segunda-feira, maio 5

odiosas

Não lembro bem em que livro eu li: "Comparações são odiosas", Mas sempre que algo é comparado em algum tema, sempre que qualquer coisa se relaciona com outra, mostrando altos e baixos, eu repito pra mim mesmo que comparações são odiosas. É a respeito de comparar mesmo, nada, nada é comparável. É como tentar fazer o mesmo navio de guerra duas vezes, se pode tentar fazer o mesmo modelo, o mesmo design... mas quando, quando que duas árvores crescem do mesmo jeito, para que se possa usar a mesma madeira duas vezes em navios diferentes?
A coisa toda começa numa estatística. Se mostra um preço de gasolina no outro país.
-Uau! Muito barato!
Não é possível ter noção alguma de qualquer coisa, fazendo comparações. O barato, só existe dentro das condições de caro que cada um conhece para si mesmo, conforme sua família, conforme seu trabalho e sua infra-estrutura. Queria eu comprar uma moto, uma simples twister, para sentir o vento por aí quando bem entendesse. Começa bem porque não tenho nem carteira de motorista, nem pra moto, nem pra carro, devido as prioridades que coloquei na minha frente. Atualmente, uma moto custaria mais de 50 anos de espera arrecadando dinheiro, centavo a centavo, até conseguir comprar uma moto no preço atual.
Atravesso a rua, e conheço amigos de mesma idade com um carro próprio na garagem da casa dos pais. Aquele foi o presente de natal, seguido do de aniversário que foi uma viajem para Austrália. Ótimo, isso não é inveja alguma, agora, como diabos comparar o preço da gasolina entre nós? Pra mim a gasolina daqui e dos estados unidos é uma mais cara que a outra, enquanto para aquele amigo, talvez lá fosse uma mina de ouro de tão barato que é a seus olhos.
Comparações são odiosas, como comparar uma implantação de uma legalização das drogas, entre Brasil e Inglaterra? Ah, porque se tu pegar os códigos penais, a quantidade de gente que morre em função do tráfico de cada país, se verificar a quantidade de clinicas, a tecnologia e métodos atuais de tratamento de viciados, se verificar tudo isso junto... será inútil. Não existe maneira de comparar tal coisa, as coisas são sempre diferentes, principalmente tentando comparar pessoas, ou ações das pessoas. Cada povo nasceu, cresceu, e ainda se desenvolve dentro de uma estrutura diferente, dentro de religiões, dentro de problemas, soluções, dentro de terras e ares completamente diferentes.
O que você faria com um milhão de reais se ganhasse agora?
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Eu compraria um carro muito foda.
Eu ia juntar mais ou por no banco pra viver dos fundos desse dinheiro o resto da vida.
Ia pra Las Vegas e faria uma aposta comigo mesmo pra ver em quanto tempo torraria tudo.
Faria todas as viagens que sempre quis fazer.
Distribuiria entre os amigos e familiares que precisam.
Doaria tudo a igreja, aleluia!
Gastava tudo em doce.
Montaria uma empresa.
Montaria a casa dos meus sonhos.
Compraria uma chácara.
Investia em fundos de risco para faturar mais.
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Mas eu, eu mesmo... acho que ia começar com os sonhos que antes iriam demorar. Ia fazer de tudo um pouco, com algumas exceções. Não ia montar uma empresa, não ia doar a instituição alguma. Provavelmente daria uma boa parcela aos familiares que tenho noção que eles tem noção de como gastar o dinheiro, também deixaria um pouco na mão dos amigos mais chegados, porque tenho certeza que mesmo que se forem gastar tudo em cerveja, eles vão me convidar. Ia fazer as viagens, comprar a moto, comprar um casebre muito pequeno em outro país e me regularizar lá.
Logo ia acabar o dinheiro, logo as coisas se consumiriam, ou melhor, o tempo ia consumir contudo. Mas o que você faria se ganhasse tanto dinheiro?
Para a maioria das pessoas, isso é realmente muito dinheiro, agora para outras, não passa de mais um mês, ou um ano de trabalho. Comparar o estilo de vida, ou desejos que se realizaria é simplesmente impossível dentro da conjuntura atual de experiência social. Ninguém viveu as mesmas coisas que as outras pessoas, portanto, cabe cada um apenas entender o que viveu, ou o que chega próximo a sua vivência. É como tentar impedir alguém que nunca teve nada na vida, um real pobre, de gastar tudo em carro foda e um casarão. Ele provavelmente ficaria drogado de tanto dinheiro, não, não compraria drogas, quero dizer, que a possibilidade de ter, o dominaria e ele não pensaria nem duas nem uma vez antes de comprar as coisas que sempre quis ter. Por tanto, comparações são odiosas.
Não apenas com dinheiro, mas com sentimentos. Pessoas que não tiveram um bom relacionamento familiar, pessoas que não criaram o hábito de comer na mesa junto com a família toda e manter uma discussão todos os dias a respeito de cada coisa que cada um fez, é impossível comprar as reações e ações de cada indivíduo dentro de experiências traumatizantes, dentro de acontecimentos que podem marcar vidas. Eu vi as duas torres caindo pela televisão, acho que apenas alguns minutos de atraso ao tempo real, como um maníaco, eu ri muito pensando que aquilo lá vai mostrar que nenhuma fortaleza é impenetrável, mas muitas pessoas chorarem, morreram de medo, algumas talvez desmaiassem por te algum parente trabalhando lá. Eu não dou a mínima, não tenho a mínima noção do que é estar num desabamento, do que é ver sequer uma casa sendo demolida, não tenho noção do medo que provoca nas pessoas tamanho poder de destruição. Desculpem pela risada naquele dia, mas o que eu deveria fazer? Eu nunca vivenciei tal fato, nunca vi nada igual, e sabendo que era real, minha única reação foi rir.
Portanto, não me culpem se eu contar piada ao ver alguém morrendo. Comparações são odiosas, entendam a diferença entre as diferenças, e levem esse tipo de coisa em consideração, quando se for tentar comparar novamente, porque mesmo que inútil dentro dessa analise, essa ilusão nos faz tomar decisões.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se eu não me engano, isso aí é do lobo...essa das comparações são odiosas.

E sim, tens toda razão.