terça-feira, junho 26

Incandescente

Tem alguma coisa na luz amarela, essa meio âmbar, que me trás conforto e alívio. Tipo cor de uma manhã de outono bem ensolarada que aos poucos se mostra um dia ameno e aconchegante. Penso numa poltrona com braços altos e bem fofa, um chima, a televisão ligada, uma boa companhia, livro aberto, jornal de ontem pela metade. Um dia assim, daqueles amarelos quentes, ares de conversas na rua, caminhando ou na cadeira de praia.
Penso até em dizer, nesses momentos loucos: "ah, foda-se os leds"

terça-feira, junho 19

Montanha Chilena

As vezes se deseja que as oportunidades não apareçam. O comodismo. Não. Não se trata de comodismo, mas de certas áreas das coisas que parecem cada vez mais se encaixar e dar certo, como se fosse um caminho perfeito já traçado aguardando que o tempo passe.
No meio do caminho tinha uma pedra. Não exatamente uma pedra, tinha uma escada? Um atalho? Tinha uma bifurcação, parece, talvez aqueles caminhos que se seguem quase juntos um do outros, separados por um pequeno trecho de terra que faz a distinção de cada estrada.
São coisas que acabam por acontecer, e forçosamente moldarão nossas vidas de forma irreversível. Assim é todo o dia, todo o dia que se faz a mesma coisa, mas nem se nota isso durante o cotidiano, não existe uma diferença de direção, então a partir da física, se é estável, não é sentida. As curvas, as ondas e a mudança que da a sensação de que direção. Certa vez um velho disse que quando andava com seu fusca pelas ruas da cidade se forçava a andar em zigue-e-zague, de tão vazias, e ficava bem claro que eram as curvas que faziam a diversão da corrida.
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É uma coisa estranha quando acontece. Um sentimento que não se tinha memória, uma dor da saudade que ainda não chegou, mas já se está preparando para ela. Será forte, intensa e contínua. Será certo? São as mesmas perguntas quase sempre, são dúvidas que aparecem e não se faz ideia do que se está fazendo, sentimentos que aparecem e nos levam a atitudes, que nos levam a novos e velhos sentimentos.
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Aquele vazio no centro do estômago, aquele buraco no centro, a culpa, irremediável.
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A história que já ensinou algumas coisas não pode ser ignorada. Seria estúpido e ignorante se deixasse tudo de lado e seguisse repetindo seus erros com arrependimentos cada vez maiores. As decisões sem resposta certa, só com aquela coisa de quem sabe, quem sabe, talvez isso, mas e se. Não se tem previsão de nada.
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Se pensa sempre no que se poderia acontecer, eu sei que não da pra pensar demais nisso. Enquanto estamos sem sentir tudo isso é quase óbvio dizer o que devemos fazer, mas quando esse turbilhão de coisas acaba por passar no centro de nosso ser, acabamos assim, cada vez com mais dúvidas.
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Penetram vontades de se enraizar, de se fixar e fazer com que aquele sonho seja real o mais rápido possível. Aquela coisa de construir junto, aquela história que mal começamos. A história que estamos começando não pode ficar por isso. Não vai ser fácil, eu realmente sei, mas também tenho o conforto de saber que é possível. Quando li 'contigo e não abro', veio o conforto. E como uma onda que vai e volta, voltou uma 'sensação de descarte' que me deixa arrependido, me deixa muito pior, confuso e culpado de novo. Faz sentido, fez toda a merda. É merecido.
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Todos os dias andamos nessas ruas, de mãos dadas nos corredores do prédio. Com chuva, como hoje. Com sol, outro dia. E de novo.

segunda-feira, junho 11

Fumaça Parte 3

Era um apartamento bastante simples, na realidade, um JK. Era o segundo andar e não pegava muito sol, rendia no final do ano umas duas paredes mofadas e um cheiro que insistia em voltar. No primeiro ano ele até se importou com tudo aquilo, fez questão de limpar as paredes sempre que via um resquicio de mofo. Sentia aquele cheiro de humidade e mudava as coisas de lugar, tentando de alguma forma amenizar a situação do lugar. Depois da teimosia de um ano lutando com o ambiente do apartamento, resolvou que ficaria assim até ter razão para mudar alguma coisa, parou de se opor a humidade e passou a acostumar-se com ela, eventualmente uma tia que limpava o lugar lhe pedia para comprar uns produtos para limpar as paredes, mas raramente lembrava de comprar.
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Um sofá cama que normalmente estava sempre no estado de cama aberto meio de lado para a televisão. O sofá meio velho, comprado no brick foi a melhor opção, quer dizer, caso ele quisesse trazer pessoas, ele poderia monta-lo como sofá e o ambiente seria até social. Uma mesa redonda pequena para quatro pessoas ficava mais a frente, próximo ao murinho que fazia a cosinha e dava de frente para a sacada. Eram quatro cadeiras e uma já fazia aquele ruido, certa vez levou uma garota de programa para o quarto e o resultado foi uma marca de cigarro no sofá cama, uma cadeira rangindo e uma frustração impagavel. Não, pagável.
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Num desses domingos de sol brilhante ele via de longe que o dia seria bacana, um bom dia para quase qualquer coisa, quem sabe até para trabalhar. Levantou-se e buscou a carteira de cigarro em baixo do sofá, próximo ao cinzeiro. Acendeu um e conforme foi levantando e se coçando ia empurrando as roupas do dia anterior para um canto e se direcionando ao banheiro.
Cara amassada, cabelo escuro bastante bagunçado, era moreno estatura média, tudo bem, não tão médio assim, mais para medio baixo que médio médio ou médio alto. Tragou e soltou a fumaça no espelho, sentiu sua língua áspera, sentindo aquele amargo do cigarro.

- Buenas babaca. Tem que cortar esse cabelo hein?

Enquanto mijava tragava e soltava aquela fumaça pra cima e via aquelas rachaduras num teto mal pintado. O cigarro ficava aceso escorado na pia enquanto se arrumava, terminou aquele ainda no banheiro depois de escovar os dentes, se arrependeu de novo. Aquela mistura de gostos na boca, menta com tabaco não era muito interessante, não aquela da pasta de dente.
Deixou o apartamento bagunçado e arrumou-se para o serviço, já era perto das dez e meia e tinha que sair para chegar ao restaurante a tempo, os clientes começavam a chegar as onze e meia. Estava atrasado.

quarta-feira, junho 6

Sorella 2

Tentando colocar os pontos, talvez nos is, ou os tópicos, de forma não invasiva, de forma expositiva, aos que tiverem saco para ler a desgraça que se desenrola.
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Conhecimento interno

Nunca tive muito, e de fato aos poucos tenho adquirido mais. Mas ela não sabe nem o que é o conceito disso, ou a mera, a vaga ideia de conhecer-se a si, saber como se responde aos estímulos e tentar controlar-se. Durante um período da vida não compartilhava de alegria com os familiares, no máximo alguma tolerância com a presença dos pais. Abertura zero. Por alguma razão, por algumas palavras que me vinham a cabeça através de espanhol, fui mudando, trazendo as palavras a mente em momentos cruciais e formando coragem do nada de forma a moldar-se em atitudes, resultados.
Conheço-me um pouco, e sei que palavras normalmente me são suficientes, apesar de que certas coisas só aprendi apanhando, física e psicologicamente.
As tristes conversas com ela são monólogos.
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Consciência e culpa

Pensando a respeito das culpas dos resultados atuais, penso diretamente nos responsáveis legais e biológicos, entretanto também penso que uma parte seja dela também, ela já poderia tentar fazer alguma coisa por ela mesma, mas não tem coragem de fazer nada diferente do que sempre fez.
Numa construção de uma ideia sobre isso, com uma morena, me ficou claro que na realidade ela não foi nem preparada para ter essa consciência, quer dizer, na época que se deveria aprender essas coisas, ela não esteja pronta, então lhe vendaram e a levaram no colo por cima de todo o medo e caminho pedregoso. Sempre sem limites.
Por favor, admitam culpa total. Sim, total.
Falando com uma quase psicóloga nuns tempos atrás, a mesma concordou veementemente que era apenas falta de colhão dos responsáveis. Não sabiam como lidar, não lidaram. Resulta existe hoje, numa falta de consciência por parte dela, e numa imensa culpa por parte deles. Ambas as partes estáticas, sem saber como mudar. Pedras.
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Amigos

Lembro-me como se fosse hoje, quando entrei pela porta da sala e vi um desconhecido sentado no sofá de casa. Lado oposto estava o velho, calado e alheio. Não era o primeiro namorado, era engraçado, pois eu mal sabia o que era namorar, e ela já estava no terceiro. Incrível como uns amigos podem fazer, ou a falta deles.
Tive sorte, penso, em ter encontrado uns caras muito fodas desde o inicio dos tempos. Talvez uma pré-disposição nos tenha unido e é isso o que nos faz re-velos com certa frequência, tanto faz. Meus amigos eram/são muito parecidos comigo em vários pontos, cada um lá com seus traços mais fortes em determinados pontos do caráter, mas muitas coisas semelhantes.
Nunca a vi com uma amizade sólida. Talvez não saiba lidar com as pessoas, não sei como ela pode se portar fora de casa, nunca virei mosca pra segui-la. Sei que raramente senti que alguém que entrasse aqui em casa realmente fosse amiga(o) dela de verdade, naquele mesmo estilo que levava com meus amigos. Teve sim seus amigos, ela os escolheu, eis aqui um ponto. Elas os escolheu, seja como for, mesmo que muito por uma determinada criação, mas também por afinidade, talvez seja só burrice, quer dizer, não desenvolveu sua capacidade de perceber as pessoas, continua ingênua, será isso? Não sabe desconfiar das pessoas? É uma criança pura então? Que dó.
Os amigos que prestam, pessoas cada vez mais raras, são evidentemente uma necessidade urgente na vida de todas as pessoas que conheço. Principalmente as mais velhas que não possuem uma família quente, ok, nem todas precisam tanto disso, eu sou um que precisa, não tão frequentemente, mas preciso.
Triste ver alguém tão jovem sem entender que é capaz de criar esses vínculos, ou pior, tentando cria-los com as pessoas erradas.
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Namorados

Mais do que tudo, estes sim ela mesma escolheu, e todos eles, foram até hoje, na minha reservada opinião, uns merdas. Sim, garotos sempre muito fracos, muto alienados com tudo, com sua própria idade e realidade. Nunca senti firmeza em nenhum deles, mesmo o mais velho, um gurizote fumante, mas ainda um gurizote. Quem sou eu pra essas opiniões né? Pode ser pré-conceito com seus estilos, pode, mas prefiro acreditar que não e que realmente estou certo de que eles não são capazes de serem homens de verdade. Certo, sou quase nada perto de muito homem foda, mas não é esse o ponto, não se pode ter opiniões sempre proporcionais ao que se é.
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Respeito

Uma coisa que sempre procurei ter, ou ao menos, achava que tinha, era respeito. De todas as formas, com todas as pessoas. Não sei exatamente de qual parte da minha criação que isso aconteceu, mas eu tenho isso sempre marcado na cabeça, até mesmo para xingar alguém em penso com qual respeito vou faltar.
Chego em casa e meu cofre de moedas foi visivelmente mexido e colocado onde não estava. Seja quem for, foi uma puta falta de respeito com o que não é seu, ninguém mais ensina isso em casa hein?
Se não é teu, não toque. Não mexa, sequer pense em fazer qualquer coisa.
O ambiente é público, ou seja, não é meu e por tanto considero que devo respeito a todas as pessoas que usufruem dele. Vou no banheiro e depois de lavar as mãos faço questão de fechar a torneira, completamente, sem deixar gotas caindo. O mesmo acontece quando vou tomar leite e o re-coloco na geladeira, afim de garantir que o seguinte o encontre no mesmo estado em que eu o encontrei.
Por alguma razão, ela não tem esse conceito em sua cabeça, ela pode até falar alguma asneira a respeito, mas não passa de um papagaio repetindo o que foi dito em alguma novela/jonarl/série, em fim, tv.
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Responsabilidade e consequências

O que acontece quando você sai de casa e esquece a janela do quarto aberta e por acaso chove horrores? Por mágica a janela se fecha sozinha, óbvio. É o que vem acontecendo na vida dela desde sempre. Mágica. Vejo que se faz de tudo, com todos os esforços, para que ela se isente de qualquer consequência de seus atos. Sempre se encontra alguém para culpar, uma forma de contornar o problema e de fato não deixar que a consequência realmente aconteça, ou aconteça por completo. Falávamos sobre aniversário e pensei, ela está se formando no ensino médio com dezoito... mas lembro que ela ia repetir outro ano no colégio se não tivessem trocado ela de escola para uma de nível muito inferior. Enraçado, tivemos a mesma educação né, tanto é que na minha mente eu era obrigado, literalmente obrigado, a ser no mínimo bom a ponto de ir para uma escola técnica, e a ela não existiu obrigação sequer de passar de ano numa escola tosca e particular. Ui, to fazendo mimimi por causa da escolhinha dela, estou mesmo, dizem uma coisa e analisando esse simples detalhe vemos mais um exemplo de como as consequências nunca chegam a vida dela.
Você é menor de idade e sai na quarta feira. Não da explicação alguma e fica incomunicável, volta no sábado querendo comida, o que você ganha? Roupa lavada, quarto limpo, comida especial e roupa nova no aniversário. Óbvio. Quer exemplo melhor que esse? Quando que vai haver uma negação em casa? Quando que sua vida enfrentará as consequências de seus atos? Quando meus pais morrerem?
Promoção: Quebre um celular e ganhe um melhor em seguida sem custo algum e sem trocar de número!
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Colhões/Culhões

Não sei qual o termo correto, só sei que falta muito disso, isso pra mim se traduz em inteligência, somando coragem e atitude. Dizem que se deve ter atitude, mas acho que é necessário pensar nela antes, e ter coragem para pensar coisas novas, apontar problemas e tentar mudar, e de novo ter coragem para depois de chegar a essa conclusão, realmente fazer algo novo, completamente inesperado.
Ele sempre da tudo que ela pede, e quando recebe críticas, não sabe mais como reagir se não se fechar na carapuça de dom casmurro que carrega e ir olhar um filme. Ele normalmente acaba caindo naquele sorriso jovial e belo, com pouco choro ela o convence a tudo, e ele da tudo, quando percebe a merda que fez, não sabe tomar outra atitude senão a de falar mal por trás, não dialogar, não buscar soluções, apenas resmungos, apontando os erros dela e o passado, sempre fixo no passado, pensando que agora é tarde e morreremos assim. Com toda essa coragem, talvez morreremos mesmo.
A ela não lhe falta coragem, falta técnica, a mesma técnica que ela sempre empregou em suas salas de aula, ela não faz ideia do que faz dentro de casa. É como um pai que chega na sala dela, mas é ela o pai, e a sala está vazia. A filha aprontou horrores e não existe uma supervisora firme capaz de unir a família, os pais e resolver os problemas. Acaba então por aos poucos cansar da vida triste de ver a filha cada vez mais longe de seus ideias e vai deixando que se remedia buraco a buraco. Ela tem tudo que precisa, sempre foi expressiva, sempre teve coragem eminente, falta-lhe a inteligência e a análise que usa no profissional. Fazer o que? Casa de ferreiro espeto de pau.
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Papéis

Depois de uma verdadeira briga com o velho, percebi que deveria deixar de tentar ser ele. Começar a pensar como irmão e postar-me no meu lugar. Foi um conhecimento e tanto, realmente, devemos estar presentes nos papéis que nos esperam. Mas e se isso for pouco? Eu vejo o papel do irmão de reclamar e reclamar e brigar com a mais nova, e quando preciso, as vezes, ajudar. Não é o bastante, é necessário mais papeis, agregar papeis, precisamos ser amigos, precisamos nos conhecer como pessoas que somos e não como apenas parentes. Sim, eu sei que não fiz a minha parte, talvez seja um traço que puxei do velho, o de apontar os problemas com facilidade mas não perceber os seus tão habilmente assim.
Além desses, vejo que eles também, estão no seu papel, pais amáveis, daqueles com fotinhos de quando se é pequeno, e nas fotos ela e eu somos lindos, sempre, família sorridente, muitas fotos lindas. Parece que hoje as novelas e notícias dizem que problema dos pais é grande, então é psicólogo. Eles abrem mão do papel pleno de pais e o dividem com estranhos que são, pior ainda, pagos. Os terceiros que precisam apontar as coisas mais óbvias e mostrar o mais fácil, como se todos não fossemos loucos e fosse um caso extremo.
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Loucos

A gravidade da coisa é tamanhã assim é? Sou eu que sou cego demais para ver isso? Falo sério, posso ser mesmo, vai ver só estou com ciúmes da atenção que ela tem ganhado nos últimos tempos.
Não sei exatamente por que, mas acho que não se admite extrapolar aqui em casa em termos psicóticos. Nunca a considerei pirada nem nada assim, e ainda não considero. A vejo como uma criança tendo suas crises existenciais. Lembro de ter uma na fase de sair do ensino fundamental para o médio, chorei como uma gazela desmamada. A vida iria mudar e eu não sabia o que fazer, pensei até em suicídio, que besteira, só por que não teria mais os mesmos amigos e seria forçado a fazer algo da vida, aliás, eu não sabia que iria virar programador, e ainda não sei se gosto mesmo disso, apenas funcionou, e essa coisa de vocação era uma que sempre me deu medo, por errar, que não se podia errar.
Talvez se eles soubessem que fiquei do lado de fora da grade do sétimo andar durante algumas tardes em que estavam fora, talvez eu tivesse conhecido um psicólogo também. Adoro psicólogos, são como amigos pagos.
Acho que ela os assusta de verdade, ou eles não querem aceitar a realidade, ou é a falta de culhão que já mencionei e eles não sabem como lidar com isso. Não sabem como reagir e acabam por dizer que como ela é diferente, ela é louca, enquanto acredito que seja apenas uma nova forma de pensar, quer dizer, num novo tempo, visto que ela ainda não aprendeu o básico para uma vida emocional estável é de se assustar com tamanha burrice emocional. A infantilidade é grande, mas toda criança um dia cresce, inevitavelmente. Ela sendo sempre tratada como criança a mantém assim, sempre aos cuidados, por que ela precisa de cuidados, por que ela não pode jamais se machucar, por que a merda pode ser maior, por ques que se acumulam numa pilha de desculpas para não tomar uma atitude diferente da loucura padrão.
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Inteligências

Umas coisa que aprendi nas últimas semana, foi que temos mais de um tipo de inteligência. Não falo especificamente daquelas coisas que são sitadas por experts da área de educação ou de psicologia, quero apenas dizer que se pode ter pessoas que serão péssimas em várias coisas e muito boas em outras. Isso abre um leque de possibilidades, inclusive me faz pensar que não sou bom em expressar-me, enquanto tem pessoas que facilmente conseguem dizer com clareza o que querem, eu não, eu faço um texto monstruoso e ainda não disse a metade.
Bom, coisas que ela ainda não sabe, e talvez não entenda até agora, é que ela nem tentou descobrir suas inteligencias e nem tentou desenvolvê-las. Talvez também aconteça com os velhos, que já esquecem do que se trata esse texto, tamanha minha falta de objetividade.
Somos diferentes e pensamos e aprendemos diferentes. Mas a base de tudo isso nunca é permanecer no mesmo lugar, no mesmo ponto com a mesma inteligência já gasta. Ser sábio seria identificar o que se falta consigo mesmo e tentar buscar. Como meu problema para comunicação ou falar em público. Minha dificuldade com português me levou a escrever tentando melhorar, e dizem alguns leitores que os erros de português diminuíram. Não sou inteligente, talvez rapidamente sábio, para poucas coisas, mas quero melhorar, hoje melhor que ontem.
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Sem sub estimas

Sempre é horrível quando se tem dedos apontados na cara de cada um. Odeio ver meus erros, é triste ter que enfrenta-los de frente, é necessário todo um esforço, e por mais que se saiba deles, muitas vezes os evito, fujo da obrigação, desde ir ao colégio até ser alguém especial para outra pessoa. Subestimo-me, de forma a muitas pensar que não serei capaz de fazer nada, as provas do ensino técnico sempre foram bons exemplos, e quantas vezes foram necessários terceiros que apontassem para mim e cutucassem minha ferida para que eu finalmente resolvesse tomar uma atitude?
Vejo uma subestima em muita coisa aqui. A capacidade de cada um sendo cada vez menos estimada, sempre desafiando menos o potencial de cada um, como se não fossemos capazes de lidar com situações extremas, como se só pudéssemos viver na zona de conforto.
Ela tem todo o potencial que ainda não descobriu, só não teve aquele empurrão para sair do ponto confortável. Pode certamente muito mesmo, acontece que o medo a domina e limita. Todos repetem isso constantemente mas ainda nos falta entender que ela não vai entender falando, só apanhando e tendo que se desestabilizar.
Vejo essa subestima também no potencial dos responsáveis que aos poucos foram acreditando não serem capazes de lidar com as coisas e deixaram de seguir seus instintos. Hoje parece que tudo o que se fala é que não sabem o que fazer, como baratas tontas correndo em círculos.
Acreditem, antes dos deuses, em nós mesmos, com toda a intensidade da vida.

terça-feira, junho 5

Sorella

Sobre aquela questão de ajuda, manter-se no lugar, parado? Não, pronto, a postos.
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Novamente a garota perdida da cabeça voltou para casa sem saber aonde está. Ela se perde sozinha com sua própria sombra, não entende que não entende e parece que cada vez mais acredita nela mesma, na estupidez de não repensar o que já fez e seguir igualmente errada. Tecnologia do burro, era como um velho mestre nomeava essa técnica tão frequentemente utilizada. Justamente isso que lhe parece faltar, a lembrança do que já aconteceu como base para novas atitudes, um circuito completo, um loop eterno de aprendizado. Não, estagnou num ponto, e a partir dele um ciclo sempre se repete, mas sem uma nova fase de novas ações, são sempre as mesmas, sem as mesmas dores, sempre os mesmos gozos.
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Pensando nessas músicas velhas, de gente velha que pensa sempre no seu passado, tem essa saudade eterna dessas coisas que se sabe que jamais voltarão. Essas músicas com críticas a forma de pensar, essa escravização mental que até Bob fala. Pensando, pensando em como utilizar de alguma forma esse tempo de agora, afinal até a Mafalda já apontou.
- Temos de trabalhar para ganhar a vida.
- Mas por que perdemos a vida trabalhando para galha-la?
Justamente, o tempo passando, o time do pink floyd, o badalar de um sino que traz a redenção a um bando de ovelhas que houve atentamente ao chamado. Justamente quando lembro que não aprendi a tocar bateria e que hoje tive formalmente recusada uma proposta de trabalho, vejo o quão lerdo estou ficando. Tanto que se aprendia por minuto, agora não passa de pouco de cada professor de faculdade. Alias, poucos são o que lembro o nome, que dirá lembrar de alguma coisa útil que eventualmente tinha lhes escapado pela boca sem cobrar um centavo a mais?
Tudo passa tão tão devagar enquanto passa que depois que foi, não da pra acreditar que já foi e se diz que passou rápido.
Dessas conclusões todas me ponho a pensar, pondero e tento extrair novas formas de interpretar o que já imagino, e é bem ali que aquela louca entra, quase sem te olhar na cara, visivelmente confusa, perturbada sem saber bem o que fazer. Ela passa, quase correndo e entra no seu quarto. Fica lá, quieta. Não faço ideia do que faça, ou do que pense, mas como fazer alguém assim ler esse texto e lembrar dele sempre que necessário?

domingo, junho 3

Maio 2

18/05/2012

Para encurtar, para poder deixar aqui, em preto, quem sabe outra cor num outro dia, seja como for, para delirar em química, morena e suor.

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Ele estava fumando na frente de casa, gostava de sentar-se na cadeira de praia com uma latinha de cerveja ao lado e sentir um pouco de frio, sabia que assim que chegasse, o tempo mudaria, o frio seria só uma lembrança. Chegou com seu carro roncador, daqueles cheio de estilo e com muita história pra contar. Não parou exatamente na frente, começou a manobrar para fazer a volta por aquela rua estreita. Ele colocava no lixo a latinha de Bohemia costumeiramente amassando-a na palma de suas mãos, doía e deixava marcas e eventualmente até poderia sangrar, mas era mania, não gostava de faze-las ocuparem mais espaço do que o necessário.
Entrou e trocaram de lugar, por mais que fosse dela, ele gostava de dirigir e ela... bom, talvez ela simplesmente estivesse cansada, ou quem sabe gostasse de vê-lo dirigir, ou então se sentisse mais segura indo de carona.
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Festa estranha com gente wisky... bom, ele não conhecia, ele nasceu no bar.
Os ânimos estavam vagando pelas luzes e o som fazia mexer a barriga, eram tunts tunts eram nos pandeiros e na bateria. Ele aos poucos se sentia mais tonto, a música alta, luzes que piscam, cheiro estranho. De súbito toca uma música que lhe agrada, ele se depara com ela já bailarina dançando como uma nuvem de pés e quadril, usava os ombros mexia os braços, ela tinha um domínio sobre o próprio corpo que ele não fazia ideia de como era possível. Ela é linda.
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O amigo apareceu com mais chopp, meio aguadinho aquele, bem barato e canecas de acrílico. Eu enxergava nuvens de felicidade no rosto de cada um, ele ia se formar muito em breve, a música talvez não fosse o estilo que mais nos agradasse mas eram aquelas nuvens, as cores vibrantes, o cheiro de alegria do momento que nos entorpecia em sorrisos e brincadeiras.
No primeiro toque da bateria eu senti o que era, foi como um qual é a música pedindo uma nota só. Amigo Punk, escuta esse meu desabafo. Não fomos lá até muitas horas da manhã, mas aquele momento nós berrávamos com as almas, engraçado, não sei laçar e nunca fui punk, certo tive alguns amigos punks de verdade, mas incrível como aquela música mexe conosco. A garganta ardia, o brado retumbava num hino que tomou conta daquele lugar. Olhos fechados e tudo que se sentia era uma imensa paz. No instante que se abre novamente, ela está ali do lado, olhando com olho meio puxadinha, um sorriso grande, um beijo logo em seguida, a noite não estava no fim, nem era criança, talvez tivessem sim algumas brincadeiras meio infantis, mas era perfeito.
Sabe-se lá o que aconteceu, ou que droga ela colocou no meu caneco. Não é meu, normalmente não é, mas talvez meus vinte e poucos possam se acomodar a mais locais que eu nem sabia que era possível.
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Ele olhava de pertinho, sentia o cheiro do pescoço lisinho na direito, umas pintinhas na esquerda. Não era a direita do padre. Felizmente estava mais fresco por ali, tinha um tunts tunts que batia contra o estômago e o fazia sentir o sangue pelas veias. Ela tinha um movimento, aquela garota dançava certa de si sem nenhum pre conceito com o que estava fazendo, certamente que sabia o que fazia, mas não era esse o ponto, a naturalidade com que se mexia, sem pensar no que estava fazendo, apenas dançando como queria, utilizando seu corpo, sentindo a música nas pernas, no salto alto.
Não sabia mais o que fazer, senão agarra-la.
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Nos despedimos do companheiro castejano com alegria, um quebra-costela para o muchacho e fomos embora solitos nos más. Era fresquinho e pra variar eu estava com calor, abri um pouco do vidro, logo nos colocamos em uma estrada longa em linha reta que não se via o fim senão apenas as árvores nas laterais. Passamos por dois quebra-molas em frente a uma escola e senti um daqueles ventos das mudanças novamente, um gosto de saudade do que virá. Olhei para o lado e ela já cochilava, olhos fechados acomodada para o lado com o casaco, estava visivelmente cansada mas tinha um ar sereno, uma coisa de estar bem. Certo, talvez fosse apenas eu que me sentisse tão bem naquele momento que não sabia mais se era eu ou ela que esteva se sentindo assim.
Por mais que estivesse de olhos fechados, ela não se importava com a música relativamente alta. Me embalava a cantar aquelas músicas mais pra dentro, meio faladas para não importuna-la mais do que o barulho do carro e música juntos, o vento fresco e úmido batia na lateral da face e eu poderia continuar dirigindo por uma eternidade. Olhei, ela estava ali.
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Um curto caminho até a base da casa, próximos, a vi cansada, meio olho, meia fase, gostava daquele ar, barulho dos saltos que a faziam maior que eu. Não precisa muito, é verdade, melhor eu calçar um sapato ou tênis. Um afago no elevador, um carinho antes de entrar.
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Deitou-se junto a ela, os cabelos longos e ondulados repousavam entre ombro e costas, deixando um 'erto' a vista, aquela assinatura de liberdade que ela carregava. O ombro aos poucos foi sendo descoberto enquanto seu pescoço era acariciado por lábios que a desejavam. Os cabelos foram sendo removidos aos poucos para o lado, sentia o cheiro de festa neles mas desejava era aquele, o dela, próximo a orelha e arredores, com toques suaves
Postou-se com seu ombro pouco acima do dela, apoiado num cotovelo trouxe seus lábios de encontro aos dele fazendo-a contorcer um pouco seu pescoço, ver seus olhos claros e beijar sua boca, sentindo a pele quente e o olhar sincero.
Uma janela aberta trazia deixava aqueles corpos com mais vontade de se aquecer, apertados, próximos. Aos poucos o sangue fluía entre os dois, em laços que se confundiam entre braços e pernas, o lençol era o único que estava sofrendo, era amassado e pisoteado por chamas que ardiam em fazer fumaça.