sábado, setembro 29

Projetos

30/01/08
Projetos

detalhes
cores
prazos
anúncios finais
gênero da fala
as coisas como são no final
as coisas como são...

--
Algum dia entre Agosto e Setembro de 2012
Estava justo procurando minhas memórias, e lembro de momentos a mais de quatro anos atrás. Indecisões de como fazer cada coisa, e essa mania de poetizar as coisas e torná-las loucamente enroladas. É a descrição detalhada, o eterno apego aos detalhes e talvez muitas formas de adornar e dizer a mesma porcaria. Me vejo escrevendo dessa forma, e preciso admitir que me agrada detalhar os pontos, escrever errado mas buscando o conteúdo.
Pois bem, a alguns anos isso se repete, a todo instante. São detalhes, de cor, de prazos, são formas de dizer cada coisa. As novas decisões que temos que tomar e cada vez mais eu me pergunto, e daí?
Eu realmente não tenho ambições enormes, sou tranquilo como uma árvore no outono. Eu sei que a primavera chega, não preciso me preocupar com as flores antes do tempo. Pouco me importam os frutos. Não precisaria sequer procriar. Fico pensando nisso de, pra que? E por que? As perguntas eternas que me retornam a assombrar os dias.
Volta o velho, e o chima que me acompanha me deixa tranquilo e não queria nem saber do resto. Vejo que estamos sempre presos a tudo isso, o sistema, as pessoas, os laços e tudo que tu pode gostar ou que possa gostar de ti. Saudade da Isabela, aquela fuça sempre alegre e despreocupada. Penso logo num cachorro porque talvez eu seja perfeitamente um desses, não no sentido sexual da coisa (rá), mas a facilidade de diversão e entretenimento é incrível. É fácil, não preciso de muito, quase sempre as pessoas certas bastam. O que aconteceu? Fui mal criado pela televisão, ou talvez a TVE fosse realmente uma péssima educadora.

O velho e o moço

04/04/2012
A noite fora realmente ótima, estava satisfeito e com gripe. O saco era ter que voltar pensando naqueles assuntos de sempre que se lê em toda música e que se vê em toda novela, melhor até parar por aqui, porque é mais uma enrolação qualquer sem nenhuma conclusão.
Negócio é que estava frio e tinha um cheiro bom de mato no ar. Estava de carro, um bem velho, andando devagar e ouvindo uma música no mono-rádio. As músicas vinham e ficava pensando naquele futuro mais distante, na possibilidade de errar agora, testar outras opções e talvez um dia se arrepender. Ficou claro que o medo de errar é imenso e que não é tão facilmente ignorado quanto pensava.
--
02/09/2012
Haviam dúvidas que jamais serão respondidas, mesmo depois de anos e anos de estudo e planejamento, jamais se saberá tudo que poderia ser. Resta aceitar as escolhas que se faz.
Talvez até a ciência seja assim de duvidosa. Será que outras formas de se fazer as mesmas coisas podem levar a novos resultados? Ou quem sabe fazer as coisas envolto em algum sentimento muito forte possa deixar marcas evidentes?
Cansado pelo trabalho do dia anterior, fez uma rápida viajem ao aeroporto. Ainda não organizou uma coletânea de músicas, assim que acaba viajando sempre sem. Talvez isso lhe faça mal, se concentra tanto e tão seriamente que é possível sentir um velho aos poucos acordando, pensamentos ranzinzas lhe sobem a cabeça e aos poucos se estressa por detalhes cada vez mais ínfimos.
Acalmou seus demônios antigos com uma coletânea que fizera com a pequena. Músicas mais alegres e joviais. Fracassos, amores, pensamentos e poderia até abstrair alguma política daquelas músicas. O sol secou sua pele depois de uma demorando banho, de toalha na varanda do quarto vê uns pássaros brincando por cima do telhado. Parecem alheios a ele, até o momento que um deles para o fita, como se fosse um gato, olhando um rato, no instante seguinte alçam voo para árvores mais distantes.
Planejamento do trabalho deve continuar, de uma forma ou outra. Pensa em como ajustar sua área de trabalho, visto que o minimalismo não te da muitas opções, acaba na cama vestindo um estilo verão, perfeito para o fim do inverno.

Saudações

Nenhuma manhã foi sequer vista até agora. Todos os dias iniciam depois do meio dia, no mínimo. Os horários loucos são sempre loucos. Ontem o bar fechou mais cedo, felizmente. Arrumamos tudo relativamente rápido e por volta das cinco já estava em casa. O resfriado não me deixou dormir bem, e uma incrível espinha dentro da orelha direita está me matando. Explodiu sozinha, faz uns quatro dias que estava amadurecendo, ontem foi o dia. Sangue pelo ouvido, pus e tudo que enche um belo prato.
Me dei conta agora mesmo que abri as cortinas em xadrez rosa e branco, o sol entrou e esquentou um pouco meus pés, e é, as manhãs não existem aqui. Eu gostava das manhãs de domingo, ou qualquer dia sem trabalho, eram manhãs mais alegres, mesmo que fosse necessário limpar a casa, era bom. Havia música, eventualmente alegre, movimentação e um cheiro de manhã no ar.

--

O cara chegou, alegre e fazendo gracinhas enquanto entrava da porta do bar até o balcão. Saudou os compadres e dirigiu-se a mim. Um aperto de mão típico chileno. Aqui existe uma espécie de receita de aperto de mão. Talvez aprenda mais sobre eles conforme as classes sociais ou quem sabe as regiões do lugar, mas normalmente não varia muito.
Primeiro se cumprimenta com o rosto, antes de mais nada. Um sorriso, um arregalar de olhos e peito aberto. Em seguida as mãos se buscam, sempre as mãos direitas, um aperto clássico com os dedos apontados em ângulo para baixo, em seguida vem a primeira variação, alguns fazem o segundo aperto, aquele estilo queda de braço, que os dedos apontam então para cima e a parte gordinha do dedão é onde tem mais contato.
A saudação de mão ainda pode ser acompanhada pela mão esquerda tocando um braço, ou ombro ou nada. Ela serve como introdução para o seguinte movimento, que é o abraço. Depois de saudada as mãos, pode haver ou não um abraço. Alguns se beijam as bochechas, enquanto outros apenas tocam seus ombros num abraço tímido. Fechado o toque ou o abraço, se voltam novamente de frente e existe mais uma saudação de mão. Essa mais rápida e normalmente menos firme, é um gesto veloz acompanhado de um toque da mão esquerda no ombro, como uma assinatura para todo aquele bolero que foi a saudação.
Talvez os cumprimentos sejam no final, iguais aos que eu dava aos queridos bruxos, mas aqui o pessoal tem esse calor com praticamente todo mundo. Algumas pessoas mais ricas normalmente são mais frias, claro que existem exceções, mas em geral é assim.
Falando de classes, pude reparar que os caras do trabalho estão começando a me saudar de forma diferente, quer dizer, igual as saudações entre eles. Um cumprimento de mão estilo queda de braço soltado rápido e um soco entre cada mão. Realmente parece bem mais flaite, uma forma de dizer que é coisa de malandro ou de preto. Não me incomodo com nenhum, sempre fui de apertos de mãos serenos e firmes, mas o pessoal aqui as vezes exagera.

quinta-feira, setembro 20

Chegada

14/09/2012
Aos poucos me acostumo com essas coisas. O barulho das quatro rodas é contínuo e leve, parece uma geladeira nova recém ligada. Quietinha, faz o trabalho dela enquanto seguimos a uns 120 ou 150 km/h em direção ao norte. Velocidade normal por essas bandas. Os caras que abusam, andam de 160 para cima. Engraçado, o fuscão nem chegava nisso.
Ainda meio ressabiado, não entendi direito se eram um casal ou um casal de amigos sem nada além disso. Se chamavam Sebastian e Andrea. Mais tarde eu descobriria que ele era o Vizinho, ela a Sexóloga. Queridos, e eram exclusivamente bons amigos.
A estrada já era conhecida, havia percorrido alguns trechos e a cordilheira começa a parecer menos incrível, como se já fosse natural e não me deslumbra tão facilmente. Ao lado direito, as vezes em ambos os lados, as vezes no direito de novo, ela acompanha o trajeto de seis ou sete horas até a praia. O engarrafamento chama-se taco. Igual a delícia apimentada mexicana. Durou uma meia hora e fluxo de carros era grande, mas logramos fazer um bom tempo de viagem.
Infelizmente não posso abrir a janela o tempo inteiro para sentir o ar e seu cheiro, a velocidade atrapalha essa frescura. A noite apareceu com aquele ar fresco de sempre e na praia andamos mais despacio, de forma que pude aproveitar o ambiente e sentir aquele ar salgado entrando nas narinas. A areia grossa do chão e o frio da noite. Típica praia chilena.
Como ninguém sabia exatamente onde ficava a tal casa, nos aproximamos do local de espera onde havia uma pracinha. Quatro crianças crescidas desceram do carro para esticar as pernas e se meteram nos balanços bem cuidados e fortes. Num instante se rangia o ferro e os pêndulos de carne se divertiam.
Ainda sei fazer isso, legal. Me embalei forte o suficiente para chegar naquele limiar que se fica paralelo ao chão e ao invés de voltar suave, tu faz uma pequena queda até que as correntes do balanço tomem cargo da trajetória, voltei a ter medo de pular. Eu pulava realmente muito alto, morrendo de medo, pulava.
Em pé em cima do balanço era capaz de alcançar o ferro onde fixavam-se as correntes. Estou grande, rá! Fiz algumas barras para tirar a ferrugem dos músculos, de frente, de costas. Devem ter se somado umas quinze, não foi grande coisa.
Nos informamos se o dono da casa chegava e nada, iria demorar um pouco. Trocamos de brinquedo. Fomos naquele trepa-trepa, de um lado ao outro eu passei tranquilo sem dificuldade apoiando-se barra a barra. Subi pelo meio dos ferros e fiquei de ponta cabeça me firmando com apoio apenas nas pernas, com alegria o sangue para a cabeça e celular, chaves, carteira para o chão. Medo do celular. Primeira vez que caia, arrependimento e medo pela peça que me deixa tão em contato com quem amo. Fiz o retorno da posição e desci do brinquedo retomando o celular em mãos como um bebê. Tirei um pouco de areia dos cantos e a alegria de estar tudo bem. Ufa.
O tio chegou e a casa era justo a da esquina. Agora acho uma pena não ter fotografado a casa inteira. Uma casa com quatro quartos, uma sala de estar, uma de tv, uma cozinha americana, e ainda um quiosque pequeno com churrasqueira nos fundos. Gostei do lugar. Muito limpo e aconchegante. O teto da sala de estar era alto, naquele estilo de madeira a vista que acompanha o desenho do telhado. Um sofá extremamente aconchegante, uma mesa e umas poltronas com estilo deixavam o ambiente muito agradável. Havia uma janela de chão a teto na frente da casa que dava vista a distância para o mar, graças ao vão de um terreno vazio do outro lado da rua.
Mal chegamos e o fogo estava pronto, o primeiro churrasco de uns tantos que seguiram, regados a algumas palavras incompreensíveis, piscolas, poncho de pêssego e cervejas. Adorei o poncho.

Resgate

Nessa época o pessoal anda preocupado com a bebida e com a comida. Preocupados de verdade se realmente vão ter o suficiente, por que o momento é de festa, é alegria da beberragem. Quem menos se preocupa são as crianças, canso de observa-las pelas ruas com suas pipas chilenas. É uma brincadeira de adulto, até nós compramos as nossas, prontas, de plástico, dois mil pesos. Ainda não consegui subir a pipa, talvez por que não tentei.
O vento é sempre forte nos litorais, foi o que me pareceu. A uns anos atrás o vento era tão eficiente quanto agora, entretanto não recordo que seja tão frio. Nos dispomos na calçada, a querida Sexóloga correu um pouco mais para frente e soltou a pipa no ar enquanto o Vizinho manobrou a linha em movimentos ritmados, cuidando o quanto largava de linha e acompanhando o trajeto que ia fazendo. Plástico colorido no ar ia pouco a pouco subindo. No meu ângulo de visão os fios de luz já eram um problema e inevitavelmente imaginei o fio tocando o cabo de tensão e o Vizinho brilhando aparecendo ossos para logo em seguida retornar a carne de forma chamuscada, como um bom desenho animado.
Acabou subindo e subindo, alegria. John se apoderou do carretel e começou a puxar um pouco o brinquedo. Talvez seja questão de mão, um jeitinho para puxar o suficiente ou ter um pouco mais de carinho com o bicho. Em instantes estava como um touro brabo voando, brigando para sair da linha, era círculos fechados em torno da linha, louco ele ia descendo como um helicóptero com falha mecânica. Escutei o zunido da aeronave caindo por trás de uma casa enquanto os pés corriam para fazer o resgate.
O fio que indicava o caminho era branco e se perdia olhando contra as nuvens floquinhos do céu, dei a volta na casa, não havia portão nem cerca nem ninguém. Estava vazia e havia uma curiosa piscina para crianças que certamente a água não alcançaria nem no meio da coxa. Piscina de fibra desse tamanho, que coisa engraçada. Estava vazia e a pipa não estava dentro, nem ao redor.
Era um pequeno chalé de duas cabanas pequenas que se posicionavam diagonalmente uma a outra. Talvez esteja entre elas. Não. Também não. O fio desaparecera. A Sexóloga apareceu preocupada e curiosa, tampouco avistou a aeronave. Voltando observamos o fio contra o céu num azul perfeito, agradável aos olhos protegidos pelas lentes de aviador. Aqui!
Muro de uns dois metros, pré-moldado em concreto. Perigo de se pular pelo meio com chapas tão finas, pois bem, usei um dos pilares e com facilidade saltei para o outro lado num terreno baldio com vegetação tropical seca. Algumas moitas, algumas coisas com espinhos, mas foi fácil chegar até ela. O arbusto era baixo e foi fácil agarrar a pipa. Cortada a linha e desmontado levei a ave abatida em meus dentes para facilitar o pulo de retorno. A Sexóloga aliviada pelo seu brinquedo estava faceira, aprontou uma pequena escada com paus para descer para o outro lado, não era necessário, mas ela queria ajudar de alguma forma.
As mãos meio rachadas, um pequeno esfolão próximo ao cotovelo e o pó de concreto nas mãos e braços. Dever cumprido, satisfação.

Antes de vomitar

Primeiro a parte chata de arrumar o local, antes de buscar o ordenador para repousa-lo sobre meu colo. Aquele cheiro de meia usada o dia todo contaminou o lugar, me revoltei e lavei com exclusividade os pés. Gostei disso, se houvesse um banco minimamente adequado, lavar os pés seria algo bastante prazeroso e confortável. A água inicialmente é um gelo e arrepia, machuca a pele, de pouco, os dedos passam a adorá-la. Por entre eles escorre água com um pouco de espuma feita com sabonete com um quarto de creme hidratante. Que viadagem. Igual, os pés na água escorrendo, é algo no mínimo perfeito. Vou lavar-la os pés a próxima vez. O feio e o bonito, não por nada, mas para que ela sinta isso, relaxe, que possa sentir prazer pelos pés.
O mate me espera no criado-mudo vestido de whisky.

--

Os dias seguem os mesmo, começando com sol no oriente e seguinto al poniente. Muita gente me aparece, me saluda, são vários e vários como estás que respondo educadamente com um bien, y tu? É mentira. É pura educação. A parte boa é que muitas vezes me ocupo com essas coisas e acabo ficando legal, quer dizer, consigo distrair a cabeça um pouco, distrair o peito. Saudade do risco.

--

A internet para, de repente vejo que talvez tenha tempo de acompanhar algumas poucas novidades. É como se o mundo deixasse de girar por um instante. Em seguida volta com atrasado e gira veloz para compensar o tempo parado.

--

Os insights que todo mundo têm, ou quem sabe, o medo que todos nós temos de realmente compreender alguma coisa, vem e vai, volta. Era na praia, acompanhado pelo mar gélido e um vento que parecia minuano soprando nos cabelos um gelo que me faz sentir o solitary man do Cash.
Gosto disso, quieto e sozinho é perfeito as vezes, é bom. O calor de quem se aproxima em seguida é maior, o gosto de ter uma conversa sem efeito nenhum, apenas entretenimento, é o efeito de um período diferente, no final é isso, oscilação. Osciloscarlos.

quarta-feira, setembro 5

violetas são negras

Tem aqueles dias que tudo que tu quer é uma voz suave nos ouvidos, umas cordas de violão vibrando em harmonia e seja quente ou frio, um tempo ali, lagarteando.
--
Os lagartos passam um tempo humaneando?
--
O pessoal que curte aquela ideia de exterminar as sacolas plasticas, compra tudo a granel?
--
hahaha
Se eu rio, então tu lagoa e nós oceano? Talvez se eu for dos sinos e tu for dos patos.
--
namorada - amor = nada
--
botando a calça e calçando a bota
--
um suicida que falha deveria receber pena de morte como compaixão
--
Considerando que tu não tem braços. Pediria carona e chamaria atenção do ônibus com a língua?
--
as batatas entopem minhas veias na mesma proporção que o pacote entope os rios, logo, vamos comprar mais

domingo, setembro 2

Sábado Três e o comunismo

Pães iguais aos de ontem, sanduíches duplos de queijo e presunto barato. Novamente, o chima me acompanha, acabo levando ele para quase todo o dia, é melhor que a maioria das porcarias que poderia beber. Por alguma razão, aos poucos vou me sentindo mais velho com isso. Como se a cada copo que visse alguém bebendo, eu bebesse junto, e de alguma forma isso aos poucos me repuna. Começo a achar mais interessante uma quantidade menor de copos, uma quantidade menor de drogas. Bom, é quase oito, tenho que me aprontar com uma roupa para sujar e ja preparar uma manga curta, porque sábado provavelmente será de arto trabajo.
--
E ela tem razão quando vem dizer
que eu preciso sim, de todo cuidado
--
Como toda coisa, funciona através de um processo, e naturalmente, um processo que pertence ao local e que somente as pessoas sabem. Isso me lembra a TI, aquelas coisas de se anotar direitinho como tudo funciona pra não depender do pessoal. Pois é, aqui é uma empresa pequena, depende-se das pessoas.
--
Infelizmente não tenho todo o conforto que queria nessa cadeira de balanço de jardim de ferro. Ela está posta aqui na minha sacada e é bastante forte e antiga. Tem estilo. Só lhe falta umas almofadas ou ao menos uma tábua por cima das tiras de ferro na parte do acento e do encosto.
--
Primeiro dia de trabalho real, quer dizer, primeiro dia como garçom formal. Livro ponto de entrada e começam os processos de abertura de bar. Montar o local na rual, arrumar mesas, limpar tudo. Achei interessante que praticamente perfeita a sincronia com os clientes. Não deu dois minutos depois de tudo pronto, chegou o primeiro casal de clientes.
Várias pessoas no ambiente central, o segundo andar e os fundos estavam alugados para aniversário, ótimo, menos trabalho. Nesses casos quando alugam para aniversário todos os pedidos devem ser feitos diretamente na barra, com o homembar e se paga no ato. Mesmo com somente o ambiente central e a parte de fora para cuidar, tivemos algum movimento. Nada muito grande, mas algum movimento.
Dessa vez os copos foram deixados meio de lado, quer dizer, se pode ir lavando pouco a pouco sem muito stress.
--
Começam as lições de bar. Os detalhes a se reparar, a forma de anotar a comanda, os códigos internos. Os preços e como funcionam as coisas, realmente, do lado de trás do avental. Sim, usando um avental, aqueles que ficam somente na cintura por cima das calças.
Aos poucos vai se pagando o esquema todo, é questão de repetir e repetir. Já de cara fiz alguns glichês mais clássicos. Uma, um copo quebrado, felizmente só na pia e apenas em duas partes. Simples, escorrecou, daqueles copos de vidro fino para cerveja, bateu e quebrou em dois pedaços praticamente perfeitos. O outro garçom conseguiu fazer o mesmo, mas com um copo grosso de piscola.
Na primeira, justo na primeira servida, consegui derramar a merda da batata. Sim, derramar batata? Como diabos? Eu pensei no mesmo, acontece que eram as Papas fritas Suprema. Elas recebem uns temperos adicionais conforme o cliente e uma calda de galinha por baixo. Bueno, eu ví as batatas no prato e não me dei conta que poderia haver líquido em baixo do prato, num movimento mais rápido acabou caindo um pouco na mesa. Bueno, ótimo, já tem menos coisa pra acontecer.
Não demorou e a próxima foi a de errar a comanda. Essa acho que vou errar mais vezes. O pessoal fala sempre de forma diferente, e tu precisa se virar para cachar lo que se pide. Felizmente ainda não errei a pedida, mas errei a quantidade. Eram três, anotei um. Tequila Sunrise, belo drink, belo mesmo, bonito. Três níveis de bebidas diferentes. Não comecei a fazer os copetes todavia, logo, sem mais detalhes.
O resumo foi um trabalho meio disperso. Ficar procurando o que fazer e ir fazendo. Com o detalhe de sempre fazer algo mais útil. Quer dizer, quando os copos estão vazios, ou não há pessoas, ou não há dinheiro. então de alguma foma, sempre tem cosia pra ser feita. Nem que seja trocar os cinzeiros por novos e limpos.
--
Concluindo o dia, de novas experiências, foi meio sacoso. Não gosto de ficar sem fazer nada, acho péssimo. Acabei sempre zanzando por aí, procurando alguma coisa pra arrumar ou um copo pra lavar.
--
Resumo

  • Um copo quebrado
  • Um casal sem seu drink
  • Um lambuso na mesa
  • Um corte no dedo
--

No final de um dos aniversarios, já estava sozinho no segundo andar limpando quando chegou uma gordinha simpática e me alcansou três mil pesos na mão dizendo gracias. Lhe responsi Gracias Usted e botei faceiro o dinheiro no bolso. Isso é uma gorjeta gordaça, não tanto a guria ali, mas bem gorda, quinze reais.
No fechamento do bar contei rapidamente o que houve e se deveria deixar a gorjeta para ser repartida depois, ou se ficava pra mim. Afinal, eu realmente não parei hoje, seria justo aqueles pilas ficarem comigo, mas não. Política da casa, dividir a gorjeta. Maldito comunismo.

sábado, setembro 1

primeiros dias e a feira

A chegada foi bem rápida, nem deu tempo de pensar, já estava no bar bebendo cerveja importada e fumando coletivamente. Conheci superrapidamente as pessoas que hoje me parecem bonecos com caras nubladas em minhas lembranças. Lembro de parecer uma eternidade até poder chegar em casa pra dormir. Foi assim, casa velha, bacana. Caixas dum lado e do outro do quarto. O closet cheio de lembranças da família e alguns lixos inorgânicos. Tirei o colchão da parede e repousei-o entre minhas bagagens. Saquei o saco de dormir e pulei pra dentro, num estante estava passando o frio, e aos poucos me aquecia.
--
Ainda não tinha caído a fixa quando acordei nesse outro país. Já era umas onze horas, horário de brasília, fiquei no saco até não aguentar mais o calor. Sim, o frio havia passado, o sol na janela esquentou o quarto pouco a pouco e acabou por despertar-me. Não demorou, levantou. Pra tomar o primeiro banho foi complicado, essas casas chilenas possuem todas água quente a gás, dessa forma que exige alguma habilidade para regular a temperatura da água, sem falar que qualquer toque em alguma saída de água na casa, muda a temperatura drasticamente. Demorou, mas atingiu o climax da água. Tomou-se um belo banho, demorado e quente. Poderia dormir denovo ali. Sensação boa.
Não demorou e acabou por conhecer a dona da casa e sua empregada. Alguma conversinha, ainda o ouvido doendo para se acostumar com as palavras, quer dizer, para encontrar as palavras. Era quinta feira, jueves. Não demorou e foram para o bar, o sócio, Matiaz estava lá, a primeira impressão é de um cara muito bacana. Nas semanas seguintes confirmei a impressão.
Pintamos o chão da parte dos fundos do bar, e mais perto da noite colamos uma parte do carpete-gramado-instético que eles botaram por lá. Trabalho bom, pro nível do bar, ótimo. Nova cara para aqueles lados.
A noite era praticamente ficar por ali e dormir um pouco em casa, por volta das quatro da manhã. Muita cerveja e bebidas para todos. Me regulei e tomei pouco mais de três cervejas. A dormida foi ótima, no mesmo saco, cobertor e uns dois travesseiros velhos. Tranquilo, eu gosto de dormir no chão.
--
Acordei tranquilo, tentei manter alguma ordem em minhas malas e fui ver o cara do quarto do lado. Aparentemente uma viajem surgia, uma viajem para uma feira de cerveja artesanal. Foi um convite e já senti como um teste. Na real, sinto que tudo é bastante um teste. Meio que pra tudo, idioma, segurança pessoal, comunicação, negócios, relacionamento, etc. Bom, não demorou e saímos de casa com as malas prontas. Mochila para três dias, disse o Juan. Bueno, ajeitei o que podia. Logo me arrependi de não ter trazido shampo, sabonete e todas essas coisas de cuidado pessoal dentro da mala. Tanto na mala pro país, quanto na mala de três dias. Mala pronta, tudo no carro, fomos buscar mais três caras. Muita animação e conversas altíssimas. Eles adoram gritar, é isso o que parece. Adoram.
A noite veio chegando enquanto nos encaminhamos para o norte do chile numa RAV4 2012, uma caminhonete Toyota bem boa, tipo carro de mãe. Não demorou e fizeram troca de motorista. Estava louco pra dirigir, mas ainda muito cansado, mesmo com a baderna no carro, logrei dormir um pouco, deveria ser uma meia noite quando acordo com um novo cd de músicas caribenhas.
Paramos em Los Vilos, uma cidade produtora de coisa nenhuma, servindo apenas como abastecimento para tragos de viajem. Compraram suas coisas e eu me compre quatro cervejas. Mal sabia eu que nem ia tomar nada. O pessoal animado e ficando borracho, a cabeça doendo um pouco e o cansaço batendo forte. Tentei dormir o resto do caminho, mas no final só consegui descansar os olhos e ficar como um pêndulo em cada curva. Não vi muito das ruas, fazia frio e muita neblina em certos trechos.
Quando nos aproximamos, o pessoal meio que se despertou, já havia passado a euforia do carrete e já estavam por comer alguma coisa, devia ser umas quatro da madrugada quando finalmente chegamos na casa de um amigo de alguém. Alojamento para todos, alegria. mal entramos e beleza, não tem cama para todo mundo. Felizmente dois levaram sacos de dormir e por consequencia ficaram na sala cada um num sofá relativamente pequeno, considerando suas guatonas.
A maioria das casas aqui tem um ar de velho, sujo e pó. Acho que o clima faz isso acontecer, ou talvez todo mundo aqui simplesmente não liga muito pra isso. Bom, eu sou chato para essas coisas e cada canto de cada lugar normalmente é bem sujo, aqui, só se limpam os meios, os cantos permanecem imundos.
Cama velha, roupa de cama com cheirinho de mofo recém nascido. Delícia de sono, é bom dormir numa cama.
--
O primeiro dia foi resumidamente péssimo. A feira deveria começar as quatro da tarde, entretando nesse horário não tinha nem luz nos estandes. Foi bastante trabalhoso tirar tudo do caminhão, ajudei o máximo que pude, prefiro fazer alguma coisa que ficar parado.
Como não suporto ficar parado e já que os organizadores da feira fizeram merda cancelando as coisas sem avisar os cervejeiros, tudo foi montado tardiamente enquanto o público tentava entrar e os pequenos seguranças com coletes amarelo/verde fosforescente os continham.
A abertura dos portões praticamente não mudou nada, no primeiro dia não vendemos muita coisa e era um puro tédio ficar por ali. O pessoal atrás dos balcões normalmente ia de pouco a pouco tragando mais cerveja e pouco a pouco más curados.
Meu espanhol mal saía da boca e quando saía, saía mal e gaguejando palavras utilizando vogais como tempo para pensar. Ahhhh... Ãmmmm.... é..... és....
Dia bastante trabalhoso, montar tudo, limpar as coisas, um pouco antes de colocar. Um pouco, visto que limpeza não é nem de longe uma preocupação. Eu sei feira tem que ser bem prático, bem rápido, mas bah, é demais. É bastante cansativo conversar, requer muito exforço, escutar tudo e interpretar na mesma língua e ainda responder.
Nossos compadres terminaram o dia reclamando horrores e igualmente bêbados. Me mantive sereno, bebi bastante mas de pouco a pouco, asi que me quede bien no más. Só pra variar, eles queriam sair de noite antes de ir pra casa, eu entendo, amigos bebidas, amigos. Por alguma razão acho esses caras meio infantis, será aquele velho antiquado falando? Bom, eu fiquei faceiro em minha cama, que dessa vez estava com roupas de cama novas e cheirando a algum sabão barato. Queria só descansar e ainda não estou muito a vontade para dar essas saídas e realmente me divertir entre eles. Esses primeiros dias estava bastante tonto, informação demasiada e correria.
--
O sábado foi ótimo para as vendas. Bastante gente, conheci alguns estrangeiros da colombia bem bacanas, uma sueca/alemã, uns caras dos states, inclusive uma guria de porto que estuda enredaderas, haha.
No primeiro dia de feira havia almoçado no porto, onde fica vários mercadinhos, um ao lado do outro. Num deles havia uma escadinha estreita a qual levava a um ambiente melhor, sem fedor de peixe. Vista do lugar era bem feia se pensasse nas proximidades, tudo bem sujo e velho, telhados baixos e cheio de coco de gaivota. Belos tons de branco e cinza. Imagino que um bom marinheiro deva ser assim, sem aseio mesmo. Nesse segundo dia, acabamos comento pastel, estavam ótimos foram trocados por cerveja com os guriz do outro lado da feira que os vendiam loucamente.
Servindo altos chopes, sempre chamando gente e tentando vender e vender e vender, mas mesmo com um dia bom, não foi nada lá muito incrível, segundo o John.
--
O terceiro e último dia era um domingo belíssimo, um sol que brigava com o vento tentando esquentar as coisas enquanto o vento seguia soprando uma boa brisa vinda do mar. A casa era uma desordem completa, somente homens e baderneiros, era de se esperar. Inclusive, antes de sairmos, a velha dona da casa chegou braba e largou a voz em cima de John e eu.
- Porque pra mim, eram pessoas que não bebiam e nem fumavam, que não iam deixar minha casa nesse estado. Fiquei apavorada quando cheguei aqui e ví essa baderna toda. Então é o seguinte, fui obrigada a chamar uma tia para limpar as coisas e vou ter que adicionar cinco mil pesos a mais no valor para poderem ficar, pois dessa forma não é possível!
Nem discutimos nada, a velha certamente compraria briga e acabaríamos tendo que sair e procurar outro lugar, e tão barato, talvez fosse complicado. Nem relutamos e decidimos por todos sem pestanejar muito. Cinco mil pesos mais e pronto.
Último dia estava aquela coisa já chata. Enjoado do cenário, de repetir as mesmas coisas. Sem falar que no começo a tal da máquina simplesmente parou de funcionar e nos deixou na mão. Por alguma razão divina ela voltou a movimentar a água por conta própria. O movimento era fraco e trabalho mesmo foi só no final da feira. Desmontar tudo e carregar o caminhão.
Havia dois caras que chegaram de intrometidos quando estávamos descarregando o caminhão no primeiro dia, eles simplesmente entraram de penetras e começaram a nos ajudar a descarregar e carregaram as coisas para todos os lados. Consequencia disso, ganharam muita cerveja de todos e muitos amigos por conta da ação. Para subir as coisas para o caminhão, os cervejeiros se uniram numa vaquinha para paga-los para subirem os barris. Los barchenetas foram de grande ajuda, e assim como eu e os mais ativos, trabalharam bastante carregando tudo que é coisa de volta para o caminhão. Subir os barris cheios é um inferno. Acho que são 64 quilos, cada barril e não é muto fácil de manuseá-los.
Final do trabalho renderam alguns calos nas mãos e um orgulho de peão, além de uns trocos que nem esperava receber.
--
A segunda tinha cara de domingo, tirando o movimento da cidade que declarava a atividade econômica bastante ativa. Andamos um pouco de carro pela cidade apenas para conhecer um pouco antes de ir. Fiquei no banco do carona e tirei as fotos que pude, bons lugares para se visitar.
Começamos a viajem relativamente tarde, era umas três ou quatro horas quando saímos de Coquimbo em direção a santiago. Todo mundo bastante cansado do trabalho, de dormir tarde e bêbado, de acordar cedo e dores de cabeça, talvez só eu dentro do carro não tivesse esse problema de dores de cabeça, os outros se  drogavam logo pela manhã. O Oscar (haha) estava dirigindo, era um tiozão que foi piloto das forças aéreas do chile, e fez um pouco de cada coisa e visitou muita coisa em sua vida. Devia ter uns cinquenta ou sessenta anos de idade e era bastante ativo. Além de ser fumante adicto.
A volta foi assim de lúcida, tirando fotos e observando os lugares. Logo no começo da viajem, John reclamava do carro que estava puxando para um lado. Haviam placas indicando que havia vento pelas proximidades e várias bandeiras brancas postas nos dois lados da pista esticadas como corda de violina, mostravam a intensidade do vento.
Paramos três vezes, uma para o Oscar fumar. Era um mirador, aproveitei para tirar umas fotos, inclusive uma panorâmica que acho que ficou péssima, perto do que tenho na cabeça. Outra vez paramos para comprar uns sucos e coisas artesanais que se vendiam por ali. Detalhe, artesanais mas quando cheguei e pensei que tudo seria escrito a mão, me dei conta que não eram artesanais coisa nenhuma, eram apenas produtos típicos da região mas igual de industrializados. Comprei uma espécie de refrigerante de maçã. Gostei, mas enjoa rápido. Última parada antes das casas do pessoal foi num negócio onde se vendiam dulces de la ligua, ou algo assim. Eram doces de uns seis tipos que eram tradicionais no chile. Comprei um saco cheio de todos os tipos deles por dois mil pesos, equivalente a dez reais. Interessante que todos os caras e tias por ali com cestos grandes vendiam os mesmo doces... Cartel?
Chegamos em casa bastante tarde, depois de deixar todos eles por seus lados. Ainda nem chegamos em casa, já estávamos no bar, e pra variar, bebendo mais umas que outras. Sim, a cerveja é boa. Não demorou e cansaço nos alcansou, acabamos em casa. Dormi como uma pedra, entre caixas e malas e uma cama sem lastro.
Parece que ainda não cheguei, ainda ando viajando.

muitos copos

Minha boca parece que está menor. Fui morder um pão com toda a fome possível, depois de uma noitada de trabalho lavando copos e descobri limites nos lábios, esticando-se ao máximo para abocanhar um belo pedaço de pão, maionese, presunto e queijo.
--
O bar estava em chamas e por ironia, havia ocorrido um problema no programa de finanças do bar. Pensei primeiro em arruma-lo, imagina que um estouro de integer no banco de dados de não sei quantos anos provavelmente seria a resposta.
Mal botei o pé dentro do bar e cumprimentei os caras. Correria, tumulto de gente pedindo tragos, gente servindo tragos e etc. Ficou claro que os copos estavam acabando, olhei em baixo do armário e haviam cinco. Isso dos copos pequenos, dos grandes haviam dois. Logo saíram os dois em sincronia enquanto eu terminava de lavar mais um ou outro.
Olhando agora, minhas mãos estão mais secas, muita água fria e detergente. Trabalho feminino hein. Mas por mais que minhas costas estejam latejando, eu ainda prefiro sentar-me um pouco tranquilo antes de finalmente descansar. É como segurar o xixi um pouco mais antes de ir ao banheiro apenas para ter uma sensação de alívio maior.
--
Botei duas fatias de queijo e duas de presento no pão. Está ótimo. Adoro esses pães simples e rápido. Eu o torraria se soubesse se existe uma torradeira na casa. É daqueles tipo halulla, ou algo assim. O pão é um disco massudo quase sólido, é bom.
--
Já deu pra sentir o início das coisas. Nada como por a mão na massa/copos para ter noção do que é o trabalho. De cara já sei, é bastante trabalho para o corpo. Visto que a cabeça quase não está ali enquanto trabalho, tamanho a facilidade que tenho para entrar em meus devaneios enquanto faço o que preciso.
É corrido, precisa ser. Existem momento piores que outros e outros ainda piores. Tomara que começando desde cedo, não deixe isso ficar tão grave.
--
De longe já se nota que existe uma máfia da piscola dentro do bar. Os atuais trabalhadores são naturalmente diferentes, e claro, para eles, independente do correr eu sempre serei visto como um dedo duro ou algo assim. Bom, pouco me importa com aqueles fakastrçoies. Me empurram mais cerveja e mais cigarro. É um saco ficar recusando o tempo todo, mas continuo nessa. O pessoal acha que eu sou viado por causa disso, o que é bem ao contrario neh, fico super galanteador com um cigarro na mão e um pé na parede, estilo James Dean. Dean Moriarty. Só que lavo copos. Muitos copos, aliás, devo ter lavados todos os copos do bar umas oito vezes hoje.