominará a nação em questão tecnologica. Significa escravizar a tecnologia interna em uma determinada área além de garantir que a tecnologia vinda de fora será a que os trabalhadores daqui terão de aprender, ou seja, seremos todos pagadores de pau para os caras que fizeram as coisas acontecerem.
-Privatizar garante que os empregos de chefia, os empregos que futuramente poderiam gerar mais empregos de verdade para o pessoal do país, serão oupados por pessoas não ligadas ao estado, apenas ao próprio lucro. Fora que lembrando da tecnologia, os empregos gerados para gerar tecnologia são muitos, além de abrir uma nova rede de possibilidades empregativas.
-Privatizar é uma conversão de uma compania que não gera lucro, para uma que levará o dinheiro para a matriz normalmente localizada em outro país, garantindo que o dinheiro não seja investido completamente dentro do país de onde veio. (Neste aqui, um detalhe. Como manter uma compania que não gera lucro? Utilizando dos impostos que são pagos pela população, afinal, se a compania serve para prestar serviços a papulação, não pode gerar lucros, pois significaria ganhar dinheiro da nação para um serviço prestado pela nação para a nação, o que não faz o minimo sentido.)

Bom. Chegou a noite e estou ainda escrevendo. O fato é que sou um daqueles imbecis que são da oposição eterna, ou seja, sempre oposição, não interessa qume governe. O que procuro fazer, é votar pelo menos pior possível. Agora, finalizando, minha visão sobre privatização é simples:
Privatizar é não bom.


quinta-feira, junho 12

O carlos tá morrendo! gente, façam alguma coisa!

O dia não foi dos ruins nem nada, foi mais um dia de trabalho com relativa tranqüilidade devido as exigências pouco exigentes por parte dos superiores. A viajem de ônibus foi boa, considerando que ele não conseguiu dormir como desejava, passou o tempo todo pensando a respeito de nada, a respeito de como nada levava a nada e por fim tudo não importava porra nenhuma perante nada, e contudo, no final da viajem, ou seja, no final das contas, todo esse nada, podia ser um nada muito divertido enquanto se nadasse na terra.
-Muay.
Saiu do treino sentindo-se fedorento, sentindo-se um porco completo sem escrúpulos, sem noção de mínimo apresentável publicamente. Correu para casa sozinho enquanto pensava sobre as técnicas recém re-aprendidas, corrigidas e aprimoradas, como fazer as coisas que a princípio se pensa que é muito simples de fazer, quando de repente se dá conta que movimentar-se requer noção, prática e muita inteligência motora. Em fim, foi dando socos no ar e pensando em casos que poderiam ocorrer num encontro não muito feliz entre ele e uma pessoa que soubesse menos que ele desse tipo de luta e outra em que ele seria o que sabe menos e tem menos prática. Em ambos os casos, ele concluiu finalmente que ia apanhar como um rato.
Deu de ombros com seus pensamentos e seus botões e foi direto para o banho. O melhor banho do mundo, uma limpeza psicológica que o fazia voltar a sentir um cheiro gostoso de limpo, de asseio. Se arrumou e passou um pouco de tempo conversando com a gordinha. Era bonito ver aqueles olhos clamando por palavras conselheiras a respeito de temas da idade dela, foi meio que enrolando e o tempo passou enquanto ele dava uns apertos naquelas bochechas fofinhas.
Não demorou e já estava de pé entrando no estacionamento para mais uma aulinha de direção. Uma boa melhorada, considerando que fazia mais de quatro anos que ele não praticava e que a última aula, de cinqüenta minutos, não valia nada de muita experiência. Foi repreendido algumas vezes por botar um pouco mais do que um iniciante deveria botar no carro. Sabia do erro, mas adorava-o.
Desceu do carro próximo de casa, apenas a umas três ou quatro quadras enquanto ia andando, pensando nas técnicas que não havia feito adequadamente, a maneira de virar, como e quando trocar marchas, coisas que com o tempo se pega e se deixa de ser um pirralho babaca no volante. Foi andando e cuidando as esquinas, pra verificar preferências e rir um pouco do nada. Chegou num cruzamento com semáforos e parou na esquina, olhou um painel de propagando com relógio e termômetro e constatou: 9ºC. Olhou para o lado que vinham carros e viu um Honda prateado vindo a toda com toda sua potência, logo atrás vinha um veículo auto-motor, um uno vermelho, que logo o lembrou de "Inácio máquinas", ele ficou cuidando para ver se não era, e quando de repente o vidro do caroneiro desceu e de dentro uma morena muito bonita gritou para fora:
-Uuuuhhhh!!! Gostosôôô!
Deu lhe um frio instantâneo na barriga, pois ele esperava Inácio máquinas, não um grito desses. Recobrou a consciência em instantes e quando o carro passava já para o outro lado da esquina, gritou com força a única coisa maluca que lhe passou pela cabeça:
-Vem provar!
E não é que o carro andou por um pouco mais e parou? Parou mesmo e aquela morena veio vindo, numa jaqueta revestida de veludo, com uma bota de salto fina e uma calça jeans em sua direção já atravessando a rua. Ele não acreditou muito naquilo, e via de dúvida, virou pro lado como um bom macho, um pavão, de peito inflado e um olhar simples com um leve sorriso na cara. A garota se aproximou e disse um oi que logo foi calado por um beijo selvagem e absurdo, como se já o tivesse feito várias vezes, acariciou-a com carinho ali naquela esquina mesmo, até mesmo deu umas breves apalpadelas nas curvas da garota. Terminado o beijo, um cara já havia saído do carro e gritava para que ela voltasse. Ela disse tchau e se despediu com um beijinho simples nos lábios. Ela nem falou mais nada, nem ele quis saber de mais nada. Viu o carro saindo tranqüilamente em direção ao frio da noite e com um sorriso na nuca caminhou até em casa rindo sozinho, olhando para os lados pra ver se não era com outra pessoa. Cheirou as mãos para verificar se não havia ficado nenhum cheiro de perfume de mulher ou algo do gênero, mas não, nada, foi apenas aquilo, rápido, simples, cru e muito divertido. Agora vai dormir rindo de novo, mas do Brasil, rumo ao Hexa.