quarta-feira, fevereiro 8

Quentinho

não aguento mais, ta quente demais
eu odeio isso, eu não posso fazer nada
acho uma bosta essa vida quente
uma bosta, um monte de bosta
que ferve, que exala um cheiro terrível
que sobe nas ondas de vento abafado
saindo desde o maravilhoso asfalto fervendo
que de longe parece água, mas de perto é uma chapa com carros
todos com ar condicionado e vidro fumê
mas não adianta ser o ambiente
sou uma fonte constante de calor, sou eu
e graças a moral atual devo sentir-me ruim por isso
devo me sentir sujo, feio, constrangido
odeio essa merda toda
que não se pode mudar nada, se deve baixar a cabeça e aceitar
vendo pingar desde a fronte, escorrendo na sobrancelha
pinga da orelha e desliza por de baixo da axila
até o lado da barriga

segunda-feira, fevereiro 6

Birutas

Dai que aos vinte e tantos anos se descobre o prazer de uma boa relação. Social. Online.
Que belas são as redes sociais, onde o povo se revolta, fala tudo que tem pra falar, realmente desabafa, bota pra fora e compartilha, compartilha tudo, compartilha a mãe, compartilha criança no lixo, compartilha cachorro mutilado, compartilha amor.
Foi só ouvindo a lenha queimar e aos poucos me aproximando que, depois de alguns anos como visitante anônimo, aos poucos me reconheço com um papel bem montado, para participar de discussões cada vez mais construtivas e inteligentes.
É fácil ver que os jovens de hoje possuem uma habilidade extraordinária para captar informações e passa-las a diante sem ficar com nem um centésimo do que passou. São como birutas que indicam alguma coisa que não se pode ver, que não retem absolutamente nada, mas que dão indícios da tempestade (probably will not to be a brainstorm) que está por vir.
Depois de muitos copos de cerveja, depois de alguns porres, de algumas jantas, churrascos e até mesmo sóbrio, percebo que é melhor parar com a visão da utopia, o ideal. Melhor mesmo é aproveitar o que nos resta de rock'n roll dos poucos bares decentes que ainda existem. Trocar mais vezes aquele café do trabalho por uma mate amargo (talvez até com uns chazinhos para os mais frescos) entre amigos e familiares. Cada vez mais entendo que quanto mais velhos ficamos, maiores pensamos que somos (de fato, tenho engordado) e na realidade é aquela eterna mania de achar que o novo é que é errado, mas não adianta, ele sempre vem.