quarta-feira, janeiro 2

lixo! disse o gian.

Começou cedo. Brincou com a viola de plástico que ganhou no dia das crianças numa reunião em família ainda no tempo que os pais não eram separados. A pose e a maneira com que as pessoas lhe olharam ficou marcado em sua memória, sentiu o encanto de ter o poder de chamar atenção, de ser prestigiado pelas pessoas.
Encheu o saco, gritou, esperneou, até que lhe deram o dito cujo violão.
Cordas de nylon e já usado.
O primo influenciava com o rock antigo, bitolado. Boina na cabeça, jaquetas jeans e uma modinha clássica das noites londrinas. Tipinho comum por lá, mas as garotas de aqui sempre acham relativamente raro o género do rapaz.
Aos 9 apanhou feio para sua viola. Calos nos dedos, e o tempo para sair tocando uma música o deixara frustrado. Abandonou o violão num canto, deixou seus velhos sonhos pegando pó e foi ver no que ia dar, já que não conseguiu fazer o que queria fazer.
...
Passou o tempo... voltaram os sonhos...
Provavelmente foi num acústico de um dos velhos famosos que se animou a tentar de novo. Numa raiva interna; "como pude desistir?!"; "porque diabos parei?! tenho muito que aprender!". Acabou buscando num velho canto empoeirado o velho violão. Limpou a sujeira, e tentou tocar uma música típica de iniciante, acredito que... parabéns a você... o som era terrível.
Lição 1: afinar.

Primeiros passos foram terríveis. Dores nos dedos, nenhuma coisa digna de aplauso saia daquela caixa acústica. A raiva lhe engolia, raiva própria por seu trabalho insuficiente a seu próprio julgamento.

As lições foram vindo... uns acordes...
umas cifras da internet... até umas palinhas de ouvido...
saiam músicas próprias, normalmente sem graça, derivadas de suas origens, suas influencias típicas. Temas simples sem importância geral, apenas uma boa música para deixar o vento passar, os capins rolarem...

Era dono de sua cidade. Já tocava em bares locais e cumprimentava uns 20% das pessoas que via na rua. Uma percentagem incrível pensando no que é hoje em dia as cidades "grandes". Sua cidade era uma clássica dormitório, fazendo parte de um complexo de cidades dormitório que servem de apoio de mão de obra para uma maior, uma capital.
Seus amigos, normalmente bitolados nunca fugiram do mesmo. Cigarros, copos na mão, jeans colado e as vezes um chapéu, uma boina, alguns arriscavam um terno... atenção garantida.
Cresce assim o rockstar, típico carinha da viola, "o foda". Garotas comentam de suas calças sexy, de seu jeito londrino de ser.

No fundo, ele sabe, que não passa de uma criança que se vestiu de arte musical importada, e acabou deixando de ter seu estilo para adorar estilos enlatados e idolatrar os ídolos já conhecidos.
Fazia descobertas de novos talentos antigos, e normalmente já mortos, descobertas forjadas, que uma vez leu... alguém contou algo... ouviu rumores no bar sobre um cara que tocava uma viola...

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O que se pode fazer?
somos influenciados, seguimos uma linha de influencias e geramos pouca coisa realmente nova. Sempre um pontinho de partida é de outra pessoa. Mas convenhamos, tem gente que da a bundinha pra uns violeiros legais.
Ídolos... são para os fracos!

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