segunda-feira, junho 30

arroz e feijão

Por muito acaso me sentei hoje, ao sol com um potinho de marmita recheado de feijão e arroz feitos com carinho pela mãe e me pus a pensar na razoavidade das pessoas assim que vi uma borboleta voando, próxima de uma árvore, amarela, simples, idiota.
Li num dos livros proibidos que existem dois tipos de humanos, quando se trata de sua relação com o mundo.

"Existem dois tipos de homens. Os homens razoáveis tentam se adaptar ao mundo ao seu redor, enquanto os não razoáveis tentam adaptar o mundo a eles mesmos."

O dia estava bastante claro naquele momento. A cada garfada eu ficava procurando um cantinho de mundo que parecia esquecido por todo o resto dele. A sombra de um limoeiro, os buracos de insetos na grama muito bem camuflados, a planta ao estilo trepadeira que de leve ia subindo pelo muro... Eram tantas coisinhas sem muita graça apenas vivendo que deu um pouco de nojo de mim mesmo, ali parado, sentindo o gosto da comida, fitando as coisas em suas pseudo-formas... Os pensamentos dos vagabundos tendiam a me iluminar, ou a me amedrontar. Tudo aquilo ali, não passaria de nada, se eu fosse um claro vegetal, ou seja, se eu não sentisse gostos, se não sentisse o toque do vento, se não vice as cores, as formas, se não escutasse o barulho da grama crescendo ou o cheiro do sol batendo na terra.
Tudo aquilo ali de onde eu vinha, não passava de nada, não era nada razoável, tudo, principalmente as coisas com que eu trabalhava, me dei por conta, eram completamente fora deste mundo, era sempre uma tentativa de mudar o mundo, torná-lo simples para nossa vida humana, facilitá-lo para nós, e unicamente para nós. Eu parei de dar garfadas e percebi que o mundo havia perdido a noção das coisas e lembrei diretamente dos índios.
Criaturas que não sabemos o nome que elas davam a elas mesmas, afinal índios foi apenas por uma confusão com os caras que viviam na Índia. Nós temos uma cultura formada, uma maneira de viver (hoje, insustentável a longo prazo), temos maneira de educar as próximas gerações, criamos meios de comunicação, temores, gozos sociais, pré-conceitos e novas ciências, temos tudo, assim como aqueles caras tinham. Pensei logo que por alguma maldição, os índios, ou povos, ou seja lá o que for, dos caras que viviam na parte da europa, ásia, em fim, oriente, oriente médio, por alguma razão, eles "evoluíram" mais rápido, foram "adiante" e inventaram coisas, ferramentas, mudaram pouco a pouco o mundo ao seu redor para que pudessem usá-lo, literalmente, usá-lo. Dai me veio direto a pergunta de que se os povos que aqui viviam fossem deixados em paz, será que eles não chegariam a esse ponto uma hora? Não iriam começar a descobrir coisas novas para inventar, teorias a formular? As vezes acho que o deus que todos queriam eram os deuses dos povos indígenas, afinal, como explicar o fato de que as tribos não se espalharam e dominaram o continente? Haviam muitos índios aqui, sim, mas não tantos quanto brancos na região da europa. Quero dizer, porque os habitantes dessa imensa ilha não dentou adentrar a todas as matas e povoá-las com suas gerações, com seus descendentes?
A sombra das árvores se mexiam, enquanto eu me incomodava com o fato de ser humano, e pensava que ser um indígena era a melhor coisa do mundo, a melhor mesmo. Era como viver de verdade, a preocupação é com a comida de cada dia, com a saúde e nada mais, no máximo, com as regras da tribo, mas não tem importância, todo o tempo fora do necessário para cuidar da família ou de alimentos ou coisas do gênero seria um tempo próprio, em que cada um poderia fazer o que bem entendesse, e melhor ainda! NU!
Eu realmente delirei naquele início de tarde. Parei de comer a marmita e viajei peladão. Queria pensar que todo mundo poderia a partir daquela hora, deixar tudo, e fazer como Raul dizia, parar a terra, num dia, e ir de tanga (no máximo) pra casa. Fazer um sexo com a mulher, caçar com os amigos, ou para os não adeptos a carnes, plantar ou colher com os amigos. Depois treinar algum esporte ou atividade física normalmente necessária para a sobrevivência, como pesca, caça, pular em árvores, brincar com crianças que ainda não sabiam fazer os movimentos de guerra de um integrante da tribo. Realmente achei genial a idéia. Não é aquela coisa de índios são o máximo como no tempo dos romances clássicos, mas coisa de ser um animal de novo, voltar a viver como se deve viver no mundo, no sistema completo. O sistema tão como foi alterado, não funciona.
Queria ter ido lavar um pote de barro no rio. Coçar o saco e molhar as pernas até o joelho esperando o pote de barro secar em cima de uma pedra enquanto pegava sol. O que aconteceu foi que guardei ele na mochila, e fui ver a cotação da bolsa no computador. Mas ao menos, fui nu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Seu, seu...

vagabundo nú!