domingo, abril 21

Torta

Começando com barba feita e deixando roupa pronta pra sair, foi assim que deixou o apartamento e se dirigiu ao trabalho, era uma tarde bonita de quinta e tudo que ele pensava era em terminar o dia. Ansioso estaria indo de encontro a garota do bar.
Chegou no horário e foi o pró ativo do ano, aquela inquietude deixou até o caixa meio desconfiado.

- Fala sério, foi por causa da guria de ontem?
- Bah tche, consegui um encontro com ela hoje.
- Que beleza guri! Mas e ai, pra onde vai levar ela?
- Vamos no Mr Pool, nada de mais, quero ver como vai estar, to meio ansioso que é um dos poucos encontros de cavalheiros que faço.
- To ligado...
- Claro, normalmente a gente chega no buteco e já tenta cair em cima, ou então numa baladinha vem perguntar o nome e assim as coisas vão... não sou acostumado com isso, marcar encontro.
- É, encontro é um negócio engraçado.
- Aha.
- Sim, tu sabe por que está indo, a outra pessoa também. Ele pensa em sexo, ela em futuro.
- Claro, e eu diria, ele já a aprovou e só quer executar o sexo, e ela que normalmente impõe os limites e vai realmente testar se o cara sabe se portar, ou se é válido para tal...
- São fazidas, essa é a real.
- Sim né, to chamando a guria pra sair, é pra que? Pagar a conta e dar só bons risinhos? Vou te contar...
- Tá legal que algumas até são reais boas companhias, mas mesmo assim, uns amassos são mais do que necessários.
- É tipo cereja do bolo nesses casos, mas se é uma tonta tapada, nada melhor que só uns amassos, assim elas ficam quietas com as bocas bem ocupadas.
- Isso se não for mais que a boca!
- Bah! - Nesse momento ele foi se distanciando, terminando de organizar os talheres que vinham recém lavados da cozinha, colocar os pratos no lugar, arrumar algumas cadeiras corretamente. Logo o dia realmente começou, o almoço deixou o ambiente barulhento, entre talheres e conversas.

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- Bah cara, dia cheio hoje hein. - Comentava o cozinheiro depois de soltar a fumaça compartilhando o cigarro do fim de espediente.
- Nem me fale, eu tenho que ir correndo pra casa agora.
- Ueh, mais coisa pra fazer?
- Vou sair com uma guria mais tarde, daí né, dar um trato. - Respondeu sorrindo enquanto fazia um estilo elvis alisando o cabelo para trás.
- Hehhehe, tá certo. Quer um? - Lhe oferecia um cigarro.
- Bah, vou aceitar, recém acabaram os meus, aliás, tenho que comprar antes de sair, imagino que ela fuma também, acho que nunca me dei conta disso - Com cigarro na boca buscando caixa de fósforo nos bolsos da calça, o amigo lhe oferece fogo, ele apenas se inclina e fuma um último cigarro antes de deixar o lugar.

Fim do seu turno no dia, normalmente trabalhava dois turnos direto pra ganhar mais grana, mas resolveu fazia umas duas semanas que começou a pedir só um turno na quinta e na sexta, assim ficava mais livre pra sair e ficava menos cansado para o fim de semana.
Saiu do restaurante e foi direto comprar seus cigarros, era um passo rápido, queria chegar a tempo tranquilo. Na esquina na saída do bar não tinha Marlboro orginal, foi o light. Concluiu que talvez fosse até melhor, caso ela não goste de cigarro, ao menos é mais fraco, aproveitou e comprou uns chiclês e bala de menta, assim talvez resolvesse o problema, caso ela não gostasse, claro, claro que resolveria.
No JK foi rápido no banho, rápido em se arrumar, o problema era na saída, se deu conta que existia a possibilidade de levá-la para casa.

- Vai saber? - A eterna esperança do rapaz.

Demorou pouco tempo para arrumar o minúsculo JK, entulhou tudo o que pode do chão para dentro do armário, varreu o chão e lavou o que tinha de loça. O quarto estava praticamente limpo, a cama escondia bem a sujeira de baixo dela, assim como o armário se manteve fechado sem explodir nada para fora. Nenhuma roupa no chão. Nem parecia seu apartamento. Estava prestes a sair e sentou pra por uma música, fumou um cigarro, ouviu Júpiter, Miss Lexotan. Apreciou o apartamento como estava, e pensou em colocar algumas músicas pra depois.

- Tá bom, chega, nem vi a guria e já to colocando playlist? - Um olhar de relance ao relógio do computador - Caralho!

Eram cinco pras oito e ele demorava uns quinze a vinte minutos caminhando para o restaurante. Saiu correndo, deixou o note ligado. Mal fechou a porta e se largou em perna. Correu rápido no começo e se deu conta que chegar ofegante poderia parecer ruim, ou quem sabe chegaria até a suar, não tinha certeza. Manteve uma velocidade moderada, e chegando a uma quadra do restaurante, foi caminhando, passo rápido, meio justo.

- Buenas! - Comprimentou o pessoal do restaurante e sentou-se. Era oito e sete. Não era um grande atraso, não era possível que ela não aguentasse esperar tão pouco. Levantou-se, tenso, foi perguntar se a guria tinha aparecido.
- Não vi não, acho que não apareceu.
- Tem certeza? Uma morena, meio fofinha, mas tri massa.
- Não, sim, eu lembro quem era, acho que teria notado. Mas tu não ia no Mr. Pool?
- É que combinamos de nos encontrar aqui primeiro, pra ninguém ir na casa de ninguém, não ser tão invasivo, achei que seria melhor.
- Ah tá... mas não cara, não vi. Vê com o Guilherme, talvez ele tenha visto. - Garçom novo, começou no mesmo dia e estava responsável pelas mesas da rua.
- Cara, tem certeza que não viu?
- Olha, como tu está descrevendo, não. As duas morenas que ví, uma era alta e a outra era magra, acho que não conta.
- Ela não é gorda, assim, gorda, é fofinha, tipo encorpada sabe?
- Claro, te entendo, mas digo, a que eu vi era bem magra. Não deve ser, e já foram embora.
- Bueno, tá. Valeu igual.
- Aha.

- Ah, que merda. - Pediu uma cerveja e sentou-se numa mesa na parte de fora, fumou e bebeu sozinho, olhou, esperou, relógio, cerveja, cigarro.

Olhava o relógio, oito e vinte e dois.

- Tão atrasada? Quero ver o que ela vai dizer... - Pensava - Que diabos vai dizer? Me fazer esperar tanto, bom, acho que pode ser legal igual, saímos e, bueno... Raios.

Oito e quarenta, e o sentimento era de raiva com desprezo. Já não queria mais nem saber da guria. Embora sua amargura fosse aumentando, sabia que se ela chegasse com uma boa desculpa, ou um motivo real, não haveria problema. Ele queria pensar que não seria assim, que ela chegaria e ele poderia ficar puto da cara e se mandar sozinho, mas na real ele gostou dela.
Como era o código do lugar, retirou a cerveja de dentro do isopor, e chegou o cara novo pra trocar.

- Mais uma?
- Aha. - Nem olhou pra ele, estava puto da vida, já era quase nove e ele ali plantado feito um idiota.

Ele chegou, deixando a cerveja e comentou.

- Mas e aí, e a guria?
- Sei lá cara, acho que me deu o bolo.
- Que merda, heheheh.
- É, caralho.

Terminou bebendo mais ou menos o que imaginava gastar, bebeu sozinho até por volta das três, quando encheu o saco e esvaziou os bolsos.

- Desgraçada.