sexta-feira, abril 11

dores e cigarros

Pensou que estava embaixo daquela árvores
Precisava dar uns tiros nele, tocar tudo no lixo, carregar pra fora dentro do saco e ainda dar umas pasadas na cabeça pra garantir que o defundo não ia assustar ninguém.
Fred, o coquinho, andava com medo no meio daquela sexta-feira quase treze. Já passava das duas e ainda não tinham terminado de tapar nem a metade daquele maluco desgraçado.
Ruffles deu as ultimas afofadas no terreno e atirou um fósforo que acendera seu Lucky em cima da terra, era a despedida.
Estava feito, agora ninguém iria reclamar. Nem mesmo o assougueiro de Porto Alegre pensaria naquela, que idéia brilhante.
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Começou a amanhecer e uma dor de cabeça lhe tomou a cabeça, como naquela última semana ocorre muito, um sonho estranho, uma dor em alguma parte do corpo nada sério.
Levantou-se.
Caiu-se.
Suas pernas doiam como nunca, ele estava surpreso. Resolveu levar o cão para dar uma volta e aproveitar para tomar um ar fresco pela manhã. Calçou seus tênis vermelhos e notou rosetas nos cadarços... um pouco de lama seca num lado... olhou em baixo. Lama nos tênis. Riu e tomou o ar acompanhado do LouCão que correu feliz pelo gramado.
Depois do almoço, do livro dos vagabundos:
-Vou deitar novamente...
Não queria saber de buscas, não queria nem saber de música, estava intrigado com suas memórias. Levantou da cama e suas pernas estremeceram de dor, nas coxas e na batata da perna. Vestiu-se e foi averiguar.
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-Sim sim, tu estava com ele ontem porque aqui... acho que já eram umas três da madrugada ou mais quando pediram a conta e sairam rindo. Por? Aconteceu alguma coisa?
-Não... Não... Nada. Obrigado.
Entregou o dinheiro da cerveja e saiu do Inferno.
"Será possível?" Pensou consigo. Já passara das seis e meia e estava distante do treino. Resolveu não se esforçar por aquele dia louco e deixar passar. Receberia a cordinha de graduação naquele dia... Raios. O agravante.
Não tinha certeza da cor que receberia, mas sabia que uma sentença seria agravada, quando o juri, juiz, delegado ou seja lá quem fosse dessa vez ficasse sabendo de seus treinos bem intencionados. Acendeu um cigarro e caminhou pelos morros acima do Inferno, pensou em até visitar uma amiga. Talvez ela soubesse de algo, pudesse lhe dar uma resposta.
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-Ruffles! Oi! Entra! Que saudade!
-Er... Oi, desculpa, te atrapalho em algo?
Com educação se apresentara mas não tardou a passar mais um final de tarde com sua amiga. Ele confiava nela. Sentia-se tranquilo por ali, não um rei, não um escravo, senão que alguém no mundo feliz pela existência e sem nada para responder como responsável.
Se desvinculou um pouco dos lençóis e destaparam a cara, cada um para um lado por um instante, e logo ela acariciava seu peito com carinho pousando sua linda face no ombro dele.
-Que maravilha. Eu te digo, tu é um animal guri!
-Tu diz isso porque eu sou visita. Mas mudando um pouco de assunto querida, por acaso me viste ontem?
-Hahaha! Que pergunta boba, tu bebeu tanto assim?
-Ãnh?
-Ai ai... como teu pai dizia, teus neurônios vão sendo queimados com esse álcool todo. Vou buscar uma coisa pra tomar, quer alguma coisa?
-Não... quer dizer... tem...
-Serramalte?
-Hehe... não, eu quero suco mesmo.
-Que surpresa, tenho laranjas por ali, posso fazer um pra ti.
-Por favor.
-Num minutinho.
Beijou-lhe novamente com clara ternura e carinho. Aquele homem que aparecia de vez em quando, apenas por aparecer, passar um tempo ali sem compromisso de voltar ou fidelidade alguma.
Ele não aguentou. Mais um Lucky se consumia entre seus dedos enquanto esparramado na cama de casal ele fitava o teto e pensando nas rachaduras e pequenos detalhes mal acabados pensou em sua memória. O que parece que fizera estava feito e... fora interrompido com uma fala mais alta da cozinha.
-Mas então, tu realmente esqueceu de ontem?
-Errr... é. Parece.
-Mas que pena, estava muito divertido ontem, ao menos o tempo que tu passou por aqui. Agora não trabalha mais né vagabundo! Diz e promete pra si mesmo que vai buscar e achar o quanto antes, mas eu te conheço melhor que tu mesmo...
-Que nada... sua, sua... morena cuia!
-O que?!
Fez uma espécie de som com a língua como se faz para brincar com crianças.
-Vou por veneno para ratos no seu suco!
Um clarão lhe veio na cabeça... veneno para rato... Ele viu Fred rindo enquanto trazia o pacote do Bourbon e lhe entregava.
Quase desmaiou e jorrou sangue de seu nariz. A voz da cosinha, doce como sempre lhe despertava de suas angustias mais íntimas e lhe trazia para o mundo novamente como uma luz no fim do túnel.
-Ruffles! Tu tá sangrando!
-Ahhh minha cabeça. - Ia levando a mão na cabeça quando Mônica se aproximou com a bandeja com seu suco, uma cerveja e uma água com gás, quase como no bar onde trabalhava. Agarrou o suco antes que ela largasse a bandeja para lhe analisar a face.
Tomou em três goles longos e saborosos como se fosse o último copo suco de laranja no mundo.
-Ruffles! Tá, chega, larga esse copo. Deixa eu ver aqui.
-Ai! Não me machuca mulher!
-Deixa de ser mocinha e para quieto, vou lavar essa ferida, teu nariz tem um corte por dentro, ao menos parece que tem. Estranho que não tenha aberto por fora.
Pensou um pouco e já que era sempre assim com Mônica, achou melhor aproveitar e deixar o dia rolar... ela era uma verdadeira mulher, poucos a conheciam tanto quanto ele. Fechou os olhos e se preparou para que assim que terminasse de arrumar seu nariz voltaria para seus braços para mais uma longa diversão luxuosa e sincera.

Um comentário:

Anônimo disse...

Entre um parágrafo e outro, eu meio que me confundo. Mas nada que não se esclareça numa mesa de bar.

Bruxo!